Bem Vindo ao Blog do Pêga!

Bem Vindo ao Blog do Pêga!

O propósito do Blog do Pêga é desenvolver e promover a raça, encorajando a sociedade entre os criadores e admiradores por meio de circulação de informações úteis.

Existe muita literatura sobre cavalos, mas poucos escrevem sobre jumentos e muares. Este é um espaço para postar artigos, informações e fotos sobre esses fantásticos animais. Estamos sempre a procura de novo material, ajude a transformar este blog na maior enciclopédia de jumentos e muares da história! Caso alguém queira colaborar com histórias, artigos, fotos, informações, etc ... entre em contato conosco: fazendasnoca@uol.com.br

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Fábula - O PELEGO, O ARREIO E O JUMENTO

 

Esta fábula possui seis versões: Na primeira, o jumento, cansado de tanto trabalho, volta-se e vê somente o Pelego. Ele recrimina: Por que você me machuca e pesa tanto? O Pelego retruca - Eu sou  macio e leve, não me confunda com o arreio e com o cavalgante com sua carga de ouro e seu chicote.

Na segunda versão, "O Jumento carregando Ouro", ele se orgulha de ser mais que os outros jumentos porque leva ouro  merecendo ração melhor. Ocorre assalto, levando o ouro, deixam estropiado o jumento do ouro. Os outros lhe fazem ver que é um jumento igual a eles e sua carga não lhe servia para nada e valeu um castigo.

Na terceira, o Pelego inveja o jumento porque este recebe proteções especiais, comida, água mais pura... enquanto ele, Pelego, agüentam o cavalgante  esbravejando, malcheiroso, não recebendo nenhuma distinção por amortecer seu traseiro nos solavancos do percurso.

Na quarta versão, o dono do ouro termina com todas as discussões dos três, atirando o Pelego e os Arreios ao fogo, mata o jumento e ainda faz assado de sua carne.

Na quinta versão, a Sumeriana, explica o Rei professor aos humanos que o Rei das Sombras faz  humanos trabalharem, extrair  ouro, servir para amortecer os solavancos da vida, como jumentos, pelegos e arreios e ainda são devoradas suas energias e são atirados uns contra os outros para os seres das Sombras se divertirem, sendo todos descartáveis. Assim, recomenda aos humanos que se reconheçam todos como iguais e em evolução, podendo libertar-se das Sombras, se deixarem de dar ouvidos à escravocracia que estas lhes impõem, colocando uns sobre os outros e fazendo-os acreditar que são eles que estão escravizando e são donos do ouro e também responsáveis pelos conflitos que vivem. Termina a aula avisando que há, Acima, Budas (iluminados), aos quais se juntam após a morte os que alcançam Conhecimento e Consciência desta situação. Estes protegerão  quem alcançar grau de boa vontade suficiente, mesmo que "os Sombras" satisfeitos por terem levado todo o ouro, tentem acabar com os humanos desnecessários.

A sexta versão desta fábula é a tragédia humana de nossos dias, onde os Feudais do Ouro hipnotizados por obscuras sombras, Jumentos cavalgados não sabem por quem, matam, destroem, escravizam, chicoteiam e fazem acreditar que os homens é que produzem os conflitos que as sombras induzem nas mentes.

Do mesmo modo que nas fábulas, há os Pelegos, os que carregam ouro, os que se orgulham, os que chicoteiam, os reclamadores.

Fonte: Shvoong

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Papai Noel chega de carroça

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Papai Noel chega de carroça neste cartão francês.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Éguas abortam por causa dos machos: mito ou verdade?

 

Estudos recentes indicam que as éguas gestantes tendem a abortar se permanecerem junto aos machos.

Frequentemente, criadores de cavalos enviam éguas a outras manadas para se acasalar com garanhões. Ao regressarem grávidas, ao local de origem, elas se “envolvem” em relações sexuais “promíscuas”, com os machos do seu estábulo, num desejo de disfarçar a paternidade do potro. Isto não sendo possível, as éguas podem abortar a gravidez. É o que revela uma pesquisa.

Em roedores, esse efeito tem sido bastante observado. O cheiro de urina masculina faz com que uma fêmea grávida aborte. Essas descobertas explicam o alto índice de interrupção de gravidez em animais domésticos.

É provável que esse estranho comportamento tenha origem no fato de que os machos costumam matar os filhos de outros machos, numa luta pela supremacia, concluem os especialistas, através de um questionário respondido por criadores de cavalos. Éguas acasaladas em outros estábulos abortaram, em quase um terço, enquanto que todas aquelas acasaladas no seu próprio estábulo levaram a termo sua gravidez.

Observou-se, também, que as éguas eram mais propensas a ter gestações interrompidas quando os parceiros de acasalamento do seu estábulo ficavam em compartimentos próximos. As que foram separadas dos machos e, portanto, fisicamente incapazes de disfarçar a paternidade do potro, eram mais propensas ao aborto.

Já o aborto natural, provocado quimicamente, é um fenômeno bem estudado na biologia, conhecido como o efeito de Bruce.

Supõem os cientistas, que a atitude da égua “impede” um “desperdício de energia” em produzir prole que, provavelmente, ela vai perder para o infanticídio.

A ideia de que animais domésticos podem adotar essa estratégia veio a partir do estudo do infanticídio nas zebras.

Os cientistas acreditam que as zebras e os cavalos domésticos tenham desenvolvido “estratégias de aborto” similares. Eles pensam ser possível que as éguas escolham ter ou não, o potro que está para nascer.

Mesmo sendo um mistério a ser desvendado, essa alta taxa de abortos em equinos, os pesquisadores, afirmam que o estudo pode alertar os criadores sobre a inconveniência de se transportar a égua para o acasalamento ou inseminação artificial, pois exige certos cuidados.

Seu retorno ao ambiente com machos é obviamente prejudicial, sendo, provavelmente, uma das principais causas da alta percentagem de interrupção de gravidez, em animais domésticos.

Fonte: BBC

Adaptação: Escola do Cavalo

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Um pouso de tropeiro

 

O pouso foi a primeira manifestação de abrigo praticado pela mão do homem. Surgiu à beira dos caminhos, nos ermos das travessias, em locais mais propícios à ronda e guarda dos animais da tropa, como também à sua alimentação.

Rude e desconfortável, representava para o caminheiro um abrigo de que ele e a sua tropa tanto necessitavam para refazer as forças e continuar a caminhada.

Na nossa história encontramos referências mais constantes aos pousos de tropas que vinham da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, em demanda a Sorocaba, a renomada feira de animais neste Estado.

Em suas primeiras viagens, os viajantes teriam de trazer de tudo quanto necessitassem para a longa travessia. Calcula-se que do centro do Rio Grande até Sorocaba medeia uma distância de nada menos de trezentas léguas, ou mil oitocentos quilômetros. Para quem vinha do Uruguai ou da Argentina, à distância acima pode-se acrescentar mais cerca de cem léguas.

A freqüência dos tropeiros, em seguidas tropeadas, fez com que surgissem, a princípio, toscos ranchos, nos quais se fixaram comerciantes dos gêneros que os tropeiros mais precisavam: sal, farinha e charque. O sal e a farinha principalmente, com as chuvas das caminhadas e as passagens dos rios, que não eram poucos nessa grande travessia, se deterioravam freqüentemente, causando sérios transtornos e até fome aos tropeiros. Também o charque. Preparação demorada, não poderiam eles adquirir uma rez viva, matá-la e charqueá-la e depois secá-la convenientemente, dentro do reduzido espaço de tempo que dispunham em cada lugar.

A esses ranchos se foram agregados outros, com novos tipos de comércio, e hoje todas as cidades que se encontram no antigo caminho foram de tropeiros.

A pousada se dava após um dia de marcha, calculando em mais ou menos dez léguas para muares. Enquanto os peões atendiam à ronda dos animais, estes cansados, iam se espojando e deitando, depois de Ter pastado e se dessedentado convenientemente.

Enquanto isso, com lenha catada durante a viagem ou nas cercanias, os peões faziam o fogo num local abrigado de vento, armando, desde logo, a trempe de ferro, onde penduravam o caldeirão com o feijão cozido na noite anterior. Ao lado, acomodavam a chocolateira, com água para o café e outro caldeirão com toucinho para o torresmo. Em quinze minutos estavam todos em condição de servir-se do despejado repasto: feijão virado com farinha e torresmo e uma carne assada com brasa. De sobremesa, o café.

O dormir era revezado: enquanto parte da comitiva dormia, o resto vigiava, fazia a ronda, garantindo a inteireza da manada, trocando de posições a cada duas horas. Tal como tropa militar.

Era sossegado, quando não chovia ou quando, em mata fechada, não havia onças, lobos e outros animais a perturbar a tropa.

A dormida, entretanto, era somente de metade da noite, assim mesmo intercalada, para cada um.

Meu avô, contando essas histórias de tropas, suspira fundo com saudades daquele tempo...

Fonte: Cícero Marques, Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapeva

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Importância da Espécie

 

Obs: Em Portugal chamam o jumento de burro, como esse artigo é de lá resolvi deixar o texto original, sem alterações.

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Importância da espécie
O burro está associado a um vasto património de importância social, cultural, económica e ecológica.


Os asininos foram um pouco por todo o mundo tradicionalmente muito utilizados na agricultura. Em algumas zonas do planeta ainda o são.
No Planalto Mirandês as populações das aldeias vivem à base de uma agricultura familiar de subsistência, retirando dela produtos de grande qualidade. É uma agricultura que se faz em propriedades pequenas onde se cultiva pimentos, cebolas, couves, alfaces, batatas, feijões, etc. Na cultura das hortas, os asininos têm a vantagem de exercer uma menor compactação sobre os solos, por serem mais leves que as restantes espécies utilizadas na lavoura. Adicionalmente permitem uma mobilização do solo mais próxima da planta, sem a danificarem.


Ainda nos dias de hoje, os asininos dão uma resposta eficaz às necessidades de transporte das pessoas, e da comida para o gado - transporte a dorso -, são utilizados para lavrar a vinha, preparar e verificar o estado das terras, para semear e arrancar batata. Desempenham também a importante função de fazer companhia aos seus donos, e são às vezes o único pretexto para o idoso sair de casa, pois é preciso ir pôr a burra a pastar (a maior parte das pessoas possui burros fêmea).


Benefícios sociais, culturais e económicos
São inúmeros os benefícios socio-económicos associados ao burro. Actualmente, no nosso País, ainda existem profissões ligadas ao gado asinino, tais como: a de Albardeiro - aquele que faz albardas, cabeçadas, etc.; a de Ferrador - aquele que ferra e arranja os cascos; a de Tecelão - aquele que também tece alforges. No passado algumas das profissões ligadas aos asininos eram: a de Aguadeiro - aquele que vendia água ou a levava ao domicilio; a de Almocreve - aquele que alugava e conduzia bestas de carga, entre muitas outras.


O artesanato esteve desde sempre ligado ao gado asinino:
- na cestaria, existem os cestos esterqueiros e as cangalhas;
- as albardas, os alforges e as mantas de retalhos são, sem excepção, verdadeiras peças de artesanato.


O burro está também associado a inúmeros eventos culturais. São exemplos, as feiras ligadas ao gado asinino, e.g. Feira do Naso, próximo da aldeia da Póvoa e Feira dos Gorazes, na vila de Sendim (Concelho de Miranda do Douro), e Feira do Azinhoso (Concelho de Mogadouro), exposições, gincanas, corridas e concursos.


Existem alguns produtos derivados directamente do burro. A sua carne por exemplo é considerada muito dura (embora esta opinião não seja unânime), mas no entanto é consumida por muitos povos, simples ou sob a forma de enchidos.


