Bem Vindo ao Blog do Pêga!

Bem Vindo ao Blog do Pêga!

O propósito do Blog do Pêga é desenvolver e promover a raça, encorajando a sociedade entre os criadores e admiradores por meio de circulação de informações úteis.

Existe muita literatura sobre cavalos, mas poucos escrevem sobre jumentos e muares. Este é um espaço para postar artigos, informações e fotos sobre esses fantásticos animais. Estamos sempre a procura de novo material, ajude a transformar este blog na maior enciclopédia de jumentos e muares da história! Caso alguém queira colaborar com histórias, artigos, fotos, informações, etc ... entre em contato conosco: fazendasnoca@uol.com.br

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Cuidados com as feridas e lesões em cavalos

 

Ao se perceberem ferimentos nos cavalos, as primeiras providências podem ser fundamentais para a cura e cicatrização, prevenindo-se maiores danos. É importante solicitar, de pronto, a presença de um profissional veterinário.

Enquanto se aguarda sua chegada, deve-se tomar a atitude de acalmar e conter o animal, procurando minimizar-lhe o sofrimento, levando-o a um local que lhe seja mais familiar. Oferecer-lhe o feno pode lhe trazer distração, e, consequentemente, deixá-lo mais tranquilo, até que se possa avaliar a profundidade e a gravidade de seus ferimentos.

Sangramento excessivo; ferimentos que ultrapassem toda a espessura da pele; feridas próximas às articulações; perfurações; feridas severamente contaminadas (prego enferrujado, por exemplo) são as situações que mais necessitam da presença de um médico veterinário.

Hemorragias incontroláveis podem ser desencadeadas por uma atitude inadequada do cuidador, como, por exemplo, a tentativa de se retirar objetos cortantes ou perfurantes que possam ter provocado o ferimento. Deve-se usar, apenas, uma compressa fria. Um pano estéril pode estancar o sangue; não se deve usar algodão. Todo cuidado é pouco ao se retirar, por exemplo, objetos cortantes do casco, pois o ferimento pode se tornar mais profundo.

Somente o veterinário terá condições de avaliar melhor e tomar as devidas providências, através de medicação específica, pois a vida do animal pode ser colocada em risco. Em todos os casos de lesões por ferimentos, por lacerações ou perfurações, deve-se vacinar o animal contra o tétano.

Traumas, fraturas, paralisias, picadas de cobras (acidentes ofídicos) e cólicas são emergências que exigem do tratador muita calma.

Se ocorrer a síndrome da cólica, o simples caminhar já contribui para que se agrave a dor, e o galopar é ainda mais prejudicial, porque acelera a frequência cardíaca, gerando prejuízos maiores ao estado do animal.

Em situações de campo, é importante encontrar locais adequados à manutenção do cavalo em decúbito, em local limpo e macio. Um gramado à sombra pode ser uma opção acessível.

Quando está em decúbito lateral, o cavalo sofre dificuldade na oxigenação sanguínea, pois o pulmão que está para baixo recebe mais sangue (hiperperfusão) e menos ar (hipoventilação), o contrário acontecendo com o pulmão que está para cima, com menos sangue (hipoperfusão) e mais ar (hiperventilação). Em poucas palavras, sobra ar onde tem menos sangue para hematose.

Outra alteração do cavalo em decúbito lateral prolongado é o excesso de peso sobre regiões específicas que podem levar a lesões musculares ou de nervos periféricos. Estas lesões podem causar dificuldade no retorno anestésico e transtornos pós-anestésicos.

Os dois fatores citados são limitantes para o tempo que o cavalo permanecerá deitado.

Deve-se atentar para os cuidados com o cavalo em decúbito lateral sob anestesia geral: proteger a cabeça sobre material macio, evitar traumatismo no globo ocular, evitar aspiração de poeira, tracionar cranialmente o membro torácico que estiver por baixo, para reduzir a pressão pelo peso. Assim ,os riscos de acidentes durante o procedimento são bem menores.

Fonte: CPT Cursos Presenciais

domingo, 27 de outubro de 2013

A doma e sua importância

 

Muito das conquistas da humanidade se deve à ligação do homem com o cavalo. O homem percebeu, há milhares de anos, que poderia se utilizar desse animal como meio de transporte ou como força bruta, no auxílio aos trabalhos mais pesados, na agricultura, principalmente.

Desde estes longínquos tempos, o homem tem a necessidade de domar este vigoroso animal que vivia livre, até então, em algumas regiões do mundo.

Cultural e historicamente, a doma sempre foi um processo de dominação e submissão do animal às vontades do homem, sendo uma atividade, muitas vezes, cruel para o animal, que sofria muitas e dolorosas punições.

Nos dias de hoje, apesar de ainda se empregar esse processo de doma tradicional, o que mais se usa é o método de doma racional, ou doma moderna que consiste em ganhar a confiança do animal, ao invés de dominá-lo pelo terror. É um longo e proveitoso processo de dominação do animal, despertando sua confiança. Desde pequeno, o cavalo aprende a não temer o domador, criando um forte vínculo com o seu dono ou com quem o conduz.

Ao se realizar a doma, o treinador deve explorar o potencial de inteligência do cavalo. Corajoso e altivo, às vezes, se apresenta muito assustado. Por isso, há que se cuidar para que o animal não sofra grandes sustos, o que colocaria em risco a confiança dele em seu domador.

Sem o uso da força, utilizam-se exercícios de repetição, condicionando-se o cavalo de maneira suave, tornando-o tolerante à monta. Os resultados são muito satisfatórios, além de se evitarem os traumas causados pela doma tradicional. Exige, entretanto, muita paciência. Há casos em que se mesclam as duas espécies de doma, embora não seja a atitude mais recomendada.

O principal objetivo da doma é fazer com que o cavalo aceite normalmente o contato e os comandos do homem, além de se habituar aos arreios, sela e rédeas. É de vital importância que, através da doma, o cavalo aprenda a reagir aos comandos de voz que o cavaleiro faz, como as ordens de partir, parar ou acelerar.

Deve-se lembrar sempre que se trata de um “jogo” e, como tal, oferecem-se recompensas ao animal que está sendo ensinado. Esse estímulo vai fazer com que o cavalo obedeça melhor aos comandos do seu domador. Não se recomenda a punição em caso de erros.

Fonte: Rural News

Adaptação: Escola do Cavalo

domingo, 20 de outubro de 2013

Você Sabia…

 

Que o passo da marcha, que é quando as patas traseiras ultrapassam a pegada das patas dianteiras, não judia tanto do muladeiro / tropeiro como os socos do trote ou do galope de um animal. É claro que os muares têm resistência muito superior aos eqüinos, podendo facilmente fazer 60 quilômetros em um dia.

Que o Trote. É quando o animal fica suspenso no ar, com isso o muladeiro / tropeiro pula muito.

Que os carros possuem 100 anos, os muares, mais de 500.

Que a música Disparada  de Jair Rodrigues, apresentada no festival de musica em 1966, apresentou uma novidade? A banda que o acompanhava, usou uma queixada de burro como instrumento de percussão.

Que nos Estados Unidos (U.S.A) já existem criadores de muares realizando treinando com estes animais para o hipismo.

Que no Estado do Arizona (USA), é crime molestar / judiar um muar, o individuo que assim o fizer será detido.

Que se voce procura por Mula pode estar à procura de:

  • Mula - um animal equídeo;
  • Mula - um município ou rio da região de Múrcia, na Espanha
  • Mula - carregador de droga usado pelos traficantes.

sábado, 19 de outubro de 2013

Diarreia em equinos – como tratar

 

As diarreias são muito comuns, nos equinos, principalmente nos neonatos. A rápida intervenção do médico veterinário é de suma importância para que o animal se recupere num curto período de tempo.

