Bem Vindo ao Blog do Pêga!

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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Alguns aspectos fundamentais do exame clínico andrológico de jumentos (Equus asinus)

 

Resumo
O exame andrológico tem sido utilizado em todas as espécies de animais domésticas como indicador do potencial da capacidade reprodutiva do macho. Dentre os parâmetros a serem avaliados, a biometria testicular deve ser um requisito obrigatório na avaliação andrológica, tendo como principais finalidades diagnosticar alterações testiculares e auxiliar na predição do potencial reprodutivo. Dentre esses parâmetros, destaca-se ainda o volume, a concentração, a morfologia e a motilidade espermática, particularmente a motilidade progressiva, sendo um bom indicativo de viabilidade espermática, podendo assim, a estimativa do potencial da fertilidade do reprodutor ser feita pela realização do exame andrológico.
Palavras-chave: jumento, avaliação reprodutiva, andrologia.

Introdução
O estudo da biologia reprodutiva dos animais domésticos tem sido um desafio para a produção animal, pois é baseada nos acontecimentos normais de seu ciclo de vida que a criação de animais sustenta suas bases. Assim, quanto mais elucidados forem os conhecimentos sobre a condição natural, aliados à eficiência econômica, melhor e mais eficientemente se poderão produzir e prevenir possíveis complicações por condições insatisfatórias de manejo e criação (Henry, 1991). 

O exame andrológico tem sido utilizado em todas as espécies de animais domésticas como indicador do potencial da capacidade reprodutiva  do macho, sendo, no Brasil, a metodologia de avaliação orientada pelo Colégio Brasileiro de Reprodução Animal (Manual ..., 1998). Porém, o reprodutor asinino não foi incluído nos padrões estabelecidos de avaliação do sêmen animal  e, deste modo, experimentos e levantamentos de campo devem ser realizados numa tentativa de se estabelecerem os padrões de exame andrológico para jumentos nas condições brasileiras. 

Pretende-se, portanto, com este trabalho revisar a literatura envolvendo a avaliação de alguns aspectos da andrologia de jumentos, ressaltando as diferenças raciais. 

 

Biometria testicular
A biometria testicular deve ser um requisito obrigatório na avaliação andrológica, tendo como principais finalidades diagnosticar alterações testiculares e auxiliar na predição do potencial reprodutivo e da
produção espermática diária (Varner et al., 1991). Devido à disposição horizontal dos testículos no escroto do jumento e do garanhão, o perímetro escrotal não é realizado, mas variantes da técnica, como a largura testicular escrotal e o comprimento, são realizadas (Morais, 1990; Varner et al., 1991). Ambas as técnicas são de rápida e fácil aplicação, oferecendo uma previsão da produção espermática diária (Costa, 1991; Gerbers, 1995).  Canisso et al. Alguns aspectos fundamentais do exame clínico andrológico de jumentos (Equus asinus).

Morais (1990) e Costa (1991) chamam atenção para a importância dos parâmetros testiculares na avaliação andrológica de jumentos, uma vez que oferecem subsídios relevantes para a interpretação e formulação do laudo andrológico. Gebauer et al. (1974) aparentemente foram os primeiros a introduzir a avaliação testicular com paquímetro em testículo de garanhões, e El Wishy (1974) em jumentos.Ambos os trabalhos foram baseados no trabalho pioneiro de Hahn  et al. (1969), que utilizaram 120 reprodutores bovinos da raça Holandesa nos Estados Unidos. 

El Wishy (1974), trabalhando com testículos de nove jumentos recémcastrados (médias: idade 5,1 anos e peso 257 kg), registrou os seguintes valores para comprimento, largura e altura testiculares: 8,41x 5,91 x 4,77 cm para o testículo direito e 8,37 x 5,78 x 4,46 cm para o testículo esquerdo. O autor desenvolveu uma fórmula para avaliação do volume testicular e obteve os volumes de 103,44 e 103,89 cm  para os testículos direito e esquerdo, respectivamente. Kreuchauf (1984), estudando a biometria de jumentos africanos com idades variáveis entre dois e 12 anos e 150 kg de média de peso corporal, registrou as seguintes medidas para comprimento, largura e altura: 8,58; 5,78 e 6,30 cm. A autora não verificou assimetria entre as gônadas do mesmo reprodutor.

