A influenza eqüina é uma doença viral altamente contagiosa, sendo em muitos países considerada a enfermidade respiratória mais importante da espécie. Afeta eqüídeos de forma geral, não se conhecendo predileção por raça ou sexo. Em geral afeta animais de 1 a 3 anos, mas podendo também ocorrer em qualquer idade.
Patofisiologia
Os vírus da influenza eqüina pertencem à família dos ortomixovírus. Existem 2 subtipos, influenza A/Equi-1 e influenza A/Equi-2, que são classificados de acordo com as características antigênicas das glicoproteínas de superfície, a hemaglutinina (HA) e a neuraminidase (NA). Os vírus A/Equi-1 possuem uma H7HA e uma N7NA e os vírus A/Equi-2, uma H3HA e uma N8NA.
Uma característica importante dos vírus da influenza é a capacidade de sofrer mutação antigênica, o que reduz o grau e o período de proteção conferida por infecção anterior ou pela vacinação, pois os anticorpos de reação cruzada são menos eficazes e duráveis do que os anticorpos homólogos no vírus neutralizante. Isso permite ao vírus evitar a neutralização por parte dos anticorpos presentes em determinada população eqüina, podendo assim continuar a infectar animais soropositivos. Isso é causado pelas mutações, sobretudo as que ocorrem nos genes com o código da HA e da NA, provocando alterações na natureza antigênica das glicoproteínas de superfície. Os vírus A/Equi-1 sofrem menos mutações antigênicas, de forma que são mais antigenicamente estáveis e menos patogênicos do que os vírus A/Equi-2 que sofrem intensa mutação antigênica.
Sistemas Afetados
Sistema Respiratório
A influenza é contraída através da inalação, sendo extremamente contagiosa. O vírus infecta as células epiteliais que envolvem as vias aéreas inferiores e superiores. A hemaglutinina é um componente-chave do vírus, pois permite às partículas virais se fixarem no epitélio e penetrarem na célula. A infecção do epitélio ciliar provoca perda dos cílios num período de 3-4 dias de infecção, o que compromete o mecanismo de depuração mucociliar. Isso predispõe as vias aéreas comprometidas a infecção bacteriana secundária.
Incidência/Prevalência
Ocorrência no mundo todo, exceto na Austrália e na Nova Zelândia, onde ainda não foram registrados casos de influenza eqüina. Trata-se de doença endêmica na América do Norte, Europa e América do Sul.
Sinais
Comentários gerais
Doença de início repentino com curto período de incubação de 1-3 dias. Os eqüinos permanecem infectantes por 3-6 dias após os últimos sinais da doença. A propagação é muito rápida, com 100% de morbidade em populações suscetíveis. A taxa de mortalidade geralmente é baixa em casos não complicados, exceto em potros. Potros que não possuem anticorpos maternos apresentam sinais clínicos muito graves de pneumonia viral, que podem levar à morte em 48 horas.
Achados Mais Comuns
- Tosse
- Secreção nasal
- Febre
- Depressão
- Letargia
- Inapetência
- Rigidez
- Edemaciamento de membros inferiores
Exame Físico
Em animais não vacinados ou sem contato prévio com antígenos virais, os sinais clínicos são muito característicos. A pirexia pode chegar a 41ºC, sendo aguda no início e geralmente bifásica, prolongando-se por 7-10 dias. Observa-se tosse seca, que pode se estender por 2-3 semanas. A secreção nasal serosa pode tornar-se mucopurulenta, principalmente em caso de infecção bacteriana secundária. Entre outros sintomas se incluem apatia, depressão, inapetência, aumento do volume dos linfonodos submandibulares, dor muscular, edema dos membros distais e arritmias cardíacas secundárias a miocardite viral.
Em animais previamente infectados ou vacinados, os sinais clínicos são diferentes, impossibilitando a distinção entre influenza e outros patógenos respiratórios. Esses indivíduos podem desenvolver apenas leve pirexia transitória e tosse ocasional.
