Bem Vindo ao Blog do Pêga!

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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Genética da Marcha

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De acordo com um interessante estudo publicado por Eldon Eady no livro Heavenly Gaits, somente dois pares de genes produzem os diferentes tipos de andamentos. Um par determina o trote e a andadura e outro par pode atuar como o gene principal ou como gene modificador. Este gene principal altera o mecanismo do trote, ou da andadura, interferindo no mecanismo de dominancia e alterando o modo pelo qual o par de genes do trote e da andadura interagem. O potro (a) recebe cada par de genes do trote e da andadura de cada genitor. Tambem recebe um gene modificador – ou gene do passo, em varios graus de intensidade.

 

Os pares de genes do trote e da andadura pertencem a uma classe de genes qualitativos, pois regulam a qualidade ou tipo de caracteristicas na prole. O melhor exemplo de um par de genes qualitiativos no equino é o que determina as pelagens preta e alazã. Estes genes apresentam uma relação de dominancia e recessividade, sendo que o par de genes da pelagem preta é dominante sobre o par de genes da pelagem alazã. Somente três possibilidades de combinação: preta/preta, preta/alazã, ou alazã/alazã. Como o gene da pelagem alazã é recessivo, somente  quando emparelhar com outro gene da pelagem  alazã – estado de homozigose, os mesmos genes – esta pelagem se manifestará. A combinação preta/alazã tende a produzir a pelagem preta. Não se sabe se o cavalo carrega gene da pelagem alazã, exceto se produzir filho (a)  de pelagem alazã quando acasalado com égua também alazã. Estes genes recessivos podem permanecer encobertos durante varias gerações, antes de reaparecerem em algum potro (a).

 

O par de genes trote/andadura atua em um mecanismo similar, mas não idêntico em cavalos não marchadores. O trote é dominante sobre a andadura. Portanto, um cavalo carregando o par de genes do trote não apresenta andadura. Mas um cavalo que carrega genes do trote e da andadura tem uma predisposição forte para o trote, mas poderá apresentar andadura em algumas situações eventuais, geralmente somente na idade de potro em amamentação. Um cavalo puro de andadura, carregando genes emparelhados, em estado de homozigose, terá uma forte predisposição para apresentar andadura, mas poderá trotar em liberdade, especialmente em idades jovens.

 

Todavia, quando o cavalo carrega um ou dois genes modificadores, denominados de genes principais, o resultado é complexo. Estes genes são classificados como quantitativos, pois regulam as variáveis inseridas nos caracteres, tais como altura, comprimento, tamanho, velocidade, taxa do crescimento dos cascos, etc. Não há um mecanismo claro de dominancia ou de recessividade nos genes quantitativos. Somente atuam produzindo as diferentes variações em um mesmo caractere. As caracteristicas produzidas por genes quantitativos são evidentes em cada individuo, de todas as especies (exceto quando atuam genes ligados ao sexo), mas em diferentes graus. Genes quantitativos sao altamente influenciados pelo meio.

 

Os genes dos andamentos marchados são tipos complexos de genes quantitativos. A função principal no equino é produzir o passo. Assim, todos os cavalos carregam estes genes, em diferentes graus. Nos cavalos não marchadores, eles são tão fracos que não conseguem interferir nos mecanismos dos pares de genes trote/trote, trote/andadura e andadura/andadura. Em cavalos marchadores, estes genes são fortes o suficiente para interferirem, ou modificarem, os pares de genes trote/andadura. O resultado é espetacular e produz grande variedade de andamentos marchados.

 

Há somente um tipo de gene da marcha, mas existem mais de cem diferentes meios de atuação. Cada um destes meios de atuação, combinado com as diferentes possibilidades dos genes determinantes do trote e da andadura, produzem as diferentes modalidades de andamentos marchados, que se inserem entre os extremos limitrofes do trote e da andadura.

 

Como o meio de atuação dos dois genes da marcha (herdados um do pai e outro da mãe) é agtravés do emparelhamento, para determinar o grau da modificação no andamento da prole, será necessário que sejam fortes em cada um dos genitores, para produzir um bom cavalo marchador. O gene mais forte de apenas um dos pais determina  somente a metade do caminho.

 

O gene do passo é o mesmo gene determinante da marcha. Pode parecer confuso, pois cavalos trotadores também desenvolvem o passo, semelhante ao passo dos cavalos marchadores. Alguns cavalos trotadores desenvolvem um passo curto, desequilibrado, antes da transição para o trote. Outros conseguem desenvolver um passo pais amplo, mais veloz, antes da transição para o trote. Outros possuem habilidade de desenvolver o passo de forma cadenciada, nos quatro tempos, empurrando melhor com os posteriores, avançando com mais amplitude os anteriores,  com mais soltura de espaduas, usando melhor o pescoço e a cabeça para manter o equilibrio. Assim, o passo, que é uma marcha em baixa velocidade, é claramente uma caracteristica genética de ação quantitativa, de variação continua, de um extremo a outro, a exemplo da própria marcha de média velocidade.

 

Analogamente, nos cavalos marchadores, são encontrados os exemplares de qualidade superior e os de qualidade inferior na marcha. Alguns conseguem manter uma velocidade inferior, algo em torno de 8 a 10 km/h, mantendo a marcha cadenciada de 4 tempos, até o momento da transição para o galope. Outros alcançam velocidades bem superiores, sendo a média de 12km/h, antes da transição para o galope.  Isto acontece porque os gens da marcha são os genes do passo. O passo convencional é a “expressão” mais pura destes genes. Se os genes do passo são fortes, eles passam a atuar como modificadores, interferindo sobre os genes do trote e da andadura, para produzir a marcha – eles fazem com que o cavalo tente se manter no andamento de 4 tempos, ao invés de entrar em um andamento a dois tempos, como no trote ou na andadura. Se os genes do passo são muito fracos para atuarem como modificadores, o cavalo não será marchador, mas encartará o trote ou a andadura a partir do passo.

 

Aspectos psicológicos ou de treinamento podem gerar o trote em animais marchadores, mas este será tema de outras matérias inerentes a genetica da marcha.

 

Autor: Lúcio Sérgio de Andrade

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