Bem Vindo ao Blog do Pêga!

Bem Vindo ao Blog do Pêga!

O propósito do Blog do Pêga é desenvolver e promover a raça, encorajando a sociedade entre os criadores e admiradores por meio de circulação de informações úteis.

Existe muita literatura sobre cavalos, mas poucos escrevem sobre jumentos e muares. Este é um espaço para postar artigos, informações e fotos sobre esses fantásticos animais. Estamos sempre a procura de novo material, ajude a transformar este blog na maior enciclopédia de jumentos e muares da história! Caso alguém queira colaborar com histórias, artigos, fotos, informações, etc ... entre em contato conosco: fazendasnoca@uol.com.br

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Jogo do Tropeiro

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Como se fossem tropeiros, levar tropas de mulas, de Viamão a Sorocaba, preservando a integridade da tropa durante as jornadas e, desse modo, chegar ao destino com o maior número de animais para vencer o jogo.

O Jogo do Tropeiro é um jogo de tabuleiro não virtual, cuja dinâmica consiste no deslocamento de peões, pouso a pouso sobre o traçado que representa o Caminho do Viamão, no tabuleiro. Os movimentos são determinados pelas cartas que os jogadores descartam, as quais possuem particularidades relacionadas às atividades dos tropeiros, bem como as adversidades que encontravam no caminho nos séculos XVIII e XIX.

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http://www.jogodotropeiro.com.br/index.html

quarta-feira, 30 de maio de 2012

BUÁ, O MUAR FOI ESQUECIDO!

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Alguém nessa vida já pensou em render homenagem ao muar? Sim, aos nossos sempiternos burro e mula? Talvez muitos pensem neste exato momento que loucura é a minha vir aqui tratar de um assunto que seria mais adequado num sítio para veterinária ou coudelaria e tais e quais. Mas eu explico: há razão sim para que se abra parênteses, um humilde espaço para umas poucas linhas a quem carregou o Brasil nas costas por muito tempo, foi jogado para escanteio(mesmo sem qualquer vocação para bola de futebol), carregou sozinho, como se diz na gíria futebolística, o piano às costas(embora sem a habilidade de um bom meio-campista) e, esquecido, hoje amarga uma aposentadoria sem reconhecimento em pequenos sítios – longe da glória.


Em menor grau merecem também essa justa homenagem os cavalos e as éguas(mais próprios para serviços leves) e também os jumentos. Tão nosso conhecido este último que merece uma alcunha diferente de região para região. Acreditem ou não, há locais no Maranhão que o insigne participante de momentos cruciais da história do Cristianismo(não foi ele que levou o Menino-Senhor ao lombo durante uma fuga?) recebe o nome de Dogue. Vejam só!


Pois bem, estes animais foram econômica e culturalmente importantes no Brasil até, quem diria, meados do século XX.


HISTÓRIA
Feitas as apresentações, vamos ao que interessa.


Os quadrúpedes são muito antigos na história humana. Desde que o homem domesticou o eqüino, cruzou-o acidentalmente ou não com o asinino, obtendo o muar, que os dois estiveram juntos(justiça seja feita: o homem em cima do coitado!) em todas as conquistas humanas até a substituição do quadrúpede pela máquina em grande escala – logo após a Primeira Guerra Mundial.


No Brasil, os primeiros quadrúpedes, segundo a veterinária Vera Lúcia Nascimento Gonçalves “desembarcaram em São Vicente em 1534. No ano seguinte, os portugueses trouxeram nova remessa, que ficou em Pernambuco e em 1540, Tomé de Souza trouxe uma terceira leva para a Bahia. Foi a partir desses animais que se formou nosso rebanho eqüino, o segundo maior do mundo”.


INTEGRANDO O BRASIL
O muar – cruzamento de jumento e égua –, pela sua rusticidade, era mais apropriado para os trabalhos pesados de tração. E foi principalmente no seu lombo que o Brasil moveu-se. Economicamente, os muares levavam do litoral para o interior toda sorte de mercadorias, subindo e descendo serras, cortando os sertões sem estradas, usando picadas mal feitas e abertas às pressas. Nada reclamou mais que o alimento para continuar existindo e poder unificar o Brasil. Sim senhor! Foi ele o primeiro vetor da união nacional, como bem anota Gabriel Passetti em seu estudo sobre tropeiros: “a ação dos tropeiros, no século XVIII (...) acabou resultando finalmente na unificação dos diversos núcleos coloniais portugueses e possibilitou assim a criação de um conjunto colonial que passaria depois a ser o Brasil”.


SUBSTITUIÇÃO
No século XIX, o pesado fardo do muar começou a ser aliviado pelo trem de ferro. Ufa! Já não era sem tempo. E finalmente no século XX – não de maneira uniforme pelo território nacional – pelo automóvel. No norte do Tocantins, especificamente na região de Babaçulândia, somente no início da década de 1950 os automóveis fizeram seus primeiros rastros no sertão.
Até então, quem comandava o espetáculo por aqui era o burro e a mula. Reproduziam o que era consuetudinário no Brasil: transportavam a economia e a cultura sobre o lombo em selas, cangalhas e jacás. Vejam só o exemplo de um extenuante trabalho a que eram submetidos: levaram por muito tempo sal de cozinha de Balsas-MA para Poxoréo-MT, num percurso que não era inferior a 1.500 km. Isso é que chamo salgar o couro!


CULTURALMENTE ESQUECIDOS
Se economicamente foram importantes, também o foram culturalmente. Os primeiros carteiros entregavam correspondência Brasil afora sobre eles. E nessas correspondências, claro, iam ardorosas promessas de amor do mocinho na cidade para a brejeirinha na fazenda. Com certeza, quando um ou outro recebia do tropeiro-carteiro a missiva que tinha sido perfumada com tanto empenho na cidade ou na fazenda, a fragrância já tinha evolado e dado lugar ao cheiro de suor e esterco. Agh! Não tem importância, o amor não liga para isso. Se nela havia a descrição de como o amado iria um dia tirar a amada da modorra de uma secular fazenda, era o que bastava.


Os sonhos saltavam nessa hora da carta, com toda certeza, e ganhavam forma. O príncipe encantado, por certo já um médico ou um advogado formado na capital do império ou da província, chegava num alazão branco ajaezado para resgatar a sua prenda. E o muar onde fica nessa história? Não foi ele quem levou a carta? É ruim, né? Na hora do vamos ver, do bem bom, o cavalo toma o seu lugar e rouba a cena. Quanta discriminação! Quanta injustiça!


Mas, se levava notícias íntimas de amores e saudades, o muar também trazia a notícia em tempos dantes. O jornal, o almanaque, a enciclopédia, o violão, o piano desmontado para as donzelas e senhoras da cidade e do campo exercitarem-se nas horas aziagas e felizes. A Cultura também progredia no Brasil aos solavancos(do muar, claro!). As idéias culturais e políticas também se valeram dele. Apenas uma referência: foi sobre um cavalo(que perseguição com o muar, pô!) que D. Pedro I deu o famigerado grito “Independência ou Morte!”, atentando-se antes de ver se a cavalaria portuguesa não estava por perto.


E os livros? As poesias? E os melodramas de antigamente como chegavam a todos os rincões do Brasil? No lombo dos muares, rodando léguas e léguas(a quilometragem dos quadrúpedes) para deixar suspirando as mocinhas com os versos rimados e edulcorantes. Depois iam a passeio pelos campos regurgitar poesia na companhia da aia. Quem as levava nessas andanças? O muar, está visto! Nada disso, era o janota do cavalo. Já bem o dissemos aqui: o muar era para serviços extremos; o cavalo nem tanto, conformava-se melhor ao fausto.


As companhias mambembes de antanho valiam-se também do muar para rodarem as velhas carroças pelo sertão. Mas se havia um espetáculo reproduzindo algum épico ou mesmo a velha história de nossa independência você já sabe quem protagonizava...


Sei que muito mais fez o muar, mas se neste artigo louvá-lo é também enumerar o quanto ele foi injustiçado, para que o seu infortúnio não seja maior, paro por aqui.

Fonte: Overmundo

terça-feira, 29 de maio de 2012

Morte Embrionária Precoce na Égua

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Apesar dos consideráveis avanços na reprodução equina durante os últimos 20 anos, a morte embrionária precoce (MEP) permanece pouco compreendida e representa uma importante causa de perdas econômicas na criação de cavalos (Morris e Allen, 2002).


A morte embrionária precoce em éguas é definida, apesar de não haver um consenso na literatura, como a perda gestacional que ocorre da fertilização até os 40 dias de gestação, o que corresponde ao momento de transição do estágio embrionário para o estágio fetal de desenvolvimento do concepto (Ginther, 1992). A perda gestacional que ocorre a partir dos 40 dias é definida então como morte fetal ou aborto.


O diagnóstico de perda embrionária precoce e o reconhecimento dos fatores que contribuem para sua ocorrência tomaram grande impulso com o uso da ultrassonografia. Utilizando-se a palpação transretal, as incidências estimadas de morte embrionária e perda fetal precoce em éguas variam de 7% a 16%. (Bain, 1969; Merkt e Gunzel, 1979). Através de exame ultrasonográfico, realizado entre 11 e 50 dias de gestação, variou entre 5% e 24% (Chevalier e Palmer, 1982; Ginther et al., 1985; Woods et al., 1987).


O diagnóstico de MEP é feito por palpação transretal e exames ultrassonográficos seriados, quando verifica-se a ausência da vesícula embrionária, após, pelo menos, uma identificação positiva ou, em alguns casos, quando se observam alterações da morfologia da mesma, tais como redução do seu diâmetro, irregularidades do contorno e ausência de batimentos cardíacos do embrião a partir de 25 dias (Chevalier e Palmer, 1982; Ginther et al., 1985). Outros indicativos são a presença de líquido uterino, a mobilidade prolongada da vesícula e o crescimento lento da mesma.


Morte embrionária antes de 20 dias de gestação pode ocorrer sem que essas anormalidades sejam observadas (Ginther et al., 1985). O diagnóstico ultrassonográfico é realizado geralmente a partir dos 11 dias de gestação. Para o estudo das perdas no período anterior aos 11 dias, utilizam-se técnicas de reprodução assistida como a transferência de embriões, transferência de oócitos e o cultivo embrionário in vitro (Ball et al., 1987).