Para isso, é necessário que o profissional faça logo o diagnóstico, atacando o agente causal, introduzindo o tratamento adequado, em função da fragilidade do cavalo, nos primeiros dias de vida.

Em casos de diarreias, a perda de líquido é o principal ponto de preocupação. A taxa metabólica dos potros novos é extremamente elevada em situações normais. Quando acometidos por qualquer patologia, esta taxa eleva-se muito além do seu normal que já é alto e este é mais um dos cuidados que se deve ter em relação aos neonatos, pois, o potro pode chegar a um grau extremo de debilidade, capaz de levá-lo à morte.

Existem diferentes tipos de diarreias que podem acometer o cavalo, assim como há diferentes agentes causadores.

A diarreia do cio do potro é uma patologia que afeta quase todos os potros entre 7 e 14 dias. Coincide com o primeiro estro pós parto apresentado pela égua.

A formação da flora intestinal e trocas fisiológicas no TGI parecem ser as causas mais prováveis, nesse caso.

Esse é o período em que o intestino grosso está se adaptando à absorção dos ácidos graxos voláteis, pois a função digestiva está muito boa, produzindo-os com sua total capacidade, ultrapassando assim o poder absortivo do intestino e, por isso, o animal apresenta diarreia, porque os ácidos são osmoticamente ativos, levando a um maior aporte de água para o lúmen .

Na sintomatologia, o quadro geral fica inalterado, e a diarreia apresenta-se branda, o potro continua mamando. Seu único desconforto se dá pela presença de fezes no períneo e na cauda.

Geralmente, esse tipo de diarreia se resolve em poucos dias. O tratamento se baseia em retirar o desconforto do animal, lavando-se a cauda e o períneo com água morna adicionada de bactericidas para que se evite a disseminação de patógenos que por ventura existam no local.

Caso a doença persista por mais de quatro dias, é indicado o uso de protetores de mucosa para evitar uma injúria maior do trato gastrointestinal, além de produtos que melhorem o PH intestinal, a fim de repor a flora e fauna perdidas, e, se a diarreia se cronificar, indica-se a transfaunação.

Por: Dr. Fábio Mendes Prates – Médico Veterinário

Fonte: Cavalo Completo

Adaptação: Escola do cavalo

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A preparação física do cavalo

Mário Alino Barduni Borges

PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Para que possamos atingir os objetivos propostos ao iniciarmos um programa de preparação física, devemos ter em mente que toda elaboração necessita prioritariamente seguir determinados princípios científicos e que portanto não existe nenhuma “receita mágica” que atenda a todos os animais. Parâmetros e normas devem ser observados de acordo com o que preconizam os estudos realizados na área do Treinamento Desportivo e da Fisiologia do Exercício, que visam através do treinamento produzir certos fenômenos de adaptação ao interior do organismo e induzir a uma melhoria nos sistemas constituintes do animal, tais como cardiovascular, respiratório, etc.

Partindo-se desta premissa, faz-se necessário conhecermos estes princípios científicos que serão os norteadores de todo o processo da preparação física, a saber:

Princípio da Individualidade Biológica: Todo “indivíduo” é resultado da interação genotípica e fenotípica. Essa interação produz respostas diferenciadas, determinando a individualidade biológica e garantindo a  produção de animais totalmente diferentes entre si.

Para o estudo específico deste princípio, devemos entender o Genótipo como a carga genética transmitida ao animal e que determinará fatores tais como: composição corporal, biótipo, altura máxima esperada, força máxima possível, aptidões físicas como consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.), percentual de tipos de fibras musculares, etc.

O Fenótipo, como sendo tudo o que é acrescido ou somado ao animal a partir do nascimento, sendo responsável por outras características: habilidades adquiridas, VO2 máx. apresentado, percentual observável real dos tipos de fibras musculares, potencialidades expressas (altura, força, etc.).

Além desses caracteres individuais, algumas características coletivas influenciam a formação da individualidade, assim sendo, a raça, a idade e o sexo também devem ser levados em conta.

Para facilitar a compreensão do assunto, pode-se dizer que os potenciais são determinados geneticamente, e que as capacidades e ou habilidades expressas são decorrentes do fenótipo.

Princípio da Adaptação: Para que se entenda este princípio, precisamos compreender o conceito de homeostase:

“Homeostase é o estado de equilíbrio instável mantido entre os sistemas constituintes do organismo vivo, e o existente entre este e o meio ambiente”.

A homeostase pode ser rompida por fatores internos, geralmente oriundos do córtex cerebral (ansiedade, angústia, fatores estressantes, etc.) ou externos (calor, frio, altitude, umidade relativa do ar, traumatismos, esforço físico, etc.), e sempre que ela for perturbada, o organismo dispara mecanismos compensatórios que procuram restabelecer este equilíbrio.

Desta forma, mediante a ação de um determinado estímulo, a resposta será diretamente proporcional à sua intensidade, conforme ilustra o quadro abaixo:

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Os estímulos de intensidade forte e muito forte são denominados de stresses, e são os capazes de provocar adaptações ou danos no organismo desencadeando uma Síndrome de Adaptação Geral (SAG). Durante o treinamento o animal é submetido a três tipos de stresses: físicos, bioquímicos e mentais e estes, associados ao princípio da adaptação, é que permitiram a existência do treinamento desportivo.          

Princípio da Sobrecarga: Imediatamente após a aplicação de uma carga de trabalho, há uma recuperação do organismo, visando a restabelecer a homeostase. Um treinamento de alta intensidade provocará a depleção das reservas energéticas orgânicas e o acúmulo de ácido lático e outros exsudatos metabólicos (CO2 , H2O e H+). O tempo necessário para a recuperação será proporcional à intensidade do trabalho realizado, portanto, a dosagem das cargas deverá ser programada de forma que o organismo consiga compensá-la e se preparar para sofrer um novo “desgaste” mais forte que o anterior.

Se a carga for muito forte, ter-se-á o início da exaustão, não sendo possível a recuperação metabólica em um espaço de tempo normal; caso não haja a aplicação de cargas de intensidade crescentes, ou seja, se as cargas forem sempre da mesma intensidade, o organismo tende a assimilar a carga aplicada, havendo uma discreta regressão na capacidade física, se esta for comparada com o nível alcançado logo no início do trabalho.

Princípio da Interdependência Volume / Intensidade: O aumento das cargas de trabalho é uma necessidade para que se obtenha uma melhora no desempenho. Este aumento pode se dar no volume (trabalho moderado / longa duração) ou na intensidade (trabalho intenso / curta duração). Na prática, a sobrecarga sobre o volume ou a intensidade se faz das seguintes formas:

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A escolha da incidência de sobrecarga na intensidade ou no volume, respeitará dois critérios: a qualidade física visada e o período de treinamento.

Qualidades físicas de utilização por curto espaço de tempo (velocidade, resistência anaeróbica, força, etc.) requerem durante o treinamento uma grande ênfase sobre a intensidade em detrimento ao volume; o fenômeno inverso ocorre com as qualidades físicas de emprego prolongado (resistência aeróbica, resistência muscular localizada, flexibilidade, etc.).

Com relação ao período de treinamento, antes de analisarmos esta interdependência, faz-se necessário conhecermos as características especificas de cada um:

1 - Período Preparatório: Período do treinamento em que o animal será elevado à condição competitiva para a temporada em questão. Visa a incrementar o nível de eficiência física, técnica e psicológica para permitir a realização de performances máximas nas competições programadas. Dividi-se em duas fases: básica e específica.

1.1 - Fase Básica: Fase do treinamento em que o esforço primordial será o de criação de uma boa base física, técnica e psicológica do animal. Serão trabalhadas as qualidades físicas ligadas a modalidade em treinamento, complementada a formação corporal e aumentado o lastro fisiológico do animal.