Morais (1990) ao trabalhar com seis jumentos da raça Pêga (peso médio 400 Kg, e idades 3 a 12 anos), observou valores de 10,35; 6,73 e, 7,12 cm e 10,12; 7,38 e 7,68 cm para os comprimento, largura e altura dos testículos esquerdo e direito, respectivamente. A autora empregou a mesma fórmula descrita por El Wishy, (1974), para cálculo do volume testicular, obtendo valores de 182, 34 ± 32,58 e 201,36 ± 9,36 para o testículo esquerdo e direito, respectivamente. Gastal (1991), quando trabalhou com seis jumentos da raça Nordestina na zona metalúrgica de Minas Gerais, com peso médio  de 162 kg, registrou as seguintes mensurações de comprimento, altura e largura testicular: 7,6; 5,5 e 5,1 cm para ambos os testículos, respectivamente. 

 

Kenney et al. (1983), numa tentativa de tornar mais objetiva a avaliação e a comparação testicular entre garanhões, estabeleceu o índice testicular (IT), que é calculado pelo somatório da altura, largura e comprimento de ambos os testículos dividido por dois, em que o IT = 8 para garanhões é dado como valor normal. Em asininos, Morais (1990) utilizou seis jumentos da raça Pêga, considerados como aptos a reprodução (peso médio 400 kg, e idades 3 a 12 anos) e registrou valores de IT  variando de 8,24 a 12,73, sendo superiores ao valor considerado como normal para garanhões por Kenney (1983).

Parâmetros espermáticos de jumentos

Volume seminal
Os eqüídeos e o varrão, entre os demais reprodutores domésticos, são os que apresentam maiores volumes de ejaculados, sendo que, em ordem crescente de volume do ejaculado, estão o jumento, o garanhão e o varrão. O ejaculado destas espécies é formado por uma porção rica em espermatozoides e uma fração gelatinosa (Nishikawa, 1959; Kreuchauf, 1984, Davies-Morel, 1999).

A porção gelatinosa do ejaculado dos equídeos é produzida pela glândula vesicular (Kreuchauf, 1984), enquanto no varrão a mesma fração é produzida pela glândula vesicular e pela glândula bulbo uretral (Senger, 2003).

O volume do ejaculado em eqüídeos apresenta uma variação muito grande entre reprodutores e entre coletas de um mesmo reprodutor. A baixa repetibilidade desta característica está relacionada a muitos fatores, tais como: raça, idade, particularidades individuais, frequência de ejaculação, época do ano, duração do tempo de excitação, tipo de manequim, tempo de repouso sexual, alimentação, manejo, quantidade de trabalho na estação de monta, presença de gel, dentre outros (Pickett et al., 1970, 1976; Gebauer et al., 1974; Papa, 1987; Morais, 1990, Gastal, 1991, Samper, 2007).

Os valores para o volume do ejaculado sem a fração gelatinosa de jumentos apresentam amplitude de 10 a 180 mL, sendo que os valores mais frequentes estão em torno de 40 a 100 mL (Nishikawa, 1959; Kreuchaf, 1984, Henry et al., 1987; Morais, 1990, Gastal, 1991, Santos, 1994). Em asininos, segundo as observações feitas por Nishikawa (1959), Kreuchauf (1984) e Gebers (1995), a presença de gel é aparentemente uma característica individual dependente do jumento, época, ano, frequência de coleta, excitação sexual, idade, além de diferenças raciais.