Estudos têm mostrado de 5 a 30% de incidência de morte embrionária precoce em éguas. Vários fatores são apontados como responsáveis pela ocorrência da MEP, como gestação gemelar; nutrição desbalanceada; ingestão de plantas estrogênicas e efeito do fotoperíodo; uso de monta natural ou inseminação artificial; lactação e “cio do potro”; endometrites e outras infecções do sistema genital; anormalidades cromossômicas e deficiências hormonais; hormônios esteróides; falha no reconhecimento materno da gestação e secreção insuficiente de gonadotrofina coriônica equina (eCG); fatores imunológicos; e ainda uma alta incidência relacionada à individualidade do garanhão.


Os fatores que podem contribuir para a ocorrência de morte embrionária na égua são classificados como intrínsecos, extrínsecos e embrionários. Fatores intrínsecos incluem doença endometrial, deficiência de progesterona, idade materna, categoria reprodutiva da égua, e o momento da inseminação/cobertura em relação à ovulação. Os fatores extrínsecos incluem estresse, nutrição inadequada, estação/clima, individualidade do garanhão e/ou processamento e manipulação do sêmen, bem como a manipulação para técnicas de reprodução assistida. Finalmente, os fatores embrionários estão relacionados com anormalidades cromossômicas e outras características inerentes ao embrião (Ball, 1988).


Fonte: OuroFino Agronegócios

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sobre tropeirismo e a abertura de estradas no Rio Grande colonial

 

Houve outro momento na longa duração histórica do que se convencionou chamar região platina. Um momento em que ainda não se conheciam autopistas e aeronaves para transportes rápidos e seguros. Um momento em que os mapas  ainda não registravam os limites de países como a Argentina, o Brasil e o Uruguai. Eram tempos em que as fronteiras oscilavam, movendo-se ao ritmo das disputas territoriais dos impérios ultramarinos de Portugal e Espanha. Também naqueles tempos, como nos dias atuais, homens circulavam, com seus objetos e suas ideias, nas amplas áreas da região platina. Mas o faziam de modo inteiramente distinto. Cruzavam as campanhas, as planícies litorâneas, a serra e os Campos de Cima da Serra, atravessavam pradarias, serrados e planaltos. Deslocavam-se sobre o lombo de cavalos e mulas, conduzindo rebanhos de gado bovino, muar, ovino, suíno e equino, entre outros. Transportavam toda a sorte de mercadorias destinadas a suprir as necessidades de regiões localizadas a centenas de quilômetros. E, ao fazê-lo, acabavam por construir novas paisagens por onde passavam e estabeleciam caminhos, permeados por estruturas de apoio às suas lides. O conjunto dessas atividades de deslocamento e transporte de mercadorias é regularmente conhecido como tropeirismo, dado o caráter de formação de tropas e tropilhas de animais que ora apresentavam-se como meio de transporte, ora como a própria mercadoria a ser conduzida.

 

Do ir e vir desses agentes históricos resultou também a construção de um novo espaço na região platina. Suas andanças os levaram a cruzar por territórios indígenas pouco ou minimamente impactados pelos europeus, nas primeiras décadas da conquista espanhola e portuguesa. Ao longo do século XVII, lentamente, as rotas de ligação entre as cidades coloniais espanholas foram sendo estabelecidas, sobretudo nos caminhos que interligavam Buenos Aires, Santa Fé, Corrientes, Assunción, Córdoba, Tucumán e Salta, entre outras. Por outro lado, também os Jesuítas, ao estabelecerem as reduções de Guarani, a partir de 1609, deram início a uma intrincada rede de caminhos que conectavam seus povoados, e estes às suas estâncias e áreas de extração de erva-mate nativa, bem como às cidades espanholas. Em movimento distinto os portugueses, e mais tarde os luso-brasileiros, expandiram suas ações em direção ao sul das capitanias do Rio de Janeiro e de São Paulo, chegando até o litoral e os campos da então chamada Banda Oriental. Esta era a ampla área localizada entre as margens do rio Uruguai e o litoral atlântico, compreendendo o atual país Uruguai e o atual estado do Rio Grande do Sul. Os interesses projetados sobre a região platina levaram ao contato direto entre as distintas populações em presença. A saber, espanhóis, portugueses, africanos e indígenas de diferentes parcialidades culturais. Estes contatos conheceram momentos belicosos, mas também uma intensa aproximação, na forma de trocas comerciais, relações de parentesco, etc. À medida que a presença de diversos agentes era incrementada, maior era a quantidade dos novos caminhos abertos e as distâncias por estes cobertas.

 

Ao longo do século XVIII, as rotas foram, paulatinamente, ampliadas e a atividade do tropeirismo consolidou-se. Consolidaram-se também as estruturas materiais a ela relacionadas. De forma que, além dos fluxos de homens, gado de todo o tipo, mercadorias e ideias deslocadas pela região, espaços de fixos foram estabelecidos, como suporte às ações desenvolvidas ao longo dos caminhos. A paisagem foi alterada pela configuração de diferentes espacialidades, que desenharam a nova ordem colonial sobre os, até então, territórios indígenas. Assim, as espacialidades indígenas foram alteradas, reorganizadas e repensadas sob novos propósitos, pautados pelos interesses dos agentes coloniais. Este processo não esteve livre de tensões, mais ou menos agudas, segundo a intensidade e dinamicidade das alterações provocadas e as possibilidades do estabelecimento de adequações, negociações e consensos entre os sujeitos envolvidos (SILVA, A., 2006, 2008; SILVA; BARCELOS, 2009).

 

Desta maneira, os olhares coloniais portugueses, deslocados para a América meridional, estiveram relacionados a dois momentos: o primeiro, que inicia no século XVII, consiste na aproximação de bandeirantes aos confins meridionais da América portuguesa, com o objetivo de capturar mão de obra indígena nas reduções de índios guarani estabelecidas pelos missionários jesuítas no  Itatin  (atual  Mato  Grosso  do  Sul),  no  Guairá  (atual  Oeste  do  Paraná)  e  no Tape (atual Rio Grande do Sul). A ação dos jesuítas entre os Guarani do Tape havia iniciado em 1626, através da evangelização promovida pelo padre Roque Gonzáles de Santa Cruz, seguido mais tarde por outros companheiros. Baseado na experiência desenvolvida na região do Guairá, os jesuítas promoveram a introdução do gado bovino entre os Guarani. Contudo, o controle sobre os rebanhos que se formavam era dificultado pela falta de demarcações ou limites artificiais ou naturais nas áreas de  pastagem. Conduzindo animais para as planícies costeiras, os Guarani e jesuítas terminaram por criar uma ampla área de reserva de gado. A proximidade com o litoral dos atuais Rio Grande do Sul e Uruguai levou à denominação dessa área como Vaquería del Mar, ou Vacaria do Mar. Durante o período em que missionavam entre os Guarani, os rebanhos foram aproveitados para alimentar a população das nascentes reduções instaladas no Tape. Contudo, após o acosso dos bandeirantes, jesuítas e índios afastam-se do território no qual estavam estabelecidos. Nessa retirada, o gado utilizado para o sustento das Missões, deixado para trás, se reproduziu livremente, ampliando consideravelmente os rebanhos da Vacaria do Mar. Sem a presença jesuítica no Tape, não era mais possível manter o controle e a posse sobre esses animais. Buenairenses, correntinos e santafesinos passaram então a abater e retirar animais da Vacaria do Mar, alegando direitos em uma discussão não isenta de argumentos históricos, frente aos protestos dos jesuítas. Paulatinamente, luso-brasileiros passaram a dirigir seu interesse para os rebanhos. “Estava lançado o fundamento econômico básico de apropriação da terra gaúcha: a preia do gado xucro.”  (PESAVENTO, 1994, p. 9).

 

A crescente presença de portugueses e luso-brasileiros na região ao sul da capitania de São Paulo a partir do final do século XVII não se deve, obviamente, apenas e tão somente à busca de ganhos com a exploração dos rebanhos de gado alçado na Vacaria do Mar. Insere-se em um processo mais amplo, onde a coroa portuguesa desenvolveu uma concepção geopolítica segundo a qual as fronteiras naturais de seus domínios deveriam estender-se até a margem norte do rio da Prata. Ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII, a conformação natural servia como balizadora para a demarcação de limites, de modo que cadeias de montanhas, colinas, rios e arroios, entre outros, serviriam de marcos naturais entre áreas coloniais. E a enorme bacia hidrográfica do rio da Prata era um forte elemento a ser considerado no tocante aos limites territoriais da América meridional portuguesa.

 

Como parte da estratégia portuguesa de disputar o controle da desembocadura do rio da Prata, foi estabelecida, em 1680, a Colônia do Sacramento, na margem norte do rio. Esse assentamento, inicialmente um fortim pouco defensável, foi rapidamente atacado pelos espanhóis de Buenos Aires. Contudo, os portugueses, através de acordos diplomáticos celebrados na Europa, lograram permanecer instalados no local. Em decorrência das necessidades do assentamento, as terras imediatamente próximas à Colônia, bem como o gado alçado ali presente, passaram a fazer parte de seus interesses, juntamente com o comércio que iniciaram com Buenos Aires e outras cidades espanholas do interior.

 

A presença portuguesa em latitudes tão elevadas ampliou a importância estratégica não apenas da desembocadura do rio da Prata, mas de toda a região circunvizinha. As terras localizadas a leste do rio Uruguai passaram a ser denominadas Banda Oriental e, como forma de garantir a posse do território e a ampliação da ação missionária, a Companhia de Jesus decidiu pela fundação de novas reduções, a partir de 1682. Esse retorno se deu em um contexto diferente daquele presente nas primeiras reduções do Tape. Entre 1682 e 1706, os jesuítas lograram estabelecer sete reduções, que se somaram às outras assentadas na mesopotâmia dos rios Uruguai e Paraná e ao norte deste último, perfazendo trinta reduções, majoritariamente de índios guarani. A integração com as demais reduções é um aspecto importante a ser considerado. Durante a primeira metade do século XVIII, os jesuítas promoveram um sistema de trocas e intercâmbios entre suas reduções, fazendo com que aquelas situadas na Banda Oriental passassem a se especializar na extração de erva-mate e na criação de gado bovino. Contudo, a utilização dos rebanhos da Vacaria do Mar se via prejudicada pela disputa com espanhóis e portugueses. Dessa forma, os jesuítas estabeleceram na Banda Oriental estâncias de gado para cada uma das sete reduções e para a redução de Yapeyú, localizada na margem oeste do rio Uruguai, em atual território argentino.  Nessas estâncias, o controle sobre os rebanhos se fazia mais efetivo. Seguindo a lógica da época, rios, arroios e matas foram utilizados como limites entre as estâncias, de forma a garantir a posse individual de cada povoado sobre seus rebanhos.