1.2 - Fase Específica: Fase do treinamento em que será feita uma transferência das qualidades físicas, técnicas e psicológicas adquiridas para as necessidades específicas da modalidade em treinamento.

2 - Período de Competição: Período do treinamento no qual o animal, atingindo o peak de seu treinamento, realiza na competição-alvo a sua performance máxima.

3 - Período de Transição: Período do treinamento que se destina a proporcionar ao animal uma recuperação física e mental após os extremos esforços a que se submeteu nas competições que ocorreram no período anterior.

Agora podemos esclarecer que durante a fase básica do período preparatório o volume de treinamento tem uma grande preponderância sobre a intensidade e ao se iniciar a fase especifica a intensidade adquire preponderância sobre o volume. Esta preponderância se acentua durante o período de competição e se inverte no período de transição entre uma temporada e outra.

Princípio da Continuidade: Foi visto anteriormente que o treinamento desportivo baseia-se na aplicação de cargas crescentes que vão sendo progressivamente assimiladas pelo organismo, graças ao princípio da adaptação, e que portanto necessita de uma determinada continuidade para que possa vir a surtir os efeitos desejados. Dois aspectos ressaltam desse princípio: a interrupção do treinamento e a duração do período de treinamento.

A interrupção controlada do treinamento para fins de recuperação é benéfica e imprescindível para o sucesso do programa. Segundo DANTAS (1998), ela pode variar de poucos minutos até 48 horas, após as quais já haverá uma diminuta perda no estado físico, se não houver um novo estímulo. Pausas maiores que 48 horas só serão recomendadas face ao surgimento de um quadro de sobretreinamento, cujos principais sintomas são: aumento da freqüência cardíaca basal, diarréia, inapetência, irritabilidade, perda de peso, lesões musculares constantes, etc.

Com relação a duração mínima  do treinamento, para se obter os primeiros resultados no desenvolvimento das qualidades físicas visadas, é necessário um mínimo de persistência nos exercícios, com o intuito de propiciar uma duração que permita ocorrer as alterações fisiológicas necessárias. No treinamento de qualidades físicas específicas, a duração mínima do período de treinamento irá variar em função da qualidade desejada e principalmente da individualidade do animal em assimilar a carga de trabalho aplicada.

Para um melhor entendimento, apresentamos a seguir algumas qualidades físicas em ordem crescente de duração do treinamento em relação aos resultados obtidos: força explosiva, resistência anaeróbica, resistência muscular localizada, resistência aeróbica e flexibilidade.

Princípio da Especificidade: É aquele que impõe que o treinamento deve ser montado sobre os requisitos específicos da modalidade praticada, em termos de qualidade física interveniente, sistema energético preponderante, segmento corporal e coordenações psicomotoras utilizadas. Dessa forma, este princípio irá impor que o treinador, ciente do tempo de duração daperformance e de sua intensidade, determine com precisão a via energética preponderante e a conseqüente qualidade física utilizada, conforme demonstra o quadro abaixo:

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OBSERVAÇÃO: O princípio da especificidade preconiza que além de treinar os sistemas músculo-esquelético e o cárdio-respiratório dentro dos parâmetros da prova que se irá realizar, fazê-los com o mesmo tipo de atividade da mesma.

Sob o ponto de vista dos aspectos neuro-musculares, dois componentes devem ser observados: O tipo de fibra muscular adequado à performance e o padrão de recrutamento das unidades motoras para a realização dos movimentos pretendidos. Durante o treinamento, deve-se solicitar os mesmos grupos musculares que serão executados na performance, bem como estimular o máximo possível os padrões de movimento necessários durante a realização da competição.

Sabendo-se deste fator, o treinador deve ter em mente que o treinamento, principalmente próximo à competição, deve ser estritamente específico, e que a realização de atividades diferentes das executadas durante a performance com a finalidade de preparação física, só se justifica se for elaborada com o intuito de se evitar a “saturação” tanto física quanto psicológica do animal.

* O autor é professor de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa, Árbitro de Marcha, Proprietário, Treinador e Instrutor de Equitação do CENTREQUE - Centro de Treinamento Eqüestre da Chácara Santa Rita, localizado na cidade de Viçosa / MG.

Equipe - Empório do Criador

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Qual a qualidade da água que seus animais estão ingerindo?

 

A água é imprescindível para manter sua criação saudável

O ser humano consegue ficar 2 meses sem se alimentar, mas sem água não sobreviveria por uma semana. Essa constatação prova a necessidade que temos de ingerir esse alimento tão benéfico, e que regula vários processos no nosso organismo. Se para o homem é assim, não seria muito diferente para os animais; o gado, as aves, até os animais de estimação necessitam tanto quanto nós de se abastecer diariamente de água. Tal água deve ser de boa qualidade, sem impurezas, auxiliando na saúde do animal.

Várias doenças podem ocorrer devido à má qualidade da água que é servida aos animais. Doenças parasitárias, bacterianas ou fúngicas podem estar relacionadas à água dispostas nos bebedouros dos animais.

A purificação da água deve ser feita com desinfetantes próprios, os quais auxiliam na descontaminação, caso ela esteja sendo parasitada por algum microrganismo. Manter a água em reservatórios, após tratamentos eficazes, auxilia na manutenção da qualidade da mesma. Entretanto, algumas fazendas não possuem tal procedimento, permitindo aos animais consumirem água somente de riachos e lagos. Locais assim devem ser monitorados no intuito de verificar se existe alguma contaminação. Em caso negativo, os animais podem utilizar aquela água.

Além da necessidade de verificação da qualidade da água, deve-se sempre ter o controle do consumo de água. Se o animal ingerir mais líquido que o normal pode estar em um caso clínico de desidratação devido à temperatura ambiental, ou a ração poderá estar com mais sal que o necessário.

Por: Raquel Torres C. Bressan

Fonte: AFE

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Interligando a Colônia A ação dos tropeiros no Brasil dos Séculos XVIII e XIX

 

INTRODUÇÃO

Este trabalho teve como base uma monografia que realizei no Segundo Semestre de 1999 para o curso de História do Brasil Colonial II, tendo como professor o incrível István Jancsó.

A fundamentação teórica se deu com base em livros clássicos com base fundamental no estudo econômico da história, como os de Mafalda P. Zemella (O abastecimento da Capitania das Minas Gerais no século XVIII), Caio Prado Júnior (Formação do Brasil Contemoporâneo (colônia) e História econômica do Brasil) e Celso Furtado (Formação econômica do Brasil). Outros autores que usei como base foram Bóris Fausto, Sérgio Buarque de Holanda e o controverso Ellis Júnior.

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Minha intenção foi a de estudar as relações econômicas dentro do Brasil colonial a partir do caso específico da ação dos tropeiros. Tais homens foram responsáveis pela formação de um grande movimento de comércio que acabou interligando diferentes e longínquas áreas da colônia.

Sua ação teve como base a comercialização de bens importados da Europa, além do comércio de mulas provenientes das grandes fazendas produtoras no Rio Grande do Sul. O destino dos produtos era o exigente mercado consumidor das Minas Gerais, aquecido pelas descobertas das jazidas auríferas e diamantinas.

Praticamente não havendo produção de tais mercadorias na área mineradora, cresceu a força e a importância dos tropeiros, que passaram a abastecer a região tanto de produtos de necessidade básica para a alimentação quanto para o trabalho assim como de produtos de luxo procurados pelos novos ricos no auge da febre mineradora.

É esta a relação que pretendo estudar: Como a ação dos tropeiros, no século XVIII - em decorrência do comércio de mulas a partir do Rio Grande do Sul, com os mercados em São Paulo e o destino final nas Minas Gerais - acabou resultando finalmente na unificação dos diversos núcleos coloniais portugueses e possibilitou assim a criação de um conjunto colonial que passaria depois a ser o Brasil.

