Bem Vindo ao Blog do Pêga!

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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Antônio Vieira garantia: o jumento é nosso irmão

 

Ele nunca foi o grande malandro da praça. Trabalha, trabalha de graça. Ou trabalhava. Ao contrário do saltimbanco criado por Chico Buarque, que largou a lida para ser músico, o jumento nordestino foi mesmo é para a panela. Padre Antônio Vieira – não o dos Sermões, mas o homônimo do interior cearense, escritor nascido em Várzea Alegre –, denunciou o descaso em seu livro O Jumento, Nosso Irmão, de 1964.


Segundo Vieira, os animais estavam sendo substituídos por bicicletas, motos e carros. Abandonados, eram mortos e sua carne, servida em açougues. Começou ali uma campanha que envolveu intelectuais, artistas e autoridades, e culminou com a fundação do Clube Mundial do Jumento.


Zé Clementino, Patativa do Assaré e Luiz Gonzaga adotaram a causa. Gonzagão gravou até música: É verdade, meu senhor / Essa estória do sertão / Padre Vieira falou / Que o jumento é nosso irmão.


O padre ministrava cursos em que ensinava como tratar o animal. No final, entregava diploma: “Até ontem você foi um burro, mas a partir de hoje será um jumento”. A campanha deu resultado. A população de jumentos aumentou, foram criadas festas e até legislação específica.


Mas o tratamento privilegiado não durou muito. Em 2003, ano da morte do padre, jumentos recolhidos nas estradas de Quixeramobim, no Ceará, foram enterrados vivos.


Um ano depois, outros viraram mortadela em um frigorífico financiado pelo Estado. Hoje quase não há mais jumentos no sertão. Em seu lugar, uma infinidade de motos, compradas em até 72 parcelas por consórcio.

Autor: Mariana Albanese

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