 

Em 1704, diante das frequentes retiradas de gado da Vacaria do Mar por parte de colonos espanhóis e de portugueses, os jesuítas buscaram estabelecer uma nova reserva de gado, em uma área distante das cidades coloniais platinas e da Colônia do Sacramento. A região escolhida foi a dos atuais Campos de Cima da Serra. A topografia, juntamente com a presença de matas de araucária, oferecia as condições para evitar a dispersão dos animais (BARCELOS, 2000; KÜHN, 2007; PESAVENTO, 1994; SILVA, A., 2006).

 

Diferente da Vacaria do Mar, formada em consequência da perda do controle sobre os rebanhos, essa nova vacaria fora fruto de uma iniciativa planejada pelos jesuítas. Cabeças de gado foram retiradas das estâncias das reduções e a exploração deveria se dar de forma proporcional à contribuição de cada uma. A área ficou conhecida como Vaquería de los Pinares, ou Vacaria dos Pinhais, e a ela se refere o irmão Silvestre Gonzáles (1705 apud DE MASY, 1989, p. 179):

[…] no tiene que hacer esta vaquería, con la bondad en un todo,
con la de Pinares, así en los pastos, como en las aguadas, como en
las  rinconadas,  en  el  camino  y  en  la  cerca,  y  en  la  comodid;  y
también en la comodid de hacer vacas y el poder ver desde luego
adonde las hay. Algo más fría sí es que está, porque es tierra más
alta, pero mucho más amena.

Dessa forma, a região dos Campos de Cima da Serra passou a integrar o espaço de domínio das reduções de Guarani. Contudo, a pouca presença destes e a falta de assentamento estáveis fez com que a posse da mesma não fosse reconhecida quando poucos anos depois os portugueses passaram a frequentar a mesma em busca do gado. Os Guarani patrulhavam frequentemente as estâncias, embora o fizessem com menor zelo na área da Vacaria dos Pinhais. Buscavam afugentar pretensões dos colonos espanhóis e dos portugueses sobre os rebanhos. As novas reduções e suas respectivas estâncias garantiam aos jesuítas e Guarani a posse sobre uma ampla área da Banda Oriental. E não apenas para a Companhia de Jesus em particular, mas também para a coroa espanhola, visto que era a serviço desta que evangelizavam os indígenas. Frente a essa “fronteira”, restava aos portugueses estender sua presença à faixa litorânea do Atlântico, passando essa região a ser a via terrestre de comunicação entre a Colônia do Sacramento e Laguna, bem como o restante do Brasil português. Na primeira metade do século XVIII a Banda Oriental do rio Uruguai será marcada então por uma configuração espacial que terá, por um lado, a presença da coroa espanhola através das missões jesuíticas, suas estâncias e vacarias, e a presença portuguesa através da Colônia do Sacramento e do gradativo uso da zona litorânea como  rota terrestre entre esta e o Brasil português. Ao longo do século, os portugueses ampliariam sua presença, fixando-se na região.

 

A Colônia do Sacramento e as vacarias, do Mar e dos Pinhais, desempenharam um papel central no deslocamento das atenções luso-brasileiras em direção ao sul da América portuguesa, a ponto de movimentar o segundo momento de investidas na região. A grande quantidade de gado chamou atenção de vários “homens de negócios”, dentre estes os lagunistas (da então vila de Laguna, localizada no atual estado de Santa Catarina), os paulistas, além dos colonos espanhóis das cidades platinas, que, através de tropeadas, contrabandeadas ou não, iniciam uma verdadeira razia às vacarias. Nesse contexto, a região sul da América portuguesa estabeleceu fortes ligações econômicas com outros espaços coloniais, espanhóis e portugueses. E foi nesse momento que os “caminhos do gado” ou “caminhos de tropeiros” adquiriram significativa importância, tanto para a dinamização econômica e questões ligadas a trocas e intercâmbios culturais quanto para o povoamento colonial da região (SILVA, A., 2006).

 

Inúmeras estradas e picadas foram abertas para o escoamento do gado e outros produtos que abasteciam o mercado local e de diferentes regiões. Rotas assumiram funções históricas que transcenderam o simples transporte de gado. Com o passar do tempo e a intensificação das atividades dos tropeiros, essas antigas estradas foram também importantes para a ocupação colonial das regiões do tráfego tropeirístico. Colonização que, para a Coroa portuguesa, foi sinônimo de posse do território (BARROSO, 1979; 2006; JACOBUS, 1997; SILVA, A., 2006). Três dessas estradas marcaram indelevelmente esse contexto:

 

a) “Caminho da Praia”: estruturada  a partir de 1703 por Domingos da Filgueira, seguia pelo litoral, entre a Colônia de Sacramento e Laguna;
b) “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de Sousa Farias”: aberto em 1728, partia de Araranguá, cruzava pelos Campos de Cima da Serra até chegar à região da atual Curitiba;
c) “Caminho das Tropas”: estabelecido por volta de 1731, por Cristóvão Pereira de Abreu, partia de Viamão, onde se localizava o Registro de Viamão (ou Guarda Velha, no atual município de Santo Antônio da Patrulha), seguia rumo ao norte até alcançar os Campos das Vacarias, onde então cruzava o atual rio Pelotas (antes denominado rio do Inferno). Posteriormente, dirigia-se aos Campos de Lages e aos Campos Curitibanos, cruzava o rio Negro e o rio Iguaçu, chegando então aos Campos Gerais de Curitiba, onde se localizava o Registro de Curitiba, último registro antes da feira de Sorocaba.

 

O processo de povoamento da região sul teve como objetivos a ocupação do território e a criação de uma rota comercial bem estruturada e segura para as tropas, além do direto interesse de alguns “homens bons”. A ocupação ocorreu, de forma mais efetiva, por volta da terceira década do século XVIII, quando a Coroa portuguesa distribui terras (as sesmarias), principalmente aos militares, por serviços prestados (KÜHN, 2007; PESAVENTO, 1994; BARROSO, 1979). Eram estes “homens bons” ou “homens de bem”, indivíduos com influentes relações, os quais constituíram grande capital político e foram bastante privilegiados com o comércio do gado e a apropriação de terras sulinas (HAMEISTER, 2002).

 

No entanto, a análise desses caminhos não deve ser resumida a questões práticas e logísticas de uma só faceta, a econômica. Deve-se chamar a atenção ao caráter social do tropeirismo, possibilitador da dinamização de fluxos e relações socioculturais intensas. Tendo implicado a transformação do espaço por onde trafegavam não só o gado (de pequeno ou grande porte), mas também homens com suas ideias, seus costumes, seus saberes e fazeres cotidianos, construindo assim o que chamamos de tropeirismo (SILVA, A., 2006). Por sua vez, o comércio em lombo de mulas, representado pelos diversos tipos de tropas, movimentou a economia a partir do primeiro quartel do século XVIII, ao longo do século XIX e início do século XX, quando paulatinamente as mulas dão lugar ao transporte ferroviário e rodoviário.

 

Destacar esse contexto em que a região da Banda Oriental estava em disputa entre as potências coloniais de Espanha e Portugal justifica-se na medida em que parte da historiografia gaúcha tratou de negar o passado espanhol do Rio Grande do Sul, e essa negação contribui largamente para o mito da brasilidade original do estado e o papel do tropeirismo na integração “nacional”, como se verá adiante.

 

Fonte: “Meu avô era tropeiro!”: identidade, patrimônio e materialidades
na construção da Terra do Tropeirismo – Bom Jesus (RS), PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

sábado, 26 de maio de 2012

Alimentação de Equinos e Asininos - Cuidados no uso da Linhaça

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Sempre surge uma dúvida ao se alimentarem os equinos e asininos: alimento perfeito ou equilíbrio perfeito entre alimentos? O que se deve buscar para a dieta do animal?

Já que não existe o alimento perfeito, deve-se, então, buscar um equilíbrioperfeito entre os alimentos para que se obtenha o melhor resultado na criação, valorizando-se a sua performance. A linhaça tem sido indicada como complemento alimentar para equinos e asininos. É um excelente complemento a ser utilizado para esse fim, como a maioria dos grãos. É necessário, porém, que se justifique seu uso. Para tanto, devem-se avaliar as reais necessidades nutricionais do animal. A linhaça pode ser utilizada de três formas: grão integral, farinha e óleo.

Em pequenas quantidades, esse tipo de alimento, em grãos, é utilizado numa medida entre 20 e 50 g diários. Pode ser ingerido duas vezes por semana, como preventivo das cólicas.

Somente um erro de manejo justifica o uso da linhaça na alimentação dos equinos. Cerca de 95% das cólicas são ocasionadas por esse erro. Isso quer dizer que, adequando-se o manejo às reais necessidades do animal, ele dificilmente terá cólica (chance de 5%).

Para que a linhaça seja oferecida aos animais é necessário amolecer os grãos com água, devido à dureza de sua casca. Possui ação laxativa, quando umedecida. O ácido prússico, liberado pela linhaça umedecida, porém, impede a absorção de oxigênio pelo organismo, podendo levar à morte súbita, caso não seja bem administrada. Por isso, deve-se tomar o máximo de cuidado.

Se oferecida sob a forma de farinha ou óleo, ela pode trazer alguns benefícios, bastante interessantes ao animal, desde que sejam obedecidas as recomendações iniciais.

Texto adaptado. Fonte: Cavalo do Sul de Minas

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Como cuidar de órfãos

 

A criação de filhotes órfãos é um grande mito na criação de equinos e asininos porque ainda se tem a idéia de que o potro que fica órfão não sobrevive.

Esse mito ainda existe pela falta de conhecimento em relação à boa alimentação e manejo dos potros. Se ele é manejado de forma corretadesde o final da gestação, poderá viver normalmente.

O nascimento e a saúde do potro dependerá na maioria das vezes da saúde da mãe. Se a matriz está muito magra, provavelmente produzirá um potro frágil. Já as que estão acima de seu peso, terão dificuldades no parto devido a um estreitamento do canal pélvico pela gordura, provocando anóxia no recém nascido.