A busca pelo ouro

Desde o início da colonização portuguesa na América, o governo sempre esteve preocupado com o descobrimento de minas de metais preciosos, já que as possessões espanholas no mesmo continente assim que foram conquistadas passaram a fornecer tais metais à metrópole.

Esta busca não foi fácil. Somente depois das chamadas "entradas" e "bandeiras", dois séculos, foram descobertas as primeiras grandes jazidas de ouro na América portuguesa.

Entrando continente adentro, buscavam principalmente índios que eram absorvidos pelo crescente mercado consumidor. Porém, havia também sempre o interesse do encontro de metais e pedras preciosas. Assim, em 1696, finalmente são localizadas as primeiras jazidas consideráveis de ouro na América portuguesa.

A notícia se espalhou pela colônia e pelo Reino e grandes ondas migratórias surgiram desde Portugal, das ilhas atlânticas, de outras partes da colônia e de países estrangeiros.

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Neste período, de 1700 a 1760, calcula-se que por volta de 700.000 pessoas tenham imigrado para o Brasil tendo como destino as Minas Gerais, fora os incalculáveis escravos africanos.

Tais dados, se considerados proporcionalmente com a população do Reino, e mesmo colonial, são de grande vulto visto que a população total do Reino não passava dos dois milhões de habitantes.

No início, o governo português viu com bons olhos a imigração para a zona mineradora, visto que havia um excedente populacional em determinada áreas - como as ilhas atlânticas - e desejava-se o quanto antes o crescimento da mineração.

Logo se observou que não era necessário o estímulo e sim que se freasse o fluxo populacional já que este estava gerando o abandono dos campos em Portugal e na colônia, assim como o crescimento estrondoso do processo inflacionário devido à grande busca por produtos de primeira necessidade por parte dos mineradores com grande quantidade de dinheiro em mãos.

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Problemas no inicio do processo minerador

Assim que as primeiras minas começaram a funcionar, a população passou por grandes momentos de necessidades. Segundo Zemella: "Não é fácil abastecer centros populacionais nascidos quase da noite para o dia. Havia gente demais para ser alimentada, vestida, calçada e abrigada. O abastecimento das minas tornou-se um problema que por vezes se apresentou quase insolúvel, sobrevindo crises agudíssimas de fome, decorrentes da total carência de gêneros mais indispensáveis à vida" (ZEMELLA. 1990:191).

Estas crises de fome afligiram a zona mineradora por longos períodos, quando se chegou inclusive a interromper os trabalhos extrativistas para a produção de gêneros alimentares. Tais crises de fome, foram muito fortes no anos de 1697-1698, 1700-1701 e em 1713.

Podemos perceber que as primeiras crises aconteceram quando os núcleos urbanos e as rotas para as Minas Gerais ainda eram extremamente precários. Já a crise do ano de 1713 mostra que a situação continuou a mesma por muito tempo, devido inclusive à omissão e ganância da Coroa que em diversos momentos prejudicou drasticamente a população para defender determinados monopólios lucrativos como o do sal, por exemplo.

Porém, as crises de fome não foram de todo ruim e inúteis, afinal com a dispersão dos mineradores, muitas novas jazidas foram descobertas, ao mesmo tempo em que começou a ser implantada na região uma pequena pecuária, principalmente de suínos nos quintais das casas - mesmo as da vilas.

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Outro grande problema que surgiu em toda a colônia, mas principalmente na capitania de São Paulo foi o relativo ao despovoamento de grandes áreas devido às migrações internas para a região das Minas. Assim, regiões como as de Taubaté, Guaratinguetá e Itú foram fortemente abaladas devido ao descobrimento das minas auríferas.

Mesmo o Nordeste, tradicional centro econômico da colônia, sofreu profundas alterações devido às minas. Os Senhores de Engenho, abatidos com a crise da cana de açúcar e interessados em grandes lucros, passaram a vender grande parte de sua mão de obra escrava para a próspera região das Minas, despovoando assim os canaviais mas mantendo ao mesmo tempo o mesmo fluxo de caixa antigo.

Este comércio era ilegal e combatido, mas se dava principalmente com o auxílio da excelente via de contato que era o Rio São Francisco. O contrabando, de escravos e gêneros de toda espécie, foi muito grande entre as regiões mineradoras e as dos canaviais. Provas disso são, por exemplo, as suntuosas igrejas construídas por todo o Nordeste com os recursos captados na crendice do povo e com o ouro das Minas.

Os principais problemas enfrentados pelos mineiros em seus primeiros momentos surgem devido a alguns fatores facilmente reconhecidos e listados por Zemella. São eles: o afastamento dos centros de produção, a pequena produção nas zonas abastecedoras, pouca tradição de comércio interno à Colônia, dificuldade de obtenção de moedas, poucos e precários meios de transporte, dificuldades na conservação de víveres e problemas com pesados impostos para a importação.

O mercado consumidor

Apesar destes problemas que muitas vezes se tornaram crônicos, a zona mineradora conseguiu com o tempo manter uma rotina clara de rotas de comércio que a mantinham sempre abastecida de todo o tipo de produtos necessários e supérfluos.

Isto se deu devido principalmente à rápida concentração de capitais, o que chamou a atenção de toda a colônia, que passou a produzir muitas vezes em função do mercado mineiro - este maior do que o da cana de açúcar mesmo em seu auge.

Desta forma, a partir do rearranjo interno da colônia, não ocorreram mais as crises de fome. Estas, geravam principalmente a alta dos preços, a paralisação dos trabalhos extrativos, a dispersão dos mineradores, a criação de roças locais, o retorno de migrantes às suas regiões de origem, as mortes por inanição, além de contribuírem também para a exaltação dos ânimos e o início da Guerra dos Emboabas.

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Um grande problema enfrentado pela Coroa com relação às Minas Gerais foi relacionado à moeda. Inicialmente, adotou-se o ouro em pó como moeda, porém este sistema burlava facilmente o Real Erário, que buscava principalmente o imposto do quinto - um quinto da produção mineira era destinado à Coroa. Além disso, um truque muito comum que passou a ser utilizado foi o de adicionamento de outros metais ao ouro em pó, especulando-se assim sobre o nobre metal.

Procurou-se desta forma, impedir a livre circulação do ouro em pó a partir da criação das casas de fundição em Vila Rica, Sabará, São João Del Rey e Vila do Príncipe, para citar somente as dentro do centro minerador. Desta forma, as barras de ouro com o selo real passaram a ser a moeda local, sendo o ouro em pó permitido somente em pequenas quantidades.

Porém, este sistema também não funcionou pois passou-se a raspar as barras para o recolhimento de ouro, além da falsificação de barras com o selo do quinto. Finalmente, em 1825 foram criadas casas da moeda na região e ao mesmo tempo o governo tentou impedir a entrada de moeda para que os mineradores se vissem obrigados a cunhar seu ouro para poder utiliza-lo.

O sistema de coleta de impostos da Coroa era extremamente rígido na zona mineradora, pois o ouro e os diamantes são produtos que podem ser transportados facilmente muitas vezes de forma ilegal.

Para evitar isso, criou-se uma cota anual obrigatória de 100 arrobas - aproximadamente uma tonelada e meia - de ouro. Quando tal taxa não era alcançada, supunha-se que a evasão havia aumentado e assim dividia-se entre a população a quantia "devida" ao governo.

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Como em todas as épocas de abertura de minas, a ganância subiu à cabeça dos mineiros, que passaram a comprar escravos em um sistema de pagamento a prazo com juros exorbitantes de cerca de 25 a 30% ao ano. Imaginando que com quantos mais escravos tivessem, mais ouro iriam obter, muitos mineiros se endividaram e acabaram perdendo tudo o que tinham - inclusive escravos e jazidas. Outro fator que não foi considerado na hora dos cálculos para a procura pelos empréstimos foi a sonegação por parte dos próprios escravos, que muitas vezes escondiam parte do produto de seu trabalho e gastavam-no em bebidas alcoólicas e tabaco principalmente. Tais produtos eram utilizados para suavizar o árduo trabalho na busca pelo ouro.