Fatores de Risco
O transporte (doméstico ou internacional) de eqüinos que estão incubando a infecção ou de animais infectados porém assintomáticos quanto ao vírus da influenza sem período adequado de quarentena facilita a propagação da doença. Embora animais com infecção subclínica não sejam identificados como fonte de infecção, é provável que desempenhem papel importante na manutenção e na transmissão da doença, pois não há indício da condição de vetor. A epizootia geralmente começa em grandes concentrações de eqüinos suscetíveis, tais como corridas, provas, torneios, eventos e leilões. A mutação antigênica viral e a não vacinação dos eqüinos em intervalos regulares levam a surtos em populações parcialmente imunes. A infecção pode ocorrer o ano todo, mas os surtos são mais comuns no inverno e na primavera, pois a baixa temperatura ambiente e a umidade aumentam a sobrevivência do vírus.
Diagnóstico
Diagnóstico Diferencial
O rinovírus eqüino se caracteriza por sinais clínicos bem semelhantes, mas essa doença é menos contagiosa do que a influenza e os animais afetados geralmente não apresentam tosse. A infecção respiratória pelo herpesvírus eqüino tipo 1 e 4 (EHV-1/EHV-4) não se diferencia da influenza apenas quanto aos sinais clínicos, mas também através de evidências epidemiológicas uma vez que o EHV 1/4 acomete principalmente animais jovens, enquanto que a influenza pode acometer eqüinos de quaisquer idades indiferentemente. No caso da arterite viral eqüina (EVA) podem ser observados sinais oculares (por ex. conjuntivite, edema na córnea) e outros relacionados à vasculite (por ex. edema no prepúcio, escrotos, membros, pálpebras e mediana ventral). O Streptococcus equi (garrotilho ou gurma) se caracteriza por aumento do volume e supuração dos linfonodos retrofaríngeos e submandibulares.
Hemograma
Os eqüinos podem inicialmente apresentar linfopenia seguida de monocitose.
Outros Exames Laboratoriais
O diagnóstico definitivo pode ser obtido através do isolamento do vírus em swabs nasofaríngeos coletados na fase aguda da infecção (ou seja, nas primeiras 24 horas). Pode-se fazer um diagnóstico retrospectivo através da observação do aumento de 4 vezes ou mais do título de anticorpos em amostras de soro pareadas, coletadas com um intervalo de 10-14 dias (são necessárias uma amostra de soro da fase aguda e outra da fase de convalescença para se ter um diagnóstico definitivo). Pode-se utilizar ELISA para identificação dos antígenos da influenza em secreções nasais. Esse teste é simples e útil na realização de um diagnóstico rápido provisório (apesar de o diagnóstico ainda precisar ser confirmado através de outros métodos tradicionais).
Procedimentos de Diagnóstico
A endoscopia da faringe, laringe e traquéia pode revelar indícios de inflamação e infecções secundárias (secreções mucopurulentas). Amostras de lavado traqueal podem ser submetidas a cultivo e citologia, principalmente nestes casos.
Achados Patológicos
Faringite, laringite e traqueíte ficam evidentes nas vias aéreas superiores. Nas vias aéreas inferiores, observa-se a ocorrência de bronquite e bronquiolite, pneumonia intersticial, congestão, edema e infiltração de neutrófilos.
Tratamento
- Isolamento imediato dos animais doentes para reduzir o nível de vírus no ambiente.
- O tratamento é sintomático e de apoio. Eqüinos infectados não devem ser submetidos a estresse indevido e desnecessário.
- Os eqüinos devem permanecer em repouso total. O repouso diminui a gravidade dos sinais clínicos, minimiza a excreção viral e encurta o período de recuperação. Recomenda-se uma semana de repouso para cada dia de febre, com retorno gradativo às atividades. Os eqüinos que sofrem infecções graves podem ficar fora de forma para competições por 50-100 dias após a infecção.
- Eqüinos infectados e inapetentes podem precisar de estímulo para comer. Recomenda-se oferecer uma variedade de alimento palatável e de boa qualidade para garantir o consumo adequado de nutrientes.