Outro fato que depende da saúde da mãe é a produção de leite, que pode ser prejudicada dependendo do peso do animal. Uma égua/jumenta magra poderá produzir leite com deficiência nutricional, assim como aquela com excesso pode produzir o leite pelo fato ter acúmulo de gordura em sua glândula mamária.


Até as 18 horas após o nascimento do potro, alguns cuidados iniciais são fundamentais para sua sobrevivência.

É importante que a mãe limpe seu filhote e que o este levante sozinho.

Na maioria das vezes o parto acontece a noite então, isso significa que pela manhã o potro já deve estar de pé e mamando o primeiro leite, chamado colostro que é de fundamental importância para sua sobrevivência.

O colostro é um leite riquíssimo em anticorpos e o aparelho digestivo do potro, até 18 horas após o nascimento, é permeável à absorção destes anticorpos.

Para as crias que perdem as mães ainda na fase de amamentação, devem-se tomar alguns cuidados especiais:

O potro órfão deve receber de imediato um colostro de outra égua/jumenta, que pode ser congelado e reaquecido no momento do fornecimento.

Após o desmame deste potro, deve-se se atentar para que ele tenha uma alimentação adequada e diferenciada. No inicio de vida, a velocidade de crescimento do potro é muito alta.

A não alimentação adequada ao potro órfão em qualquer momento nos seus primeiros 12 meses de vida compromete, em geral em definitivo, seu crescimento e desenvolvimento.

 

Texto Adaptado. Fonte: equinocultura.com, por: André Galvão Cintra

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Anti-helmínticos no tratamento das verminoses em Equinos

 

O controle da parasitose nos equinos é fundamental, pois melhora o desempenho dos animais. A forma de controle adotada nos principais haras e criatórios de equinos utiliza exclusivamente os compostos antiparasitários por sua praticidade, eficiência comprovada e segurança na utilização, além de ter ótima relação custo-benefício.


Existem diversos compostos utilizados na rotina para controle parasitário dos equinos. Dentre os compostos, existem quatro grupos químicos distintos: os benzimidazóis (por exemplo, albendazole e oxibendazole), as pirimidinas e imidazotiazóis (por exemplo, pamoato de pirantel e levamisole) e o grupo das lactonas macrocíclicas (por exemplo, ivermectina e moxidectina). A grande diferença entre os grupos químicos está no seu mecanismo de ação diferenciado e nas formas de eliminação parasitária (MARTIN, 1997).


Alguns antiparasitários são ineficazes contra parasitos após um período de tempo e não conseguem manter a mesma eficácia, nas mesmas condições. Esse fato caracteriza a resistência parasitária, constatada quando uma determinada droga que apresentava redução da carga parasitária acima de 95% decresce para níveis inferiores a esse valor contra o mesmo organismo depois de determinado período (CONDER; CAMPBELL, 1995).


A maioria dos compostos é ineficaz contra todos os estádios de desenvolvimento dos parasitos de equinos, sendo que somente a moxidectina tem efeito moderado contra larvas encistadas de terceiro e quarto estádio. A moxidectina pertence ao grupo das lactonas macrocíclicas e foi sintetizada em 1990, sendo que tem demonstrado um amplo espectro de ação contra parasitos internos e externos. É considerado um fármaco seguro em adultos e em potros a partir de 6 meses de idade (PAPICH, 2007).


O Praziquantel pertence à classe dos Pirazinoisoquinolonas, medicamento de eleição no tratamento das infecções por cestódeos em animais domésticos. O Praziquantel é o princípio ativo mais importante dessa classe. O mecanismo de ação do Praziquantel é sobre o potencial de membrana das células musculares, promovendo a entrada de cálcio para o interior da célula, resultando na contração muscular, vacuolização e desintegração do tegumento do helminto.


Fonte: OuroFino Agronegócios

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Livros antigos que falavam sobre leite de jumenta

 

William Buchan escreveu, Domestic Medicine (Medicina Doméstica), um livro de referência que se tornou bem popular no século 19.

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Isso é o que ele dizia sobre o uso de leite de jumenta, em especial em relação a pacientes com tuberculose:

Depois de um ar apropriado e exercício, nós recomendamos dar atenção a dieta. O paciente não deve comer nada que aqueça ou que seja de difícil digestão, e sua bebida deve ser de natureza suave e refrescante. Toda a dieta deve ser cauculada para diminuir acrimônia dos humores e para nutrir e sustentar o paciente. Para este propósito, ele deve manter principalmente à utilização de produtos vegetais e leite. O leite é mais importante para esta doença do que toda a medicina.

Leite de jumenta é comumente reconhecido como sendo melhor do que qualquer outro, mas nem sempre pode ser obtido, além disso, é geralmente tomado em uma quantidade muito pequena, e que, para produzir quaisquer efeitos, deveria ser uma parte considerável da dieta do paciente. Dificilmente é de se esperar, que um gole ou dois de leite de jumenta, bebido no espaço de vinte e quatro horas, deve ser capaz de produzir qualquer mudança considerável em um adulto, e quando as pessoas não percebem seus efeitos logo, eles perdem a esperança, e assim deixam-no de fora. Por isso, este medicamento, que é muito valioso, muito raramente realiza uma cura. A razão é óbvia, pois é comumente usado demasiado tarde, e é tomado em quantidades muito pequenas, e por pouco tempo.

Eu já vi efeitos extraordinários do leite de jumenta em tosses renitentes e que ameaçavam os pulmões (começo da tuberculose), e acredito piamente que se usado neste período raramente falham, mas se for adiada até que uma úlcera seja formada, o que é geralmente o caso, como pode ser esperado que tenha sucesso?

Leite de jumenta deveria ser bebida, se possível, na temperatura natural, e, para uma pessoa adulta, na quantidade de uma “English pint” (cerca de 570ml) de cada vez. Ao invés de tomar esta quantidade apenas pela noite e pela manhã, o paciente deve tomar quatro vezes, ou pelo menos três vezes ao dia, e também deve comer um pão leve junto com ele, de modo a torná-lo um tipo de refeição.

Se a pessoa vomitar o leite, este pode ser misturado com a conserva de rosas. Quando não puder ser obtida, o pó das garras dos caranguejos pode ser utilizado em seu lugar. É geralmente recomendado que o Leite de jumenta seja bebido quente na cama, mas como geralmente causa suor no paciente quando tomado dessa forma, talvez fosse melhor dar-lhe depois que ele levantasse.

Também era considerado útil quando o paciente apresentava uma tosse persistente, associada a outras queixas, como a varíola:

Quando uma tosse, a dificuldade de respiração ou outro sintoma de consumo (tuberculose), acontece depois da varíola, o paciente deve ser enviado para um lugar onde o ar é bom, e deve ser colocado em uma dieta de leite jumenta, com o exercício como ele poder suportar.

Ou sarampo:


No caso de uma tosse, com dificuldade de respiração, e outros sintomas de um consumo (tuberculose), permanecem após o sarampo, pequenas quantidades de sangue podem ser drenadas em intervalos apropriados, como seja permitido pela força e estado do paciente. Ele deve também beber leite jumenta, ir para o campo se morar em uma grande cidade, e andar diariamente a cavalo. Ele deve manter-se em uma dieta composta de leite e vegetais e, finalmente, se estes não tiverem êxito, leva-lo para um local de clima mais quente.

Mrs Rundell, in her section of recipes for invalids in her book A New System of Domestic Cookery, ( my 1819 edition) advises the use of  asses milk too.

A Sra. Rundell, em sua seção de receitas para inválidos em seu livro “A New System of Domestic Cookery” (Um Novo Sistema de Culinária Doméstica), (minha edição é de 1819) aconselha a utilização de leite jumenta também.

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Leite de Asno

Ultrapassa de longe qualquer imitação dele que possa ser feito. Deve ser ordenhado em um vidro mantido quente em uma bacia de água quente.

O ar fixo que contém dá em algumas pessoas uma dor no estômago. Num primeiro momento uma colher de chá de rum pode ser tomada com ele, mas só deve ser colocado no momento em que for ser ingerido.

 

Na verdade já foi provado cientificamente que todas essas velhas "curas" podem ter alguma verdade por trás. Foi descoberto que Leite de jumenta tem menos sólidos do que qualquer outro tipo de leite. É mais rico em açúcar do que outros tipos (exceto o leite humano). Possui menos gordura do que outros leites e, consequentemente, é fácil de digerir. Portanto, uma coisa bastante boa para pessoas doentes consumirem.

As jumentas eram geralmente ordenhadas duas vezes por dia e, normalmente davam metade de um litro à um litro em cada ordenha.

Mas se você não podia obter leite fresco de jumenta, então você poderia fazer um substituto.

Meu exemplar de The Family Receipt Book (O Livro de Receitas da Família).

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Uma enciclopédia fanaticamente detalhada e abrangente de conhecimento domestico de 1810, ele dá a receita para o leite artificial jumenta:

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O famoso substituto do leite de jumenta do Dr. Gibson.

Esse substituto des leite de asno é bastante eficaz em casos de tuberculose, e é feito da seguinte forma, de acordo com uma receita genuína – Coloque para cada litro e meio de água, quarenta lesmas, 55g de raiz de eringo e 55g de pura cevada francesa. Cozinhe até obter um litro, use o coador para coar, tome duas colheres de sopa, duas vezes ao dia misturado com um copo de 250ml de leite.

Até mesmo a Sra Rundell deu três alternativas ao leite fresco de jumenta:

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Leite de Jumenta Artificial

Ferva um litro de água junto com um litro de leite fresco, 30g de açucar branco, 15g de raiz de eringo e 15g de conserva de rosas, até que fique apenas a metade.

Isso é adstringente; portanto use proporção para obter o efeito desejado nas doses, e a quantidade que vai ser utilizada quando for adoçar.

Outra – Misture duas colheres cheias de água fervente, duas de leite e um ovo bem batido; adoce com açucar branco. isso pode ser tomado duas ou três vezes ao dia.

Outra – Cozinhe 55g de raspas de chifre de veado-vermelho, 55g de cevada pérola, 55g de raiz de eringo cristalizada e uma dúzia de lesmas que foram machucadas, em dois litros de água, até que fique apenas um litro. Misture com uma quantidade igual de leite fresco e tome duas vezes ao dia.

