A sequencia correta das transições de embocaduras depende do grau de severidade da ação.
O primeiro estagio é a embocadura de ação branda, seguindo-se a de ação moderada e a de ação severa. Assim, em um mesmo modelo de bridão ou freio, podem ser usados três variáveis diferentes. Pelo Método LSA de adestramento, desenvolvido por esse autor, as transições de embocaduras são facilitadas, porque o animal é previamente adestrado sem embocadura, completando a fase inicial do adestramento básico.
Em adição, para cada nova introdução de embocadura é obedecido um periodo de adaptação da boca, antes que o treinador acione as rédeas – durante meio período de dois dias, o cavalo mastiga seus alimentos com a nova embocadura na boca. Se o primeiro bridão foi de ação moderada, a transição para o freio poderá ser para um de ação também moderada. Esta é a sequência mais agil do uso de embocaduras e a que geralmente trará resultados positivos. Outra alternativa muito utilizada é iniciar com o bridão de ação branda, sendo que a transição deverá ser para um bridão moderado, deste para um freio brando e, finalmente, para um freio moderado.
As embocaduras de ação severa são indicadas somente para cavalos que se destinam a competições radicais, que exigem muito do cavalo em termos de maneabilidade, velocidade, precisão no esbarro.
A escolha da embocadura e a decisão das transições são determinadas por alguns fatores:
- O primeiro é o estágio do adestramento. O bridão é embocadura de principiantes, indicada para a fase de adestramento básico. Para a fase de adestramento avançado, ou somente dentro dessa fase, acontecem uma ou mais transições de embocaduras;
- O segundo fator decisivo é a morfologia e integridade das partes da boca que funcionam como pontos de controle da ação da embocadura. A sub-avaliação desse fator é a principal causa de rejeição a embocadura;
- O terceiro fator refere-se ao ao tipo de treinamento - para passeio e cavalgadas, provas de maneabilidade, corridas, salto, etc.;
- O quarto fator influenciando a escolha da embocadura é o grau de equitação. Para cavaleiros/amazonas principiantes recomenda-se o bridão, por ser embocadura de ação direta de rédeas – utiliza-se a chamada “rédea de abertura”, porque abre-se uma mão para virar e alivia a rédea oposta;
- Outro fator de importância refere-se ao grau de experiências anteriores em adestramento e treinamento. Pessoas de apurada sensibilidade e controle pleno dos comandos principais da equitação podem fazer de um freio severo um freio brando.
- A idade do cavalo também deve ser levada em conta. Cavalos maduros geralmente exigem embocaduras de ação moderada ou severa, devido à maior rigidez da musculatura de pescoço e nuca.
A sutileza é que o cavalo geralmente pede a transição de embocadura, através da resistência. Muitos indagam porque um cavalo não pode permanecer na embocadura inicial, o bridão. A resposta é que essa embocadura exerce pouca atuação sobre a flexão da nuca. Também exerce pressão desconfortável sobre a lingua, barras e comissuras labiais, causando a elevação da cabeça, uma postura adiante da ação do bridão, como forma de amenizar o incômodo da pressão. Dentro de pouco tempo, à medida em que a velocidade dos andamentos é aumentada, o cavalo passa a trabalhar apoiado nas rédeas, o que deve ser entendido como um sinal de resistência, uma solicitação de troca para embocadura mais confortável.
Outra indagação usual: Por que não se pode iniciar o cavalo na embocadura definitiva, o freio? Porque o freio atua simultaneamente sobre pontos multiplos de controle – todos aqueles que o bridão atua mais o palato e o queixo. Especialmente devido ao efeito alavanca, que exerce forte pressão do bocal sobre o palato e da barbela sobre o queixo, o cavalo precisa ser previamente preparado, tanto na aceitação da boca pelo bocal menos severo – o articulado, típico dos bridões, como também na flexão lateral do pescoço pela ação das rédeas diretas ( mais fácil para o cavalo e mais eficiente para o cavaleiro ). Além do mais, a flexão vertical, da nuca, a mais difícil, ja terá sido iniciada no adestramento sem embocadura. Assim, o bridão deve ser entendido apenas como uma embocadura de transição para o freio.
E o cavalo pronto no freio, pode retornar ao bridão? Sim, sem nenhum problema, especialmente nos casos de atividades amenas, como os passeios e cavalgadas, ou quando são montados por pessoas de pouca experiência em equitação. A dificuldade em comandar rédeas pela ação indireta, como no caso do uso do freio, é bem maior.
Uma embocadura chamada de transição é o freio/bridão. O bocal é articulado, atuando como um bridão, pressionando as comissuras labiais. O bocal não se prende aos olhais, mas sim às hastes, típicas de freio, exercendo o efeito alavanca. Mas o efeito alavanca não atua sobre o palato, porque o bocal não é curvo. As alavancas atuam sobre a pressão da barbela no queixo. Assim, um freio/bridão atua sobre pontos de controle da boca - comissuras labiais, baras e lingua, e sobre o queixo. Somente em alguns casos recomenda-se o uso dessa embocadura, na transição do bridão para o freio. Sua ação de efeitos duplos tende a melhorar a flexão da nuca. Mas em mãos brutas, ou inexperientes, essa embocadura faz estragos graves. O excesso de pressão da barbela no queixo tanto poderá encapotar o animal, como também manter a cabeça muito elevada, não corrigindo em nada a ação elevatória do bridão. O freio sim, esse exerce ação principal de baixar a cabeça do animal, de estimular a flexão da nuca.
Para finalizar, duas ressalvas: sempre que necessária, a transição será naturalmente solicitada pelo cavalo, na forma de resistência. Errado é persistir com a mesma embocadura. Contudo, um cavalo que resiste à ação da embocadura não necessariamente pede embocadura mais severa. Pode ser o contrario.
Lúcio Sérgio de Andrade
Fonte: Blog Equitação Especial
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