Exemplos de hábitos peculiares dos Muares
A inteligência desenvolvida é uma característica dos muares. É um contra-senso nominar alguém que possa ser, um pouco menos inteligente como burro (Muar macho). Curiosa também é a denominação "mata-burro" (rampas em cimento, ferros ou madeira com vãos abertos para impedir a passagem de animais que substituem pequenas pontes nas divisas de pastagem ou propriedades). Não temos conhecimento de um só caso de Muar que tenha caído em um "mata-burro". Ao contrario, vários acidentes ocorrem com Eqüinos, Bovinos e pessoas.
Os Muares são imbatíveis na eficiência com que se locomovem ao longo de trilhas estreitas, sinuosas, pedregosas, acidentadas e íngremes de nossa região de montanhas.
A obediência e disciplina na lida com o gado aliada a uma movimentação equilibrada, estável, cadenciada, rítmica e ágil quando necessários são atributos qualitativos e inerentes do autentico Muar-pêga de sela. Sob quaisquer circunstâncias associadas ao perigo, o Muar, antes de tudo, é um animal prudente, sem demonstrar reações afoitas, típicas dos Eqüinos: carros, sons, pessoas, assustam menos aos Muares. Em uma cavalgada, é impressionante a regularidade de movimentação dos Muares.
Um costume antigo é amarrar a cauda dos Muares com um "nó" dado a quase um palmo acima dos jarretes, antes de montar. É um costume do século passado, quando os Muares eram utilizados como principal meio de transporte. Com a cauda amarrada, o animal ao rabejar não sujava os muladeiros e amazonas. Uma crença antiga é que esquecendo o "nó" da cauda atado, soltando o animal para o pasto poderá ocorrer uma dor de barriga. Na doma, os Muares demonstram um notável potencial de treinabilidade. Ao contrario do que muitos pensam, são animais facilmente domados, desde que pelo método da doma racional, em contra partida, através do método da doma tradicional, rude, os muares oferecem maiores dificuldades. Algumas regras são simples e práticas:
Montar não significa maltratar;
Domar é amansar e não é cansar.
A expressão, "Muar não amansa, acostuma", usada por pessoas com pouco conhecimento, do grande potencial de aprendizado e condicionamento dos Muares, pois devido ao alto grau de inteligência eles exigem muita capacidade de treinadores e domadores.
Os Muares não se reproduzem, devido à incompatibilidade do número de cromossomos entre as espécies genitoras. Contudo, as Mulas manifestam regularmente sinais de cio, alterando o comportamento. Quem é do meio, principalmente dos concursos de marcha, sabe se uma mula manifestar cio antes ou durante uma prova ela altera seu comportamento interferindo negativamente na sua performace. Ocasionalmente, as Mulas podem gerar crias quando acasaladas, por Jumentos ou cavalos. Porém, essa é uma probabilidade muito pequena. Um fato curioso a este respeito é que as fêmeas Bardôtas apresentam maior fertilidade em relação às Mulas. Quanto ao Burro, apesar da esterilidade, manifestam a libido, sendo prática comum, e necessária, a castração para facilitar o manejo e o melhor desempenho nos serviços em geral, nas cavalgadas e nas competições, além da vantagem de adquirirem uma frente mais leve, porém desde que a castração tenha sido precoce, por volta de 12 meses de idade.
Na equitação dos Muares algumas atitudes são inconfundíveis. Por exemplo, o animal que rabeja (oscila a cauda) durante um percurso de marcha, é um indicativo de que o Muar tem temperamento inquieto, ou que está sentindo dor. Quando o muar abana as orelhas ou abre a boca, pode ser um indicativo de um Muar que está com pouca resistência. O muar com a cauda mais cheia e longa com mais semelhanças com os Eqüinos e quase sempre um muar com bom temperamento de sela. O muar que espuma branco na boca é sinal que está aceitando bem sua embocadura. O Muar é um dos animais que mais estranham mudanças de hábitos. Um bom exemplo é a troca de muladeiros ou arreamento. Nas mãos de muladeiros inexperientes, aprende facilmente a empacar, "encostando" em determinados locais. O Muar tem um incrível senso de direção e de "malandragem". Gosta muito de acompanhar uma "madrinha", a quem defenda a tese que, os Muares acham que são Eqüinos por serem amamentados por éguas. Durante as cavalgadas e concursos de marcha noturnos os Muares tem atenção mais aguçada. Com essas observações podemos concluir o óbvio, que: "Muar-pêga é muito inteligente e que a denominação de Burro (como expressão alusiva a falta de inteligência) não se aplica ao Muar-pêga".
Artigo de autoria de André Luiz Ferreira Silva, árbitro e membro do conselho deliberativo da Associação Brasileira dos Criadores do Jumento Pêga
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