É interessante observar o rápido crescimento das compras de produtos supérfluos à medida em que a quantidade de ouro e diamantes aumentava. Passaram a chegar à região produtos das mais variadas origens, desde louças e tapeçarias da China e da Índia, até veludos, vinhos e queijos da Europa.

Porém, não só produtos banais foram importados para as Minas. Também o eram todo o tipo de produtos que não podiam ser produzidos na colônia, assim como o ferro com seus exorbitantes preços, e os escravos africanos indispensáveis ao trabalho.

Na ordem de prioridades de compras listada por Zemella, podemos ver que os produtos que encabeçam a lista são: sal e carne, seguidos de ferro e aço, armas e escravos, vestimentas e calçados, animais e artigos de luxo. A autora coloca à parte o tabaco e a aguardente por considerar estes dois produtos essenciais para o trabalho árduo na mineração.

Entretanto, devido aos altos preços dos produtos e às crises de fome, muitas vezes animais e escravaria passavam necessidades diretas por falta de alimentação e de itens muito importantes, tais como o sal por exemplo. Enquanto os animais apenas morriam ou se enfraqueciam, muitas vezes os escravos se rebelavam ou partiam para o mundo do crime para tentarem amenizar tal situação.

Enquanto muitas negras - escravas e forras - vendiam diretamente seus produtos nas jazidas propriamente ditas, lojas e vendas ajudaram a formar as primeiras aglomerações populacionais, que depois se tornaram vilas e finalmente cidades.

Escassez de produtos em outras províncias

Um dos primeiros reflexos do boom econômico da zona mineradora foi a escassez imediata de produtos e serviços, além da inflação, nas demais capitanias da colônia portuguesa na América.

Enquanto mineiros apresentavam recursos financeiros suficientes para a compra de comidas, vestimentas e animais de toda a colônia, as outras capitanias mantiveram-se estagnadas inicialmente e desta forma sofreram com a debandada de alimentos, animais e prestadores de serviço para esta área agora mais interessante.

A especulação sobre os produtos chegou a níveis alarmantes, onde as Câmaras Municipais tentaram interferir para impedir a falência social e econômica das cidades, pois enquanto os produtos se tornavam cada vez mais caros e inacessíveis, profissionais como ferreiros, padeiros, marceneiros e oleiros se transferiram para o emergente e promissor mercado.

Porém, passado este momento inicial de caos econômico na colônia, ela passou a se reformular em torno de tal mercado consumidor gigantesco que foi criado, o que possibilitou o desenvolvimento de zonas especializadas na criação, engorda ou negociação de animais, por exemplo.

Especialização da produção

Tal especialização na produção pôde ser vista em todas as regiões da colônia. Enquanto o Sul se afirmava cada vez mais como o centro produtor de animais de carga e tração em grandes fazendas produtoras, a região de Curitiba passou a engordar tais animais após a longa viagem.

O Rio de Janeiro, passou a se tornar a principal cidade da colônia - e posteriormente, sua capital - devido à influência direta do próximo mercado consumidor mineiro, que com a abertura do Caminho Novo passou a se utilizar deste porto para as suas importações e exportações em detrimento de Santos, no litoral paulista, que vinha sendo utilizada anteriormente.

São Paulo, e mais especificamente a região de Sorocaba, se especializou na comercialização dos animais de carga. A citada cidade criou uma grande feira de animais, que ocorria anualmente entre os meses de abril e maio. Em tal feira, cerca de 30.000 animais eram vendidos anualmente, sendo que destes, metade era proveniente da região dos pampas.

Até o surgimento deste novo mercado, a produção paulista era restrita ao seu próprio mercado interno, sendo diminuta. Após as Minas Gerais, São Paulo foi conquistando cada vez mais força e poder dentro da nova ordem econômica e social, passando em 1709 a ser uma província distinta do Rio de Janeiro. Em 1720, as Minas Gerais deixam de fazer parte desta província e passam a ser geradas independentemente.

Um fator interessante da especialização regional na produção em decorrência do crescimento do mercado mineiro foi a existência de cidades especializadas em "fornecer" tropeiros. Este era o caso de Mogi-Mirim, Campinas e Jundiaí, mas com principal destaque nesta última. Lá, concentrava-se grande parte da mão de obra que após as feiras era empregada para levar as mulas até a região onde seriam vendidos e utilizados.

O tropeiro

"Outra característica da economia mineira, de profundas conseqüências para as regiões vizinhas, radicava em seu sistema de transporte. Localizada a grande distância do litoral, dispersa em região montanhosa, a população mineira dependia para tudo de um complexo sistema de transporte. A tropa de mulas constitui autêntica infra-estrutura de todo o sistema. (...) Criou-se, assim, um grande mercado para animais de carga" (FURTADO, 1979).

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Como fica bem destacado neste trecho de Celso Furtado, o tropeiro passou a ser o principal, senão o único, abastecedor do mercado das Minas Gerais. Tradicionalmente, se associa à imagem do paulista, o tropeiro, mas tal imagem é infundada visto que grande parte dos paulistas foram em direção das Minas, ficando assim a atividade comercial dos tropeiros ligada principalmente a grupos de portugueses.

Primeiramente, os tropeiros se utilizavam do lombo escravo como meio de transporte para as suas mercadorias, mas com a abertura de novos caminhos e melhora dos antigos, passou a ser utilizado substancialmente o lombo das mulas para tal tarefa.

Inicialmente, o comércio era realizado a partir ou do Caminho Paulista ou do Caminho Velho do Rio de Janeiro. O primeiro, levava dois meses para chegar às Minas via Vale do Camanducaia, Mogi-Mirim e garganta do Embu. Já o segundo, se utilizava também de transporte marítimo - o que era um inconveniente - e durava aproximadamente 43 dias.

Com a abertura do Caminho Novo, que seguia do Rio de Janeiro diretamente para as Minas, o tempo de viagem caiu drasticamente - para algo em torno de 10 a 17 dias dependendo da rota utilizada e do clima. Devido a esta diferença gigantesca de tempo utilizado, São Paulo lutou pela extinção deste novo caminho, mas as forças econômicas da metrópole falaram mais alto e o mantiveram.

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O comércio paulista praticamebnte faliu. Isto somente não ocorreu devido à descoberta de minas de ouro nas regiões de Goiás e Mato Grosso, locais que se tornaram praticamente "monopólios" de paulistas e incentivaram o crescimento desta Província.

As tropas de mulas saíam em direção das Minas Gerais provenientes dos mais diferentes pontos, mas para nosso estudo basearemo-nos principalmente nas rotas de comércio com o Sul da colônia, produtor de muares, e com as grandes feiras e concentrações comerciais de São Paulo.

Durante os meses de setembro e outubro, as tropas saiam do Sul devido ao regime de chuvas e portanto aos fáceis pastos durante o caminho, indo em direção norte rumo a Curitiba.

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Chegando a esta vila, muares e tropeiros ficavam enquanto os animais engordavam e aguardavam pelas feiras sorocabanas que aconteciam durante os meses de abril e maio.

Durante os meses de setembro e outubro, as tropas saiam do Sul devido ao regime de chuvas e portanto aos fáceis pastos durante o caminho, indo em direção norte rumo a Curitiba. Chegando a esta vila, muares e tropeiros ficavam enquanto os animais engordavam e aguardavam pelas feiras sorocabanas que aconteciam durante os meses de abril e maio.

