Bem Vindo ao Blog do Pêga!

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Existe muita literatura sobre cavalos, mas poucos escrevem sobre jumentos e muares. Este é um espaço para postar artigos, informações e fotos sobre esses fantásticos animais. Estamos sempre a procura de novo material, ajude a transformar este blog na maior enciclopédia de jumentos e muares da história! Caso alguém queira colaborar com histórias, artigos, fotos, informações, etc ... entre em contato conosco: fazendasnoca@uol.com.br

sexta-feira, 6 de maio de 2011

ENTREVISTA: MITOS E VERDADES NA NUTRIÇÃO DE CAVALOS

 

Linha fina: Alfafa é o melhor feno para cavalos? E aveia é melhor do que ração comercial? Estas e muitas outras dúvidas são comuns entre proprietários e criadores de cavalos. Conversamos com o médico veterinário André Cintra, um dos maiores especialistas brasileiros em nutrição de eqüinos, sobre este e outros temas.

     HORSE BUSINESS: Qual o melhor capim para quem esteja querendo formar pastagens ou capineiras?

     ANDRÉ: O melhor capim para cavalos em termos de manejo (depois de formado) e nutrientes é o tífton. Existem outras variações de bermudas, como jiggs, flora-kirk, etc, mas o princípio é o mesmo, pois são todos parentes, inclusive o coast-cross.

      Na verdade o melhor será aquele que se adaptar melhor à sua região. Deve-se levar em conta condições climáticas, geográficas, qualidade de solo, pisoteamento, etc.

      O tanzânia, assim como qualquer capim que se prolifera por sementes, tem a facilidade de plantio, porém tem o inconveniente de ter um ciclo pré-definido. Após a florescência, com liberação de sementes, diminui-se sua qualidade nutricional, por encerrar um ciclo. Além disso, os capins do tipo "elefante", (Panicum sp, como napier, colonião, tanzânia, etc.) têm o inconveniente de entoucerar, e devido ao grande comprimento de suas folhas, poucas plantas nascem ao redor da planta principal. O que parece se ganhar em massa verde pelo tamanho das folhas, perde-se pela quantidade de espaço não coberto pela plantação.

      Os capins plantados através de mudas, ao contrário, não têm ciclo fechado, crescendo indefinidamente até morrerem se não colhidos ou "comidos" pelos animais. Têm o inconveniente da forma de plantio, porém cobrem muito melhor o terreno produzindo tanta massa quanto outros capins mais altos. Além disso, seu valor nutricional é superior, e possuem ainda a conveniência de poderem ser utilizados para feno se não pastejados.

      Recomendo a divisão desta área em 3 ou 4 partes para melhor otimizar seu aproveitamento e rotacionar o uso, ficando cada piquete em uso por 7-10 dias e descansando por 20 dias, ao menos (o ideal de descanso é 32-36 dias, que é o ciclo completo do capim em seu valor nutricional máximo). Além disso, dividindo-se os piquetes, se estiver sobrando capim em um piquete em uso, e o outro estiver em ponto de corte, pode-se fazer feno e armazaná-lo para o inverno, ou mesmo vendê-lo e obter uma fonte de renda interessante.

      Lembre-se apenas de que pasto é cultura, como qualquer outra plantação. Deve-se avaliar o valor nutritivo da terra e do capim anualmente para se verificar a necessidade de suplementar a terra para se obter um alimento de alto valor biológico.

     HORSE BUSINESS: Algumas pessoas falam que é preciso haver intervalo de tempo entre o fornecimento de volumoso e de concentrado aos cavalos. Qual a sua opinião a respeito?

     ANDRÉ: Pode haver vantagem em evitar oferecer o feno logo após a ração. Isto acontece porque a digestão do feno, essencialmente bacteriana, ocorre no ceco do cavalo, isto é, nas porções finais do aparelho digestivo; enquanto que o processo digestivo da ração é essencilamente enzimático, iniciando-se no estômago e finalizando no intestino delgado.

      O volumoso oferecido logo após a ração "empurra" a mesma para o ceco, onde ela sofrerá digestão microbiana, com perda de qualidade na absorção de seus nutrientes,por falta de enzimas. O tempo de espera (01 h/kg de ração) é suficiente para otimizar muito a absorção dos nutrientes da ração.