O leite de burra é largamente procurado em muitas regiões pela indústria alimentar e cosmética. Em Portugal, o leite da fêmea asinina foi muito utilizado pelas populações rurais, sendo inclusive receitado pelos médicos às mulheres que não conseguiam amamentar, por ser um leite parecido com o que é produzido pelos humanos para alimentar os recém-nascidos. É um leite denso e açucarado. Também era tido como bom cicatrizante, aplicando-se em pomada nas feridas e doenças de pele. A sua pele dura e elástica tem numerosas aplicações, nomeadamente na fabricação de crivos, calçado, tambores, correias, sacos, tendas (usadas pelos nómadas árabes), etc. E já houve em tempos remotos, quem utilizasse os ossos de Burro para fazer instrumentos musicais (flautas).


O ecoturismo e as actividades lúdico-terapêuticas assistidas por burros são nos nossos dias duas das mais promissoras áreas ligadas à utilização dos asininos. É importante realçar, que o ecoturismo faz todo o sentido se o meio rural e as suas gentes mantiverem as actividades que lhes são características, o seu sustento e as suas tradições.


As actividades lúdico-terapêuticas assistidas por burros, para pessoas com necessidades especiais merecem destaque, pela sua importância terapêutica, ética, social e como potencial ecoturístico. Para mais saber mais sobre este assunto consultar item “Terapias com animais”.


Benefícios ecológicos
Na vertente agrícola/ecológica, o excremento de burro, juntamente com a palha utilizada na cama dos animais, faz um excelente elemento fertilizador das terras, o estrume, para as hortícolas, pimentos, cebolas, alhos, etc., cogumelos e flores. A utilização de estrume dos animais evita que se usem fertilizantes de síntese, promovendo uma agricultura mais ecológica. Os asininos evitam o avanço dos matos incultos, cuja presença descaracteriza a paisagem rural e facilita a propagação dos fogos.


Os asininos também têm aptidão para o pastoreio, fundamental para a preservação dos lameiros (prados e pastagens espontâneos), que se degradam caso não sejam pastoreados e/ou cortados. Os lameiros permitem a conservação de muros de pedra e sebes vivas, estas últimas constituídas por espécies autóctones (espécie que ocorre de forma natural numa dada região) como por exemplo, o Freixo-de-folhas-estreitas (Fraxinus angustifolia), e que servem de limite ao lameiro. Os muros de pedra e sebes têm um elevado interesse para a conservação de fauna selvagem, pois servem de abrigo e de local de reprodução a numerosas espécies importantes no controlo de pragas agrícolas.


No Nordeste Transmontano, o importante papel desempenhado pelo burro não se esgota com a sua morte. Assim, os cadáveres de asininos (e de outros equídeos), após ser verificada a sua condição sanitária por um Médico Veterinário, são transportados para um dos alimentadores de abutres autorizados no Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), onde se alimentam as aves necrófagas (animais que se alimentam dos cadáveres de outros animais) que nidificam nesta área protegida, e.g. Abutre do Egipto (Neophron percnopterus), Grifo (Gyps fulvus).


A certificação dos cadáveres pelo Médico Veterinário é fundamental para prevenir a transmissão de doenças na cadeia alimentar, ou pelo perigo causado pelo envenenamento dos animais que servem de alimento às espécies do topo da cadeia alimentar, e.g. abutre, lobo etc. É o Médico Veterinário quem decide se o cadáver do animal está ou não em condições de ser consumido por outras espécies, sem causar efeitos negativos.
Os abutres, como todos os animais necrófagos, desempenham um papel importantíssimo na cadeia alimentar, limpando os cadáveres dos animais e os excrementos, que de outro modo se acumulariam provocando mau cheiro e aumentando a probabilidade de transmissão de doenças no meio natural. Numa área protegida (PNDI) em que a disponibilidade alimentar para estas aves necrófagas não é assim tão grande, os cadáveres de equídeos, e.g. burros, têm a nobre e importante função de contribuir para a sua sobrevivência.

 

Fonte: Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Saiba como diagnosticar e tratar as endometrites em equinos

 

As endometrites são processos inflamatórios agudos, crônicos ou degenerativos do endométrio, podendo estes estar ou não associados a agentes infecciosos. Estas endometrites podem ser divididas em: a) causadas por doenças sexualmente transmissíveis; b) persistentes induzidas pela cobertura; c) crônicas; e d) crônica degenerativa.

O diagnóstico clínico pode ser feito por exame externo, com a presença de secreção muco purulenta.

A palpação retal pode auxiliar, mostrando o quadro uterino, que deverá apresentar-se sem tônus e com volume maior. O exame ultra-sonográfico mostra principalmente o acúmulo de líquido no interior do útero, sendo de grande ajuda no dignóstico. A avaliação cervical através do vaginoscópio pode mostrar um colo uterino aberto e relaxado, com forte hiperemia; podendo ter também acúmulo de líquido no fundo do saco vaginal.

O diagnóstico definitivo é através de swab e biópsia uterina.

Existem alguns fatores predisponentes que podem ajudar na ocorrência desta patologia, como por exemplo: idade, conformação perineal, condição corporal e utilização do cio do potro. Podem também ocorrer falhas nas barreiras físicas de defesa uterina (lábios vulvares, prega vestíbulo-vaginal e cérvix ); falhas nos mecanismos imunológicos ( S.I. humoral e celular ) e também podem ocorrer problemas na contratilidade miometrial sendo esta baixa ou nenhuma. A ocorrência destes fatores, associados ou não, podem desencadear uma endometrite.

O sêmen tem grande influência neste processo, pois no momento da cobertura, este carrega consigo várias bactérias e debrís celulares, causando assim uma reação inflamatória fisiológica. As éguas podem ser classificadas quanto ao seu tempo de resposta a este processo inflamatório em resistentes, se eliminarem a inflamação em até 72 h, ou susceptíveis, se a inflamação uterina persistir.

O principal agente etiológico, ou seja, encontrado em mais de 50% dos casos é o Streptococcus zooepidermicus, podendo também ser encontrados E.coli,Peseudomonas aeruginosa e Klebsiela peneumonie.

O tratamento pode ser realizado de 1h até 4 dias após a cobertura, sendo realizado através de lavagens uterinas com solução fisiológica, infusão de antibiótico (ampicilina/penicilina), utilização de ocitocina (ajudar na contratilidade uterina) e também pode-se utilizar plasma com leucócitos, associado à terapia com antibiótico.

A prevenção desta patologia pode ser realizada através de um bom manejo na hora da cobertura, realizando minuciosa limpeza da genitália externa da égua e do garanhão. Outro método utilizado é a redução do número de coberturas.

O uso de diluentes de sêmen, contendo antibióticos também ajuda a diminuir a contaminação uterina. Em éguas que possuem má conformação vulvar, é indicado o fechamento parcial da mesma, impedindo assim, a entrada de ar e outras sujidades. Através da realização destes procedimentos podem-se reduzir em grande quantidade possíveis contaminações, inflamações e consequentes endometrites.

Fonte: Ouro Fino

domingo, 1 de dezembro de 2013

Depoimento - Betinho

Depois de muitas tentativas e alguns meses de espera, consegui falar com Betinho numa tarde quente em Goiânia. Betinho trabalha atualmente em uma fazenda no município de Piracanjuba, em Goiás, e pouco vem à capital para ver a família e resolver seus assuntos pessoais. Sua casa, no bairro de Campinas, o mais antigo da cidade, foi construída onde outrora existiam muitos terrenos baldios e pouco movimento. Hoje a rua onde fica é um eixo de transporte, movimentada e não foi muito fácil encontrá-la. Betinho, como os outros, foi uma indicação de Neném Prado. Encontrei-o na companhia de Ivo, companheiro de viagens de muitos anos e foi lá, na sala decorada por berrantes na parede, que conversamos:

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- Betinho, eu queria saber de você as origens, como tudo começou ...
- Eu me chamo Idalberto Blanco Nunes e nasci em Buriti Alegre (sul de Goiás) em 21 de maio de 1942. Quer dizer, esse ano faço 65 anos ... Eu comecei a viajar com 8 anos de idade, tinha um tio que era peão de boiadeiro, eu morava com ele e aí, com 8 anos ele me levou prá fazer uma viagem ... foi minha primeira viagem como peão ...
- Igual ao Vandes, quando fiz a entrevista com ele eu soube e fiquei surpreso com a idade ...
- Pois é, lá fui eu ... foi uma viagem com o comissário Juca Lalau, tocando uma boiada do João Teimoso ... Nós pegamos o gado em Água Limpa prá entregar em Salto de Avaiandava, perto de Promissão (SP). Foram umas 35 marchas ... Nessa viagem, teve um troço que me deixou envergonhado, eu nunca esqueci ... me deram uma égua prá montar e essa égua tinha a orelha torta, nossa mãe, eu ficava muito envergonhado daquilo ... e, prá piorar, quando a gente chegou no rio Pedra Branca, caiu uma chuva muito
forte, eu tava na culatra - eu ficava com os bois cansados ou machucados lá trás – e aí a boiada foi se afastando de mim e começou essa chuva, eu com aquelas reses e pronto: com chuva, o gado vira prá trás e começa a voltar e eu não conseguia fazer eles ir prá frente, fiquei sozinho ali, com 8 anos de idade, sem conseguir fazer o gado ir prá frente. Passei muito medo. Sorte que meu tio deu por falta de mim, voltou e me ajudou.
- Depois disso, na volta, você continuou a estudar ?
- Voltei, mas eu tinha invocado com boiada. Daí, não parei mais de viajar, larguei os estudos e continuei. Quando eu tinha uns 15 anos, briguei com meu tio, saí da casa dele e fui morar com um amigo, o Canjica, larguei de viajar com meu tio, fiz muitas viagens com seu Alcides, Induque, Claudivino, Geraldinho Bento ...
- Quando você veio para Goiânia ?
- Vim prá Goiânia com uns 17 anos e fui trabalhar com o Geraldo Catalão, comissário. Trabalhei com ele uns 8 anos.

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- As viagens, continuavam para São Paulo ?
- É, era tudo prá São Paulo. Depois fui trabalhar com Nego Cícero, viajei muito tempo com ele, com tropa dele. Era tudo viagem de Goiás prá Vila Rica, no Mato Grosso. Atravessava o rio Araguaia no São Félix (S. Félix do Araguaia, MT) ou em Santa Terezinha ... a boiada passava toda na balsa, o rio era muito largo.
- E quando é que você virou comissário ?
- Ah, eu comprei uma tropa de 20 burros do Nego Cícero, com dinheiro de um lote que eu vendi. Eu tinha comprado esse lote, aqui em Goiânia, com economia feita com o trabalho na estrada ... Aí eu passei a fazer viagens para o Bordon (Frigorífico Bordon), pegava gado dentro de Goiás e Mato Grosso e levava prá São Miguel (S. Miguel do Araguaia, Goiás). Fiquei muitos anos nisso ...
- E depois ?
- Só viajando ... teve uns meses que fiquei dando pastoreio prá umas 1800 vacas lá no Mato Grosso, parei de viajar, mas peguei uma doença, a tal da “caladinha”, a gente fica tão doente que não consegue falar, tive que vir prá Goiânia, fiquei internado, deu trabalho ... Depois de curado, voltei a viajar.
- Eu sei que você fez uma sociedade com Neném Prado, como foi isso ?
- É, depois disso tudo eu juntei minha tropa com a do Neném, ele comprava o gado e eu viajava, uma hora com minha tropa, outra com a tropa dele. Espera aí ... eu estou esquecendo que, antes de comprar minha tropa eu fiz muitas viagens com seu Álvaro, eu contava o gado prá ele, fiz muitas viagens com seu Álvaro pro norte e prá São Paulo ...