Berliner et al. (1938), trabalhando com dois jumentos em uma central de reprodução de equídeos nos EUA, observaram que, quando a frequência de coletas semanais era aumentada de uma para duas, aumentava-se
proporcionalmente a presença de gel no ejaculado. Este aumento da quantidade de gel, segundo Nishikawa (1959), provavelmente se deva à maior excitação sexual provocada pela maior frequência de coleta. Contudo, o primeiro autor observou redução do volume de 18mL para 8 e 6 mL quando a freqüência de coleta semanal foi de uma, duas e três vezes por semana, respectivamente.

Arruda  et al. (1989b) obtiveram em 29 ejaculados de um reprodutor da raça Brasileira, volume  do sêmen livre de gel de 46,6 ± 10,0, e somente um ejaculado apresentou gel no volume de 5 mL. Costa (1991) realizou um estudo avaliando apenas uma coleta por jumento em 103 jumentos da raça Pêga. Esses reprodutores criados em diferentes regiões do estado de Minas Gerais e Bahia foram considerados normais na avaliação andrológica, tinham idade que variou de 1,5 até acima de 12 anos, e foram avaliados em diferentes períodos de atividade reprodutiva. O volume médio obtido foi de 66.7 ± 34.4 mL, sendo que a porção gelatinosa esteve presente no ejaculado em apenas 13 animais, representando um volume de 28.1 ± 20.4 mL. Gebers (1995) avaliou 285 ejaculados de seis jumentos da raça Pêga e detectou a presença da fração gelatinosa em 90 ejaculados, e o volume médio de sêmen sem gel e do gel foram 98,35 ± 44,24 mL e 84,73 ± 32,67 mL, respectivamente. Ferreira (1993), trabalhando com três jumentos da raça Pêga, obteve médias de volume do ejaculado sem gel por animal de 104,79 ± 25,40; 63,25 ± 24,84 e 67,04 ± 17,87 mL sendo que o número de coletas realizadas por animal não foi informado pela autora. Já Santos (1994), ao trabalhar com três reprodutores da raça Pêga e três mestiços Pêga com a raça Nordestina, obteve médias do volume do ejaculado sem gel de 45,5 ± 17,3; 54,5 ±18,5; 79,9 ±39,0; 66,8 ±11,6; 32,2 ±5,7; 9,2 ±17,9 mL, para cada um dos seis jumentos.

Henry  et al. (1987a), trabalhando com três jumentos da raça Nordestina, realizando uma sessão de coleta semanal, com duas coletas com intervalo aproximado de uma hora, obtiveram volume médio de 39,0 mL ± 22,2 e 40,9 mL ± 16,7 para o primeiro (n = 57) e segundo (n = 47) ejaculados, respectivamente, não observando diferença no volume do ejaculado entre ordem de coleta.

Arruda et al. (1989b), quando analisaram 85 ejaculados de um jumento da raça Brasileira,  em três anos de avaliações, registraram valores médios de 42,01 ± 19,18 mL para o volume total e a ocorrência de gel em 12,94% dos ejaculados com volume médio de 7,45mL ± 4,60. 

Ao avaliar 230 ejaculados de 17 jumentos da raça Hamadan, pesando entre 209 e 256 kg, Zalcman (1940) citado por Bielanski e Wierzbowski (1962), obtiveum volume médio de 54 mL por ejaculado. Nishikawa (1959), analisando dados de 121 ejaculados de dois jumentos mestiços, registrou volume de 10 a 80 mL, com volume médio de 49,24 mL ± 14.30, e observou a influencia da estação na quantidade da fração gelatinosa, com predomínio nos meses de julho a setembro. Já Mann et al. (1963), avaliando 27 ejaculados de dois jumentos com idades de 10 e 12 anos, obtiveram volume médio de 55.6 mL, com amplitudes de 17 a 120 mL.

Motilidade e vigor espermático
O percentual de motilidade espermática, particularmente a motilidade progressiva, é um bom indicativo de viabilidade espermática em equídeos (Davies Morel, 1999). Apesar de não necessariamente ser um indicador da capacidade fecundante, a motilidade espermática obrigatoriamente deve estar presente para que o espermatozoide possa fecundar (Voss et al., 1981). 

