Bem Vindo ao Blog do Pêga!

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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Asininos: animais com características sociais e reprodutivas próprias 1

Resumo
Esta revisão tem como objetivo compilar dados provenientes de várias pesquisas que enfocaram a análise do comportamento sexual de asininos. São abordados aspectos do comportamento sexual tanto do macho quanto da fêmea, incluindo dados obtidos em avaliações feitas em regime de monta controlada, monta a campo, bem como durante extenso período de coleta de sêmen pelo método da vagina artificial. São também abordados alguns aspectos do comportamento sexual de jumentos cobrindo éguas a campo. Procurou-se analisar e discutir os achados, levando em consideração a organização social da espécie asinina.

 

Introdução
Por pertencer à mesma família que os equinos, muitos são os que acreditam que a organização social e o comportamento reprodutivo dos asininos são similares aos dos equinos, e, portanto, lançam mão de procedimentos de manejo similares aos utilizados na criação de equinos. Como de fato isto não procede, é conveniente que se conheça a espécie para que se possa maximizar a sua eficiência reprodutiva, incorporando ao máximo no manejo de criação controlada as características inerentes à espécie. Agindo dessa maneira, estar-se-á respeitando a sua forma de viver e, consequentemente, melhorando o seu bem-estar e sua produtividade.


Portanto, é intenção do presente artigo contribuir para o esclarecimento dos aspectos comportamentais de asininos os quais envolvam a reprodução. Serão abordados alguns aspectos da organização social da espécie, será mostrado como os asininos se comportam durante a fase reprodutiva em sistema extensivo de criação, procurar-se-á enfocar os comportamentos reprodutivos expressos em sistema de criação controlada intraespécie e em sistemas de criação a campo para produção de muares. As informações apresentadas foram obtidas em estudos realizados juntamente com um grupo de pós-graduandos, bem como provieram de estudos realizados por terceiros e de relatos de criadores.


Organização social
Apesar de os equinos e os asininos pertencerem à mesma família “Equidae”, a organização social dos equinos é em haréns, enquanto a dos asininos é totalmente diferente, definida como sendo territorial (Moehlman, 1998a, b; Moehlman et al., 1998).


A organização em harém consiste em um grupo relativamente estável de fêmeas adultas mantidas sob a liderança de um garanhão. Na forma selvagem, o grupo de fêmeas é constituído de duas a três, podendo chegar a até 15 unidades de animais adultos, predominando grupos de quatro a sete fêmeas. Os descendentes, próximos à maturidade, são excluídos do grupo para constituírem, de um lado, um novo harém e, de outro, os grupos de machos solteiros (Klingel, 1975; Rudman, 1998).


Os asininos apresentam uma organização conhecida como territorial. A definição e a expressão de territorialidade são realizadas pelos machos reprodutores dominantes. O território, em sistema asselvajado de criação, chega a se estender por inúmeros quilômetros quadrados. As fêmeas asininas, por outro lado, não demonstram qualquer preferência por um território, deslocam-se de um para outro, norteadas pelas suas necessidades de forragem e de água. A migração continuada das fêmeas é um achado constante (Klingel, 1975; McDonnell, 1998; Moehlman, 1998a, b; Moehlman et al., 1998).


A característica de territorialidade é particularmente expressa pelo macho quando, durante o trânsito das fêmeas, uma ou mais estiverem no período de receptividade sexual. Nesse período, o reprodutor dominante, dentro do seu território, procura afastar os demais machos subordinados, com o intuito de ser o único a executar o cortejo sexual e a monta das fêmeas receptivas. Em estudos realizados em sistema de monta extensiva, foi observado que a vocalização executada pelo macho é uma forma importante de comunicação e exerce um efeito de atração das fêmeas em cio, particularmente, para aquelas que estão fora do campo de visualização do macho. No contexto do comportamento reprodutivo, a vocalização é mais frequente em fêmeas em cio, expressando, aparentemente, uma resposta ao chamado realizado pelo reprodutor dominante (Henry et al., 1987b, 1991; McDonnell, 1998).


Adicionalmente, os machos asininos dominantes demonstram ter diversas áreas de preferência onde permanecem por mais tempo, quer seja para pastar, espojar, interagir com as fêmeas e até eleger locais específicos para defecar. Ao se deslocarem pelo seu território, eles procuram identificar odores específicos em bolos fecais ou em locais de micção. É muito frequente, após cheirar esses locais, o macho liberar uma pequena quantidade de urina ou um ou dois bolos fecais em cima da área examinada. Marcação de território ou a tentativa de confundir pelo odor eventuais competidores têm sido as interpretações dadas para esses comportamentos (Moehlman, 1998b).


Considerando esta primeira abordagem, convém destacar, para eventual incorporação em sistemas de manejo reprodutivo de asininos domesticados e sob controle do homem, que o jumento mostra ter um lugar preferencial e sob o seu domínio para interagir com as fêmeas e que elas não são obrigatoriamente cobertas por apenas um macho. Em sistema asselvajado, dependendo da imposição de dominância exercida pelo reprodutor e da intensidade de migração da fêmea durante o cio, esta pode vir a ser coberta por mais de um macho (Moehlman, 1998a, b; Moehlman et al., 1998).

 

Fonte: M. Henry1, L.A. Lago, L.F. Mendonça

Rev. Bras. Reprod. Anim., Belo Horizonte, v.33, n.4, p.223-230, Oct./Dez. 2009.

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