Bem Vindo ao Blog do Pêga!

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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Hábitos peculiares de comportamento dos Asininos e Muares 4

Naturalidade: a essência da marcha de qualidade


A marcha é um caractere funcional complexo, porque envolve em sua avaliação uma série de parâmetros, tais como: diagrama, comodidade, naturalidade, estilo, regularidade, desenvolvimento e, durante muitos anos, até mesmo a resistência do animal. Todos estes fatores podem ser afetados, positiva ou negativamente, pela qualidade da Equitação, embocadura, doma, treinamento, condicionamento físico e mental, aprumos, casqueamento, ferrageamento, estrutura muscular, angulações ósseas (em particular das espáduas, quartelas e pernas).


O trote é um andamento de mecanismo genético homozigoto dominante. O sentido da dominância genética é do trote para a marcha batida, desta sobre a marcha picada e desta sobre a andadura, ou seja, os andamentos mais diagonalizados exercem uma nítida dominância sobre os andamentos mais lateralizados. De fato, a andadura é um andamento recessivo, o que atesta a sua origem mutante. Já a marcha picada tem uma base genética heterozigota, possuindo os genes da andadura, o que contra-indica a persistência dos acasalamentos entre indivíduos puros de marcha picada, o que leva ao aumento da lateralidade. Para a manutenção de uma marcha picada de boa qualidade no plantel, recomenda-se a utilização de indivíduos portadores de marcha intermediaria ou de centro.


A marcha batida tem uma composição genética heterozigota, com sua dominância aumentando de acordo com o aumento da associação dos tempos de elevação, avanço e apoio dos bípedes diagonais em relação aos bípedes laterais. Os acasalamentos sucessivos entre indivíduos de marcha batida levam ao endurecimento da marcha, aproximando o plantel do trote, andamento que deve ser considerado mais indesejável do que andadura, pois esta ainda se enquadra como andamento marchado, e a base genética homozigota recessiva facilita a eliminação do plantel.


Ao contrario, como o trote é geneticamente dominante, sua erradicação do plantel é bem mais difícil. Animais muito diagonalizados quase invariavelmente possuem um ou mais ancestrais trotadores até a terceira geração ascendente.
Uma regra simples e objetiva, que norteia uma autentica seleção de marcha, é a de acasalar o bom com o bom de marcha. Extremos aumentam as variações do tipo de marcha. Outra regra é de animais naturalmente marchadores ao cabresto, ou livres, são sempre puros de marcha, o que não impede que apresentem o trote em momentos de excitação. Nestes casos, os deslocamentos de membros tornam-se elevados, o olhar brilha, as orelhas mantém-se firmes, a cabeça e a cauda elevem-se. Tudo isso comprova a complexidade genética da marcha natural, uma característica funcional governada por fatores genéticos múltiplos, altamente influenciados por condições do meio, as quais o exemplar Pêga é constantemente exposto. Em adição, cada um dos parâmetros de avaliação qualitativa da marcha apresenta uma herdabilidade diferente, sendo em média: estilo 50%; regularidade 15%; comodidade 40%; desenvolvimento 20%; resistência 10%; temperamento 40%; e o diagrama, que tem a herdabilidade variando de acordo com a modalidade de marcha, sendo, como já foi dito, as marchas diagonalizadas dominantes. O trote convencional é 100% dominante.


