O pouso foi a primeira manifestação de abrigo praticado pela mão do homem. Surgiu à beira dos caminhos, nos ermos das travessias, em locais mais propícios à ronda e guarda dos animais da tropa, como também à sua alimentação.
Rude e desconfortável, representava para o caminheiro um abrigo de que ele e a sua tropa tanto necessitavam para refazer as forças e continuar a caminhada.
Na nossa história encontramos referências mais constantes aos pousos de tropas que vinham da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, em demanda a Sorocaba, a renomada feira de animais neste Estado.
Em suas primeiras viagens, os viajantes teriam de trazer de tudo quanto necessitassem para a longa travessia. Calcula-se que do centro do Rio Grande até Sorocaba medeia uma distância de nada menos de trezentas léguas, ou mil oitocentos quilômetros. Para quem vinha do Uruguai ou da Argentina, à distância acima pode-se acrescentar mais cerca de cem léguas.
A freqüência dos tropeiros, em seguidas tropeadas, fez com que surgissem, a princípio, toscos ranchos, nos quais se fixaram comerciantes dos gêneros que os tropeiros mais precisavam: sal, farinha e charque. O sal e a farinha principalmente, com as chuvas das caminhadas e as passagens dos rios, que não eram poucos nessa grande travessia, se deterioravam freqüentemente, causando sérios transtornos e até fome aos tropeiros. Também o charque. Preparação demorada, não poderiam eles adquirir uma rez viva, matá-la e charqueá-la e depois secá-la convenientemente, dentro do reduzido espaço de tempo que dispunham em cada lugar.
A esses ranchos se foram agregados outros, com novos tipos de comércio, e hoje todas as cidades que se encontram no antigo caminho foram de tropeiros.
A pousada se dava após um dia de marcha, calculando em mais ou menos dez léguas para muares. Enquanto os peões atendiam à ronda dos animais, estes cansados, iam se espojando e deitando, depois de Ter pastado e se dessedentado convenientemente.
Enquanto isso, com lenha catada durante a viagem ou nas cercanias, os peões faziam o fogo num local abrigado de vento, armando, desde logo, a trempe de ferro, onde penduravam o caldeirão com o feijão cozido na noite anterior. Ao lado, acomodavam a chocolateira, com água para o café e outro caldeirão com toucinho para o torresmo. Em quinze minutos estavam todos em condição de servir-se do despejado repasto: feijão virado com farinha e torresmo e uma carne assada com brasa. De sobremesa, o café.
O dormir era revezado: enquanto parte da comitiva dormia, o resto vigiava, fazia a ronda, garantindo a inteireza da manada, trocando de posições a cada duas horas. Tal como tropa militar.
Era sossegado, quando não chovia ou quando, em mata fechada, não havia onças, lobos e outros animais a perturbar a tropa.
A dormida, entretanto, era somente de metade da noite, assim mesmo intercalada, para cada um.
Meu avô, contando essas histórias de tropas, suspira fundo com saudades daquele tempo...
Fonte: Cícero Marques, Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapeva
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