A SEPARAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE MARCHA
REFERÊNCIAS EMPÍRICAS E CIENTÍFICAS SOBRE AS MARCHAS
COMPARAÇÃO ENTRE OS DIVERSOS ANDAMENTOS DOS EQÜÍDEOS
A marcha é o andamento natural de média velocidade no qual o animal não perde o contato com solo durante a passada. Ela está situada entre o trote e a andadura.
A marcha clássica é o andamento que apresenta oito apoios em uma passada completa, sendo quatro apoios triplos, intercalados sucessivamente por apoios diagonais e laterais.
Se considerarmos que o animal quadrúpede pode apresentar 15 tipos de apoios diferentes e uma suspensão completa (ausência total de apoios), vemos que as marchas podem ter inúmeras variedades, com a combinação desses 15 apoios agrupados em 4,5,6, 7 e 8 tipos de apoios, durante uma passada completa.
Os tipos de apoio possíveis são:
- 4 apoios triplos, sendo dois com os anteriores apoiados e dois com os posteriores apoiados.
- 2 apoios diagonais.
- 2 apoios laterais.
- 4 apoios simples (monopedais).
- 1 apoio duplo de anteriores.
- 1 apoio duplo de posteriores.
- 1 apoio quádruplo.
Desta forma, as marchas podem ser completas quando apresentam a seqüência típica e natural de 8 apoios sendo 4 apoios triplos, intercalados por apoios diagonais(2) e laterais(2).
As demais marchas são consideradas incompletas porque podem ter apoios triplos, substituídos por outros tipos indesejáveis à marcha completa (monos duplos e quádruplos). Isto acontece tanto nos tipos de marcha de apoios diagonais predominantes como, também, em marchas de apoios laterais predominantes, como as marchas picadas desequilibradas (guinilhas).
Com as pesquisas de análise da locomoção em mais de 1000 eqüídeos, verificando os diagramas de andamento (Gait Spectrum) produzidos pelo sistema Analoc-E, construímos a planilha da Fig. 01, relacionando os nomes técnicos e populares dos diversos tipos de andamentos do animal – do trote até a andadura,com a faixa de variação dos principais parâmetros biomecânicos da locomoção.
Os diversos tipos ou variedades de marcha, designados por caracteres alfanuméricos - D1, D2, D3 e L1, L2, L3, L4 - usados, empiricamente por algumas associações, foram relacionados aos parâmetros biomecânicos exatos de cada tipo de marcha, para esclarecer e tentar criar uma linguagem comum, evitando as interpretações de criadores e técnicos, muitas vezes contraditórias ou equivocadas.
Considerações e discussão:
1 - A denominação de “marcha diagonal, trotada ou transicional - D3” corresponde a uma marcha diagonal incompleta de apoios laterais nulos ou inferiores a 10% do tempo de apoio diagonal, CL = 0 até 0,1. Na prática são apoios laterais nulos ou de 3 a 5%(média). Apoios triplos inferiores a 10%. A reação é áspera, para o cavaleiro, no plano vertical.É um andamento a 2 tempos devido à dissociação dos bípedes diagonais (< 30ms) inferior a 5% e semelhante à dissociação no trote.
2 – A denominação “marcha diagonal - D2” corresponde a uma marcha batida completa, CL = 0,1 até 0,5, com apoios laterais de 15% e diagonais de 45%(média). Apoios triplos superiores a 10%. A reação é macia no plano vertical.
3 – A denominação “marcha diagonal – D1” corresponde a uma marcha batida completa, CL = 0,5 até 0,8, com apoios laterais de 25% e diagonais de 42%(média). Apoios triplos equivalentes a 30% (média). A reação é macia no plano vertical.
4 – A denominação “marcha de centro – 0 ”corresponde a uma marcha intermediária de CL= 0,8 até 1,05, com apoios laterais e diagonais equivalentes da ordem de 40%. Apoios triplos equivalentes a 20% (média). A reação é suave e macia no plano vertical.
5 – A denominação “marcha lateral – L1” corresponde a uma marcha picada completa de CL= 1,05 até 1,5, com apoios laterais de 45% e diagonais de 35%(média). Apoios triplos equivalentes a 25%(média). A reação é macia no plano vertical.
6 – A denominação “marcha lateral – L2” corresponde a uma marcha picada completa de CL= 1,5 até 5, com apoios laterais de 50% e diagonais de 30%(média). Apoios triplos equivalentes a 20%(média). A reação é macia no plano vertical e sensível no plano horizontal.
7 – A denominação “marcha lateral – L3” corresponde a uma marcha picada desequilibrada incompleta, com excesso de apoios laterais (média de 70%), conhecida como guinilha. A reação é áspera e desconfortável no plano horizontal.
8 – A denominação “andadura clássica– L4” corresponde ao andamento onde o animal tem cerca de 90% do tempo de apoios em lateral, intercalados por apoios quádruplos.
No caso da andadura desunida , o animal apresenta, ainda, breves apoios monos e triplos, devido á existência de falta de sincronismo dos bípedes laterais. A reação é desconfortável (áspera) no plano horizontal.
9 –Finalmente, o trote clássico (curto ou alongado) é o andamento saltado,a 2 tempos, que apresenta cerca de 90% do tempo de apoio em diagonal, outros apoios do tipo mono (decorrente da falta de sincronismo do bípede diagonal) e dois momentos de suspensão completa entre os apoios diagonais. Reação áspera no plano vertical. A dissociação verificada na maioria dos trotes é inferior a 5% (< 30 ms) do tempo da passada, que caracteriza o trote não-sincronizado ou desunido.
10- E por último,podemos considerar a ocorrência de sobre-pegadas, ultra-pegadas ou retro-pegadas na marcha como dependentes da conformaçao do eqüídeo. A retro-pegada é constatada no trote curto e a ultra-pegada é constatada no trote alongado.Portanto, não é característica exclusiva da marcha.
Na marcha é bom que o eqüídeo as possua, mas não são condições essenciais para a ocorrência da marcha. Ela depende muito mais de estímulos cerebrais e fatores biológicos e genéticos que, em última análise, influenciam o dissincronismo do bípede diagonal.
Texto adaptado. Autor: A.P.Toledo – engenheiro, criador de eqüinos, coordenador do sistema Analoc-E e autor dos livros: Mecânica de Sustentação e Locomoção dos Eqüinos e Tecnologia Não Invasiva para a Análise da Locomoção dos Eqüídeos.
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