Bem Vindo ao Blog do Pêga!

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Existe muita literatura sobre cavalos, mas poucos escrevem sobre jumentos e muares. Este é um espaço para postar artigos, informações e fotos sobre esses fantásticos animais. Estamos sempre a procura de novo material, ajude a transformar este blog na maior enciclopédia de jumentos e muares da história! Caso alguém queira colaborar com histórias, artigos, fotos, informações, etc ... entre em contato conosco: fazendasnoca@uol.com.br

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Importância da Espécie

 

Obs: Em Portugal chamam o jumento de burro, como esse artigo é de lá resolvi deixar o texto original, sem alterações.

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Importância da espécie
O burro está associado a um vasto património de importância social, cultural, económica e ecológica.


Os asininos foram um pouco por todo o mundo tradicionalmente muito utilizados na agricultura. Em algumas zonas do planeta ainda o são.
No Planalto Mirandês as populações das aldeias vivem à base de uma agricultura familiar de subsistência, retirando dela produtos de grande qualidade. É uma agricultura que se faz em propriedades pequenas onde se cultiva pimentos, cebolas, couves, alfaces, batatas, feijões, etc. Na cultura das hortas, os asininos têm a vantagem de exercer uma menor compactação sobre os solos, por serem mais leves que as restantes espécies utilizadas na lavoura. Adicionalmente permitem uma mobilização do solo mais próxima da planta, sem a danificarem.


Ainda nos dias de hoje, os asininos dão uma resposta eficaz às necessidades de transporte das pessoas, e da comida para o gado - transporte a dorso -, são utilizados para lavrar a vinha, preparar e verificar o estado das terras, para semear e arrancar batata. Desempenham também a importante função de fazer companhia aos seus donos, e são às vezes o único pretexto para o idoso sair de casa, pois é preciso ir pôr a burra a pastar (a maior parte das pessoas possui burros fêmea).


Benefícios sociais, culturais e económicos
São inúmeros os benefícios socio-económicos associados ao burro. Actualmente, no nosso País, ainda existem profissões ligadas ao gado asinino, tais como: a de Albardeiro - aquele que faz albardas, cabeçadas, etc.; a de Ferrador - aquele que ferra e arranja os cascos; a de Tecelão - aquele que também tece alforges. No passado algumas das profissões ligadas aos asininos eram: a de Aguadeiro - aquele que vendia água ou a levava ao domicilio; a de Almocreve - aquele que alugava e conduzia bestas de carga, entre muitas outras.


O artesanato esteve desde sempre ligado ao gado asinino:
- na cestaria, existem os cestos esterqueiros e as cangalhas;
- as albardas, os alforges e as mantas de retalhos são, sem excepção, verdadeiras peças de artesanato.


O burro está também associado a inúmeros eventos culturais. São exemplos, as feiras ligadas ao gado asinino, e.g. Feira do Naso, próximo da aldeia da Póvoa e Feira dos Gorazes, na vila de Sendim (Concelho de Miranda do Douro), e Feira do Azinhoso (Concelho de Mogadouro), exposições, gincanas, corridas e concursos.


Existem alguns produtos derivados directamente do burro. A sua carne por exemplo é considerada muito dura (embora esta opinião não seja unânime), mas no entanto é consumida por muitos povos, simples ou sob a forma de enchidos.


O leite de burra é largamente procurado em muitas regiões pela indústria alimentar e cosmética. Em Portugal, o leite da fêmea asinina foi muito utilizado pelas populações rurais, sendo inclusive receitado pelos médicos às mulheres que não conseguiam amamentar, por ser um leite parecido com o que é produzido pelos humanos para alimentar os recém-nascidos. É um leite denso e açucarado. Também era tido como bom cicatrizante, aplicando-se em pomada nas feridas e doenças de pele. A sua pele dura e elástica tem numerosas aplicações, nomeadamente na fabricação de crivos, calçado, tambores, correias, sacos, tendas (usadas pelos nómadas árabes), etc. E já houve em tempos remotos, quem utilizasse os ossos de Burro para fazer instrumentos musicais (flautas).


O ecoturismo e as actividades lúdico-terapêuticas assistidas por burros são nos nossos dias duas das mais promissoras áreas ligadas à utilização dos asininos. É importante realçar, que o ecoturismo faz todo o sentido se o meio rural e as suas gentes mantiverem as actividades que lhes são características, o seu sustento e as suas tradições.


As actividades lúdico-terapêuticas assistidas por burros, para pessoas com necessidades especiais merecem destaque, pela sua importância terapêutica, ética, social e como potencial ecoturístico. Para mais saber mais sobre este assunto consultar item “Terapias com animais”.


Benefícios ecológicos
Na vertente agrícola/ecológica, o excremento de burro, juntamente com a palha utilizada na cama dos animais, faz um excelente elemento fertilizador das terras, o estrume, para as hortícolas, pimentos, cebolas, alhos, etc., cogumelos e flores. A utilização de estrume dos animais evita que se usem fertilizantes de síntese, promovendo uma agricultura mais ecológica. Os asininos evitam o avanço dos matos incultos, cuja presença descaracteriza a paisagem rural e facilita a propagação dos fogos.


Os asininos também têm aptidão para o pastoreio, fundamental para a preservação dos lameiros (prados e pastagens espontâneos), que se degradam caso não sejam pastoreados e/ou cortados. Os lameiros permitem a conservação de muros de pedra e sebes vivas, estas últimas constituídas por espécies autóctones (espécie que ocorre de forma natural numa dada região) como por exemplo, o Freixo-de-folhas-estreitas (Fraxinus angustifolia), e que servem de limite ao lameiro. Os muros de pedra e sebes têm um elevado interesse para a conservação de fauna selvagem, pois servem de abrigo e de local de reprodução a numerosas espécies importantes no controlo de pragas agrícolas.


No Nordeste Transmontano, o importante papel desempenhado pelo burro não se esgota com a sua morte. Assim, os cadáveres de asininos (e de outros equídeos), após ser verificada a sua condição sanitária por um Médico Veterinário, são transportados para um dos alimentadores de abutres autorizados no Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), onde se alimentam as aves necrófagas (animais que se alimentam dos cadáveres de outros animais) que nidificam nesta área protegida, e.g. Abutre do Egipto (Neophron percnopterus), Grifo (Gyps fulvus).


A certificação dos cadáveres pelo Médico Veterinário é fundamental para prevenir a transmissão de doenças na cadeia alimentar, ou pelo perigo causado pelo envenenamento dos animais que servem de alimento às espécies do topo da cadeia alimentar, e.g. abutre, lobo etc. É o Médico Veterinário quem decide se o cadáver do animal está ou não em condições de ser consumido por outras espécies, sem causar efeitos negativos.
Os abutres, como todos os animais necrófagos, desempenham um papel importantíssimo na cadeia alimentar, limpando os cadáveres dos animais e os excrementos, que de outro modo se acumulariam provocando mau cheiro e aumentando a probabilidade de transmissão de doenças no meio natural. Numa área protegida (PNDI) em que a disponibilidade alimentar para estas aves necrófagas não é assim tão grande, os cadáveres de equídeos, e.g. burros, têm a nobre e importante função de contribuir para a sua sobrevivência.

 

Fonte: Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino

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