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- Que bom você falar nisso, eu tinha esquecido que Seu Álvaro foi comissário por muito tempo. Quando eu o conheci, ele já estava trabalhando como peão de boiadeiro para o Neném Prado, acompanhei algumas boiadas com seu Álvaro na culatra, no início dos anos 90 ...
- Pois então, eu é que contava os bois prá ele. Teve uma viagem que fiz, foi a maior boiada que levei, foram 1791 bois de Catalão prá Novo Horizonte (SP), foram umas 60 marchas.
- Quase dois mil bois ? Isso era muito raro, né ?
- Era, dava muito trabalho prá contar, prá fechar o gado, foi uma canseira. Bom, mas voltando pro Neném Prado, trabalhei de sociedade com ele até quase parar. Só fiz mais uma viagem, a última, foi com Neném da Carmelita, foram 38 marchas, deu prá eu ganhar 4.000 reais ... você vê, hoje eu ganho 600 por mês na fazenda que trabalho e em 2002 eu ganhei 4.000 reais em 38 dias de serviço ... a gente sente falta mesmo da estrada.
- E a família, Betinho, quando você se casou ?
- Eu casei em Goiânia, em 74. Tive duas filhas, uma já casou e a outra é essa que mora comigo. Comprei esse lote aqui a prestação, fiz um barracão primeiro, fui morando e depois construí a casa aos poucos.
- E as histórias das viagens, os casos ? Tem alguma lembrança especial ?
- Rapaz, tem uma viagem muito triste, muito fúnebre ... quando eu era menino em Buriti, fiz uma viagem prá Promissão com Valmir Inácio, cunhado de Zé da Neta. Em Frutal (MG), num pouso que a gente ia fazer, quando o peão foi entrar no curral que a gente ia fechar o gado, tinha um homem morto, pendurado numa árvore ... foi terrível. Mas o pior foi na volta: o caminhão que a gente vinha tombou, perto de Frutal e um companheiro nosso morreu. Quer dizer, a viagem tava agourenta, né ?

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- É, essa foi triste ... e alguma viagem especialmente boa ?
- Ah, na época da Bordon, eram as melhores viagens que eu fazia ... tinha pouca despesa, sem carro prá atrapalhar, tudo no sertão, muita pescaria ... era muito bom. Mas, ainda teve uma viagem muito ruim também. Foi numa com Nego Cícero pra Vila Rica, no Mato Grosso. Dois peões adoeceram, o Luis Bento e o Dito Lázaro, ficaram muito mal. Quando chegamos em Porto Alegre (cidade do MT), eles comeram muita melancia, atacou o fígado, a malária também e aí os dois morreram ...
- Viagem boa é sempre longe do asfalto ...
- Pois é, eu não gostava de jeito nenhum. Quando a gente viajava pelo asfalto e tinha que pousar na beira da rodovia, eu tinha uma mula muito boa, de nome Brahma, eu deixava ela arriada e dormia no pé dela. Se algum carro espantasse a boiada, eu montava no ato e saía pra recolher o gado. Eu dormia e ela ficava lá, quietinha, do meu lado. Aliás, a derradeira coisa que me cansou e me fez para de vez foi quando um carro atropelou a boiada e quebrou 3 bois ... foi um descuido do bandeira (o sinalizador da pista), foi a pior viagem do mundo. Depois dessa eu parei.

Betinho viajou até 2002. Desde então trabalha numa fazenda em Piracanjuba, em Goiás, tomando conta de mil e duzentos bois. Deixei-o no início da noite quente de verão, na companhia de Ivo Duarte de Almeida, companheiro de muitos anos de viagem, hoje também aposentado. Ambos demonstram ter excelente saúde e uma disposição imensa para trabalhar.
Goiânia, março de 2007.

Fonte: Foto Memória

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Saiba porque os cavalos precisam ingerir sal

 

Para os cavalos o sal é essencial para o equilíbrio dos líquidos do organismo, o que o protege da desidratação. Além disso, estabiliza o sistema nervoso, muscular e digestivo. Sua falta pode causar diminuição da capacidade de trabalho, incapacidade de transpirar e desidratação.

O cavalo que está com deficiência de sal no organismo apresenta hábitos indesejáveis, como comer fezes. Essa é uma tentativa de repor o nível de cloreto de sódio, já que a maior parte dos cavalos sabe controlar a quantidade de sal que necessita.

A quantidade de sal ingerida por dia por um cavalo depende de vários fatores como quantidade de atividade física, tipo de trabalho, condições climáticas, stress entre outros. A maioria das rações concentradas já contém sal na proporção adequada para cavalos que se exercitam pouco. Ainda assim é necessário disponibilizar uma quantidade de sal ao alcance do animal, devido a variação do desgaste físico do animal.

Um cavalo com cerca de 460kg de peso, em descanso ou trabalho ligeiro pode comer 4 colheres de sopa de sal grosso por dia, distribuídos na ração. Esta afirmação serve para cavalos que comem cereais (aveia, cevada). Se comer ração concentrada deve-se diminuir a quantidade de sal, subtraindo a quantidade já presente  descrita na ração. Os cavalos que comem cereais têm mais carência de sal.

Quando o cavalo é alimentado com ração contendo sal, pode se disponibilizar uma pedra de sal para que o cavalo lamba de acordo com sua necessidade. Caso o animal tenha a mania de morder a pedra de sal, o melhor é disponibilizar a quantidade adequada de sal grosso.

Blocos de sal que contêm outros minerais para além do cloreto de sódio não são muito aconselháveis, uma vez que este parece ser o único mineral que o cavalo sabe dosar. Nunca lhe dê blocos com melaço ou sabor  maçã ; esses paladares podem fazê-lo ingerir sal a mais – a finalidade é que ele ingira só o sal necessário.

O cavalo que transpira abundantemente perde grandes quantidades de cloreto de sódio e ainda de cálcio, magnésio e potássio. Nesse caso não aumente a dose de sal que lhe dá diariamente. Em vez disso, dê-lhe uma mistura de electrólitos bem equilibrada meia hora antes do esforço e de novo após o trabalho. No entanto deve dar-se atenção aos regulamentos das provas desportivas pois algumas delas não permitem a sua utilização.

Os electrólitos só devem ser administrados nas doses adequadas e só quando o cavalo efectua trabalho intenso.

Fonte: Portal Equisport

Adaptação: Revista Agropecuária

domingo, 10 de novembro de 2013

Vocabulário do tropeiro Olmiro de Campos Pereira

 

Entrevero: choque de dois corpos de cavalaria

Pica-pau: soldado da polícia

Maragato: participante da Aliança Libertadora de 1923, liderada por Assis Brasil, infenso (contrário) ao partido do governador do R. G. do Sul, Borges Medeiros.

Vau: trecho raso de rio ou mar onde se pode transitar a pé ou a cavalo

Péia: ato de pelar

Sestear: fazer a sesta

Reiúna: ruim, ordinário, de baixa qualidade

Bochinchos: (bochinche) intriga, desordem, arruaça

Bergamota: pêra sumarenta (tangerina)

Rego: valo, valeta, sulco natural ou artificial que conduz água

Estanceiro: proprietário de estância

Mesureiro: que faz mesuras, cerimonioso, servil, odulador

Apeiros: instrumentos de lavoura ou de qualquer arte ou ofício

Apeirar: jungir ao carro ou à charrua

Jungir: ligar, prender

Bolicho: (estabelecimento em que se joga boliche) – bodega, armazém de secos e molhados.

Matungo: cavalo sem raça, velho sem préstimo.

Fonte: Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapeva

sábado, 9 de novembro de 2013

Carne de cavalo,você comeria?

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O consumo de carne de cavalo está aumentando, em todo o mundo e o Brasil já é o terceiro maior fornecedor desse produto para outros países.

Um Shopping da Zona Oeste de São Paulo questionou seus frequentadores, numa pesquisa de opinião, com esta pergunta “Você comeria carne de cavalo?”. É parte de uma campanha publicitária de um canal fechado de TV, que está lançando, esta semana, um programa sobre alimentos exóticos. No painel do programa, há um painel gigante que simula um forno de frangos. No lugar deles, aparece um cavalo girando no espeto.

Será destaque o mercado Ver-o-Peso, de Belém (PA) e, segundo informou o canal, a abordagem será em torno das propriedades afrodisíacas dos produtos vendidos lá.

O consumo de ervas e plantas diversas, como as da Amazônia, também será abordado no mesmo programa. “Cavalos são animais de estimação ou podem ser consumidos?”. Esta é uma das perguntas que serão feitas aos telespectadores.

Muitas vezes, constitui-se um tabu, de cunho religioso, o consumo de diferentes tipos de animais. É comum o consumo de carne de cachorro, na China, (maior em regiões do interior). Na Índia, bovinos são considerados animais sagrados e não é permitido seu consumo, enquanto o contrário acontece no Brasil.

Para os católicos, comer carne de cavalos já foi considerado um ato pecaminoso, no Brasil e em países dessa mesma tradição religiosa. Entretanto, em outros países, da Europa e da Ásia, esse hábito é comum.

Segundo alguns episódios históricos, os equinos eram consumidos em larga escala em festas pagãs, por volta dos anos 700, e por isso, a igreja teria proibido o seu consumo, só liberando este hábito, alguns anos depois.

O Brasil exporta cerca de 15 mil toneladas de carne de equinos por ano. Os principais importadores são a França, Bélgica, Itália, Rússia, Suíça e Japão. A receita média anual chega a somar US$ 35 milhões. Existem, pelo menos, cinco frigoríficos especializados, atuando neste setor. A carne equina é vendida por R25, em média.

Os cavalos, no Oriente, especialmente no Japão, estão sendo usados para fazer um tipo de sashimi exótico, o basashi, que caiu no gosto dos consumidores. Hoje, há até um sorvete sabor basashi, sendo vendido, com sucesso, naquele país.

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, liberou o consumo da carne equina, proibida desde 2006. Assim, o ministério da agricultura norte-americano estima em 200 mil cabeças desses animais abatidos, ao ano, para a alimentação humana. Certamente, os mesmos importadores europeus, do Brasil, o serão, em relação aos Estados Unidos.
A farinha de ração é feita a partir do sangue e dos ossos de cavalos. Da crina se produzem pinceis. Cavalos usados em esportes são inadequados para o consumo humano.

Os cortes da carne de cavalo são semelhantes aos de carne bovina: filé mignon, alcatra, contrafilé, fraldinha, patinho, lagarto, coxão duro e coxão mole.

Fonte: Rural Pecuária
Adaptação: Escola do Cavalo

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Tendinite em equinos: O que fazer?


Para que os equinos retornem o quanto antes, às suas atividades anteriormente desempenhadas, faz-se necessário que a tendinite seja tratada dentro de um tempo muito breve. Nos últimos anos, muitos são os estudos acerca desse tratamento.

Discute-se bastante, porém as dúvidas se concentram em quanto tempo o paciente deve ficar em repouso, qual tratamento ideal, quando e como iniciar o exercício. Infelizmente, não há uma receita mágica, já que as particularidades individuais devem ser consideradas.

Vários procedimentos são largamente divulgados, na tentativa de diminuir a ação inflamatória na fase aguda. O gelo, em várias  seções diárias, não superando 30 minutos cada, é uma indicação nos primeiros dias. Antiinflamatórios não esteroidais ,dimetilsulfóxido (DMSO), glicosaminoglicanospolissulfatados são amplamente utilizados via sistêmica e local com resultados positivos.(THOMASSIAN,2005).

Clinicamente, a maior preocupação é quanto ao processo reparativo , no que diz respeito ao retorno da função  e preservação da característica fibroelástica do tendão (ALVES,1994).

Infiltrações, viaintralesional têm sido utilizados, nos últimos anos, entre elas: corticoesteróides, hialuronato de sódio, fumarato de beta-aminoproprionitrila e mais recentemente as células tronco.

Além disso, técnicas cirúrgicas como a do“Splitting”, Desmotomia do Ligamento Carpiano Inferior  ou Superior e Desmotomia Anular Palmar são citadas.

A incidência de aderências intertendíneas e a reparação não satisfatória da lesão, concomitante com o início inadequado e adiantado do exercício, aumentam a recidiva das tendinites.