- Todos os recém introduzidos em determinadas instalações ou eqüinos com suspeita de infecção devem ser rapidamente isolados para minimizar a propagação da doença. É comum a ocorrência de complicações secundárias e seqüelas da influenza eqüina em animais estressados ou indevidamente tratados, de forma que é fundamental enfatizar a importância dos cuidados de apoio e o repouso adequado.
Medicamentos
- Pode-se indicar o uso de drogas antiinflamatórias não esteróides (AINEs) para diminuir a febre, eliminar a mialgia e melhorar o apetite. A escolha do antibiótico para tratamento de infecção bacteriana secundária deve se basear nos resultados de cultura de lavado traqueal.
Monitoramento dos Pacientes
Monitorar a temperatura diariamente e zelar pelo fim da tosse e da secreção nasal. Durante a infecção, recomenda-se o exame freqüente do aparelho respiratório para identificar o desenvolvimento de complicações secundárias (por exemplo, pleuropneumonia ou pneumonia bacteriana).
Prevenção
A vacinação contra a influenza eqüina é capaz de reduzir a gravidade da doença e a propagação da infecção. As vacinas comercializadas atualmente são administradas por via intramuscular e contêm antígenos inativados de ambos os tipos de vírus da influenza. Após a infecção natural, a imunidade dura aproximadamente 12 meses.
Recomenda-se a primovacinação com 2 doses com um intervalo de 4-6 semanas seguida por uma dose de reforço 6 meses mais tarde. Em situações de alto risco, pode ser benéfica a aplicação de uma terceira dose da vacina antes dos 6 meses. O ideal é que os eqüinos sejam monitorados através de exames sorológicos para garantir que responderam bem à vacinação e que os títulos de anticorpos estão em níveis capazes de conferir proteção. Os exames sorológicos também identificam os animais com baixa resposta imunológica que precisariam de mais doses de reforço. Eqüinos jovens devem ser vacinados a cada 6 meses e, se participarem de competições regularmente, recomenda-se a vacinação em intervalos de 3-4 meses para oferecer um nível ótimo de proteção.
Nos haras é importante garantir um bom fornecimento de anticorpos no colostro para proteger os potros. De acordo com as orientações do médico veterinário responsável, éguas prenhes podem eventualmente ser estrategicamente vacinadas na fase final de gestação para tanto. Em potros, a vacinação deve ser iniciada aos 04 meses de idade. Não se recomenda a vacinação de eqüinos contra influenza por um período de 7-10 dias antes de eventos ou provas.
O rápido isolamento de todo animal novo em determinada propriedade ou suspeito de infecção é muito importante para restringir a propagação da doença. Os eqüinos que compartilham o mesmo espaço podem ser infectados em questão de horas após a introdução de um animal infectado. A tosse seca persistente que os eqüinos doentes desenvolvem libera grandes quantidades de partículas virais (aerossóis) no ar. O vírus também pode ser transportado pelo vento e infectar eqüinos nas instalações vizinhas. A transmissão do vírus pode ocorrer através do contato com empregados, alojamento e veículos contaminados. O alojamento e os veículos de transporte devem ser totalmente desinfetados antes de serem reutilizados por animais não infectados. Os empregados não devem se locomover entre instalações com animais infectados e instalações isentas dos mesmos. O vírus é muito suscetível à luz solar e a desinfetantes, tal qual hipoclorito de sódio, que é barato e bastante eficaz. O vírus não sobrevive no ambiente por longos períodos a menos que fique protegido por soluções proteináceas (por ex. secreção nasal).
Possíveis Complicações
Pleuropneumonia e pneumonia bacteriana secundária e desenvolvimento de bronquite decorrente de longo período de tosse são possíveis complicações após a ocorrência de doença respiratória viral em eqüinos que não tiveram repouso adequado antes de retornarem às atividades de treinamento ou de serem submetidos a eventos estressantes.
Prognóstico
O prognóstico para recuperação e retomada da função atlética em casos não complicados de influenza eqüina é bom, desde que se administre tratamento apropriado e se permita repouso adequado. A pleuropneumonia e a pneumonia bacteriana secundária agravam o prognóstico para retomada da função atlética e prolongam bastante o período de recuperação.
Fonte: Merial
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