 

Alguns dos ingredientes dessas receitas parecem bem estranhos para nós – lesmas? – mas outros são completamente desconhecidos.

Raiz de Eringo é talvez o ingrediente mais enigmático. É na verdade a raiz do cardo-marítimo, Eryngium maritimum.

Fonte: Austenonly

terça-feira, 22 de maio de 2012

Podotrocleose (Doença do Navicular)

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A doença do Navicular é uma das causas mais comuns de claudicação intermitente do membro anterior de cavalos entre quatro e quinze anos de idade. Apesar dos membros posteriores também serem acometidos, esta é, em geral, uma doença do membro anterior.

Acredita-se que fatores como problemas de conformação, casqueamento, ferrageamento inadequados e exercícios em superfícies duras agravam o problema. É uma doença degenerativa crônica progressiva que afeta o osso sesamóide distal, bolsa do navicular e tendões flexores.

Etiologia:

O caráter hereditário da patologia está intrinsecamente ligado há etiologia da doença sendo uma conformação muito vertical, um osso navicular pouco resistente, pequeno tamanho dos cascos em relação ao peso do animal alguns dos principais responsáveis pelo aparecimento do quadro.

Além disso, animais exercitados de forma sistemática em pisos duros ou em superfícies irregulares também estão predispostos. De modo geral, qualquer fator que aumente a concussão do osso sesamoide distal sobre o solo pode dar origem a patologia.

A degeneração senil em cavalos utilizados para trabalho por vários anos também pode levar ao quadro, ocorrendo desmineralização óssea e, consequente, perda de resistência.

Sinais clínicos:

Equinos afetados normalmente apresentam histórico de claudicação intermitente, que reduz com o repouso. No estágio agudo da doença, o repouso levará a um desaparecimento dos sintomas clínicos, entretanto, os sinais reaparecem após trabalho intenso. Normalmente ambas as patas estão acometidas, porém a claudicação só é observada em um dos membros sendo necessário um bloqueio anestésico do membro mais severamente acometido para observação da claudicação do membro oposto.

Se ambos os membros estão envolvidos, frequentemente o animal altera seu apoio como forma de aliviar a dor em um dos membros. Em movimento, o animal tende a apoiar primeiro a pinça da pata para evitar a concussão dos talões, causando encurtamento da fase cranial do passo.

Normalmente animais acometidos têm um aumento significativo da claudicação quando é posto para trotar em superfícies irregulares ou mesmo quando este faz uma curva sobre o membro acometido.

Tratamento Ortopédico:

WRIGHT (1993) observou que 75% dos cavalos acometidos pela doença do navicular tinham o eixo pata-quartela alterado e 45% apresentavam desequilíbrio médio-lateral.

Talões colapsados foram observados em 77% dos animais sofrendo de doença do navicular e 73% apresentaram os talões contraídos.

O colapso dos talões leva a redução da superfície de contato com o solo, sendo que os talões ficam deslocados anteriormente, não fornecendo suporte adequado da parte caudal.

Desta forma, com o tratamento ortopédico, em primeiro lugar é necessário o alinhamento do eixo pata-quartela visando regularizar a ação sobre a articulação interfalangiana distal, e sobre o tendão flexor profundo, com consequente diminuição da pressão sobre o osso sesamóide distal (osso navicular).

É também necessário o restabelecimento da simetria dos talões e nivelamento da muralha, mantendo sempre as barras que servem de sustentação para o casco. No ferrageamento deve ser implantada ferragem com travessa um terço mais larga que a ferradura, ligando uma barra a outra soldada na face de apoio no solo.

Esta ação impede a expansão lateral da região de inserção do navicular na pata, diminuindo assim as pressões exercidas sobre a mesma. A ferradura deve apresentar dois guarda cascos laterais que auxiliam na contenção da expansão lateral do casco.

Pode apresentar também uma espessura mais fina na pinça e aumentar gradativamente dos quartos até os talões, caso o animal ainda se encontre achinelado após o casqueamento, ou mesmo, uso de talonetes para alinhar o eixo quarto patela.

A ferradura deve ter sobrepasse de até um centímetro nos talões, maior que em ferrageamento normal onde se usa até meio centímetro e guarnições de até 0,3 centímetros. A curva dos talões deve ser muito bem forjada para que não haja arrancamento da ferradura; deve ser feito arrolagem da pinça para que facilite o movimento, diminuindo a pressão sobre a articulação interfalangeana distal.

Fonte: Leonardo Faria, médico veterinário da Ourofino Agronegócio

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Marrocos: empresa respeita "direitos trabalhistas" de burros

 

Quem iria dizer que o sofrido burro marroquino um dia teria direitos trabalhistas, horário de trabalho, pausas para almoçar, períodos de formação, acesso a clínicas de urgências e cuidados de barbearia e dentista? Um dos animais mais maltratados no Marrocos, o burro é alvo de piadas, brincadeiras maldosas, ataques e símbolo da estupidez. Até mesmo quando se pronuncia seu nome ("hmar") as pessoas baixam a voz e dizem "com perdão da palavra".

No entanto, apesar desses aspectos, um empresário da coleta de lixo, Aziz Badraui, pensou em dignificar o animal e montou uma equipe de "burros operários" para recolher o lixo na medina de Fez. A cidade antiga de Fez, a maior zona pedestre do mundo, é composta por um labirinto de ruas que sobem e descem, mudam de direção, viram becos sem saída e tem poucos acessos e saídas.

Diante disso, os turistas necessitam de guias para não se perderem no local. Com exceção de algumas ruas mais largas, todas as vias da medina são estreitas e não admitem tráfego, somente de motos e bicicletas. Os asnos sempre foram o único meio de carga e descarga nesta cidade de 350 hectares onde passam 128 mil pelas ruas, o sol é visto em poucos momentos e os moradores conseguem tocar as paredes das outras casas a partir de suas janelas.

Dessa forma, a Prefeitura de Fez impõe às empresas de lixo o uso dos asnos, condição que desanimou uma empresa espanhola a concorrer na oferta. Até agora as empresas concessionárias de limpeza que operavam na medina simplesmente contratavam um grupo de transportadores para retirar lixos.

Badraui, que se orgulha de ter nascido no campo e conhecer as necessidades de um asno, decidiu fazer as coisas de outro modo. A sua empresa Ozone aumentou o número de burros de 50 para 92, construiu um estábulo e só então contratou os transportadores. O empresário ainda colocou os burros em um período de treinamento de uma semana: nos primeiros dias o burro novato vai atado à garupa de um companheiro veterano e se limita a seguir seu percurso e aprender.

Depois, colocam a cela, mas sem carga, e por último as celas com os resíduos, sempre com o burro amarrado, até que sete dias depois já tenha memorizada a rota e aprendido a não cair. Bom conhecedor do animal, Badraui sabe das preferências alimentícias dos burros: Os restos dos vegetais do mercado central (folhas de verduras, pepinos e cenouras) são o melhor lanche, de forma que os burros são "mimados" com o próprio lixo que transportam.

Um burro de Ozone trabalha dois dias e descansa no estábulo no terceiro, além de sempre sair nas mesmas horas e com o mesmo transportador, porque segundo o empresário a relação pessoal é fundamental entre o animal e o guia. Um veterinário faz periodicamente um tratamento médico e dental; e quando sofrem algum acidente são levados a uma clínica especializada em burros e mulas.

Segundo Badraui, o burro não só é mais barato: custa 1 mil dirhams (US$ 130) a unidade, e tem uma vida laboral útil de oito anos. Além disso, é mais "amigável" com o entorno: não gasta gasolina nem expele fumaça e quando penetra nas horas da madrugada pela medina realiza seu trabalho com total discrição e sem o barulho dos veículos de limpeza.

O aspecto mais grave em relação aos burros é que zurram às 5h da manhã, fazendo lembrar o trecho do Corão que diz que no mundo "não há som mais desagradável que o zurro de um asno". Há cerca de um milhão de burros ativos no Marrocos; a maioria trabalha de sol a sol nas tarefas agrícolas e não conhecem os privilégios de ser um animal operário de limpeza urbana.

Fonte: Terra Notícias, 18 de maio de 2012

domingo, 20 de maio de 2012

Equinos – Utilização do Plasma Hiperimune

 

O potro nasce com seu organismo completamente indefeso, seus anticorpos são adquiridos na primeira mamada, ou seja, os anticorpos da mãe são passados para o potro através do colostro, diferente do que acontece em outras espécies onde eles são transmitidos através da placenta. Para que o potro aproveite esses anticorpos ele deve ingeri-los nas primeiras horas de vida, pois conforme o tempo passa, a absorção intestinal diminui.

Portanto, uma falha no recebimento desses anticorpos, que pode ocorrer por vários motivos, desde uma demora do potro para levantar até a morte da mãe ou ausência de leite em éguas mais novas, levará o potro a ficar indefeso contra diversas infecções. No ambiente existem diferentes tipos de bactérias que promovem todos os tipos de doenças e, em alguns haras, observamos que algumas ocorrem mais que outras.


Como principais doenças que acometem os potros temos as diarreias e as pneumonias, que além de serem muito severas, diminuindo a taxa de crescimento e colocando em risco a vida do potro, geram um gasto adicional com o tratamento.


Desse modo, quando pretendemos ou precisamos aumentar a resistência dos potros, podemos utilizar o plasma hiperimune. Ele é um concentrado de anticorpos prontos produzidos em animais (doadores de plasma) estimulados a uma superprodução de anticorpos contra as principais doenças que encontramos no Brasil.


O Plasma hiperimune é feito através da retirada de sangue do cavalo doador. Deste sangue retiramos as hemácias (parte vermelha) e ficamos com o plasma (parte líquida) e células de defesa (anticorpos). Esse plasma produzido pode então ser armazenado congelado em bolsas de 900 ml e descongelado no momento de administração.


O melhor momento de administração é nos primeiros dias de vida, quando o potro poderá se beneficiar mais. Porém, poderá ser aplicado em qualquer momento como um adjuvante no tratamento de moléstias infecciosas.Apesar de sua aplicação ser muito simples e segura, não é isenta de riscos, pois como estamos dando anticorpos produzidos em outros animais, podemos causar uma reação alérgica, como um choque anafilático.

