Alguns foram empreendedores que tiveram visão de mercado no início do século XVIII, aos quais se agregaram homens destemidos e determinados no desafio de desbravar regiões selvagens a fim de implantar as rotas pelas quais se fez o deslocamento do gado alçado dos criatórios dos campos do sul da América Latina para São Paulo e outros povoados do Brasil-colônia.
Os Tropeiros perceberam que nos centros urbanos aumentava a demanda de alimentos, meio de transporte e de outras mercadorias. Diante disso souberam traçar estratégias e fazer as articulações políticas para as suas pretensões. Os sesmeiros, quando não eram tropeiros, necessitavam deles para deslocar o gado vacum de suas propriedades (criatórios geralmente muito distantes dos centros urbanos) até o mercado consumidor. Embora houvesse tropas de bovinos, equinos e até de porcos, foi a tropa de muares (mulas e burros) que ganhou destaque nos longos caminhos tropeiros. Os Tropeiros que comercializavam ou conduziam essas tropas de muares ficaram famosos e eram muito respeitados, pois eram eles que sabiam das novidades e as levavam de um povoado para outro, por esse motivo os Tropeiros eram esperados com ansiedade nos povoados.
Ainda sobre o tropeiro de mulas, conta-se que este era festeiro, e com relação ao destino dos animais da tropa que conduzia, e pelos quais “garrava” estima durante as longas viagens, era alegre, pois sabia que suas mulas não eram destinadas ao matadouro e sim a uma atividade que traria progresso e bem estar a muita gente.
Na comitiva tropeira havia uma hierarquia: o Tropeiro era o líder que tinha como companheiro leal o arreador (homem que cuidava da tralha da tropa cargueira), muita consideração tinha também pelo ferreiro (que cuidava das ferraduras dos animais e também dos animais feridos ou doentes); pelo cozinheiro ou menino madrinheiro; pelos peões condutores da tropa arreada; pelos arribadores (peões laçadores), domadores, rebatedores e culatreiros da tropa xucra. Não existe um número preciso de integrantes de uma comitiva tropeira, isso era acertado conforme o número de animais da tropa e a experiência ou habilidade dos integrantes da comitiva tropeira. A atividade tropeira era de natureza comercial e pacífica e os integrantes das comitivas tropeiras precisavam da solidariedade e da lealdade para o êxito da empreitada. Nesse contexto foi documentada a presença de homens brancos, negros, mestiços, e raramente mulheres, entre os quais a interdependência e mútuo compromisso de preservar e conduzir bem a tropa gerava um companheirismo, deduzindo-se que, nessa atividade, valia muito a integridade de cada indivíduo, não importando as diferenças que em outros contextos geravam preconceito e depreciação do indivíduo, na época. Essa conclusão fundamenta-se no extravasamento da emoção em relatos de tropeiros ainda vivos, ou testemunhados por pessoas que com eles conviveram, confirmando o apreço que cada integrante de comitiva tinha pela atividade e pelos seus companheiros, em razão dessa ausência de distinção depreciativa, e da aventura que compartilhavam.
Fonte: Jogo do Tropeiro
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