Tal trabalho passou a ser um empreendimento de lucros altíssimos, muitas vezes maiores do que os dos próprios mineradores visto que estes dependiam dos tropeiros. Segundo Sérgio Buarque de Holanda, houve em 1754 uma tropa que pode ser considerada a maior já registrada: 3780 mulas fizeram o percurso do Rio Grande do Sul às Minas Gerais.

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Estes lucros possibilitaram a ascensão social desta gente que passou a ostentar seus símbolos de riqueza e a gastar vultuosas quantias em cabarés, jogos e teatros além de ricos ornamentos para suas cavalgaduras. Os tropeiros são encontrados nas raízes de diversas famílias importantes dos Estados de São Paulo e Minas Gerais.

Tais homens passaram a serem respeitados por seu poder econômico e político, além de ter também se tornado "figura extremamente popular, o tropeiro, se no princípio da era mineradora teve qualquer cousa do antipático, pela especulação que fazia dos gêneros, aos poucos foi adquirindo, ao lado da função puramente econômica de abastecedor das Gerais, um papel mais social e simpático de portador de notícias, mensageiro de cartas e recados. Representava um verdadeiro traço de união entre centros urbanos afastadíssimos, levando de uns para outros as novidades políticas, as informações sobre as cousas de uso, correspondências, modas, etc " (ZEMELLA, 1990).

O centro produtor de muares

Inicialmente, a criação de mulas para carga se deu nas províncias hispânicas do Prata. Lá, havia já uma tradição na criação de tais animais visto que estes eram levados para os trabalhos nas minas de Potosí. Seguindo a tradição, o governo português utilizou-se disso para incentivar a ocupação de tão problemática região.

Disputada durante anos por guerras entre portugueses e espanhóis, após assinados os acordos de paz, o governo luso tratou de ocupar os terrenos dos atuais Estados do Sul. Assim, a criação de mulas, bois e cavalos em fazendas de núcleos familiares, mas de avantajados tamanhos, foi a solução ideal encontrada pelos governantes.

Conciliando tal necessidade, com a crescente procura por tais animais por parte da zona mineradora, foram criadas as condições ideais para o estabelecimento da cultura da pecuária nesta região. Sendo o ponto inicial das tropas, a mobilização na região começava nos meses de setembro e outubro, quando tais tropas subiam na direção norte aproveitando-se do regime das chuvas, que possibilitava a existência de excelentes pastos durante o caminho para os animais.

As grandes rotas

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"Cada ano subiam do Rio Grande do Sul dezenas de milhares de mulas, as quais constituíam a principal fonte de renda da região. Esses animais se concentravam na região de São Paulo onde, em grandes feiras, eram distribuídos aos compradores que provinham de diferentes regiões. Deste modo, a economia mineira, através de seus efeitos indiretos, permitiu que se articulassem as diferentes regiões do sul do país" (FURTADO, 1979).

Em 1733, passa a primeira tropa de mulas por São Paulo em direção às Minas Gerais. A partir desta data, este é um movimento incessante até aproximadamente 1875, quando as estradas de ferro finalmente suprimem o transporte por mulas nesta região do Brasil.

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Durante um século e meio, há uma grande linha de comércio juntando o Sul da colônias às Minas Gerais. É a linha de comércio paulista tropeira. Com ela, prosperaram diversas cidades. A principal, foi Sorocaba, com seu mercado de animais. Mas, fora ela, temos também Itapetininga, Cabreúva, Apiaí, Itararé, Avaré e tantas outras, assim como o desenvolvimento do porto de Santos.

Nos caminhos das frotas, aos poucos, foram instalando-se pequenas roças, estalagens e pastos que funcionavam como pontos de auxílio para tropeiros, viajantes de toda espécie e seus animais. Ao redor destes núcleos agregadores, surgiram diversas cidades e vilas.

Outra importante rota que, entretanto, não será estudada a fundo aqui, é a rota que liga São Paulo às minas de Goiás e do Mato Grosso.

Diferentemente do processo ocorrido com as Minas Gerais, nestas outras o relacionamento entre as regiões se deu principalmente por vias fluviais, com as chamadas monções.

Segundo Caio Prado Júnior, "A necessidade de abastecer a população concentrada nas minas e na nova capital, estimulará as atividades econômicas num largo raio geográfico que atingirá não somente as capitanias de Minas Gerais e Rio de Janeiro propriamente, mas também São Paulo. A agricultura e mais em particular a pecuária desenvolver-se-ão grandemente nestas regiões. (...) Nestas condições, os mineradores terão de se abastecer de gêneros de consumo vindos de fora" (PRADO JR, 1974).

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Decadência e renascimento

Tanto as Minas Gerais quanto São Paulo tiveram períodos de glória no século XVIII, decaíram e depois renasceram. Nas Minas, depois do final da era do ouro e dos diamantes, quando não mais era economicamente viável a extração do metal e da pedra preciosa, a região passou a se dedicar intensamente à agricultura e à pecuária.

Tais mudanças foram ocorrendo gradativamente de modo que não interferiram profundamente na ordem social vigente. À medida em que as lavras de ouro foram se fechando, o governo lusitano foi concedendo sesmarias com a obrigação da utilização na pecuária. Desta forma, após a decadência da mineração, a zona das Minas Gerais tornou-se um importante centro agro-pecuário do Brasil, apesar de suas "cidades históricas" não terem mantido a importância que tiveram e terem se estagnado econômica, política, social e culturalmente.

Já para São Paulo, foram duas as experiência traumáticas: a derrota na Guerra dos Emboabas, quando perdeu-se o domínio das Minas Gerais tão procuradas; e quando houve a abertura do Caminho Novo juntando diretamente as Minas Gerais como Rio de Janeiro.

Em ambos os casos, a população paulista manteve seu poderio econômico. São Paulo permaneceu sendo o entreposto entre as zonas criadoras e consumidoras de mulas, e também exerceu toda a influência que tinha perdido nas Minas Gerais sobre as minas de Goiás e Mato Grosso. No contato com estas zonas, existiu praticamente um monopólio paulista de comércio - via monções - e uso das lavras.

Posteriormente, com a decadência das minas goianas e mato-grossensses, São Paulo já havia conquistado o posto de principal centro econômico com a produção cafeeira e posteriormente com a produção industrial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a leitura de obras importantíssimas da historiografia brasileira e o estudo desenvolvido acerca das relações entre a produção de muares no Rio Grande do Sul com as Minas Gerais e São Paulo, via tropeiros, podemos chegar a algumas considerações finais.

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O intenso comércio gerado pelas tropas que se dirigem às Minas Gerais passa a formar pela primeira vez em nossa história um intercâmbio interno na colônia. Assim, a importância das tropas para a formação do Brasil foi fundamental para ligar e unir áreas tão distintas e tão distantes.

A mineração tornou também possível a criação de um centro dinâmico na colônia, onde as relações comerciais entre regiões muito distantes formaram uma teia de relações de interdependência onde mercado consumidor, centro produtor e centro de organização interna estão intimamente ligados.

Encerrando, gostaria de utilizar duas citações de diferentes autores que foram extremamente elucidativos para a composição deste trabalho: Mafalda P. Zemella e Celso Furtado.

"Pela primeira vez no Brasil apareceu intenso comércio interno de artigos de subsistência; a circulação dos gêneros obrigou à abertura de vias de penetração no sertão, à criação de um sistema de transportes, baseado no muar" (ZEMELLA, 1990).

"Por um lado, elevou substancialmente a rentabilidade da atividade pecuária, induzindo a uma utilização mais ampla das terras e do rebanho. Por outro, fez interdependentes as diferentes regiões, especializadas umas na criação, outras na engorda e distribuição e outras constituindo os principais mercados consumidores. É um equívoco supor que foi a criação que uniu essas regiões. Quem as uniu foi a procura de gado que se irradiava do centro dinâmico constituído pela economia mineira" (FURTADO, 1979).