Existem alguns testes que podemos realizar antes da administração com a intenção de prever a possibilidade de ocorrência de reação anafilática. Devemos estar sempre monitorando o potro durante a aplicação para agir de imediato caso alguma reação aconteça, além de fazer sua administração de forma adequada através de infusão lenta, utilizando equipos com filtro e plasma na temperatura corporal (após ser descongelado lentamente).


Podemos considerar a utilização do plasma dispendiosa no início, mas sua relação custo – benefício acaba compensando o uso, pois diminuiremos as taxas de pneumonias e diarreias, economizando em seus tratamentos, além de produzirmos potros mais saudáveis.


Fonte: Ourofino  Autores: M.V Rodrigo Cruz é professor da Universidade Santo Amaro e Médico Veterinário autônomo.

sábado, 19 de maio de 2012

Mulher mais velha do mundo atribui idade a leite de jumenta e vinho

 

María Esther Heredia Capovilla, uma equatoriana de 116 anos, considerada pelo Guinness Book of Records (Livro dos Recordes) a mulher mais velha do mundo, atribui sua longevidade ao leite de jumenta e ao vinho.

A idosa mora em um elegante bairro do norte de Guayaquil, em companhia de seu segundo marido, Martín Icaza, embora não tenha perdido o contato com suas filhas Hilda e Irma, com seus 11 netos, 20 bisnetos e duas tataranetas, que a visitam freqüentemente. Sua casa se transformou desde a última semana em ponto de encontro, especialmente para jornalistas, depois do anúncio do Guinness de que ela era a mulher mais velha do planeta.

"Ela não quis acreditar, ou talvez não tenha entendido que era a mulher mais velha do mundo", disse à EFE sua filha Hilda. Passado o susto inicial, María agora assume esse título com alegria e orgulho, demonstrados a todos os repórteres que comparecem à casa. María Esther Heredia nasceu em Guayaquil em 14 de setembro de 1889 e é mãe de três filhos, embora outros dois já tenham morrido.

Do alto de seus 116 anos, não usa bengala, adora ver televisão e nunca passou fome, pois pertence a uma das famílias mais ricas e conservadoras da cidade. No entanto, conserva sua singeleza característica, diz sua filha, que lembra ainda que sua mãe sempre foi uma amante de festas e passeios. "Ela está em perfeitas condições de saúde, não sente dores, não sofre do coração, nem de incontinência, não usa cadeira de rodas. Precisa de ajuda apenas algumas vezes para caminhar, quando já está cansada" avalia a filha.

"Ela lê todas as manchetes do jornal, já que não consegue enxergar as letras menores pois não usa óculos, e gosta de ver televisão, embora às vezes se queixe de cãibras nas pernas", acrescenta Hilda. E qual é o segredo de sua vida tão longa? "O leite de jumenta" que consumia em uma fazenda de uma tia e "o vinho" que seu primeiro esposo, o austríaco Antonio Capovilla Oliva, costumava degustar com moderação e que foi incorporado à dieta de Heredia.

"Quando era jovem, esteve mal de saúde e foi levada a uma grande fazenda de uma tia chamada Francisca. Ia para lá quando estava de férias, e tomava leite ordenhado de jumenta", conta sua filha Hilda, que lamenta que o costume não tenha sido transmitido às novas gerações da família. "Seu marido, como bom europeu, também gostava de tomar vinho depois das refeições, e minha mãe também bebia um copo ou outro", declarou Hilda.

O coquetel teria prolongado a vida de María Heredia, diz sua filha, que sugere que, na falta de leite de jumenta, se consuma leite de cabra, que ainda pode ser encontrado em mercados de Guayaquil. "Ela ainda toma um pouco de vinho, mas só uma taça ocasional", acrescenta Irma, assegurando que um dos fatores responsáveis pelo fortalecimento de sua longevidade foi "uma vida tranqüila, dedicada a sua família e a seu lar".

María Esther Heredia jamais pensou que seria declarada a mulher mais velha do planeta. Na primeira vez que a informaram da notícia, não quis acreditar. Para a idosa equatoriana, tal reconhecimento "não poderia ser verdadeiro", pois simplesmente não se sente a mulher mais velha do mundo. Após a incessante chegada de visitantes, no entanto, decidiu encarar o desafio com o melhor dos ânimos.

No início, segundo sua filha Irma, achava que era seu aniversário ou as festas de seu santo, mas depois se deu conta de que "era a mulher mais famosa do mundo por sua idade".

Fonte: Terra Noticias, 14 de dezembro de 2005

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Depoimento - João Pereira

 

Descobri João Pereira numa tarde de abril, quando estava viajando na rodovia que liga Jatai a Caiapônia, no sudoeste de Goiás. Ví uma boiada relativamente grande na faixa de domínio da rodovia, parei, identifiquei o comissário e conversei rapidamente com ele. João Pereira me disse algo que interessou-me muito: que ainda viajava para São Paulo tocando gado e que fazia muitas viagens. Prontificou-se a me dar uma entrevista, passando seu endereço, em Jataí. E foi lá que o encontrei, num início de noite de junho, numa conversa que se prolongou por mais de duas horas, onde soube que estava diante de um dos últimos comissários de boiada ainda ativos em Goiás:

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- Seu João, primeiramente quero dizer que eu não contava mais encontrar um comissário que ainda faz longas viagens, principalmente para outros estados ... para mim, as boiadas tangidas tinham acabado, ficando só as viagens locais, em pequenos trechos dentro de Goiás ...
- Pois é, mas eu ainda viajo muito prá São Paulo e também faço muita viagem dentro de Goiás ... e tem muito serviço ... serviço é o que não falta.
- Mas isso quer dizer que ainda não estão no fim as grandes boiadas ? ...
- Eu não sei, porque nenhum peão dos que trabalham comigo tem jeito prá comissário, não tem o pulso que a gente teve, acho que não vai continuar depois que a gente parar, não ...
- Bom, mas como é que isso começou em sua vida ? Aliás, vamos por partes, seu nome, onde e quando nasceu ? ...
- Eu me chamo João Pereira da Silva, nasci aqui mesmo em Jataí, nasci em 46 ...
- Já está com 60 anos ?!
- Não, não, eu faço 60 só em novembro, no dia 4.
- E o começo ?
- Bom, meu pai era gerente de fazenda e, quando ele morreu, eu tinha 13 anos, assumi a gerencia ...
- Com 13 anos ?!
- É, com 13 anos ... eu trabalhei muito tempo como gerente e aí, um dia, o dono da fazenda era invocado (gostava) com tropa, tinha um rebanho de éguas e propôs prá mim e prá outro funcionário da fazenda prá gente arranjar um jumento prá criar na base da meia ... lá na fazenda era pouso de boiadeiro ... aí nós compramos um jumento Pega (raça de jumentos indicada para reprodutor por produzir excelentes burros e mulas) e logo no primeiro ano esse jumento gerou 60 burros, ficaram 20 prá cada um de nós ...
- Em que ano foi isso ?
- Foi em 1967 ... aí nós vendemos muito burro pro Mato Grosso ... com o dinheiro dos burros, compramos gado, vacas e bezerras, fomos indo ... Depois a gente trocou o gado por terra, terra era muito cara naquela época, foi uma chance, a gente comprou uma fazenda já formada, isso já foi em 1977 ... um dia meu sócio quis vender a parte dele, aí eu comprei, fiquei dono da terra.
- A produção do jumento então é muito boa, né ?
- É, um jumento corre (cruza) com uma égua de manhã e com outra de tarde, tem só que controlar direitinho porque se deixar ele só fica com uma égua, só corre com ela, tem que apartar ele da égua e colocar com outra ...
- E aí ...
- Pois é, aí quando eu fiquei com a terra fiquei também com a tropa e resolvi começar a tocar boiada prá São Paulo e Mato Grosso do Sul com capataz contratado, isso já foi no início dos anos 80 ...
- Capataz contratado ?
- Cheguei a ter 5 comitivas viajando ao mesmo tempo, tudo com capataz contratado ...

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- O sr. mesmo não viajava ?
- Não, eu só acompanhava com a camionete, ia até uns lugares, fiscalizava, orientava, mas com o passar do tempo eu comecei a ser roubado, tinha um ou outro capataz desonesto ...
- Mas como eles roubavam ?
- Apresentavam nota de despesa muito alta, eu pagava o peão mais a despesa e aí eu comecei a ver que tava perdendo dinheiro ... eu não queria deixar meu trabalho na fazenda, mas não teve jeito ... resolví acabar com as comitivas, fiquei só com uma, isso foi em 2001 mais ou menos, e comecei eu mesmo a viajar ...
- Vendeu quase toda a tropa ?
- É, fiquei com 30 burros, dos melhores, só burro pequenino, burro bom é burro pequeno, esse negócio de burro grande, aquela belezura, é só enfeite, burro bom é burro pequeno, minha tropa é toda de burro pequeno, mas só burro bom ...
- Quando começou a viajar foi prá onde ?
- Comecei indo prá Novo Horizonte (SP), também pegava boi de Catalão prá Cassilandia (MS), hoje tem boiada todo mês, não passa um mês sem uma viagem ... a gente toca 1000 reses, 1200, às vezes 500, 600, daí prá cima ...
- E com quantos peões viaja ?
- Uns 7 ou 8 ...
- E 30 burros mais a égua madrinha ???
- É, a gente faz a troca de montaria na hora do almoço, eu gosto de viajar com muita tropa, a troca de montaria descansa bem o burro, a maioria das minhas viagens é de 40, 60 dias, dá prá ir muito bem ... aliás, eu não uso égua madrinha, eu uso cavalo madrinha, um cavalo castrado é bem melhor, já tive problema com égua madrinha em pouso de fazenda, o homem tinha uns garanhões, fizeram o maior estrago, o homem reclamou comigo, daí prá frente só uso cavalo como madrinha ...
- Mas seu João, como é que hoje em dia, como são essas viagens, hoje tem muito asfalto, muita cerca de fazenda, como se toca boiada grande assim ?
- Eu procuro evitar o asfalto, ainda tem as velhas estradas boiadeiras que não são usadas por carro, por exemplo, se for prá São Paulo ... vou dar um exemplo, uma boiada que sai de Iporá (oeste de Goiás) prá lá, no trecho até Caiapönia eu venho por dentro, venho desviando do asfalto, chego em Buriti Sozinho (lugarejo provavelmente no município de Caiapônia), atravesso no 71 (posto de combustíveis na BR-364, na divisa dos municípios de Jataí e Mineiros, a sudoeste de Goiás), vou prá Mineiros, atravesso o rio Verdinho e vou até o Jacuba (rio na cabeceira do Parque Nacional das Emas). De lá eu saio no asfalto que vai prá Serranópolis (sudoeste de GO), atravesso o rio Corrente na ponte de asfalto, depois de uns 13 km viro a esquerda e vou pro Aporé (cidade de GO na fronteira com o MS), pulo pro Mato Grosso (do sul) e vou pela estrada boiadeira até a ponte de Ilha Solteira em São Paulo ou atravesso na balsa de Aparecida do Taboado (MS) ...
- Ainda tem balsa prá gado lá ?
- Tem ...

