Todas as utilidades que atribuímos a nossos equinos e asininos, todos os prazeres que deles derivamos, estão relacionados ao movimento. Seja trabalho, esporte ou lazer, passeios de charrete ou competições a galope, até mesmo admirar a beleza dos animais que correm livres – tudo depende da habilidade e da vontade dos nossos animais em se movimentarem.
O bem-estar dele depende da saúde de seu aparelho locomotor
Esta capacidade é potencializada por programas de treinamento e condicionamento, por um regime de manejo adequado e por um bom esquema nutricional. Mas o efeito de tudo isso será anulado por problemas de locomotor – manqueiras das mais diversas origens, denominadas de claudicações pelos clínicos veterinários. O seu efeito mais imediato e perceptível é a dor que passam a sentir seja durante determinados movimentos. E para qualquer atleta é impossível ter desempenho adequado enquanto estiver sentindo dor! Os eqüinos e asininos são muito discretos, mesmo sutis, nas manifestações de dor. Não “gritam” ou uivam de dor, como fazem os cães por exemplo, mas foram selecionados ao longo de milênios para não chamar a atenção enquanto feridos ou enfraquecidos – do contrário, se tornariam refeição fácil para os predadores de plantão.
É nossa obrigação considerar a possibilidade de “dor física” pura e simples sempre que nosso animal apresentar um comportamento indesejado ou atípico, tal como empacar, empinar, corcovear, sacudir a cabeça, etc. Além dos membros, a área dorso-lombar e também os dentes são fontes freqüentes de dores. Em animais de salto, por exemplo, o início súbito do vício de refugar obstáculos pode estar relacionado a uma claudicação em estágio inicial, que logo mais se manifestará em alterações perceptíveis dos andamentos.
A cada passo, grande impacto é sofrido por articulações, ossos e tendões das pernas.
Ainda que muitas pessoas atribuam grande importância ao condicionamento físico e ao desenvolvimento muscular de seus animais atletas, são ossos, articulações, ligamentos e tendões que precisam ser merecedores dos maiores cuidados. O desgaste do aparelho locomotor de todo atleta começa pelo sistema osteo-articular. Recordemos das lesões que têm comprometido as carreiras de jovens atletas brasileiros – Guga, Daiane dos Santos, Ronaldo Fenômeno: todos em excelente forma física nos quesitos musculatura e fôlego, mas prejudicados por lesões ósseas e articulares.
Portanto, também os tecidos duros do aparelho locomotor dos nossos cavalos devem ser merecedores de todos os cuidados. Confira abaixo mais algumas dicas para garantir uma vida útil longa e bem-sucedida aos seus atletas.
A produção de um campeão depende da atenção a muitos detalhes, e de cuidados permanentes com cascos, articulações, tendões, ossos…
FICHA DOS FATOS
1. A construção de um esqueleto forte começa na vida intra-uterina. O bom manejo nutricional das matrizes reprodutoras deve continuar ao longo da lactação. Quanto melhor a alimentação dos potros durante o primeiro ano de vida, maior longevidade atlética eles terão pelos anos afora.
2. O desequilíbrio mineral é a maior causa de ossos estruturalmente fracos, sendo que o desbalanceamento entre os minerais cálcio e fósforo é um problema presente em praticamente todos os criatórios brasileiros. O manejo alimentar precisa equilibrar volumosos, concentrados e suplementos minerais de maneira correta. Igualmente importante é a utilização de forrageiras e grãos provenientes de solos de boa qualidade. Profissionais especializados – veterinários, zootecnistas e agrônomos – devem ser consultados em todos estes quesitos.
3. Muitos criadores atribuem importância exagerada à ingestão de proteína por parte de seus animais, o que pode desenvolver a musculatura, mas não dá o substrato necessário à formação de tecido ósseo denso e resistente. Antes de apresentarem definição muscular, os potros precisam ter oportunidade de se desenvolverem estruturalmente, através de alimentação correta, não exagerada, e de um regime de vida que os deixe muitas horas por dia vivendo soltos, correndo em companhia de outros potros. Confinamento intenso e doma muito precoce são grandes inimigos da longevidade atlética de nossos animais.
4. A consistência correta do piso é um fator que nem sempre merece a devida consideração. O piso muito fofo ou profundo prejudica os tendões, enquanto solos duros, especialmente estradas de terra ou pavimentadas, causam desgastes e micro-fraturas ao longo do tempo. Quanto maior a velocidade em que o animal é levado a trabalhar, maior o potencial para lesões. Ou seja, devemos evitar as altas velocidades em estradas de terra pisada, e mesmo nos gramados e pastos quando não chove há muito tempo. (É claro que no pavimento asfáltico ou de pedra só podemos andar a passo, até por questões de segurança!)
5. Ferrageamento adequado, tanto otimizando os aprumos do animal quanto, se for o caso, utilizando palmilhas e outros recursos ortopédicos, permite a máxima utilização do potencial atlético do animal, e também prolonga sua vida útil. A profissão de ferreiro é altamente técnica, e apenas indivíduos qualificados devem ferrar os animais.
6. As lesões de esforço crônicas e progressivas, tais como osteítes e osteoartrites, são as “doenças profissionais” de esporte, e elas surgem inevitavelmente na maioria dos animais ao longo de suas carreiras, mesmo num manejo excelente, por volta dos doze ou treze anos de idade. (No entanto, podem aparecer muito antes em animais sujeitos a um regime incorreto de manejo, alimentação e treinamento!) Estas patologias em sua fase inicial não significam a aposentadoria e nem mesmo a redução das atividades do animal, desde que sejam diagnosticadas precocemente, e tratadas o quanto antes de maneira agressiva e completa, com um protocolo abrangente que inclua o uso de antiinflamatórios e ferrageamento adequado, entre outros fatores. O que nunca devemos fazer é “tapar o sol com a peneira”, atribuindo pouca importância a uma manqueira em fase inicial, na esperança de que ela melhore por conta própria. Isto não acontece, e tal atitude passiva geralmente tem o agravamento do problema por conseqüência.
Texto adaptado. Fonte: VETNIL
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