BIBLIOGRAFIA

ELLIS JÚNIOR, Alfredo: O ciclo do muar in "Revista de História", nº 1.

FAUSTO, Boris: "História do Brasil". Edusp, São Paulo, 1995.

FURTADO, Celso. "Formação econômica do Brasil", Cia. Editora Nacional, São Paulo, 1979. 16ª Edição.

HOLANDA, Sérgio Buarque de: "Caminhos e Fronteiras". Cia. das Letras, São Paulo, 1995. 3ª Edição.

PRADO JÚNIOR, Caio: "Formação do Brasil Contemporâneo (colônia)". Brasiliense, São Paulo, 1996

PRADO JÚNIOR, Caio: "História Econômica do Brasil". Brasiliense, São Paulo, 1974. 17ª Edição.

ZEMELLA, Mafalda P.: "O abastecimento da capitania das Minas Gerais no século XVIII". Coleção Estudos Históricos, Hucitec-Edusp, São Paulo,1990.

Autor: Gabriel Passetti

sábado, 5 de outubro de 2013

Tratamento de palatite

 

Tratamento de palatite. Uma doença que abala todo o sistema de sanidade do cavalo. O tratamento foi feito em uma aula prática do curso de veterinária da UFG

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Controle de endoparasitas


É o controle de verminoses que habitualmente afetam os eqüinos. Os eqüinos por seus hábitos alimentares estão freqüentemente sujeitos a alta infestação de vermes em seu trato intestinal.


Estes vermes devem ser combatidos, pois eles se alimentam dos animais, debilitando seu organismo e comprometendo sua saúde e seu desempenho.
Existem diversos tipos de vermífugos, com diferentes apresentações e composições, diferentes preços e resultados.


Os vermífugos para eqüinos de uma forma geral apresentam-se para prescrição oral podendo ser granulado, líquido ou pasta. Os mais comumente encontrados e mais eficazes são encontrados em pasta, porém com diferenças significativas em sua composição e resultado.


Os princípios ativos dos vermífugos podem ser:


Benzimidazóis: grupo antigo e que encontra resistência em grande parte dos vermes, tendo sua eficácia comprometida pelo uso indiscriminado.

Organofosforados e Organoclorados: Também existem há bastante tempo, porém são eficazes para a maioria dos vermes, mas devem ser administrados com cuidado por sua toxicidade, principalmente em éguas prenhes.


Praziquantel e Pamoato de Pirantel: Princípio Ativo bastante eficaz para alguns grupos de vermes, mas não é muito abrangente, sendo muito utilizado em associações com outros princípios.


Ivermectinas: Princípio Ativo descoberto na década de 80, muito eficaz no combate à maioria dos vermes. Porém seu uso indiscriminado e em sub-doses tem levado a alguns casos de resistência. Quando oriundo de uma empresa idônea e aplicado seguindo critérios recomendados, é confiável e eficaz. Tem sido muito utilizado em associação com Praziquantel ou Pamoato de Pirantel, o que amplia seu espectro de ação e sua eficácia.
Moxidectin: Princípio Ativo bastante eficaz contra endoparasitas e contra ecto parasitas como carrapato. Possui o inconveniente de um custo bastante elevado.


Devemos nos preocupar com qual tipo de vermífugo vamos utilizar. Se o produto é muito barato, atenção à sua qualidade e eficácia. Produtos muito baratos em geral exigem maior número de aplicações, tendo um custo anual semelhante a uma Ivermectina de boa qualidade, por exemplo.

Um esquema de vermifugação bastante eficaz deve incluir um controle parasitário através de análise de fezes periodicamente. Mas nem sempre isso é possível, então realizamos uma rotina de aplicação de vermífugos de tempos em tempos.

Fonte: Dr. Fabio Prates, cavalo Completo

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A História do Tropeirismo em Sorocaba

 

Sorocaba - Segundo o historiador Aluísio de Almeida, o Tropeirismo é um complexo de fatos geográficos, históricos, sociais, econômicos e até psicológicos, relacionados com as tropas de transporte em todo o País. Ciclo econômico e social, o tropeirismo é peculiar ao centro-sul brasileiro. Sucede ao bandeirantismo e coexiste com os ciclos da mineração, do açúcar e do café em quase todas as regiões brasileiras. Substituído, aos poucos, pelo transporte a vapor e motorizado, persiste como meio de transporte em regiões montanhosas e de difícil acesso.


O Ciclo do Tropeirismo - Começou por volta de 1733, com o português Cristóvão Pereira de Abreu, que abriu estrada ligando Curitiba a Sorocaba, conduzindo mulas e gado. Mas é a partir de 1750, com o Registro de Animais ao lado da ponte sobre o Rio Sorocaba, que tornou-se sistemática a passagem de tropas xucras ou arreadas por aqui e a consequente realização das grandes feiras que, em geral, duravam dois meses. Terminou por volta de 1897, quando se realizou a última feira em Sorocaba. Os anos de 1750 a 1850 são considerados como a fase áurea do tropeirismo.


O tropeirismo caracterizou-se pelo uso generalizado do lombo de animal, equino ou muar - especialmente este, para o transporte de cargas. O se faz hoje em caminhões, era feito pelas tropas arreadas, isto é, um conjunto de 8 a 10 animais equipados com cangalhas nas quais eram penduradas as canastras ou as bruacas contendo as mercadorias. Esse tipo de tropa, também chamada de tropa cargueira ou de comércio, era constituída por animais mansos, tendo à frente a mula da "cabeçada", assim chamada por sua posição na tropa e porque levava na cabeça ou pescoço alguns guizos, tendo o cabresto encimado por um pano vermelho: a "boneca", sempre seguida pelos outros animais, inclusive a "madrinha", se estivesse presente.
Cada tropa tinha seus homens responsáveis que a conduziam a pé e cuidavam de outras tarefas, como cozinha e arreamento. O tropeiro era o chefe e geralmente ia montado. Sem a tropa arreada, levando e trazendo mantimentos, roupas e utensílios, dificilmente as "ilhas de civilização" - que eram as pequenas povoações espalhadas por esse imenso País - teriam sobrevivido. Entretanto, foi a tropa solta ou xucra, que os tropeiros de Sorocaba e Região Sul traziam dos pampas gaúchos até Sorocaba, onde os animais eram domados por famosos peões e vendidos nas feiras que aqui se realizavam, principal fornecedora do meio mais eficiente de transporte da época: o muar.


O caminho para o sul - No Estado de São Paulo: Sorocaba, Campo Largo (atual Araçoiaba da Serra), onde invernavam as tropas, Alambari ou Pouso das Pederneiras, Itapetininga, Buri, Itapeva, Itararé.


No Paraná: Jaguariaiva, Castro, Ponta Grossa, Palmeiras, Guarapuava, Curitiba, São José dos Pinhais, Lapa, Rio Negro.


Em Santa Catarina: Mafra, Curitibanos e Lajes.


No Rio Grande do Sul: Passo Fundo, Cruz Alta, Vacaria, Viamão, Porto dos Casais.


Muitas destas e ainda outras cidades surgiram de primitivos pousos de tropeiros.


Pouso de Tropeiros - O pouso, como o próprio nome diz, era o local de parada durante as longas jornadas dos tropeiros. O local deveria oferecer condições mínimas de segurança à tropa, água e alimento. O local de descanso dos tropeiros podia ser a céu aberto, com quase nenhum recurso, ou dispor de pequena cobertura de palha ou telheiro, que garantia proteção contra chuva, sereno ou vento. Muitos pousos deram origem a vilas e, posteriormente, a cidades.