A avaliação dos parâmetros de motilidade e vigor espermáticos é um método rápido, simples e de baixo custo. Contudo, é uma análise subjetiva e sujeita há  erros, e não necessariamente constitui um prognóstico seguro do potencial fecundante do animal.

A avaliação objetiva computacional oferece vantagens sobre o método subjetivo, uma vez que muitos parâmetros da cinética espermática são possíveis de serem avaliados, como: velocidade de trajeto, velocidade
progressiva, velocidade curvilínea, amplitude lateral  de cabeça, frequência de batimentos de cauda, retilinearidade, linearidade, velocidade rápida, deslocamento lateral de cabeça, entre outras avaliações (Arruda, 2000). No entanto, segundo Vidament (2005), as únicas características que apresentaram correlações com fertilidade para sêmen de equídeos são a motilidade rápida e a velocidade rápida e, portanto, apenas essas características são utilizadas na avaliação rotineira no Stud Nacional Francês, sendo que somente o parâmetro motilidade rápida pode ser usado na seleção de ejaculados.

A avaliação convencional com microscopia de luz é mais rotineiramente utilizada na avaliação de reprodutores eqüídeos, uma vez que é uma técnica acessível a todos os veterinários de campo e não requer condições especiais para sua realização. Outro aspecto favorável à utilização da avaliação subjetiva foi a alta correlação entre análise objetiva e subjetiva observada por Kolibianakis et al. (1992). Estes autores, em estudo com 114 amostras de sêmen, observaram alta correlação (r = 0.89; P < 0.001) entre as avaliações feitas com a análise subjetiva e a computacional.

A motilidade total para sêmen fresco de jumentos, segundo os diversos autores, é 70 a 100 % (Nishikawa, 1959; Bielansky e Wierzbowski, 1962; Kreuchauf, 1984; Henry et al., 1987; Arruda et al., 1989b; Morais, 1990; Costa, 1991; Gastal, 1991; Santos, 1994; Gerber, 1995).

Apesar de a motilidade progressiva ser uma característica fisiológica das espécies equídeas (Magistrini, 2000), poucos estudos feitos com jumentos realizaram a subdivisão das motilidades em total e progressiva, de modo que os estudos registraram uma variação média de 70 a 85 % de motilidade progressiva (Henry  et al., 1987, Morais, 1990; Costa, 1991; Gastal, 1991; Gerbers, 1995). Arruda  et al. (1989a) obtiveram em 29 ejaculados de um reprodutor da raça brasileira a motilidade progressiva média de 75,5 ± 7,8.

Dentre esses parâmetros avaliados, o vigor espermático constitui a avaliação subjetiva da força e velocidade espermática; sendo que Walton (1952) classificou o vigor espermático usando uma escala de 0 a 5, em que zero (vigor nulo) e 5 (vigor máximo). Mies Filho (1987) ressalta a importância da avaliação dessa característica para sêmen de ruminantes. Para sêmen de equídeos, tal característica não tem sido utilizada com frequência como parâmetro para avaliação de qualidade de sêmen (Gebers, 1995).  No entanto, Papa (1987) atribuíu um alto grau de importância ao vigor espermático na avaliação de sêmen de garanhões, principalmente
para sêmen congelado.

O vigor espermático médio avaliado por Henry et al. (1987a), em jumentos Nordestinos, foi de 4,2 para a primeira e a segunda coleta do dia. Gastal (1991), trabalhando com animais da mesma raça e com duas coletas com intervalo de 4 horas, observou média de 3,8 e 4,2 para o primeiro e segundo ejaculados, respectivamente. Costa (1991), em suas avaliações com apenas uma coleta em 112 jumentos da raça Pêga, obteve um vigor médio de 3,8, e Morais (1990), com jumentos da mesma raça, obtiveram 4,2. Ferreira (1993) registrou valores médios para vigor 3,92; 3,33 e 3,67 em três reprodutores da raça Pêga. Já Gerber (1995) obteve valor médio para vigor de 4,8, com amplitude de 4.69 a 4.94, em seis jumentos da mesma raça. Santos (1994), ao trabalhar com três jumentos da raça Pêga e três jumentos mestiços da raça Nordestina com a raça Pêga, obteve valores médios 4.3 a 5 para o vigor espermático.