O exame ultrassonográfico deve ser realizado não só no momento da instalação da lesão tendínea, bem como em intervalos regulares para acompanhar a reparação e seu remodelamento.

Há que se ter o cuidado especial ao avaliar esta estrutura, principalmente em animais de pólo que possuem recidiva de tendinite de uma temporada para outra.

Muitos proprietários, por questões culturais, ainda não seguem esses protocolos e tendem ao uso indiscriminado de revulsivos, sem o acompanhamento ultrassonográfico e muito menos no intuito de diminuir a inflamação pós procedimento, soltando os animais a campo, deixando-os por meses.

Porém tais animais tendem a restringir o movimento nas primeiras semanas, sendo que as aderências muitas vezes se tornam inevitáveis. Além disso, o alinhamento das fibras , na maioria dos casos, não é satisfatório.
O exercício assistido, pós tendinite, deve existir, após a diminuição da inflamação da fase aguda, no intuito de alinhar as fibras e remodelar o tendíneo. Por isso o exame ultrassonográfico é imprescindível para uma avaliação fidedigna de como está a recuperação da lesão ( ALVES et al., 2001).

Por: Pierre Barnabé Escodro-Médico Veterinário graduado na UFPR-Curitiba
Fonte: Cavalo do Sul de Minas
Adaptação: Escola do Cavalo

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Depoimento - Zé da Neta


Entrevistar Zé da Neta, aliás José Martins de Oliveira, foi quase uma epopéia: muitas idas à Rua 7, no centro de Goiânia, alguns telefonemas para sua casa e muita insistência para quebrar a desconfiança natural desse senhor de 86 anos de idade bem vividos, empertigado, corpo ereto, bem lúcido, com um português falado notável e, caso raro, quase sem regionalismos. Zé da Neta ficou órfão de pai muito novo e sua mãe, viúva jovem, era conhecida como Neta, na pequena Buriti Alegre da década de 30. Cedo Zé resolveu sair de casa por não combinar com o padrasto e cedo enveredou pelo caminho das tropas e boiadas, viajando com um tio chamado Zé Felino. Viajou por 30 anos, até o início da década de 60. De lá para cá, negociou gado, comprou, vendeu. Mas já são mais de 40 anos longe da estrada boiadeira, da comitiva, do fogo no chão, do sono ao relento. E apesar dessa distância no tempo, Zé da Neta não perdeu a paixão pela tropa e pela lida com o gado, paixão que se vê no brilho dos seus olhos quando fala daquela época. Nossa conversa começou informalmente, sentados em cadeiras de uma garagem de aluguel na rua 7, rodeados de outros velhos e novos boiadeiros e fazendeiros, que dali fazem seu ponto de encontro e de negócios:
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- ... meu pai morreu novo, com 32 anos, eu ainda era bem novinho, tinha só 1 ano de idade, nasci em maio de 1921 ... ele morreu com maleita (malária) e eu fiquei com minha mãe e uma irmã. Minha mãe era chamada de Neta lá em Buriti, daí eu ter ficado com o apelido ... mas ela casou de novo, eu não me dava com o padrasto, sabe como são essas coisas, né ? E aí, com 12 anos acho ... acho que em 34, eu peguei viagem com meu tio, o Zé Felino, sujeito bom, comissário experiente. E lá fui eu para São Paulo nessa primeira viagem e fiquei nessa vida de 1934 até 1959, morando em Buriti ... Pois é, eu nasci em Buriti Alegre (GO) mesmo e meu pai era de Uberlândia e minha mãe de Santa Maria (ambas em MG) ....
- E as viagens foram até quando ? Quando o sr. virou comissário ?
- Eu vim para Goiânia em 1959, ainda viajei até 1962 ... é, acho que foi 62, daí parei de viajar, comecei comprando e vendendo gado, ganhando comissão, essas coisas. Mas eu virei comissário acho que foi em 1954 ... (hesita) ... acho que começo dos anos 50, ... foi em 1954, eu comprei minha primeira tropa do Alcides, conhece o Alcides ?
- Conheço, já entrevistei ...
- Pois é, o Alcides me vendeu a primeira tropa. E eu viajava todo o ano, levava de 1.000 a 1.500 bois ...
- Mas 1.500 não é muito mais difícil de tocar na viagem, mais complicado ?
- É, mas nesses casos eu “cortava marcha”, dividia a boiada em duas partes, uma com 800 e a outra com 700, como se fossem duas comitivas ...
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- Então tinha muito peão, muito burro e mula ...
- Eram uns 25 burros, muito peão, ia bem, ia bem, não era difícil não. Eu saía de Buriti, pulava (passava) o rio em Itumbiara (rio Paranaíba, divisa de GO e MG), na ponte, já tinha a ponte. Mas antes da ponte, desde quando eu comecei a viajar, criança ainda, a gente passava o rio bem acima, no Porto da Mangueira, a nado ... aliás a maior dificuldade que eu achava era passar rio a nado, hoje em dia ninguém tem mais essa coragem não ! Meu tio Zé Felino era homem de coragem, nadava muito bem, a gente atravessava o rio em curva: saía com o gado e a tropa beirando a margem de cá, contra a corrente, e ia indo pro meio do rio ... a correnteza então empurrava a gente, a boiada ia fazendo a curva e já ia a favor da correnteza e aí passava para a outra margem ... aliás, eu lembro de uma coisa, nunca esqueci, fiquei muito impressionado, eu era menino: numa viagem, a gente pousou numa fazenda a umas duas léguas (12 km) do rio Corumbá, rio rápido e fundo, cheio de pedras ... meu tio Zé Felino acordou a gente cedinho, umas 4 da manhã, para gente ir embora, tinha que atravessar a boiada toda no Corumbá naquele dia, aquela coisa toda, um trabalhão. Tinha um peão chamado Miro, um sujeito bom, muito bom mesmo, que levantou todo animado e disse, veja bem, eu nunca esqueci disso, até hoje lembro como se fosse agora, as exatas palavras dele: “a hora é essa, Zé Felino, uns acaba outros começa” ... E aí lá fomos nós pro rio, para a travessia. Chegamos lá, o Miro era dos mais afoitos, foi tocando o gado dentro d’água e, de repente, uma vaca pegou ele por baixo, ele perdeu o rumo, foi parar no meio da vacada atravessando a nado, ele não conseguia se safar daquilo .. eu lembro dele gritar “me acode, Zé Felino, me acode”, todo aflito, se afogando, não conseguindo sair do bolo das vacas atravessando. Meu tio, que ainda tava do lado de cá na margem, mergulhou no rio, ele gostava muito do Miro, foi até lá mas não deu mais tempo, o Miro se afogou, rodou rio abaixo ... morreu. O sr. sabe que eu viajei com o pai desse aqui, ó (aponta para Neném Prado, que assiste a conversa), o Zezé Prado ? Zezé não sabia nadar, mas atravessava vários rios montado no lombo do burro e tocava o gado assim, nas travessias, era muito corajoso ...
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- Não, não sabia. O Neném até me emprestou uma fotografia do pai dele, o Zezé, justamente dessa época que o sr. fala, década de 30 ... Mas, quando vocês começaram a ir por Itumbiara, passavam por aquela serra, uma serra entre Buriti e Itumbiara, que tem um platô no alto ?
- É, passava, era uma estrada boiadeira que hoje está asfaltada, sobre a Serra do Adauto, é a estrada que passa na chapada no topo da serra.
- Buriti naquele tempo tinha muito movimento, né ?
- Tinha, porque era fronteira, era uma espécie de centro de distribuição de boi. Naquela época Goiás não tinha invernista (o fazendeiro que engorda gado para o abate). Os boiadeiros vinham para o interior de Goiás, compravam boi magro em Inhumas, Itaberaí, Anicuns, levavam para Buriti Alegre e vendiam para os invernistas de São Paulo. Até o começo dos anos 60 era assim ... depois Goiás começou a ter invernista também e tudo mudou ... Mas Buriti era muito movimentada, tinha de tudo lá, comissário, peão, invernista em viagem, pistoleiro ... Aliás, deixa eu contar uma história de quando eu era menino também, eram três irmãos de uma família de lá, gente boa mas braba: um deles foi morto pela amante, era uma jovem, eles já tinham caso há muito tempo, o moço era casado e um dia essa mulher matou o amante ... o caso deu um alvoroço danado, a moça foi a júri e acabou absolvida. Pois na hora mesmo que ela saiu livre do fórum, foi deitar num banco para descansar, acho que dentro ainda do fórum, um outro irmão chegou e disse “você escapou da justiça mas não escapa de mim”, mais ou menos isso. E passou fogo na moça, matou na hora.
- Foi preso ?
- Nada, era família influente, vingou o irmão ...
- Vamos voltar às viagens ...
- Eu viajei até 54 de peão de boiadeiro quando comprei a tropa do Alcides, eram 16 burros. Fiz a primeira viagem para Mirandópolis, em São Paulo. Ganhei um dinheirinho e, aí, na volta, comecei a comprar mais burros ... e as viagens eram muitas. O sr. sabe que até a década de 80 a comitiva não era na carroça, era burro cargueiro, eu nunca me acostumei com essa tal de carroça na comitiva. Os burros cargueiros eram bons demais, conheciam todos os pontos de pouso, na hora do almoço viravam no trieiro (trilha que levava a algum lugar, no caso para almoçar) ... sabiam direitinho. E a gente, até os anos 60, na volta das viagens, depois que entregava o gado, vinha era montado ... não tinha estrada de rodagem nem caminhão ...
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- Quanto tempo levava na volta, não era a mesma coisa, né ?
- Não, era metade do tempo, mais ou menos. Era um tempo bom, até hoje eu tenho saudade ... mesmo com muitas viagens ruins, e eu lembro de muitas, boi espalhar, boi adoecer, na época não tinha vacina, era um trabalhão danado ... Mas tinha muita coisa boa, eu lembro de uma, era um pouso em Monte Alegre, lá em Minas. O pouso era de um nordestino, que reconhecia minha boiada pelo barulho dos guizos e polacas da tropa, quando a gente tava chegando, “lá vem o Zé da Neta” ... Conhecia de longe. E eu era um comissário muito garboso, muito ajeitado, minha tropa só andava toda arrumada. Esse nordestino tinha a mulher muito bonita, eu chegava lá e ele mandava eu ir conversar com ela, eu achava bom ...
- E dinheiro, dava para viver bem ?
- Eu lembro de ganhar 2 mil e quinhentos réis a marcha, acho que era isso ... também lembro de colocar as notas de 500 réis no bolso, as folhas de couve ... eram umas notas verdes, grandes, pareciam folhas de couve, o povo chamava elas assim. Eu pegava essas notas, enchia os bolsos e saía para comprar gado, naquele tempo não tinha risco, ninguém roubava ... ganhei dinheiro sim.
Naquele tempo Goiás só tinha boi magro, não engordava boi, não tinha frigorífico aqui. Eu vinha de Buriti pegar boiada em Inhumas, Itaberaí. Pegava e tocava para Buriti e daí ia para Barretos, Promissão ... (SP). Às vezes ia até Caiapônia pegar gado, era um sertão sem fim ...
- (Neném fala) Caiapônia na época era Rio Bonito ...
- É, lá era muito difícil, havia muita doença ... doença ruim, peão tinha medo de ir até lá, era um sertão ...
- Que tipo de doença ?
- Aquela que cai os dedos ...
- A que chamavam lepra ?
- É, era muito difícil ir até lá. Mas tinha um tipo de viagem (vira-se para Neném Prado), lá pros lados de Patos de Minas, que tinha uns peões de boiadeiro que viajavam a pé ...
- A pé ?!
- Eles iam na culatra (Neném confirma) a pé, eram chamados de “pula moita”. Iam tocando o gado na culatra e voltavam a pé, às vezes as viagens duravam 70 dias, eles a pé ... Lá em Patos tinham muitos desses ...
Marquei com Zé da Neta para tirar algumas fotos em sua casa, em um bairro de Goiânia. Lá conheci sua família, segundo ele mesmo, sua razão da vida longa e saudável. E, sentado numa mesa farta, com um delicioso pudim de leite, bolo de queijo, biscoito de queijo e café à vontade, conversei mais um pouco com o Zé e sua simpaticíssima esposa, d. Iolanda. Ela é sua segunda mulher. Zé da Neta enviuvou em 1964 (tinha casado em 1939, com 18 anos de idade) e se casou, em segundas núpcias, com d. Iolanda, segundo ela mesmo, em 65 ou 66. Tem 3 filhos do primeiro casamento e uma do segundo. Tem muitos netos, bisnetos e tataranetos. D. Iolanda, além de excelente cozinheira, tem com certeza, uma imensa participação no olhar de felicidade que Zé da Neta preserva até hoje, do alto de seus 86 anos.
Goiânia, agosto/setembro de 2007.
Fonte: Foto Memória

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Cuidados com as feridas e lesões em cavalos

 

Ao se perceberem ferimentos nos cavalos, as primeiras providências podem ser fundamentais para a cura e cicatrização, prevenindo-se maiores danos. É importante solicitar, de pronto, a presença de um profissional veterinário.