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- E lá em São Paulo, um estado tão desenvolvido, cheio de rodovias, de asfalto, como é que faz ?
- Ih, que nada, lá em São Paulo as estradas boiadeiras são preservadas, a gente viaja muito bem, vai passando no meio de laranjal, eucalipto, plantação de uva ... chega em Araçatuba só em estrada boiadeira, isso tudo, de Iporá até lá, leva 65 dias ...
- Eu fico surprêso ... mas é bom saber disso ...
- Pois é ... e eu digo que ainda tem muito sertão aqui dentro de Goiás ... tem o trecho de Aporé a Balisa (divisa de MT com o oeste de GO), eu levo 40 dias alí, sem entrar em corredor, só no cerradão ...
- Sem cerca, sem nada ? ...
- Nada. É uma solidão só, a única coisa que a gente vê nesses dias é o jato e o rastro que ele deixa no céu, bem lá no alto, de manhãzinha ...
- Pouso então é só no curral de corda, não tem fazenda pro pouso ?
- Só no curral de corda e a gente só na lona com rede, nenhuma fazenda dá pouso ... lá tem trecho tão ruim, de areião brabo, que a gente tem que por até 4 burros na carroça da comitiva prá aguentar o tranco.
- Como é que faz com a rês que fica de arribada ? Não tem estrutura pro arribador voltar ...
- Eu não uso arribador, não perco rês ... quando precisa, eu mesmo faço a arribação ... uma vez eu quase levei um prejuízo com um peão, tinha uma festa em Jataí, ele queria vir, deixou 2 bois de propósito prá trás, disse que ia arribar, apareceu na boiada uns dias depois, dizendo que não tinha encontrado as reses, aí na entrega, lá em Cassilândia, o capataz da fazenda não quis me pagar ... voltei prá Jataí muito aperreado, mas um amigo me disse que as reses estavam numa fazenda aqui perto – o peão tinha é voltado prá festa, trazido os bois e deixado na tal fazenda ... fui lá na camionete, peguei os 2 bois, botei na camionete, levei prá Cassilândia, entreguei pro homem, recebi o dinheiro ... mas isso serviu de lição, não uso arribador ...
- Mas esse caminho que o sr. usa, por dentro, imagino que beirando as serras, o vale do Araguaia, já era um caminho utilizado antes por boiadeiros ?
- Não, não, eu fiz esse caminho, hoje tem bastante boiada passando por ele ... isso foi porque um gaúcho, desses agricultores, fechou a estrada normal que a gente passava, eu não quis brigar, pensei até em procurar advogado, essas coisas, mas deixei prá lá, ia dar dor de cabeça, e eu então comecei a procurar essas alternativas, fui rasgando sertão adentro ... hoje todo mundo que leva boiada passa por lá.
- Seu João, e ainda dá dinheiro, quanto o sr. cobra, quanto paga pros peões ?
- Eu cobro 400 reais por marcha e pago 25 reais por dia pros peões, 30 pro cozinheiro ...
- Isso ainda sai mais barato pro fazendeiro que contrata o comissário do que mandar a boiada por caminhão... o sr. veja só, se é uma viagem com 1000 cabeças em 40 marchas, sai por 16.000 reais pra ele. Se contratar caminhões, com certeza o frete para 1000 cabeças, e são 20 reses por caminhão, isso dá 50 viagens de caminhão no total, vai sair no mínimo prá ele por uns 30.000 reais ...
- É, eu só sei que ele economiza dinheiro com a gente e o fazendeiro ainda gosta mais, porque o boi que viaja tocado é um boi mais calmo, ele vai pastando, não tem estresse ... o boi que vai em caminhão fica mais brabo, fica irritado, perde peso ...

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- Bom ... então, o esquema na volta, como é ? O fazendeiro paga o transporte da tropa por caminhão gaiola ?
- É, a tropa vem no gaiola e a gente vem de F4000, boiadeiro é bicho de pouca água, não dá prá voltar de ônibus, se a gente entrar num ônibus no fim da viagem, ninguém aguenta, o motorista não deixa, são muitos dias sem banho ... boiadeiro fica cheirando a macaco ...
- Banho é difícil mesmo ...
- E o boi estranha o dia que a gente consegue tomar um banhozinho em algum córrego na hora do pouso ... o boi acostuma com o cheiro da gente, quando boiadeiro fica limpinho a boiada fica nervosa, nem é bom tomar banho ...
- E o contrato com o fazendeiro, é no papel ?
- Nada, é só de boca mesmo, na confiança ...
- Não tem risco de ser enganado ?
- Não, muito pouco, só uma vez levei um prejuízo danado, um sujeito me contratou prá pegar uma boiada lá em Inhumas (próximo a Goiânia), era tudo armação, não tinha boiada nenhuma, ele aproveitou o transporte da tropa no gaiola prá levar um monte de mercadorias que tinha comprado com cheque roubado, deu o cano em todo mundo, sumiu, fiquei no prejuízo ... agora eu fiquei mais esperto, não acerto serviço com qualquer um, só com conhecidos ou então com muita referência.
- E a contagem do gado, é o sr. mesmo que faz ?
- Sou eu mesmo, só que não marco nos dedos da mão a talha não (talha de 50 cabeças: a cada 50 reses que passam pelo contador, ele fecha um dedo da mão e depois totaliza o número de dedos multiplicando por 50 e somando a fração excedente). Eu uso um contador de volume desses de supermercado e a cada talha completa eu marco um clique no contador ... depois é só multiplicar a marcação que tá no contador por 50 ...
- E quantas vezes por dia faz isso ?
- Quando a gente tá no cerradão fechado, tem que contar 3 vezes por dia, no mais é só na chegada e saída do pouso mesmo ... cerradão é muito difícil, mas a gente já tá acostumado ... tem até uma história, nós chegamos numa fazenda prá pegar uma boiada braba, só tinha rês arisca, eu disse pro fazendeiro que ia passar pelo cerradão prá economizar tempo, cortar caminho, ele não acreditou. O capataz dele viu minha tropa e não botou fé nos burrinhos pequenos ... pois juntei o gado todo, deu o maior trabalho, fiquei pousado junto com a boiada uma semana antes de sair e depois ela saiu pastando, mansinha, acostumou com a gente. Atravessamos o tal cerradão em um dia, não perdemos uma rês sequer, o fazendeiro não queria acreditar, ficou besta ...
João Pereira tem o semblante tranquilo, a voz pausada e firme e está muito bem conservado. Quando deixei sua casa, no centro de Jataí, já era noite avançada e eu tinha a certeza de que havia feito mais um amigo. João é casado e tem 3 filhas. Pretende viajar muitos anos ainda com as boiadas e eu espero ter a oportunidade de viajar alguns dias acompanhando sua comitiva, cortando aqueles ermos por ele falados, em qualquer lugar entre Aporé e Balisa, no sertão de Goiás.
Jataí, junho de 2006

Fonte: Foto Memória

quinta-feira, 17 de maio de 2012

XXVII ENAPÊGA 2012

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Melhoramento Genético

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O grande João Francisco Diniz Junqueira (1934) dizia que “O Melhoramento de qualquer raça deve ser pela seleção e não pelo cruzamento”. Na verdade em parte esta frase é verdadeira, porém em tempos mais modernos onde as ferramentas da engenharia genética estão mais amplamente difundidas e os conhecimentos sobre transmissibilidades de caracteres mais desvendados, não faz muito sentido ignorá-los e partir simplesmente para a seleção massal.

O cruzamento dirigido e bem estudado faz muita diferença na rapidez e no sucesso de uma boa criação de animais melhorados. Além dos já tradicionais métodos de pontuação e análise visual dos animais, deve-se considerar muito bem a correlação de seus pedigrees. Não é nova a técnica, e muitos falam em consangüinidade controlada ou cruzamentos de parentes como benéficos ao melhoramento há décadas. Na verdade o que se está fazendo inconscientemente não é só um cruzamento de parentes, mas um retro-cruzamento com indivíduos parentais de maior destaque ou sucesso.

O melhoramento genético de plantas já é conduzido assim há séculos e para alguns parece incompreensível que alguns ainda apostem na loteria do “choque de sangue” para criar animais de primeira linha. Além deste, outro fator pouco estudado ou levado em consideração na hora de se planejar os cruzamentos é a herdabilidade ou heritabilidade dos caracteres envolvidos na seleção. Diversos artigos mostram que certos caracteres morfológicos ou de desempenho são mais facilmente expressados na progênie do que outros. Por exemplo: Altura de cernelha ou altura de garupa. Já outros são de difícil “transmissão” ou mensuração excetuando fatores ambientais. Ex: perímetro de canela e aprumos.


Portanto é muito mais econômico investir em um reprodutor que tenha boas características de alta herdabilidade do que em reprodutores com problemas nessas partes e qualidades dificilmente transmissíveis.

Nas conduções de seleções de animais por cor, também abundante ainda a miscelânea de conceitos e teorias que se conta entre os criadores. A genética das cores, se não totalmente desvendada, já é bastante conhecida. Testes de homozigoze em cavalos pampa já são rotina entre grandes criadores e muitos são os artigos sobre as combinações gênicas relacionadas as diversas pelagens dos animais. Mesmo assim ainda vejo criadores afirmando que esta ou aquela égua alazã é mais propensa a dar esta ou aquela cor. Bom, a alazã é uma cor homozigota e que implica em não expressão de nenhuma outra, portanto fica inteiramente a cargo do reprodutor e do acaso, imprimir qualquer pelagem diversa na cria. Além disso, falta planejamento na criação de animais que vão sendo cruzados quase ao acaso sem nenhuma preocupação em fazer um teste estatístico de suas progênies. Enfim, faltam planejamento e apoio técnico de um melhorador.