A Feira de Muares - Ocorria durante todo o ano, mas crescia nos meses de abril e maio, quando para Sorocaba afluíam, além de compradores de animais, ricas famílias da capital e cidades vizinhas que vinham para se divertir. A cidade apresentava aspecto festivo com a presença de mascates, fabricantes de arreios, ourives especializados em prata, circo de cavalinhos, companhias de teatro, jogadores, cantores e outros. Ela começava com a venda do primeiro lote de animais. O grito de "Rebentou a feira!" era o sinal para o início de todos os outros negócios. À noite, os tropeiros se entregavam aos vários divertimentos procurando esquecer as agruras das longas jornadas.


O traje de tropeiro - O comum era calça e camisa de pano grosso e botas até os joelhos; os tocadores de lotes (personagens mais humildes), provavelmente andavam descalços ou com simples alpercatas de couro; o chapéu era de abas largas, sendo a da frente, algumas vezes, presa à copa. Usavam ainda o facão sorocabano (largo e de ponta curva), a guaiaca (cinto de couro com divisões), o xiripá (grande faixa enrolada entre as pernas e que muitas vezes se reduzia a uma simples tira à volta da cintura).
A provisão para a longa viagem consistia em feijão, toucinho defumado, carne seca, farinha de mandioca, café e chá. A partir do início da implantação das ferrovias (1875) começou a definhar o comércio de tropas. Sorocaba teve sua última feira em 1897, quando ocorreu o primeiro surto de febre amarela que encerrou esse capítulo da história sorocabana, embora o comércio de animais, muares, equinos trazidos do sul, tenha continuado até meados do século vinte.


A lição admirável que se pode encontrar na façanha silenciosa do Tropeiro, integrando a Região Sul à comunidade brasileira ou penetrando nas áreas difíceis do nordeste e centro-oeste, símbolo da coragem e pioneirismo que deve continuar a ser lema de Sorocaba.


O feijão tropeiro - Basicamente, feijão cozido, com toicinho defumado, carne seca, engrossado com farinha de mandioca ou milho. Pode ser acompanhado com torresmo e couve frita. Esse prato varia conforme a disponibilidade dos produtos mas, essencialmente, não apresentava grandes mudanças. Alimento calórico para satisfazer as necessidades do trabalho pesado dos tropeiros. Muitas vezes, consistia na única refeição do dia, depois de uma longa jornada de estrada e da lida atenta e cansativa das tropas.


Na maioria das vezes, era um menino de pouco mais de dez ou doze anos o responsável pela cozinha. Acordava cedo, preparava o café simples e saía na frente. Providenciava o feijão, e aguardava a chegada da tropa.


Receita Básica de Feijão Tropeiro - 2 pratos de feijão cozido; 500 gramas de toicinho defumado; 200 gramas de lingüiça defumada; 200 gramas de carne seca desfiada ou em pequenos pedaços; 500 gramas de farinha de milho; Cebolinha, sal e alho. Modo de fazer: Corte o toicinho em pedaços, frite e separe. Faça o mesmo com a linguiça e a carne seca. Numa panela grossa, coloque duas colheres de banha de porco, frite o alho e coloque o feijão sem o caldo. Acrescente o caldo e o sal a gosto. Coloque, então, a carne seca e a linguiça. Misture bem. Depois, o cheiro verde e complete, aos poucos, com a farinha de milho, mexendo sempre, até ficar em ponto de angu. Sirva com arroz, couve frita e torresmo pururuca. Cálculo por pessoa: feijão - 50 gramas; arroz - 50 gramas; carnes (todas juntas) - 200 gramas.


Manifestações folclóricas ligadas ao Tropeirismo


Fandango - De origem espanhola, o fandango é a dança tradicional dos tropeiros, executada na época por homens e acompanhada pela viola. Dança de desafio, marcada por sapateado, palmas e exibição de destreza. Os passos mantêm denominações que remetem à tradição rural e tropeira: bate-na-bota, varginha simples, palmeada, cerradinho, quebra-chifre, entre outras. Dançava-se o fandango nos pousos e festas. Os participantes utilizam chapéus, botas, lenços amarrados no pescoço e chilenas, isto é, esporas cujas rosetas denteadas são substituídas por rosetas de metal, que retinem nas batidas dos pés.


Cururu - Cururu é desafio cantado e improvisado da região Sul-Paulista. Surgiu na época dos bandeirantes, como louvação aos santos. Improvisavam-se os cantos, entremeados de pedidos e agradecimentos. Transformou-se em desafio de cantadores, que criam provocações e respostas sempre cantadas, seguindo rimas ou carreiras: o primeiro cantador escolhe a carreira, que os demais devem respeitar. As mais utilizadas são as carreiras de São João (terminadas em ão), do Sagrado (terminadas em ado). As mais difíceis são as carreiras de Deus Onipotente (terminadas em ente), São Pedro (terminadas em edo), entre outras.


Na época dos tropeiros os cantadores de cururu apresentavam-se pelas ruas e praças e nos pousos ao redor da cidade, atraindo a atenção de todos em exibições que chegavam a varar a madrugada até o amanhecer.


No século XX, as exibições de cururu continuaram nas festas de São João e do Divino e, também, aos finais de semana no Largo do Mercado e nas praças centrais. As estações de rádio mantiveram, por décadas, programas semanais de cururu Atualmente, ainda acontecem apresentações de cururus em clubes, bares e festas de nossa cidade.


A cana verde - A Cana verde, assim como o cururu, é desafio trovado, de improviso, a partir de um refrão. As estrofes são curtas e ágeis. Os cantadores improvisam um de cada vez, exigindo grande habilidade e rapidez.


Moda de Viola - Segundo o pesquisador de Música Popular Brasileira, Zuza Homem de Mello, a música caipira tem local certo de nascimento: compreende o espaço entre Sorocaba, Tietê e Botucatu. Se aqui nasceu, foi divulgada pelos tropeiros e se difundiu para todo o Brasil, especialmente Minas, Mato Grosso, Goiás e Paraná.


As primitivas modas de viola apresentavam uma estrutura mais longa, uma história completa e detalhada sobre personagem ou acontecimento. Com a gravação em disco, houve a necessidade de se reduzir a duração das modas, que ainda preservaram a tradição formal de se cantar uma história e acompanhada pela inseparável viola.


Viola - A viola era a grande companheira dos tropeiros em suas longas viagens, nos pousos e nas vilas por onde passavam. Foram eles os responsáveis pela difusão da moda de viola - nascida na região de Sorocaba, Piracicaba e Botucatu.


Alguns provérbios e expressões tropeiras
- Burro velho não pega trote - Com o passar dos anos, é mais difícil aceitar as mudanças.
- Quem lava cabeça de burro perde o trabalho e o sabão - Discutir com teimoso é trabalho perdido.
- Onde vai o cincerro vai a tropa - onde o líder vai, leva consigo o grupo.
- Pela andadura da besta se conhece o montador - Pelos atos se conhece a pessoa.
- Picar a mula - Ir embora.
- Deu com os burros n'água - Trabalho ou coisa que não deu certo.
- Teimoso como uma mula.
- Tem caveira de burro - Coisa azarada.
- Estar com a tropa ou estar com o burro na sombra - Estar tranqüilo, com sucesso.


Fontes bibliográficas para o estudo do Tropeirismo
ALMEIDA, Aluísio de. Vida e Morte do Tropeiro. São Paulo, Martins, 1971.
________, O Tropeirismo e a Feira de Sorocaba, São Paulo, Luzes, 1968.
BONADIO, Gerado (organizador) O Tropeirismo e a Integração Geográfica e Cultural do Brasil. Sorocaba, Prefeitura de Sorocaba, 1999.

Centro Nacional de Estudos do Tropeirismo
Casarão do Brigadeiro Tobias
Situado em Sorocaba no Bairro de Brigadeiro Tobias
(*) Prefeitura de Sorocaba