Bem Vindo ao Blog do Pêga!

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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Na duvida não flexione

A embocadura que ilustra o início desta página é um Freio “Pelham”. Vulgarmente chamado de freio-bridão, este instrumento pode agir como freio, se as rédeas  estiverem atadas nas argolas do freio; pode também agir como bridão, se nas argolas do bridão estiverem as rédeas; usado com quatro rédeas, o Pelham pode ainda agir simultaneamente como freio e bridão; e ainda é possível com o uso de uma alça, ou “francalete”,  a ação simultânea de freio e bridão, com o uso de apenas duas rédeas. O francalete é atado por cada uma de suas extremidades às argolas do freio e do bridão, e nele se prende a rédea.

Acredito ser acertado se apelidarmos o Pelham de “mania”, “febre” ou “coqueluche”, ou mesmo “90%”, porque é perto desta porcentagem o número de animais apresentados hoje nos concursos de marcha, envergando tal embocadura. Incluem-se aí os animais das categorias jovens, maiores prejudicados pela ação do Pelham com francalete, que num trocadilho, acaba por envergar o pescoço dos animais. Ao perguntar aos peões a razão do uso deste instrumento, a resposta é única: “para flexionar !”. Para não gerar dúvidas, é importante dizer que o freio Pelham é de muita utilidade, para objetivos específicos de utilização, de acordo com o estágio de adestramento e as reações do animal. Usado de forma tecnicamente correta, é uma ferramenta de grande valia.

Um animal em atitude é aquele que se mantém com o pescoço sustentado em ângulo aproximado de 30 a 45° com a horizontal, e a nuca flexionada de acordo com o que se deseja o andamento dele, ou seja, mais flexionado quanto mais reunido se quiser o andamento. Para um concurso de marcha, por exemplo, a cabeça deverá formar com o pescoço um ângulo menor que 90°. Outro bom parâmetro é uma linha imaginária vertical, tangente ao olho do cavalo: o focinho deverá estar logo à frente desta linha, de modo que o chanfro esteja quase coincidindo com a vertical. Diz-se que um animal está “ponteiro” quando o focinho se encontra bem à frente desta linha, formando-se entre a cabeça e o pescoço um ângulo muito aberto, bem maior que 90°. É como se apresenta, por exemplo, um cavalo de corrida, ao cruzar a linha de chegada.

Estando em atitude, o animal torna-se elegante, esteticamente agradável, mas existem razões técnicas mais importantes que esta beleza estética. A nuca flexionada provocada uma tração em um ligamento que percorre toda a extensão da coluna, levando ao afastamento entre os processos espinhosos das vértebras, lâminas verticais que se projetam de cada vértebra da região dorso-lombar. Estando assim, a coluna torna-se discretamente arqueada, ganhando flexibilidade e dando liberdade de movimentos aos membros. Funcionando como uma mola, a região dorso-lombar torna-se flexível, contribuindo diretamente em favor da comodidade. Desta forma os movimentos tornam-se harmônicos, contínuos desde o trem posterior, onde é gerada a força de propulsão, até às regiões anteriores. Os membros trabalham com maior amplitude e leveza de movimentos.

Para se atingir um flexionamento ideal da nuca, é necessário um condicionamento do animal, que reputo ser o maior segredo da equitação: a descontração do maxilar. O animal que tem o maxilar contraído cerra os dentes, se opõe ao flexionamento da nuca e mantém a coluna retesada, como um bloco rígido, sem flexibilidade. Ao contrário do exposto anteriormente, os movimentos tornam-se travados, curtos e segmentados, como se movimenta um robô. A rigidez da coluna conspira contra a comodidade, contra a harmonia e a liberdade dos movimentos.

O condicionamento do animal para que assimile a descontração do maxilar é um tanto complexo para ser aqui descrito, mas é sem dúvida indispensável para que se possa flexionar devidamente a nuca. Este condicionamento bem feito permite que um leve dedilhar das rédeas promova a descontração do maxilar. A partir daí quem monta pode ajustar o posicionamento da cabeça,  flexionando a nuca de seu animal sem esforço, num grau de atitude correspondente ao que se deseja do andamento: mais flexionado quando se deseja um andamento mais reunido, ou mais estendido para um andamento mais alongado. E como a maioria dos animais não são condicionados corretamente, entra em cena a figura do “Pelham com francalete”.  Na verdade, esta embocadura tem o poder de flexionar à força a nuca de um animal. Desta forma o animal ficará em atitude forçada. Os benefícios desejados com o flexionamento da nuca não são atingidos desta forma.  Ele procura a todo custo abrir o ângulo entre a cabeça e o pescoço, fugindo da atitude. Nesta condição a coluna passa a ser o ponto de apoio para a reação do animal, que a mantém rígida, inflexível, dura. A atitude é apenas aparente. Nota-se em alguns casos pela falta de sua manutenção, pelo cerrar dos dentes, ou por movimentos dos lábios. A própria expressão do olhar do animal declara, às vezes, sua tensão. Mas é ao montar que confirmamos esta situação. O animal se debruça na embocadura, promovendo uma forte tração nas mãos do cavaleiro, através das rédeas. O desconforto é considerável, normalmente levando à penalização do animal no item comodidade, contrariada também pela rigidez da coluna, tensa na tentativa do animal de elevar o focinho, abrindo o ângulo entre cabeça e pescoço. As passadas curtas e segmentadas contrariam o rendimento e a harmonia dos movimentos.

O final do adestramento básico deve levar um animal a se apresentar em atitude, com ritmo, descontração geral e apoio franco e suave sobre a embocadura. É normal que sob um comando do cavaleiro o animal se contraia. O pedido de descontração do maxilar, através do dedilhar das rédeas, deve ocorrer por tanto,  a todo instante, mantendo-se assim o animal descontraído o maior tempo possível. Ideal mesmo é pedir a descontração imediatamente antes de se dar algum comando. É como pisar na embreagem de um carro, antes da troca de marcha. O animal descontraído promove as transições ou demais figuras exigidas pelo cavaleiro de forma harmônica, sem a quebra do ritmo e da seqüência de seus movimentos. Numa prova de salto ou de adestramento clássico, por exemplo, que tem duração aproximada de dois a três minutos, o cavaleiro dedilha as rédeas buscando a descontração de sua montaria por volta de 50 a 100 vezes!! E é uma ação perfeitamente normal.

Um animal em início de adestramento básico deve ser respeitado quanto ao ritmo de seu condicionamento. O flexionamento da nuca deverá ocorrer a partir da descontração do maxilar. Por sua vez, isto só poderá acontecer sob condicionamento correto e adequado às condições de cada animal. Este condicionamento, por sua vez, depende previamente da aquisição de ritmo, descontração geral e apoio franco sobre a embocadura, o que demanda razoável tempo de trabalho. Promover o flexionamento da nuca por meios que não estes pode causar sérios problemas ao adestramento de seu animal, e consequentemente à sua performance em pistas. Alguns danos podem ser irreversíveis e graves. Sendo assim, pense algumas vezes antes de fazê-lo. É preferível um animal ponteiro, em trabalho de condicionamento, mas descontraído, com um mínimo de flexibilidade, a um animal em atitude forçada, tenso, duro, limitado, que traciona fortemente o cavaleiro pela tensão nas rédeas. Na dúvida, portanto, não flexione !!

Texto Adaptado. Fonte: Empório do Criador

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