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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Asininos: animais com características sociais e reprodutivas próprias 3

Comportamento sexual das fêmeas


O cortejo sexual é resultante da interação do macho com a fêmea e vice-versa. Existe uma tendência de se aceitar que é o macho quem lidera e exerce a maioria das ações durante o cortejo sexual. De fato, esta compreensão tem fundamento, mas a participação da fêmea não pode ser negligenciada. Estudos de comportamento sexual mostram que, em certas espécies, a fêmea é mais discreta e passiva, apenas aproximando-se e colocando-se nas imediações do macho quando está em estado de receptividade. Em outras espécies, as fêmeas receptivas se juntam em grupos e expressam certos comportamentos que permitem ao macho visualizar que estão no período de cio, e existem aquelas espécies em que as fêmeas participam ativamente e procuram o macho de forma incisiva quando estão receptivas. As jumentas poderiam ser classificadas neste último grupo. Além de permitirem a corte, elas, quando receptivas, procuram o macho, apresentam-se a ele e chegam pelo contato direto a incitá-lo ao cortejo (Henry et al., 1987b, 1998).


Os sinais de cio expressos pelas jumentas receptivas são: aproximação junto ao macho (comum a muitas espécies), justaposição do pavilhão auditivo junto ao pescoço e movimentos de abrir e fechar a boca ou simplesmente manter a boca aberta, sinais bem característicos dessa espécie. Além desses, a aceitação da monta e a abertura do quadrilátero posterior bem como a estagnação no aguardo da monta fazem parte dos sinais. Sinais adicionais expressos de forma mais discreta, se comparados com a expressão destes pelas éguas em cio, são o ato de elevar a extremidade da cauda (conhecido, nas éguas, como cauda em bandeira) e a realização esporádica da eversão dos lábios vulvares. O sinal assim chamado de cauda em bandeira é visto de forma mais frequente nas jumentas após a cópula. As jumentas podem também urinar após período de estimulação sexual. Como já foi citado anteriormente, a vocalização realizada pelo macho é um referencial para o início de um período de cortejo sexual. Atendendo a este sinal, as fêmeas em cio ou próximas ao período de receptividade sexual que estiverem mais afastadas e até fora do campo de visualização do macho vão se encaminhar para a proximidade dele. Formar-se-á, então, um grupo de fêmeas receptivas que serão sequencialmente abordadas pelo macho. É geralmente durante o cortejo que elas virão a expressar todos ou a maioria dos sinais de receptividade descritos acima. As fêmeas que estiverem ainda em fase inicial de receptividade sexual deixar-se-ão cortejar e poderão expressar até vários sinais de receptividade, mas, nessa fase, quando montadas pelo macho ainda sem ereção, elas geralmente acabam se afastando ou coiceando-o (Henry et al., 1987a, 1991; McDonnell, 1998 ).


Em regime de monta a campo, é possível observar a formação de dois grupos de jumentas nas redondezas do macho: um constituído de jumentas que se aproximam do macho, mas que permanecem a uma certa distância, e outro constituído de jumentas mais ativas e que permanecem muito próximas, interagindo com ele. Foi confirmado pelo controle do crescimento folicular e pela ocorrência da ovulação que aquelas que permaneciam mais à distância eram as jumentas que estavam na fase inicial do período de receptividade sexual, levando, na maioria das vezes, mais de cinco dias para ovular. O outro grupo sexualmente mais ativo era constituído de fêmeas em fase mais adiantada do estro ou mais próxima do dia da ocorrência da ovulação. Durante o período de receptividade sexual, pôde ser observado que o número de aproximações ao macho realizadas pelas fêmeas aumenta gradativamente a partir do começo do cio e atinge uma maior frequência nos três dias que antecedem a ocorrência da ovulação. Por estes achados, pode-se concluir que a própria fêmea, dependendo do seu grau de receptividade, acabe propiciando maior ou menor probabilidade de ser copulada. É a natureza trabalhando a favor do aumento da eficiência reprodutiva, devendo ser respeitada em manejo controlado de reprodução (Henry et al., 1998).


As fêmeas pertencentes ao grupo sexualmente ativo tanto se deixam cortejar, geralmente permanecendo paradas quando montadas pelo macho sem ereção, como, na ausência da aproximação dele, ativamente incitam um período de cortejo na expectativa de serem cobertas. Pôde-se também observar diferença de atividade entre fêmeas, algumas são muito mais ativas do que outras, e as mais ativas às vezes chegam a provocar uma reação de rejeição pelo macho de tanto o incomodar. Adicionalmente, estas mais ativas, deflagrada a intenção de cópula pelo macho, chegam a afastar a fêmea escolhida ou até mesmo a provocar a interrupção de uma cópula em andamento para se apresentarem. Por outro lado, também fazem parte do grupo fêmeas que poderiam ser classificadas como mais passivas, aquelas que se apresentam, mas aguardam a iniciativa do macho. Após a cópula, as fêmeas usualmente permanecem paradas por alguns minutos mantendo a cauda em bandeira, reintegrando-se posteriormente ao grupo daquelas classificadas como sexualmente ativas (Henry et al., 1991).


Quando várias fêmeas estão em cio simultaneamente, podem ser observados comportamentos classificados como heterotípicos (Henry et al., 1991, 1998). A monta de uma jumenta em cio sobre outra não é infrequente. Este comportamento é comumente visto em vacas em cio e é raramente observado em éguas. É raro, mas pode-se observar uma fêmea asinina em cio montar sobre a garupa do macho. Em períodos de atividade intensa, também pode ser visto que determinadas jumentas dominam certas atitudes, entre outras, o ato de arrebanhar as parceiras em cio e mantê-las em um grupo mais coeso. Por vezes, estes atos chegam até a interferir na sequência de conduta do macho. A manifestação de dominância de algumas jumentas parece se expressar particularmente mais durante o período de receptividade sexual.
Portanto, o que pode ser observado é que as fêmeas asininas têm um importante papel durante o cortejo sexual. Elas participam nitidamente e ativamente na estimulação sexual do macho nos períodos reservados para este fim. Também fica evidente que devam existir meios de comunicação entre o macho e as fêmeas que não são perceptíveis ao homem. Um destes realizado pelo macho, entre outros que possam existir, é o que comanda a parada temporária do assédio das fêmeas em cio (descrito acima) entre os diversos períodos de cortejo que precedem cada cópula. A liberação para um reaproximação foi a vocalização do macho.


 

Fonte: M. Henry1, L.A. Lago, L.F. Mendonça

Rev. Bras. Reprod. Anim., Belo Horizonte, v.33, n.4, p.223-230, Oct./Dez. 2009.

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