Concentração espermática e número total de espermatozóides


A concentração espermática é resultante da eficiência espermatogênica e da secreção de fluido pelas glândulas sexuais acessórias (Varner et al., 1991). Os resultados de uma pesquisa conduzida com testículos de jumentos da raça Pêga, com o objetivo de quantificar a espermatogênese usando a técnica de avaliação histológica, indicaram que esses animais apresentam maior eficiência espermatogênica por grama de parênquima testicular entre todos os animais domésticos (Neves et al., 2002). Estes resultados foram similares aos reportados por El Wishy (1974), que, comparando testículos de jumentos e garanhões, registrou o dobro de espermatozóides em testículos de jumentos. A concentração espermática média em jumentos variou de 100 a 800x10 espermatozoides por mL, sendo esses valores maiores que os usualmente encontrados em garanhões (Kreuchauf, 1984). Segundo a mesma autora, em revisão sobre o assunto, comenta que a média de espermatozoides totais em um ejaculado de jumentos é de 20 a 30 bilhões, e os extremos são de 2 a 44 bilhões de espermatozóides totais por ejaculado.


Os estudos realizados até o momento mostram-se controversos nos aspectos que tangem a influência da sazonalidade na produção espermática de asininos. Kreuchauf (1984) não observou influências sazonais na produção espermática em jumentos para as condições da Alemanha. No entanto, Nishikawa (1959) observou fortes variações sazonais na concentração espermática e no volume do ejaculado de jumento avaliados no Japão, enquanto Gastal (1991), no Brasil, registrou apenas pequenas variações na concentração espermática sem caracterizar qualquer padrão sazonal. 

Morfologia espermática


A fertilidade do reprodutor pode ser avaliada por meio de métodos diretos, como taxa de prenhez, taxa de prenhez por serviço, taxa de natalidade, fecundação competitiva, dentre outros. Entretanto, a estimativa do potencial de fertilidade do reprodutor pode ser feita pela realização do exame andrológico (Pimentel, 1989). 

Os primeiros trabalhos de investigação sobre patologia do sêmen em animais domésticos foram realizados em touros por Willians e Savage (1925). Langerlöf (1934), citado por Ott (1986), foi um dos primeiros a demonstrar que o aumento das anormalidades espermáticas estava associado com o decréscimo da fertilidade em touros e a estabelecer  as bases do espermograma clínico, sendo que, em equinos, o primeiro trabalho a envolver a morfologia espermática foi de Walton e Fair (1928). 

Nishikawa  et al. (1952) e Nishikawa (1959) desenvolveram estudos pioneiros comparando as características da morfologia espermática entre garanhão e jumento. Estes autores observaram que os espermatozoides asininos se assemelham ao dos garanhões, entretanto apresentam a cauda mais longa e a cabeça de formato ligeiramente mais globoso, semelhante ao espermatozoide do touro e do carneiro. Adicionalmente, os autores verificaram existir uma relação entre a morfologia espermática e a fertilidade de garanhões.

A morfologia espermática de equídeos apresenta similaridade com as demais espécies de animais, porém a cabeça do espermatozoide é assimétrica e a inserção abaxial da cauda é considerada normal; além disto, o acrossomo é relativamente pouco desenvolvido (Bielansky e Kaczmarski, 1979; Magistrini, 2000).