     Por outro lado, há quem diga que o ideal é disponibilizar o volumoso ao cavalo sempre que ele quiser, da mesma forma que ele ingere na natureza. Porém, neste caso o cavalo não está confinado numa baia de 3 por 4 m. Nesta condição, o tédio o leva a "inventar" coisas para fazer, com alguns animais espalhando o alimento pela baia com muito desperdício. Por isso recomendo dividir o feno em 3 a 4 refeições ao dia, nas quantidades adequadas às necessidades de cada animal, que podem variar conforme o peso e atividade, entre outros.

     HORSE BUSINESS: Sempre ouvimos que o melhor alimento para cavalos é a alfafa, e há quem a utilize como única fonte de volumoso. Um argumento é que os cavalos adoram comer alfafa. O que você tem a dizer sobre isso?

     ANDRÉ: A alimentação do cavalo atleta é baseada no fornecimento de ENERGIA e não de PROTEÍNA. A alfafa por excelência, é um alimento protéico. Claro que todo alimento fornece energia e proteína, entretanto, conceitualmente, aquele nutriente que é preponderante no alimento, determina a característica dele (protéica, energética, mineral ou vitamínica).

      A alimentação de um cavalo atleta jamais deve ultrapassar 14% da proteína na Dieta Total, ou seja, tudo aquilo que o animal ingere no período de 24 hs, sendo ideal ficar ao redor de 12%.

      A alfafa tem uma média de 17-18% e até mais de proteína. Como o volumoso não deve ser inferior a 60% da dieta total do cavalo, como volumoso único a alfafa fornece cerca de 1430 g de proteína (8 kg de alfafa 17% ao dia), sendo as necessidades do cavalo atleta de 500 kg em trabalho médio (salto, por ex) de 984 g, portanto somente a alfafa está com um excedente de 444 g (ou 45%), com possibilidades de complicação. Isso sem contar a proteína que a ração fornece. Se for uma ração com 12% de proteína, sendo oferecido 6 kg ao dia, ofertamos + 720 g de proteína, totalizando 2.150 g de oferta, contra 989 g de necessidade - dá um excesso de 117%, quando o tolerado é de 30% além das necessidades do animal.

      A utilização de fenos de gramíneas, com teores de proteína de cerca de 9 a 11%, além de muito mais BARATA, é muito mais SAUDÁVEL para o animal. Se por acaso a dieta que você está utilizando não está de acordo com as necessidades do animal, deve ser revista, mas não utilizando-se alfafa. Esta é um ótimo alimento para éguas em reprodução e potros em crescimento, e ainda assim deve ser fornecida com restrições, e não à vontade.

      Jamais fiz uma dieta onde precisasse utilizar mais de 5 kg de ração para um animal. Fiz dietas para cavalos de CCE no preparo para a Olimpíada de Sydney, para cavalos de Enduro no Mundial da França, para cavalos olímpicos de salto, e em nenhum destes casos foi necessário utilizar alfafa ou mais de 5 kg de ração.

      O que se pode e deve fazer é utilizar uma ração mais energética. Se isso não for suficiente (cavalos em trabalho muito intenso), utiliza-se suplementos energéticos nas doses individuais necessárias para suprir as necessidades ENERGÉTICAS do animal.

      Não se preocupe com as necessidades protéicas. Se utilizar matéria prima nobre, as necessidades protéicas de seu animal serão plenamente satisfeitas. Existe uma cultura maléfica no meio eqüestre (herdada dos animais de corrida) onde pensa-se que quanto mais proteína oferecida ao animal, melhor será o seu desempenho.

      Quanto à preferência por alfafa, meus filhos adoram balas e sorvetes, e não é por isso que os deixo comer estes “alimentos” à vontade.

     por isso deixo-os "ad libitum" com estes "alimentos".

      Quanto a saber o quanto oferecer de alfafa, como agrado para os animais,deve-se procurar balancear com o restante da dieta para não desequilibrar a mesma.

