Bem Vindo ao Blog do Pêga!

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terça-feira, 3 de maio de 2011

Genealogia

A GENEALOGIA, SUA IMPORTÂNCIA PARA O MELHORAMENTO E PARA A PRODUÇÃO ANIMAL E OS MÉTODOS DE CONFIRMAÇÃO DOS PEDIGREES.

1. Genealogia x Melhoramento e Produção Animal

O principal objetivo do melhoramento animal é, sem dúvida, após identificar os indivíduos que possuam genótipos considerados superiores para uma dada característica, multiplicá-los e distribuí-los em populações diversas. Desse modo promove a melhoria dos rebanhos, tornando-os mais produtivos. É exatamente na hora em que se pretende multiplicar os melhores genótipos que a genealogia passa a ter papel decisivo, respondendo por grande parte do sucesso ou insucesso do programa de melhoramento.

Quando surgiram as diversas Associações de Criadores, foram criados em cada uma delas, os setores de Registro Genealógico, aos quais caberia emitir os pedigrees de cada animal registrado, de modo que se documentasse a pureza das raças. Diversos erros de parentesco ocorriam nesta ocasião, mas passavam despercebidos. Isso ocorreu não apenas no Brasil, mas também em outros países.

Com o correr dos anos foram introduzidas técnicas como a inseminação artificial e a transferência de embriões, que tornaram necessária a tipagem dos doadores de sêmen, das doadoras de embriões e das progênies oriundas dos mesmos, de modo a confirmar sua genealogia. Hoje temos ainda no Brasil, práticas como o uso de reprodutores múltiplos que, segundo Penna et al., (1998), só recentemente foi regulamentada.

Além disso, temos que admitir que também fazem parte de nossa realidade erros provenientes das mais variadas fontes, tais como anotações errôneas; troca de sêmen; reprodutores que pulam cercas; identificação incorreta dos animais pelos funcionários das propriedades, etc., que podem levar a perdas incalculáveis. Isso pode ser facilmente compreendido se lembrarmos que, atualmente, todos os programas de melhoramento animal, baseiam-se nas avaliações de mérito genético dos animais, cálculo este que depende diretamente das relações de parentesco dos mesmos. Segundo Van Vleck, (1970) e Gedelman et al., (1986), tais erros de genealogia levam à diminuição da acurácia nas avaliações genéticas, reduzindo também o ganho genético, já que a seleção de reprodutores errados diminui o diferencial de seleção.

Erros de paternidade ocorrem em todo o Mundo, podendo chegar a níveis muito comprometedores, como os relatados em 1996 para a Rússia (30%) e para a Alemanha (23%) por Ron et al. (1996). Esses mesmos autores,  concluíram que seria de grande importância a tipagem por DNA de todas as progênies em avaliação, filhas dos reprodutores submetidos aos testes de progênie. Apesar do custo inicial do programa, dentro de poucos anos o retorno econômico seria altamente compensador.

2. Testes para verificação de parentesco

Como já mencionado, a tipagem sangüínea foi o primeiro teste disponível para a verificação de parentesco, surgindo por volta de 1938, como resultado dos trabalhos realizados pelo Dr. Irwin e seu grupo na Universidade de Wisconsin, Madison-EUA. Por muitos anos foi o único exame disponível, até que recentemente surgiram os testes de DNA como uma alternativa à tipagem sangüínea. Para que seja possível compreender bem a importância de cada tipo de teste e quando se deve optar por um ou outro método, a seguir faremos uma breve descrição de cada um deles.

2.1. Tipagem sangüínea

O teste de tipagem sangüínea propriamente dito consiste do reconhecimento dos diversos fatores sangüíneos presentes no animal através de exame sorológico, bem como das variantes protéicas, obtidas por eletroforese em gel de amido ou poliacrilamida. O material utilizado para o exame sorológico é sempre o sangue do animal, colhido em tubo à vácuo contendo anticoagulante. Para os testes bioquímicos usa-se também o sangue colhido em tubo à vácuo, só que desta vez sem anticoagulante, o que permite a separação do plasma sangüíneo. Nos exames sorológicos são lidas e interpretadas, reações de hemólise ou aglutinação das hemácias do animal em teste, quando submetidas à presença de anticorpos específicos para os diversos fatores sangüíneos. Já os testes bioquímicos analisam as principais variantes protéicas presentes nas hemácias ou no soro dos indivíduos.