Há poucos relatos da ocorrência de subfertilidade ou mesmo infertilidade em decorrência de elevados índices de alterações na morfologia espermática em jumentos (Morais, 1990; Gebers, 1995). Crespilho  et al. (2006) descreveram um caso clínico de um jumento mestiço, com histórico de infertilidade, associado com baixa motilidade e alta quantidade de alterações morfológicas, principalmente com gota citoplasmática proximal. Ao realizar a microscopia eletrônica de transmissão, confirmou-se a existência de irregularidades de microtúbulos, que causou desarranjo no colo espermático e consequentemente levou à permanência da gota citoplasmática proximal.

Tentativas ao longo dos anos foram feitas no intuito de quantificar as alterações morfológicas e estabelecer sua relação com a fertilidade nos animais, e a espécie com maior número de trabalhos desenvolvidos
foi a bovina, devido ao grande interesse econômico.  Blom (1950) propôs uma  classificação dos defeitos espermáticos em primários e secundários. Na opinião do autor, as primeiras alterações seriam geradas durante a espermatogênese, e a secundária durante a maturação. Dott (1975), trabalhando com sêmen de garanhão, acrescentou nesta classificação anormalidades terciárias (artefato de técnica), ou seja, por danos induzidos ao espermatozoide durante a manipulação pós colheita.

Rao (1971), ao trabalhar com touros normais e com problemas clínicos reprodutivos, não conseguiu enquadrar as alterações morfológicas encontradas no sêmen desses touros na classificação de defeitos primários e secundários, o que levou à contestação da classificação feita por Blom (1950).

Blom (1973) refez sua classificação original e agrupou as alterações em defeitos maiores e defeitos menores, sendo que a alteração morfológica é classificada de acordo com o potencial de seu efeito sobre a fertilidade de touros. 

Nishikawa (1959), na avaliação de sêmen de jumentos e de garanhão, classificou as alterações morfológicas de acordo com seu local de alteração: cabeça, peça intermediária e cauda. No Brasil, conforme as normas do Colégio Brasileiro de Reprodução Animal  (Manual ..., 1998), na  avaliação andrológica de reprodutores de todas as espécies, a classificação das anormalidades espermáticas deve ser agrupada em defeitos maiores e defeitos menores, baseados na classificação de Blom (1973).

Seguindo esses critérios, Kreuchauf (1984) registrou média de 7,46 (maiores) e 4,7% (menores) de anomalias espermáticas em 204 amostras de sêmen de seis reprodutores asininos africanos.

Uma série de experimentos têm sido conduzidos usando-se o sistema de classificação em defeitos maiores e menores. Henry et al. (1987), utilizando a classificação em defeitos maiores e menores, ao trabaharem com jumentos da raça Nordestina, obtiveram 9,1 e 6,3% de anomalias espermáticas para o primeiro ejaculado e 5,3 e 6,0% de anomalias espermáticas para o segundo ejaculado, para defeitos maiores e menores, respectivamente. Arruda  et al. (1989b), com dados de apenas um reprodutor adulto da raça brasileira, verificaram 3,06% de defeitos maiores e 3,10% de defeitos menores. Morais (1990), trabalhando com seis reprodutores da raça Pêga também adultos, obtive média de 8,55% e 7,04% de defeitos maiores e menores, respectivamente, em 85 amostras de sêmen. Já Gebers (1995), ao trabahar com seis reprodutores da mesma raça, registrou 5,40% e 4,4% de defeitos maiores e menores, respectivamente, em 288 amostras de sêmen. No entanto, os estudos relatados não correlacionaram o percentual de alterações na morfologia espermática com a fertilidade dos jumentos. 

Considerações finais
Os asininos apresentam diversas particularidades que os diferenciam das demais espécies de animais domésticos, sendo, portanto, necessário que os veterinários que atuam com esta espécie conheçam suas características reprodutivas. Destaca-se ainda, que os jumentos, considerando os os dados apresentados, possuem características seminais superiores aos garanhões. 

Fonte: Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.32, n.4, p.233-239, out./dez. 2008

Autores: Igor Frederico Canisso, Fernando Andrade Souza, Giovanni Ribeiro de Carvalho, José Domingos Guimarães, Erotides Capistrano da Silva, Anali Linhares Lima.

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