Texto adaptado. Fonte: Mangalarga Patriota

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Mieloencefalite Protozoária Equina (MPE)

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A Mieloencefalite Protozoária Equina (MPE), mais conhecida como bambeira, é uma doença neurológica que afeta equinos em diversas partes do continente americano, sendo considerada uma das mais importantes patologias neurológicas em equinos.


O agente etiológico responsável pela MPE é o protozoário da espécieSarcocystis neurona, que promove uma infecção no sistema nervoso central (SNC), resultando em sinais clínicos progressivos de disfunção neurológica.


Os gambás (Didelphis virginiana; Didelphis albiventris) são os hospedeiros definitivos do S. neurona, sendo os equinos considerados hospedeiros erráticos por não serem capazes de transmitir a doença. Diversos pequenos mamíferos podem atuar como hospedeiros intermediários para completar o ciclo de vida do parasita. A transmissão do protozoário dos hospedeiros intermediários para o hospedeiro definitivo é provavelmente devida à ingestão pelo gambá de hospedeiros intermediários mortos.


A contaminação acidental dos cavalos ocorre através da ingestão de água ou alimentos contendo esporocistos infectantes do S. neurona que o gambá infectado elimina em suas fezes.


Existem alguns fatores de risco para o desenvolvimento da MPE como, por exemplo, um risco aumentado se houver presença de gambás na fazenda e se bosques estão presentes na propriedade. Comparado com o inverno, o efeito sazonal aumenta o risco da MPE com o aumento da temperatura, com maior risco no outono. O risco diminui se o alimento for mantido protegido do acesso de animais.


A exposição do cavalo ao parasita não garante que este desenvolverá a doença. Quando a enfermidade ocorre, os sinais clínicos são variáveis, pois dependem da região e da extensão do SNC que foi afetada pelo protozoário.
No início os sinais clínicos podem ser graduais, porém mais tipicamente sinais leves desenvolvem-se agudamente e progridem rapidamente.


O exame neurológico frequentemente revela ataxia e incoordenação em todos os membros e outros sinais podem ser, atrofia muscular mais comum nas regiões do quadríceps e glúteo nos membros posteriores, dificuldade de deglutição, perda da sensação na córnea e interior das narinas, andar em círculos e tendência a permanecer deitado, nistagmo, postura de base aberta, paralisia facial, disfagia, hemiplegia laringiana, paralisia da língua, estrabismo, andar arrastado, espasticidade e fixação patelar superior, dores nas costas causadas pela fraqueza ou uso assimétrico dos grupos musculares
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Vários protocolos são descritos para o tratamento da MPE, tais como associação de sulfonamidas (trimetoprim e sulfas – 20mg/Kg via oral S.I.D. durante todo período de tratamento) e pirimetamina (1 a 2 mg/Kg S.I.D. de 90 a 120 dias), administrada por pelo menos cinco meses, podendo ser estendido em algumas situações; Drogas derivadas da triazina (diclazuril – 5 mg/Kg e toltrazuril – 5 a 10 mg/Kg) com duração de aproximadamente 30 dias; Nitazoxanida na dose de 25 mg/Kg uma vez ao dia durante a primeira semana e 50 mg/Kg diariamente pelos próximos 23 dias.


Vários protocolos são descritos para o tratamento da MPE, tais como associação de sulfonamidas (trimetoprim e sulfas – 20mg/Kg via oral S.I.D. durante todo período de tratamento) e pirimetamina (1 a 2 mg/Kg S.I.D. de 90 a 120 dias), administrada por pelo menos cinco meses, podendo ser estendido em algumas situações; Drogas derivadas da triazina (diclazuril – 5 mg/Kg e toltrazuril – 5 a 10 mg/Kg) com duração de aproximadamente 30 dias; Nitazoxanida na dose de 25 mg/Kg uma vez ao dia durante a primeira semana e 50 mg/Kg diariamente pelos próximos 23 dias.


Medicamentos antiinflamatórios são recomendados quando o início agudo, o uso de flunixin meglumine ou fenilbutazona podem ajudar. Alguns clínicos recomendam o uso de tratamentos adicionais tais como vitamina E e tiamina que podem facilitar a recuperação do tecido nervoso quando tratando de cavalos com MPE.


O prognóstico para cavalos diagnosticados com MPE é aproximadamente de 70%, vai depender da severidade das lesões e do tempo para diagnóstico e início do tratamento.


Fonte: OUROFINO    Autora: Juliana Oliveira, Médica Veterinária

terça-feira, 15 de maio de 2012

IMA exigirá cadastro de estabelecimento de equídeos em 2012

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O Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) informa que a partir do dia 1º de maio de 2012, a emissão de Guia de Trânsito Animal (GTA) para o trânsito de equídeos só será permitida para propriedades e produtores cadastrados no IMA. A partir dessa data, os médicos veterinários habilitados para emissão de GTA de equídeos, bem como os servidores do Instituto exigirão dos proprietários dos animais a apresentação do “Cartão Sanitário do Produtor” no ato da emissão do documento.

O diretor-geral do IMA, Altino Rodrigues Neto, explica que a nova exigência é de extrema importância para a defesa sanitária animal. “Caso ocorra alguma doença em equídeos no estado de Minas Gerais este cadastro nos ajudará a delimitar o foco. Em caso positivo, tomar as providências em tempo hábil, como notificar os proprietários, para evitar a disseminação da doença”, esclarece.


Os proprietários de equinos deverão comparecer ao Escritório do IMA ao qual pertence a propriedade rural, apresentando CPF, comprovante de endereço e cópia da escritura do terreno. No caso de arrendamento, cópia do contrato. Já no caso de proprietários que mantêm equídeos em parques de exposições, clube de cavalos, hípicas e locais semelhantes, o estabelecimento deverá ser cadastrado em nome do proprietário do terreno e os locatários serão cadastrados como arrendatários, tendo um cadastro individual.


Para isso, o proprietário do terreno também deverá apresentar ao IMA,  cópia da escritura do terreno, CPF e comprovante de endereço. Deverão levar também a relação de equídeos discriminados por espécie (equino, asinino, muar,) raça, sem raça definida, faixa etária (até 6 meses e maior que 6 meses) e sexo.


Os proprietários de equídeos com estabelecimentos localizados em outros estados devem comparecer no respectivo órgão de defesa sanitária animal para realizarem o cadastro, caso ainda não tenham cadastrado o efetivo equídeo de suas propriedades.


Por isso, somente proprietários com rebanho equídeo cadastrado no órgão de defesa sanitária animal do seu respectivo estado de origem, poderão participar de eventos pecuários a partir da referida data.

Fonte: IMA

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Livros sobre Jumentos e Muares 7

 

Criação de Muares

Autor: Francisco Peixoto de Lacerda Werneck

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Os Tropeiros

Autor: José Hamilton Ribeiro

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Mules and Hybrids - Production, Management, & Exhibition (Mulas e Hibridos – Produção, Gerenciamento e Exposição)

Autor: Rosslyn Mannering

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Cocheira Nobre

Autor: Ricardo Luis Casiuch

Donkeys: Their Care and Management (Jumentos: Cuidados e Criação)

Autor: M.R.De Wesselow

Esse livro dá informações detalhadas de como encontrar, selecionar e cuidar de jumentos.

domingo, 13 de maio de 2012

Os Tropeiros

 

Alguns foram empreendedores que tiveram visão de mercado no início do século XVIII, aos quais se agregaram homens destemidos e determinados no desafio de desbravar regiões selvagens a fim de implantar as rotas pelas quais se fez o deslocamento do gado alçado dos criatórios dos campos do sul da América Latina para São Paulo e outros povoados do Brasil-colônia.

Os Tropeiros perceberam que nos centros urbanos aumentava a demanda de alimentos, meio de transporte e de outras mercadorias. Diante disso souberam traçar estratégias e fazer as articulações políticas para as suas pretensões. Os sesmeiros, quando não eram tropeiros, necessitavam deles para deslocar o gado vacum de suas propriedades (criatórios geralmente muito distantes dos centros urbanos) até o mercado consumidor. Embora houvesse tropas de bovinos, equinos e até de porcos, foi a tropa de muares (mulas e burros) que ganhou destaque nos longos caminhos tropeiros. Os Tropeiros que comercializavam ou conduziam essas tropas de muares ficaram famosos e eram muito respeitados, pois eram eles que sabiam das novidades e as levavam de um povoado para outro, por esse motivo os Tropeiros eram esperados com ansiedade nos povoados.

Ainda sobre o tropeiro de mulas, conta-se que este era festeiro, e com relação ao destino dos animais da tropa que conduzia, e pelos quais “garrava” estima durante as longas viagens, era alegre, pois sabia que suas mulas não eram destinadas ao matadouro e sim a uma atividade que traria progresso e bem estar a muita gente.

Na comitiva tropeira havia uma hierarquia: o Tropeiro era o líder que tinha como companheiro leal o arreador (homem que cuidava da tralha da tropa cargueira), muita consideração tinha também pelo ferreiro (que cuidava das ferraduras dos animais e também dos animais feridos ou doentes); pelo cozinheiro ou menino madrinheiro; pelos peões condutores da tropa arreada; pelos arribadores (peões laçadores), domadores, rebatedores e culatreiros da tropa xucra. Não existe um número preciso de integrantes de uma comitiva tropeira, isso era acertado conforme o número de animais da tropa e a experiência ou habilidade dos integrantes da comitiva tropeira. A atividade tropeira era de natureza comercial e pacífica e os integrantes das comitivas tropeiras precisavam da solidariedade e da lealdade para o êxito da empreitada. Nesse contexto foi documentada a presença de homens brancos, negros, mestiços, e raramente mulheres, entre os quais a interdependência e mútuo compromisso de preservar e conduzir bem a tropa gerava um companheirismo, deduzindo-se que, nessa atividade, valia muito a integridade de cada indivíduo, não importando as diferenças que em outros contextos geravam preconceito e depreciação do indivíduo, na época. Essa conclusão fundamenta-se no extravasamento da emoção em relatos de tropeiros ainda vivos, ou testemunhados por pessoas que com eles conviveram, confirmando o apreço que cada integrante de comitiva tinha pela atividade e pelos seus companheiros, em razão dessa ausência de distinção depreciativa, e da aventura que compartilhavam.

Fonte: Jogo do Tropeiro