     Recomendações nutricionais para diversas categorias animais

     HORSE BUSINESS: Como deve ser alimentado um potro entre a desmama e a idade de doma? Parece que esta é uma idade onde os animais são deixados muito ao léu, quando é uma fase tão importante em termos de crescimento e desenvolvimento ponderal...

     ANDRÉ : Para o potro dos 6 aos 18 meses o mais indicado é uma complementação com ração de boa qualidade de 17 a 18% de proteína. A base do volumoso deve ser gramínea (feno ou pasto, ou mesmo capim picado) e pode ser complementada com 1 a 2 kg de alfafa diários.

     A quantidade de ração deve ser na base de 0,7 a 1,0 kg por 100 kg de potro, dependendo é claro, da qualidade desta ração e da qualidade e disponibilidade do volumoso. Pode ainda ter uma suplementação com vitamínico mineral de qualidade.

     As variações de quantidades dependem de algumas variações individuais do animal, que deve ser constantemente acompanhado para ver se suas necessidades estão sendo supridas na quantidade certa. Deficiências levam a um baixo rendimento (reprodutivo ou de desenvolvimento). Excessos levam a problemas reprodutivos, como dificuldade no parto e nascimento de um potro frágil e a problemas no crescimento e desenvolvimento, como as Doenças Ortopédicas Desenvolvimentares.

     A partir dos 18 meses a ração já deve passar para 15% de proteína até os 36 meses, quando será definida a função do animal e oferecida a ração adequada a esta função.

     Claro, além disso nunca pode faltar sal mineral específico para eqüinos e água fresca e limpa à vontade. Outros suplementos devem ser avaliados conforme as necessidades individuais de cada animal. Estas recomendações valem para todas as categorias de eqüinos.

     HORSE BUSINESS: E quanto às reprodutoras? Vemos por aí éguas ganhando muita comida no início da gestação, parindo gordas e depois perdendo muito peso durante a lactação... Quais as suas recomendações?

     ANDRÉ: Éguas no último trimestre de gestação devem receber 1,5 a 2,0% de seu peso vivo (em Matéria seca) por dia, dividido em no máximo 40% de concentrado com 15% de proteína bruta e 3 a 4 % de extrato etéreo, mais, no mínimo, 60% de volumoso de boa qualidade com cerca de 8 a 11% de PB (preferencialmente gramínea).

     Para as éguas em lactação, vale: 1,8 a 2,9% do peso vivo (em Matéria seca) por dia, dividido em, no máximo, 50% de concentrado com 15% de proteína bruta e 3 a 4 % de extrato etéreo, mais, no mínimo, 50% de volumoso de boa qualidade com cerca de 8 a 11% de PB (preferencialmente gramínea).

     HORSE BUSINESS: Quando dar aveia ao cavalo?

     ANDRÉ: De minha parte, quase nunca. Somente quando a dieta assim o exigir. A resposta ficou vaga, mas é para dar idéia de quão vaga é a alimentação praticada por aí. Em suma, se você utilizar volumoso de boa qualidade, sal mineral específico, água fresca e limpa, complementar com uma ração balanceada e equilibrada de boa qualidade e específica para o animal e sua atividade, o máximo que você pode precisar é de um suplemento, que pode ser desde vitamínico mineral a aminoácidos, ou ainda energético.

      A aveia não deve ser utilizada como suplemento energético para não incorrermos nos problemas do excesso de amido. Quer aumentar a energia da dieta de seu cavalo? Primeiramente verifique se você já está utilizando uma ração adequada (alta energia), em seguida, se realmente for necessário, pode-se utilizar um suplemento energético extrusado ou mesmo peletizado, ou ainda óleo vegetal, ou mesmo a farinha de linhaça. Porém verifique sempre a real necessidade de seu animal. Faça este aumento gradativo e pense na dieta como um todo. Sempre falo a meus alunos que se deve ter um pensamento espacial, não para viver no mundo da lua, mas para pensar em todos os nutrientes de uma dieta, pois ao se mexer no nível de um nutriente, deve-se verificar a necessidade de aumentar algum outro (p. ex, vitamina é fundamental para absorção de energia, e assim por diante).

Autor: André Cintra

Fonte: Cavalo Criolo Website

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