Enquanto se aguarda sua chegada, deve-se tomar a atitude de acalmar e conter o animal, procurando minimizar-lhe o sofrimento, levando-o a um local que lhe seja mais familiar. Oferecer-lhe o feno pode lhe trazer distração, e, consequentemente, deixá-lo mais tranquilo, até que se possa avaliar a profundidade e a gravidade de seus ferimentos.

Sangramento excessivo; ferimentos que ultrapassem toda a espessura da pele; feridas próximas às articulações; perfurações; feridas severamente contaminadas (prego enferrujado, por exemplo) são as situações que mais necessitam da presença de um médico veterinário.

Hemorragias incontroláveis podem ser desencadeadas por uma atitude inadequada do cuidador, como, por exemplo, a tentativa de se retirar objetos cortantes ou perfurantes que possam ter provocado o ferimento. Deve-se usar, apenas, uma compressa fria. Um pano estéril pode estancar o sangue; não se deve usar algodão. Todo cuidado é pouco ao se retirar, por exemplo, objetos cortantes do casco, pois o ferimento pode se tornar mais profundo.

Somente o veterinário terá condições de avaliar melhor e tomar as devidas providências, através de medicação específica, pois a vida do animal pode ser colocada em risco. Em todos os casos de lesões por ferimentos, por lacerações ou perfurações, deve-se vacinar o animal contra o tétano.

Traumas, fraturas, paralisias, picadas de cobras (acidentes ofídicos) e cólicas são emergências que exigem do tratador muita calma.

Se ocorrer a síndrome da cólica, o simples caminhar já contribui para que se agrave a dor, e o galopar é ainda mais prejudicial, porque acelera a frequência cardíaca, gerando prejuízos maiores ao estado do animal.

Em situações de campo, é importante encontrar locais adequados à manutenção do cavalo em decúbito, em local limpo e macio. Um gramado à sombra pode ser uma opção acessível.

Quando está em decúbito lateral, o cavalo sofre dificuldade na oxigenação sanguínea, pois o pulmão que está para baixo recebe mais sangue (hiperperfusão) e menos ar (hipoventilação), o contrário acontecendo com o pulmão que está para cima, com menos sangue (hipoperfusão) e mais ar (hiperventilação). Em poucas palavras, sobra ar onde tem menos sangue para hematose.

Outra alteração do cavalo em decúbito lateral prolongado é o excesso de peso sobre regiões específicas que podem levar a lesões musculares ou de nervos periféricos. Estas lesões podem causar dificuldade no retorno anestésico e transtornos pós-anestésicos.

Os dois fatores citados são limitantes para o tempo que o cavalo permanecerá deitado.

Deve-se atentar para os cuidados com o cavalo em decúbito lateral sob anestesia geral: proteger a cabeça sobre material macio, evitar traumatismo no globo ocular, evitar aspiração de poeira, tracionar cranialmente o membro torácico que estiver por baixo, para reduzir a pressão pelo peso. Assim ,os riscos de acidentes durante o procedimento são bem menores.

Fonte: CPT Cursos Presenciais

domingo, 27 de outubro de 2013

A doma e sua importância

 

Muito das conquistas da humanidade se deve à ligação do homem com o cavalo. O homem percebeu, há milhares de anos, que poderia se utilizar desse animal como meio de transporte ou como força bruta, no auxílio aos trabalhos mais pesados, na agricultura, principalmente.

Desde estes longínquos tempos, o homem tem a necessidade de domar este vigoroso animal que vivia livre, até então, em algumas regiões do mundo.

Cultural e historicamente, a doma sempre foi um processo de dominação e submissão do animal às vontades do homem, sendo uma atividade, muitas vezes, cruel para o animal, que sofria muitas e dolorosas punições.

Nos dias de hoje, apesar de ainda se empregar esse processo de doma tradicional, o que mais se usa é o método de doma racional, ou doma moderna que consiste em ganhar a confiança do animal, ao invés de dominá-lo pelo terror. É um longo e proveitoso processo de dominação do animal, despertando sua confiança. Desde pequeno, o cavalo aprende a não temer o domador, criando um forte vínculo com o seu dono ou com quem o conduz.

Ao se realizar a doma, o treinador deve explorar o potencial de inteligência do cavalo. Corajoso e altivo, às vezes, se apresenta muito assustado. Por isso, há que se cuidar para que o animal não sofra grandes sustos, o que colocaria em risco a confiança dele em seu domador.

Sem o uso da força, utilizam-se exercícios de repetição, condicionando-se o cavalo de maneira suave, tornando-o tolerante à monta. Os resultados são muito satisfatórios, além de se evitarem os traumas causados pela doma tradicional. Exige, entretanto, muita paciência. Há casos em que se mesclam as duas espécies de doma, embora não seja a atitude mais recomendada.

O principal objetivo da doma é fazer com que o cavalo aceite normalmente o contato e os comandos do homem, além de se habituar aos arreios, sela e rédeas. É de vital importância que, através da doma, o cavalo aprenda a reagir aos comandos de voz que o cavaleiro faz, como as ordens de partir, parar ou acelerar.

Deve-se lembrar sempre que se trata de um “jogo” e, como tal, oferecem-se recompensas ao animal que está sendo ensinado. Esse estímulo vai fazer com que o cavalo obedeça melhor aos comandos do seu domador. Não se recomenda a punição em caso de erros.

Fonte: Rural News

Adaptação: Escola do Cavalo

domingo, 20 de outubro de 2013

Você Sabia…

 

Que o passo da marcha, que é quando as patas traseiras ultrapassam a pegada das patas dianteiras, não judia tanto do muladeiro / tropeiro como os socos do trote ou do galope de um animal. É claro que os muares têm resistência muito superior aos eqüinos, podendo facilmente fazer 60 quilômetros em um dia.

Que o Trote. É quando o animal fica suspenso no ar, com isso o muladeiro / tropeiro pula muito.

Que os carros possuem 100 anos, os muares, mais de 500.

Que a música Disparada  de Jair Rodrigues, apresentada no festival de musica em 1966, apresentou uma novidade? A banda que o acompanhava, usou uma queixada de burro como instrumento de percussão.

Que nos Estados Unidos (U.S.A) já existem criadores de muares realizando treinando com estes animais para o hipismo.

Que no Estado do Arizona (USA), é crime molestar / judiar um muar, o individuo que assim o fizer será detido.

Que se voce procura por Mula pode estar à procura de:

  • Mula - um animal equídeo;
  • Mula - um município ou rio da região de Múrcia, na Espanha
  • Mula - carregador de droga usado pelos traficantes.

sábado, 19 de outubro de 2013

Diarreia em equinos – como tratar

 

As diarreias são muito comuns, nos equinos, principalmente nos neonatos. A rápida intervenção do médico veterinário é de suma importância para que o animal se recupere num curto período de tempo.

Para isso, é necessário que o profissional faça logo o diagnóstico, atacando o agente causal, introduzindo o tratamento adequado, em função da fragilidade do cavalo, nos primeiros dias de vida.

Em casos de diarreias, a perda de líquido é o principal ponto de preocupação. A taxa metabólica dos potros novos é extremamente elevada em situações normais. Quando acometidos por qualquer patologia, esta taxa eleva-se muito além do seu normal que já é alto e este é mais um dos cuidados que se deve ter em relação aos neonatos, pois, o potro pode chegar a um grau extremo de debilidade, capaz de levá-lo à morte.

Existem diferentes tipos de diarreias que podem acometer o cavalo, assim como há diferentes agentes causadores.

A diarreia do cio do potro é uma patologia que afeta quase todos os potros entre 7 e 14 dias. Coincide com o primeiro estro pós parto apresentado pela égua.

A formação da flora intestinal e trocas fisiológicas no TGI parecem ser as causas mais prováveis, nesse caso.

Esse é o período em que o intestino grosso está se adaptando à absorção dos ácidos graxos voláteis, pois a função digestiva está muito boa, produzindo-os com sua total capacidade, ultrapassando assim o poder absortivo do intestino e, por isso, o animal apresenta diarreia, porque os ácidos são osmoticamente ativos, levando a um maior aporte de água para o lúmen .

Na sintomatologia, o quadro geral fica inalterado, e a diarreia apresenta-se branda, o potro continua mamando. Seu único desconforto se dá pela presença de fezes no períneo e na cauda.

Geralmente, esse tipo de diarreia se resolve em poucos dias. O tratamento se baseia em retirar o desconforto do animal, lavando-se a cauda e o períneo com água morna adicionada de bactericidas para que se evite a disseminação de patógenos que por ventura existam no local.

Caso a doença persista por mais de quatro dias, é indicado o uso de protetores de mucosa para evitar uma injúria maior do trato gastrointestinal, além de produtos que melhorem o PH intestinal, a fim de repor a flora e fauna perdidas, e, se a diarreia se cronificar, indica-se a transfaunação.

Por: Dr. Fábio Mendes Prates – Médico Veterinário

Fonte: Cavalo Completo

Adaptação: Escola do cavalo

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A preparação física do cavalo

Mário Alino Barduni Borges

PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Para que possamos atingir os objetivos propostos ao iniciarmos um programa de preparação física, devemos ter em mente que toda elaboração necessita prioritariamente seguir determinados princípios científicos e que portanto não existe nenhuma “receita mágica” que atenda a todos os animais. Parâmetros e normas devem ser observados de acordo com o que preconizam os estudos realizados na área do Treinamento Desportivo e da Fisiologia do Exercício, que visam através do treinamento produzir certos fenômenos de adaptação ao interior do organismo e induzir a uma melhoria nos sistemas constituintes do animal, tais como cardiovascular, respiratório, etc.

Partindo-se desta premissa, faz-se necessário conhecermos estes princípios científicos que serão os norteadores de todo o processo da preparação física, a saber:

Princípio da Individualidade Biológica: Todo “indivíduo” é resultado da interação genotípica e fenotípica. Essa interação produz respostas diferenciadas, determinando a individualidade biológica e garantindo a  produção de animais totalmente diferentes entre si.

Para o estudo específico deste princípio, devemos entender o Genótipo como a carga genética transmitida ao animal e que determinará fatores tais como: composição corporal, biótipo, altura máxima esperada, força máxima possível, aptidões físicas como consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.), percentual de tipos de fibras musculares, etc.

O Fenótipo, como sendo tudo o que é acrescido ou somado ao animal a partir do nascimento, sendo responsável por outras características: habilidades adquiridas, VO2 máx. apresentado, percentual observável real dos tipos de fibras musculares, potencialidades expressas (altura, força, etc.).

Além desses caracteres individuais, algumas características coletivas influenciam a formação da individualidade, assim sendo, a raça, a idade e o sexo também devem ser levados em conta.