É importante dizer que todos os testes de verificação de parentesco baseiam-se no PRINCÍPIO DA EXCLUSÃO GENÉTICA, segundo o qual, ao comparar-se os resultados obtidos para o indivíduo em teste nos exames sorológicos e para as variantes protéicas, com os mesmos resultados mostrados por seus supostos progenitores, pode-se EXCLUIR um falso progenitor. Segundo Bernoco et al. (1997), a acuidade do teste na exclusão é de 100 %, enquanto que a não-exclusão somente, não é aceita como prova de parentesco, já que existe a possibilidade de 2 indivíduos apresentarem o mesmo tipo sangüíneo, como é o caso de gêmeos idênticos. Assim sendo, diz-se que o progenitor apenas pode ser QUALIFICADO como tal. O mesmo princípio se aplica aos testes de DNA.

Compreendidos os princípios do teste de tipagem sangüínea cabe-nos dizer que a segurança desses testes para verificação de parentesco é de 100%, desde que sejam feitos de acordo com as recomendações da ISAG - International Society for Animal Genetics), que propõe um painel de testes com pelo menos 60 diferentes anticorpos, pertencentes a no mínimo 10 sistemas de grupos sangüíneos (Stormont, 1997 - informação verbal).

 
Um estudo feito no Brasil por Oliveira (1994), mostrou a importância da realização de testes de análise de parentesco, quando detectou por meio de tal exame, 26,72 % de erros de paternidade e 10,94 % de erros de maternidade ocorridos em um rebanho considerado de ótimo nível zootécnico, tendo como única (porém grave) fonte de erro, a condição de semi-analfabetismo do principal peão responsável pelo controle dos registros individuais. O que sem dúvida alguma compromete qualquer programa de melhoramento que envolva tais indivíduos.

2.2. Tipagem por DNA

Apesar da alta precisão do teste de tipagem sangüínea na exclusão de um falso parentesco, há casos em que algo mais é necessário, como no relato feito por Bowling et al. (1993), em que uma égua portadora de quimerismo sangüíneo era excluída como mãe de um potro pelo exame de tipagem. Após testar o DNA extraído do sangue desta fêmea com 5 microssatélites persistiu a exclusão. No entanto, ao testar-se o DNA extraído de bulbo capilar nenhuma exclusão foi observada. Assim, verificou-se que a égua era uma quimera, possuindo duas linhagens celulares distintas, sendo uma proveniente de seu irmão gêmeo (mostrada em seu sangue) e outra própria (evidenciada nos bulbos capilares).

O DNA está no núcleo de todas as células somáticas (do corpo) dos indivíduos onde forma os cromossomos. Essas estruturas existem aos pares, sendo cada membro do par transmitido ao indivíduo por um de seus progenitores em seus gametas (óvulo e espermatozóide). Cada cromossomo é então, constituído por uma longa fita de DNA, que por sua vez é formada por unidades menores chamadas de nucleotídeos (ou bases) que se apresentam em quatro formas distintas: A (Adenina), T (Timina), C (Citosina) e G (Guanina).

Ao se combinarem, tais bases podem dar origem a trechos de DNA que correspondem ao que chamamos de genes, portanto à seqüências que irão codificar ( ou dar a ordem de comando) para que o organismo expresse certas características, tais como cor da pele, dos olhos, etc. Também originam outras seqüências que se localizam entre os genes. Algumas dessas seqüências, por sua vez, apresentam repetições consecutivas de combinações das bases A, T, C ou G (de 1 a 6 nucleotídeos); chamadas de repetições em tandem, as quais podem ocorrer até 30 vezes nessas regiões do DNA.


Alguns exemplos dessas combinações são: TGTGTG, ATTATTATT, CGCG, AAT, etc. Essas seqüências repetitivas receberam o nome de microssatélites.