Condicionamento: métodos naturais e artificiais

Métodos naturais: entendemos que o emprego de um manejo racional na criação com um condicionamento físico-nutricional adequado terá animais com bom desenvolvimento estrutural, ósseo e muscular e bons aprumos. Posteriormente aos 36 meses de idade com a aplicação da doma racional: cabresteamento e a doma de cima com adestramento adequado nas mais diversas funções em que o Muar-pêga se aplica. Com este aparato qualitativo, aliado a uma mão de obra profissionalizada tecnicamente capaz de empregar "métodos e técnicas naturais" de doma e adestramento, teremos um aumento significativo no quantitativo de Muares-pêga ao dispor do grande mercado consumidor que existe em todo território nacional.
Métodos artificiais: como o maior número de Muares-pêga são produzidos sem critérios zootécnicos, ou seja, os acasalamentos sem priorizar a valorização do maior atributo funcional: a marcha, o que mais ocorre é que a produção de indivíduos superiores é cada vez menor. Em contrapartida, o que estamos produzindo em grande escala são Muares-pêga de baixa qualidade de andamento marchado natural. Neste contexto, surge a necessidade da artificializaçao, para que estes animais sem o "diagrama marchado natural" possam com o emprego de técnicas artificializadas, iludir aos aficcionados menos experientes, de que são "marchadores".
Partindo deste principio, surgiram no âmbito do Muar-pêga várias crenças, dogmas e treinamentos especializados em tais procedimentos. Alguns destes procedimentos são nos arreamentos e utensílios (traias):
Embocaduras: são usados verdadeiros instrumentos de tortura como embocadura, com a intenção de que se estes aparelhos possam promover uma ação de submissão, e a partir desta ação, tentar interferir na naturalidade do diagrama do Muar;
Cabeçadas: cabrestos de couro trançados com argolas, que possuem na focinheira dos mesmos um dispositivo de que quando é puxado o cabo do cabresto este aperta e a focinheira do cabresto passa ter ação de fechador de boca. (o que é proibido pelo regulamento de marcha de Muares). Visando coibir o uso deste artifício a ABCJP proibiu o uso de cabrestos nos concursos de marcha de Muares (conforme art. 39 idem 4º do regulamento);
Arreios/selas: posicionando os mesmos em cima da cernelha; uso em excesso de pelegos e baldranas, na tentativa de melhorar ou mascarar uma possível comodidade;
Cauda: colocando no interior do "nó" da cauda objetos pesados na tentativa de inibir o rabejar (bater a cauda) durante os concursos de marcha. Amarrar a cauda com fio de nylon na barrigueira da sela, por entre as pernas dos Muares, a fim de impedir que o Muar levante a cauda;
Ferrageamento: comum é prática de ferrageamento desbalanceado, ou seja, ferragear dos posteriores e deixar os anteriores sem ferraduras. Estes com o trabalho são estropiados provocando dor nos cascos dos anteriores, na tentativa de provocar uma dissociação no diagrama. Quando essa dor é intensa e está a ponto de provocar uma manqueira, o usual de ferragear os anteriores com ferraduras mais leves do que as dos posteriores. As ferraduras pesadas usadas nos posteriores devem engrossar na direção dos talões e ter mais ou menos dois centímetros que ultrapasse no comprimento dos talões. Ferraduras com rompão, não tem função e prejudicam os tendões nos membros;
Utensílios nas quartelas: nos posteriores o uso de tamancos e correntes e uma prática usual. O uso de saia, ou seja, cordas ou tiras de couro e borracha atadas nas quartelas dos anteriores e posteriores, ou seja, no bípede lateral. São práticas adotadas nas tentativas do descompasso ou de proporcionar o movimento em lateral com os membros.
Velocidade: é uma prática muito adotada nos concursos de marcha, pois imprimindo um ritmo maior de velocidade os Muares com diagrama mais diagonalizados proporcionam uma ilusão ótica de que estão dissociando, mas no regulamento de marcha de muares permite ao árbitro coibir esta conduta e se não for atendido poderá desclassificar o conjunto. Montando e reunindo estes animais o árbitro terá condição de uma melhor avaliação desses Muares.
Por tudo que foi aqui mencionado e outras artificialidades que existem e não foram aqui mencionadas entre elas o doping. É que a naturalidade da marcha dissociada demonstrada no diagrama de movimentação de cada Muar-pêga deverá a todo custo ser preservada.

Artigo de autoria de André Luiz Ferreira Silva, árbitro e membro do conselho deliberativo da Associação Brasileira dos Criadores do Jumento Pêga

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