Para facilitar a compreensão do assunto, pode-se dizer que os potenciais são determinados geneticamente, e que as capacidades e ou habilidades expressas são decorrentes do fenótipo.

Princípio da Adaptação: Para que se entenda este princípio, precisamos compreender o conceito de homeostase:

“Homeostase é o estado de equilíbrio instável mantido entre os sistemas constituintes do organismo vivo, e o existente entre este e o meio ambiente”.

A homeostase pode ser rompida por fatores internos, geralmente oriundos do córtex cerebral (ansiedade, angústia, fatores estressantes, etc.) ou externos (calor, frio, altitude, umidade relativa do ar, traumatismos, esforço físico, etc.), e sempre que ela for perturbada, o organismo dispara mecanismos compensatórios que procuram restabelecer este equilíbrio.

Desta forma, mediante a ação de um determinado estímulo, a resposta será diretamente proporcional à sua intensidade, conforme ilustra o quadro abaixo:

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Os estímulos de intensidade forte e muito forte são denominados de stresses, e são os capazes de provocar adaptações ou danos no organismo desencadeando uma Síndrome de Adaptação Geral (SAG). Durante o treinamento o animal é submetido a três tipos de stresses: físicos, bioquímicos e mentais e estes, associados ao princípio da adaptação, é que permitiram a existência do treinamento desportivo.          

Princípio da Sobrecarga: Imediatamente após a aplicação de uma carga de trabalho, há uma recuperação do organismo, visando a restabelecer a homeostase. Um treinamento de alta intensidade provocará a depleção das reservas energéticas orgânicas e o acúmulo de ácido lático e outros exsudatos metabólicos (CO2 , H2O e H+). O tempo necessário para a recuperação será proporcional à intensidade do trabalho realizado, portanto, a dosagem das cargas deverá ser programada de forma que o organismo consiga compensá-la e se preparar para sofrer um novo “desgaste” mais forte que o anterior.

Se a carga for muito forte, ter-se-á o início da exaustão, não sendo possível a recuperação metabólica em um espaço de tempo normal; caso não haja a aplicação de cargas de intensidade crescentes, ou seja, se as cargas forem sempre da mesma intensidade, o organismo tende a assimilar a carga aplicada, havendo uma discreta regressão na capacidade física, se esta for comparada com o nível alcançado logo no início do trabalho.

Princípio da Interdependência Volume / Intensidade: O aumento das cargas de trabalho é uma necessidade para que se obtenha uma melhora no desempenho. Este aumento pode se dar no volume (trabalho moderado / longa duração) ou na intensidade (trabalho intenso / curta duração). Na prática, a sobrecarga sobre o volume ou a intensidade se faz das seguintes formas:

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A escolha da incidência de sobrecarga na intensidade ou no volume, respeitará dois critérios: a qualidade física visada e o período de treinamento.

Qualidades físicas de utilização por curto espaço de tempo (velocidade, resistência anaeróbica, força, etc.) requerem durante o treinamento uma grande ênfase sobre a intensidade em detrimento ao volume; o fenômeno inverso ocorre com as qualidades físicas de emprego prolongado (resistência aeróbica, resistência muscular localizada, flexibilidade, etc.).

Com relação ao período de treinamento, antes de analisarmos esta interdependência, faz-se necessário conhecermos as características especificas de cada um:

1 - Período Preparatório: Período do treinamento em que o animal será elevado à condição competitiva para a temporada em questão. Visa a incrementar o nível de eficiência física, técnica e psicológica para permitir a realização de performances máximas nas competições programadas. Dividi-se em duas fases: básica e específica.

1.1 - Fase Básica: Fase do treinamento em que o esforço primordial será o de criação de uma boa base física, técnica e psicológica do animal. Serão trabalhadas as qualidades físicas ligadas a modalidade em treinamento, complementada a formação corporal e aumentado o lastro fisiológico do animal.

1.2 - Fase Específica: Fase do treinamento em que será feita uma transferência das qualidades físicas, técnicas e psicológicas adquiridas para as necessidades específicas da modalidade em treinamento.

2 - Período de Competição: Período do treinamento no qual o animal, atingindo o peak de seu treinamento, realiza na competição-alvo a sua performance máxima.

3 - Período de Transição: Período do treinamento que se destina a proporcionar ao animal uma recuperação física e mental após os extremos esforços a que se submeteu nas competições que ocorreram no período anterior.

Agora podemos esclarecer que durante a fase básica do período preparatório o volume de treinamento tem uma grande preponderância sobre a intensidade e ao se iniciar a fase especifica a intensidade adquire preponderância sobre o volume. Esta preponderância se acentua durante o período de competição e se inverte no período de transição entre uma temporada e outra.

Princípio da Continuidade: Foi visto anteriormente que o treinamento desportivo baseia-se na aplicação de cargas crescentes que vão sendo progressivamente assimiladas pelo organismo, graças ao princípio da adaptação, e que portanto necessita de uma determinada continuidade para que possa vir a surtir os efeitos desejados. Dois aspectos ressaltam desse princípio: a interrupção do treinamento e a duração do período de treinamento.

A interrupção controlada do treinamento para fins de recuperação é benéfica e imprescindível para o sucesso do programa. Segundo DANTAS (1998), ela pode variar de poucos minutos até 48 horas, após as quais já haverá uma diminuta perda no estado físico, se não houver um novo estímulo. Pausas maiores que 48 horas só serão recomendadas face ao surgimento de um quadro de sobretreinamento, cujos principais sintomas são: aumento da freqüência cardíaca basal, diarréia, inapetência, irritabilidade, perda de peso, lesões musculares constantes, etc.

Com relação a duração mínima  do treinamento, para se obter os primeiros resultados no desenvolvimento das qualidades físicas visadas, é necessário um mínimo de persistência nos exercícios, com o intuito de propiciar uma duração que permita ocorrer as alterações fisiológicas necessárias. No treinamento de qualidades físicas específicas, a duração mínima do período de treinamento irá variar em função da qualidade desejada e principalmente da individualidade do animal em assimilar a carga de trabalho aplicada.

Para um melhor entendimento, apresentamos a seguir algumas qualidades físicas em ordem crescente de duração do treinamento em relação aos resultados obtidos: força explosiva, resistência anaeróbica, resistência muscular localizada, resistência aeróbica e flexibilidade.

Princípio da Especificidade: É aquele que impõe que o treinamento deve ser montado sobre os requisitos específicos da modalidade praticada, em termos de qualidade física interveniente, sistema energético preponderante, segmento corporal e coordenações psicomotoras utilizadas. Dessa forma, este princípio irá impor que o treinador, ciente do tempo de duração daperformance e de sua intensidade, determine com precisão a via energética preponderante e a conseqüente qualidade física utilizada, conforme demonstra o quadro abaixo:

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OBSERVAÇÃO: O princípio da especificidade preconiza que além de treinar os sistemas músculo-esquelético e o cárdio-respiratório dentro dos parâmetros da prova que se irá realizar, fazê-los com o mesmo tipo de atividade da mesma.

Sob o ponto de vista dos aspectos neuro-musculares, dois componentes devem ser observados: O tipo de fibra muscular adequado à performance e o padrão de recrutamento das unidades motoras para a realização dos movimentos pretendidos. Durante o treinamento, deve-se solicitar os mesmos grupos musculares que serão executados na performance, bem como estimular o máximo possível os padrões de movimento necessários durante a realização da competição.

Sabendo-se deste fator, o treinador deve ter em mente que o treinamento, principalmente próximo à competição, deve ser estritamente específico, e que a realização de atividades diferentes das executadas durante a performance com a finalidade de preparação física, só se justifica se for elaborada com o intuito de se evitar a “saturação” tanto física quanto psicológica do animal.

* O autor é professor de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa, Árbitro de Marcha, Proprietário, Treinador e Instrutor de Equitação do CENTREQUE - Centro de Treinamento Eqüestre da Chácara Santa Rita, localizado na cidade de Viçosa / MG.

Equipe - Empório do Criador

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Qual a qualidade da água que seus animais estão ingerindo?

 

A água é imprescindível para manter sua criação saudável

O ser humano consegue ficar 2 meses sem se alimentar, mas sem água não sobreviveria por uma semana. Essa constatação prova a necessidade que temos de ingerir esse alimento tão benéfico, e que regula vários processos no nosso organismo. Se para o homem é assim, não seria muito diferente para os animais; o gado, as aves, até os animais de estimação necessitam tanto quanto nós de se abastecer diariamente de água. Tal água deve ser de boa qualidade, sem impurezas, auxiliando na saúde do animal.

Várias doenças podem ocorrer devido à má qualidade da água que é servida aos animais. Doenças parasitárias, bacterianas ou fúngicas podem estar relacionadas à água dispostas nos bebedouros dos animais.

A purificação da água deve ser feita com desinfetantes próprios, os quais auxiliam na descontaminação, caso ela esteja sendo parasitada por algum microrganismo. Manter a água em reservatórios, após tratamentos eficazes, auxilia na manutenção da qualidade da mesma. Entretanto, algumas fazendas não possuem tal procedimento, permitindo aos animais consumirem água somente de riachos e lagos. Locais assim devem ser monitorados no intuito de verificar se existe alguma contaminação. Em caso negativo, os animais podem utilizar aquela água.

Além da necessidade de verificação da qualidade da água, deve-se sempre ter o controle do consumo de água. Se o animal ingerir mais líquido que o normal pode estar em um caso clínico de desidratação devido à temperatura ambiental, ou a ração poderá estar com mais sal que o necessário.

Por: Raquel Torres C. Bressan

Fonte: AFE

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Interligando a Colônia A ação dos tropeiros no Brasil dos Séculos XVIII e XIX

 

INTRODUÇÃO

Este trabalho teve como base uma monografia que realizei no Segundo Semestre de 1999 para o curso de História do Brasil Colonial II, tendo como professor o incrível István Jancsó.

A fundamentação teórica se deu com base em livros clássicos com base fundamental no estudo econômico da história, como os de Mafalda P. Zemella (O abastecimento da Capitania das Minas Gerais no século XVIII), Caio Prado Júnior (Formação do Brasil Contemoporâneo (colônia) e História econômica do Brasil) e Celso Furtado (Formação econômica do Brasil). Outros autores que usei como base foram Bóris Fausto, Sérgio Buarque de Holanda e o controverso Ellis Júnior.

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Minha intenção foi a de estudar as relações econômicas dentro do Brasil colonial a partir do caso específico da ação dos tropeiros. Tais homens foram responsáveis pela formação de um grande movimento de comércio que acabou interligando diferentes e longínquas áreas da colônia.

Sua ação teve como base a comercialização de bens importados da Europa, além do comércio de mulas provenientes das grandes fazendas produtoras no Rio Grande do Sul. O destino dos produtos era o exigente mercado consumidor das Minas Gerais, aquecido pelas descobertas das jazidas auríferas e diamantinas.

Praticamente não havendo produção de tais mercadorias na área mineradora, cresceu a força e a importância dos tropeiros, que passaram a abastecer a região tanto de produtos de necessidade básica para a alimentação quanto para o trabalho assim como de produtos de luxo procurados pelos novos ricos no auge da febre mineradora.

É esta a relação que pretendo estudar: Como a ação dos tropeiros, no século XVIII - em decorrência do comércio de mulas a partir do Rio Grande do Sul, com os mercados em São Paulo e o destino final nas Minas Gerais - acabou resultando finalmente na unificação dos diversos núcleos coloniais portugueses e possibilitou assim a criação de um conjunto colonial que passaria depois a ser o Brasil.

A busca pelo ouro

Desde o início da colonização portuguesa na América, o governo sempre esteve preocupado com o descobrimento de minas de metais preciosos, já que as possessões espanholas no mesmo continente assim que foram conquistadas passaram a fornecer tais metais à metrópole.

Esta busca não foi fácil. Somente depois das chamadas "entradas" e "bandeiras", dois séculos, foram descobertas as primeiras grandes jazidas de ouro na América portuguesa.