Uma das principais características dos microssatélites é exatamente a considerável variação observada quanto ao número de vezes que uma determinada seqüência de bases se repete. Num certo ponto de um cromossomo podemos ter, por exemplo, a seqüência TG repetida 15 vezes, enquanto que, no mesmo local do cromossomo homólogo (par correspondente) do mesmo animal, pode haver 12 cópias desta seqüência. Essa variação, chamada de polimorfismo, é o que torna cada indivíduo distinto do outro (Figura 1). Considerando que os microssatélites também são hereditários, podem então, ser utilizados em verificações de parentesco.

 
Além de sua importância na solução de casos mais complexos, como o anteriormente citado, ainda por motivos como facilidade de obtenção e transporte de amostras (no caso de bulbos capilares), possibilidade de análise de material de indivíduos já falecidos (ossos, sêmen, embriões e outros tecidos), facilidade de realização dos testes (permitindo até mesmo automatização) e comercialização dos reagentes e primers em forma de kits; a tipagem por DNA tem se expandido.

A tipagem por DNA, assim como a tipagem sangüínea, está sujeita ao rigoroso controle de qualidade feito pela ISAG, por meio dos Testes Comparativos Internacionais, organizados e coordenados por essa sociedade científica. Os resultados de cada um deles são de grande importância, permitindo a padronização mundial dos testes. Em Julho/2000 realizou-se o mais recente encontro dos membros da ISAG, sendo que durante a reunião foram apresentados e discutidos os resultados do último teste comparativo para bovinos e eqüinos (realizados em 1999), definindo-se os painéis mínimos de teste. Ou seja, decidiu-se quais microssatélites obrigatoriamente deverão ser testados, para que o exame tenha validade legal e forneça uma alta probabilidade de exclusão de falso parentesco (PE). Tanto para bovinos, quanto para eqüinos 9 microssatélites específicos têm que ser utilizados. Normalmente os painéis para bovinos são compostos por 11 microssatélites e para eqüinos por 13 a 15. Esse número de seqüências em teste tem papel fundamental na distinção de indivíduos que tenham alto grau de parentesco. Também é preciso esclarecer que tais microssatélites não são tomados ao acaso. Os escolhidos para compor os painéis de teste correspondem a seqüências altamente polimórficas na maioria das raças criadas. Usando tais microssatélites trabalha-se com probabilidades de exclusão de falso parentesco entre 98 a 99,9%.

Tais exames já estão disponíveis para várias espécies animais, estando entre elas os bovinos, eqüinos, caprinos, ovinos, caninos, felinos, bubalinos e até mesmo algumas espécies exóticas como os bisões.

Para algumas espécies, como no caso de eqüinos, já vem ocorrendo a substituição da tipagem sangüínea pela tipagem por DNA, em diversos países. O mesmo vem acontecendo com a raça bovina Holandesa, cujos principais reprodutores na Holanda, atualmente são testados somente por DNA. Portanto, é preciso que tal tecnologia esteja ao alcance dos criadores, especialmente daqueles que importam ou exportam animais, sêmen e embriões. Um grande empecilho ao emprego efetivo de testes de tipagem por DNA no Brasil, que já possui alguns laboratórios qualificados, ainda é o preço que se paga por animal testado. Podemos comparar o valor do teste de tipagem para eqüinos praticado no país, que custa em torno de R$ 35,00 Reais, com testes de paternidade por DNA, cujo preço varia entre US$ 45,00 a US$ 75,00 Dólares por indivíduo. No entanto, considerando-se a relação custo-benefício, em pouco tempo podem trazer um bom retorno financeiro sob a forma de maior produção.

3. Considerações finais

Como se pode observar, tanto a tipagem sangüínea, quanto a tipagem por DNA, em qualquer espécie animal, apresentam alto grau de precisão na exclusão de falso parentesco. O mais importante é que os exames sejam conduzidos de maneira correta, utilizando reagentes de boa qualidade, mão de obra qualificada para a execução e interpretação dos mesmos e que sigam as regras definidas pela ISAG.

Por outro lado, também é preciso que os criadores e demais profissionais envolvidos, se conscientizem de que um teste bem feito fatalmente irá detectar qualquer tentativa de fraude. A final de contas, pedigrees confiáveis se traduzem em bons resultados e maior lucratividade.

Tesxo Adaptado

Autores:
Denise Aparecida Andrade de Oliveira
Marcelo Yukio Kuabara

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