Entrando continente adentro, buscavam principalmente índios que eram absorvidos pelo crescente mercado consumidor. Porém, havia também sempre o interesse do encontro de metais e pedras preciosas. Assim, em 1696, finalmente são localizadas as primeiras jazidas consideráveis de ouro na América portuguesa.

A notícia se espalhou pela colônia e pelo Reino e grandes ondas migratórias surgiram desde Portugal, das ilhas atlânticas, de outras partes da colônia e de países estrangeiros.

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Neste período, de 1700 a 1760, calcula-se que por volta de 700.000 pessoas tenham imigrado para o Brasil tendo como destino as Minas Gerais, fora os incalculáveis escravos africanos.

Tais dados, se considerados proporcionalmente com a população do Reino, e mesmo colonial, são de grande vulto visto que a população total do Reino não passava dos dois milhões de habitantes.

No início, o governo português viu com bons olhos a imigração para a zona mineradora, visto que havia um excedente populacional em determinada áreas - como as ilhas atlânticas - e desejava-se o quanto antes o crescimento da mineração.

Logo se observou que não era necessário o estímulo e sim que se freasse o fluxo populacional já que este estava gerando o abandono dos campos em Portugal e na colônia, assim como o crescimento estrondoso do processo inflacionário devido à grande busca por produtos de primeira necessidade por parte dos mineradores com grande quantidade de dinheiro em mãos.

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Problemas no inicio do processo minerador

Assim que as primeiras minas começaram a funcionar, a população passou por grandes momentos de necessidades. Segundo Zemella: "Não é fácil abastecer centros populacionais nascidos quase da noite para o dia. Havia gente demais para ser alimentada, vestida, calçada e abrigada. O abastecimento das minas tornou-se um problema que por vezes se apresentou quase insolúvel, sobrevindo crises agudíssimas de fome, decorrentes da total carência de gêneros mais indispensáveis à vida" (ZEMELLA. 1990:191).

Estas crises de fome afligiram a zona mineradora por longos períodos, quando se chegou inclusive a interromper os trabalhos extrativistas para a produção de gêneros alimentares. Tais crises de fome, foram muito fortes no anos de 1697-1698, 1700-1701 e em 1713.

Podemos perceber que as primeiras crises aconteceram quando os núcleos urbanos e as rotas para as Minas Gerais ainda eram extremamente precários. Já a crise do ano de 1713 mostra que a situação continuou a mesma por muito tempo, devido inclusive à omissão e ganância da Coroa que em diversos momentos prejudicou drasticamente a população para defender determinados monopólios lucrativos como o do sal, por exemplo.

Porém, as crises de fome não foram de todo ruim e inúteis, afinal com a dispersão dos mineradores, muitas novas jazidas foram descobertas, ao mesmo tempo em que começou a ser implantada na região uma pequena pecuária, principalmente de suínos nos quintais das casas - mesmo as da vilas.

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Outro grande problema que surgiu em toda a colônia, mas principalmente na capitania de São Paulo foi o relativo ao despovoamento de grandes áreas devido às migrações internas para a região das Minas. Assim, regiões como as de Taubaté, Guaratinguetá e Itú foram fortemente abaladas devido ao descobrimento das minas auríferas.

Mesmo o Nordeste, tradicional centro econômico da colônia, sofreu profundas alterações devido às minas. Os Senhores de Engenho, abatidos com a crise da cana de açúcar e interessados em grandes lucros, passaram a vender grande parte de sua mão de obra escrava para a próspera região das Minas, despovoando assim os canaviais mas mantendo ao mesmo tempo o mesmo fluxo de caixa antigo.

Este comércio era ilegal e combatido, mas se dava principalmente com o auxílio da excelente via de contato que era o Rio São Francisco. O contrabando, de escravos e gêneros de toda espécie, foi muito grande entre as regiões mineradoras e as dos canaviais. Provas disso são, por exemplo, as suntuosas igrejas construídas por todo o Nordeste com os recursos captados na crendice do povo e com o ouro das Minas.

Os principais problemas enfrentados pelos mineiros em seus primeiros momentos surgem devido a alguns fatores facilmente reconhecidos e listados por Zemella. São eles: o afastamento dos centros de produção, a pequena produção nas zonas abastecedoras, pouca tradição de comércio interno à Colônia, dificuldade de obtenção de moedas, poucos e precários meios de transporte, dificuldades na conservação de víveres e problemas com pesados impostos para a importação.

O mercado consumidor

Apesar destes problemas que muitas vezes se tornaram crônicos, a zona mineradora conseguiu com o tempo manter uma rotina clara de rotas de comércio que a mantinham sempre abastecida de todo o tipo de produtos necessários e supérfluos.

Isto se deu devido principalmente à rápida concentração de capitais, o que chamou a atenção de toda a colônia, que passou a produzir muitas vezes em função do mercado mineiro - este maior do que o da cana de açúcar mesmo em seu auge.

Desta forma, a partir do rearranjo interno da colônia, não ocorreram mais as crises de fome. Estas, geravam principalmente a alta dos preços, a paralisação dos trabalhos extrativos, a dispersão dos mineradores, a criação de roças locais, o retorno de migrantes às suas regiões de origem, as mortes por inanição, além de contribuírem também para a exaltação dos ânimos e o início da Guerra dos Emboabas.

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Um grande problema enfrentado pela Coroa com relação às Minas Gerais foi relacionado à moeda. Inicialmente, adotou-se o ouro em pó como moeda, porém este sistema burlava facilmente o Real Erário, que buscava principalmente o imposto do quinto - um quinto da produção mineira era destinado à Coroa. Além disso, um truque muito comum que passou a ser utilizado foi o de adicionamento de outros metais ao ouro em pó, especulando-se assim sobre o nobre metal.

Procurou-se desta forma, impedir a livre circulação do ouro em pó a partir da criação das casas de fundição em Vila Rica, Sabará, São João Del Rey e Vila do Príncipe, para citar somente as dentro do centro minerador. Desta forma, as barras de ouro com o selo real passaram a ser a moeda local, sendo o ouro em pó permitido somente em pequenas quantidades.

Porém, este sistema também não funcionou pois passou-se a raspar as barras para o recolhimento de ouro, além da falsificação de barras com o selo do quinto. Finalmente, em 1825 foram criadas casas da moeda na região e ao mesmo tempo o governo tentou impedir a entrada de moeda para que os mineradores se vissem obrigados a cunhar seu ouro para poder utiliza-lo.

O sistema de coleta de impostos da Coroa era extremamente rígido na zona mineradora, pois o ouro e os diamantes são produtos que podem ser transportados facilmente muitas vezes de forma ilegal.

Para evitar isso, criou-se uma cota anual obrigatória de 100 arrobas - aproximadamente uma tonelada e meia - de ouro. Quando tal taxa não era alcançada, supunha-se que a evasão havia aumentado e assim dividia-se entre a população a quantia "devida" ao governo.

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Como em todas as épocas de abertura de minas, a ganância subiu à cabeça dos mineiros, que passaram a comprar escravos em um sistema de pagamento a prazo com juros exorbitantes de cerca de 25 a 30% ao ano. Imaginando que com quantos mais escravos tivessem, mais ouro iriam obter, muitos mineiros se endividaram e acabaram perdendo tudo o que tinham - inclusive escravos e jazidas. Outro fator que não foi considerado na hora dos cálculos para a procura pelos empréstimos foi a sonegação por parte dos próprios escravos, que muitas vezes escondiam parte do produto de seu trabalho e gastavam-no em bebidas alcoólicas e tabaco principalmente. Tais produtos eram utilizados para suavizar o árduo trabalho na busca pelo ouro.

É interessante observar o rápido crescimento das compras de produtos supérfluos à medida em que a quantidade de ouro e diamantes aumentava. Passaram a chegar à região produtos das mais variadas origens, desde louças e tapeçarias da China e da Índia, até veludos, vinhos e queijos da Europa.

Porém, não só produtos banais foram importados para as Minas. Também o eram todo o tipo de produtos que não podiam ser produzidos na colônia, assim como o ferro com seus exorbitantes preços, e os escravos africanos indispensáveis ao trabalho.

Na ordem de prioridades de compras listada por Zemella, podemos ver que os produtos que encabeçam a lista são: sal e carne, seguidos de ferro e aço, armas e escravos, vestimentas e calçados, animais e artigos de luxo. A autora coloca à parte o tabaco e a aguardente por considerar estes dois produtos essenciais para o trabalho árduo na mineração.

Entretanto, devido aos altos preços dos produtos e às crises de fome, muitas vezes animais e escravaria passavam necessidades diretas por falta de alimentação e de itens muito importantes, tais como o sal por exemplo. Enquanto os animais apenas morriam ou se enfraqueciam, muitas vezes os escravos se rebelavam ou partiam para o mundo do crime para tentarem amenizar tal situação.

Enquanto muitas negras - escravas e forras - vendiam diretamente seus produtos nas jazidas propriamente ditas, lojas e vendas ajudaram a formar as primeiras aglomerações populacionais, que depois se tornaram vilas e finalmente cidades.

Escassez de produtos em outras províncias

Um dos primeiros reflexos do boom econômico da zona mineradora foi a escassez imediata de produtos e serviços, além da inflação, nas demais capitanias da colônia portuguesa na América.

Enquanto mineiros apresentavam recursos financeiros suficientes para a compra de comidas, vestimentas e animais de toda a colônia, as outras capitanias mantiveram-se estagnadas inicialmente e desta forma sofreram com a debandada de alimentos, animais e prestadores de serviço para esta área agora mais interessante.

A especulação sobre os produtos chegou a níveis alarmantes, onde as Câmaras Municipais tentaram interferir para impedir a falência social e econômica das cidades, pois enquanto os produtos se tornavam cada vez mais caros e inacessíveis, profissionais como ferreiros, padeiros, marceneiros e oleiros se transferiram para o emergente e promissor mercado.

Porém, passado este momento inicial de caos econômico na colônia, ela passou a se reformular em torno de tal mercado consumidor gigantesco que foi criado, o que possibilitou o desenvolvimento de zonas especializadas na criação, engorda ou negociação de animais, por exemplo.

Especialização da produção

Tal especialização na produção pôde ser vista em todas as regiões da colônia. Enquanto o Sul se afirmava cada vez mais como o centro produtor de animais de carga e tração em grandes fazendas produtoras, a região de Curitiba passou a engordar tais animais após a longa viagem.

O Rio de Janeiro, passou a se tornar a principal cidade da colônia - e posteriormente, sua capital - devido à influência direta do próximo mercado consumidor mineiro, que com a abertura do Caminho Novo passou a se utilizar deste porto para as suas importações e exportações em detrimento de Santos, no litoral paulista, que vinha sendo utilizada anteriormente.

São Paulo, e mais especificamente a região de Sorocaba, se especializou na comercialização dos animais de carga. A citada cidade criou uma grande feira de animais, que ocorria anualmente entre os meses de abril e maio. Em tal feira, cerca de 30.000 animais eram vendidos anualmente, sendo que destes, metade era proveniente da região dos pampas.

Até o surgimento deste novo mercado, a produção paulista era restrita ao seu próprio mercado interno, sendo diminuta. Após as Minas Gerais, São Paulo foi conquistando cada vez mais força e poder dentro da nova ordem econômica e social, passando em 1709 a ser uma província distinta do Rio de Janeiro. Em 1720, as Minas Gerais deixam de fazer parte desta província e passam a ser geradas independentemente.

Um fator interessante da especialização regional na produção em decorrência do crescimento do mercado mineiro foi a existência de cidades especializadas em "fornecer" tropeiros. Este era o caso de Mogi-Mirim, Campinas e Jundiaí, mas com principal destaque nesta última. Lá, concentrava-se grande parte da mão de obra que após as feiras era empregada para levar as mulas até a região onde seriam vendidos e utilizados.

O tropeiro

"Outra característica da economia mineira, de profundas conseqüências para as regiões vizinhas, radicava em seu sistema de transporte. Localizada a grande distância do litoral, dispersa em região montanhosa, a população mineira dependia para tudo de um complexo sistema de transporte. A tropa de mulas constitui autêntica infra-estrutura de todo o sistema. (...) Criou-se, assim, um grande mercado para animais de carga" (FURTADO, 1979).

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Como fica bem destacado neste trecho de Celso Furtado, o tropeiro passou a ser o principal, senão o único, abastecedor do mercado das Minas Gerais. Tradicionalmente, se associa à imagem do paulista, o tropeiro, mas tal imagem é infundada visto que grande parte dos paulistas foram em direção das Minas, ficando assim a atividade comercial dos tropeiros ligada principalmente a grupos de portugueses.

Primeiramente, os tropeiros se utilizavam do lombo escravo como meio de transporte para as suas mercadorias, mas com a abertura de novos caminhos e melhora dos antigos, passou a ser utilizado substancialmente o lombo das mulas para tal tarefa.

Inicialmente, o comércio era realizado a partir ou do Caminho Paulista ou do Caminho Velho do Rio de Janeiro. O primeiro, levava dois meses para chegar às Minas via Vale do Camanducaia, Mogi-Mirim e garganta do Embu. Já o segundo, se utilizava também de transporte marítimo - o que era um inconveniente - e durava aproximadamente 43 dias.

Com a abertura do Caminho Novo, que seguia do Rio de Janeiro diretamente para as Minas, o tempo de viagem caiu drasticamente - para algo em torno de 10 a 17 dias dependendo da rota utilizada e do clima. Devido a esta diferença gigantesca de tempo utilizado, São Paulo lutou pela extinção deste novo caminho, mas as forças econômicas da metrópole falaram mais alto e o mantiveram.

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O comércio paulista praticamebnte faliu. Isto somente não ocorreu devido à descoberta de minas de ouro nas regiões de Goiás e Mato Grosso, locais que se tornaram praticamente "monopólios" de paulistas e incentivaram o crescimento desta Província.

As tropas de mulas saíam em direção das Minas Gerais provenientes dos mais diferentes pontos, mas para nosso estudo basearemo-nos principalmente nas rotas de comércio com o Sul da colônia, produtor de muares, e com as grandes feiras e concentrações comerciais de São Paulo.

Durante os meses de setembro e outubro, as tropas saiam do Sul devido ao regime de chuvas e portanto aos fáceis pastos durante o caminho, indo em direção norte rumo a Curitiba.

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Chegando a esta vila, muares e tropeiros ficavam enquanto os animais engordavam e aguardavam pelas feiras sorocabanas que aconteciam durante os meses de abril e maio.

Durante os meses de setembro e outubro, as tropas saiam do Sul devido ao regime de chuvas e portanto aos fáceis pastos durante o caminho, indo em direção norte rumo a Curitiba. Chegando a esta vila, muares e tropeiros ficavam enquanto os animais engordavam e aguardavam pelas feiras sorocabanas que aconteciam durante os meses de abril e maio.

Tal trabalho passou a ser um empreendimento de lucros altíssimos, muitas vezes maiores do que os dos próprios mineradores visto que estes dependiam dos tropeiros. Segundo Sérgio Buarque de Holanda, houve em 1754 uma tropa que pode ser considerada a maior já registrada: 3780 mulas fizeram o percurso do Rio Grande do Sul às Minas Gerais.

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Estes lucros possibilitaram a ascensão social desta gente que passou a ostentar seus símbolos de riqueza e a gastar vultuosas quantias em cabarés, jogos e teatros além de ricos ornamentos para suas cavalgaduras. Os tropeiros são encontrados nas raízes de diversas famílias importantes dos Estados de São Paulo e Minas Gerais.

Tais homens passaram a serem respeitados por seu poder econômico e político, além de ter também se tornado "figura extremamente popular, o tropeiro, se no princípio da era mineradora teve qualquer cousa do antipático, pela especulação que fazia dos gêneros, aos poucos foi adquirindo, ao lado da função puramente econômica de abastecedor das Gerais, um papel mais social e simpático de portador de notícias, mensageiro de cartas e recados. Representava um verdadeiro traço de união entre centros urbanos afastadíssimos, levando de uns para outros as novidades políticas, as informações sobre as cousas de uso, correspondências, modas, etc " (ZEMELLA, 1990).

O centro produtor de muares

Inicialmente, a criação de mulas para carga se deu nas províncias hispânicas do Prata. Lá, havia já uma tradição na criação de tais animais visto que estes eram levados para os trabalhos nas minas de Potosí. Seguindo a tradição, o governo português utilizou-se disso para incentivar a ocupação de tão problemática região.

Disputada durante anos por guerras entre portugueses e espanhóis, após assinados os acordos de paz, o governo luso tratou de ocupar os terrenos dos atuais Estados do Sul. Assim, a criação de mulas, bois e cavalos em fazendas de núcleos familiares, mas de avantajados tamanhos, foi a solução ideal encontrada pelos governantes.

Conciliando tal necessidade, com a crescente procura por tais animais por parte da zona mineradora, foram criadas as condições ideais para o estabelecimento da cultura da pecuária nesta região. Sendo o ponto inicial das tropas, a mobilização na região começava nos meses de setembro e outubro, quando tais tropas subiam na direção norte aproveitando-se do regime das chuvas, que possibilitava a existência de excelentes pastos durante o caminho para os animais.

As grandes rotas

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"Cada ano subiam do Rio Grande do Sul dezenas de milhares de mulas, as quais constituíam a principal fonte de renda da região. Esses animais se concentravam na região de São Paulo onde, em grandes feiras, eram distribuídos aos compradores que provinham de diferentes regiões. Deste modo, a economia mineira, através de seus efeitos indiretos, permitiu que se articulassem as diferentes regiões do sul do país" (FURTADO, 1979).

Em 1733, passa a primeira tropa de mulas por São Paulo em direção às Minas Gerais. A partir desta data, este é um movimento incessante até aproximadamente 1875, quando as estradas de ferro finalmente suprimem o transporte por mulas nesta região do Brasil.

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Durante um século e meio, há uma grande linha de comércio juntando o Sul da colônias às Minas Gerais. É a linha de comércio paulista tropeira. Com ela, prosperaram diversas cidades. A principal, foi Sorocaba, com seu mercado de animais. Mas, fora ela, temos também Itapetininga, Cabreúva, Apiaí, Itararé, Avaré e tantas outras, assim como o desenvolvimento do porto de Santos.

Nos caminhos das frotas, aos poucos, foram instalando-se pequenas roças, estalagens e pastos que funcionavam como pontos de auxílio para tropeiros, viajantes de toda espécie e seus animais. Ao redor destes núcleos agregadores, surgiram diversas cidades e vilas.

Outra importante rota que, entretanto, não será estudada a fundo aqui, é a rota que liga São Paulo às minas de Goiás e do Mato Grosso.

Diferentemente do processo ocorrido com as Minas Gerais, nestas outras o relacionamento entre as regiões se deu principalmente por vias fluviais, com as chamadas monções.

Segundo Caio Prado Júnior, "A necessidade de abastecer a população concentrada nas minas e na nova capital, estimulará as atividades econômicas num largo raio geográfico que atingirá não somente as capitanias de Minas Gerais e Rio de Janeiro propriamente, mas também São Paulo. A agricultura e mais em particular a pecuária desenvolver-se-ão grandemente nestas regiões. (...) Nestas condições, os mineradores terão de se abastecer de gêneros de consumo vindos de fora" (PRADO JR, 1974).

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Decadência e renascimento

Tanto as Minas Gerais quanto São Paulo tiveram períodos de glória no século XVIII, decaíram e depois renasceram. Nas Minas, depois do final da era do ouro e dos diamantes, quando não mais era economicamente viável a extração do metal e da pedra preciosa, a região passou a se dedicar intensamente à agricultura e à pecuária.

Tais mudanças foram ocorrendo gradativamente de modo que não interferiram profundamente na ordem social vigente. À medida em que as lavras de ouro foram se fechando, o governo lusitano foi concedendo sesmarias com a obrigação da utilização na pecuária. Desta forma, após a decadência da mineração, a zona das Minas Gerais tornou-se um importante centro agro-pecuário do Brasil, apesar de suas "cidades históricas" não terem mantido a importância que tiveram e terem se estagnado econômica, política, social e culturalmente.

Já para São Paulo, foram duas as experiência traumáticas: a derrota na Guerra dos Emboabas, quando perdeu-se o domínio das Minas Gerais tão procuradas; e quando houve a abertura do Caminho Novo juntando diretamente as Minas Gerais como Rio de Janeiro.

Em ambos os casos, a população paulista manteve seu poderio econômico. São Paulo permaneceu sendo o entreposto entre as zonas criadoras e consumidoras de mulas, e também exerceu toda a influência que tinha perdido nas Minas Gerais sobre as minas de Goiás e Mato Grosso. No contato com estas zonas, existiu praticamente um monopólio paulista de comércio - via monções - e uso das lavras.

Posteriormente, com a decadência das minas goianas e mato-grossensses, São Paulo já havia conquistado o posto de principal centro econômico com a produção cafeeira e posteriormente com a produção industrial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a leitura de obras importantíssimas da historiografia brasileira e o estudo desenvolvido acerca das relações entre a produção de muares no Rio Grande do Sul com as Minas Gerais e São Paulo, via tropeiros, podemos chegar a algumas considerações finais.

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O intenso comércio gerado pelas tropas que se dirigem às Minas Gerais passa a formar pela primeira vez em nossa história um intercâmbio interno na colônia. Assim, a importância das tropas para a formação do Brasil foi fundamental para ligar e unir áreas tão distintas e tão distantes.

A mineração tornou também possível a criação de um centro dinâmico na colônia, onde as relações comerciais entre regiões muito distantes formaram uma teia de relações de interdependência onde mercado consumidor, centro produtor e centro de organização interna estão intimamente ligados.

Encerrando, gostaria de utilizar duas citações de diferentes autores que foram extremamente elucidativos para a composição deste trabalho: Mafalda P. Zemella e Celso Furtado.

"Pela primeira vez no Brasil apareceu intenso comércio interno de artigos de subsistência; a circulação dos gêneros obrigou à abertura de vias de penetração no sertão, à criação de um sistema de transportes, baseado no muar" (ZEMELLA, 1990).

"Por um lado, elevou substancialmente a rentabilidade da atividade pecuária, induzindo a uma utilização mais ampla das terras e do rebanho. Por outro, fez interdependentes as diferentes regiões, especializadas umas na criação, outras na engorda e distribuição e outras constituindo os principais mercados consumidores. É um equívoco supor que foi a criação que uniu essas regiões. Quem as uniu foi a procura de gado que se irradiava do centro dinâmico constituído pela economia mineira" (FURTADO, 1979).

BIBLIOGRAFIA

ELLIS JÚNIOR, Alfredo: O ciclo do muar in "Revista de História", nº 1.

FAUSTO, Boris: "História do Brasil". Edusp, São Paulo, 1995.

FURTADO, Celso. "Formação econômica do Brasil", Cia. Editora Nacional, São Paulo, 1979. 16ª Edição.

HOLANDA, Sérgio Buarque de: "Caminhos e Fronteiras". Cia. das Letras, São Paulo, 1995. 3ª Edição.

PRADO JÚNIOR, Caio: "Formação do Brasil Contemporâneo (colônia)". Brasiliense, São Paulo, 1996

PRADO JÚNIOR, Caio: "História Econômica do Brasil". Brasiliense, São Paulo, 1974. 17ª Edição.

ZEMELLA, Mafalda P.: "O abastecimento da capitania das Minas Gerais no século XVIII". Coleção Estudos Históricos, Hucitec-Edusp, São Paulo,1990.

Autor: Gabriel Passetti