Todos os componentes da equipe que tangia a tropa chamavam-se tropeiros, mas é claro que entre eles havia uma divisão de funções. Via de regra, a tropa era comandada pelo próprio dono, auxiliados por um ou mais capatazes, conforme o número de animais.
Havia os peões ou camaradas, o madrinheiro, o batedor, o contador e o cozinheiro. O batedor ia na frente, verificando o caminho e o estado dos passos. Levava as guias para apresentar nos registros e organizava a passagem das tropas pelos povoados. O contador tinha a função de contar e recontar a tropa quantas vezes fosse necessário para garantir que não se desgarrara nenhum animal. O madrinheiro, que às vezes desempenhava as funções de cozinheiro, era geralmente um rapazote. Sua função era conduzir a égua-madrinha.
Esta levava um cincerro ao pescoço e servia de guia para as mulas. É que o muar, sendo cria de burro com égua, tende a seguir a fêmea eqüina, formando uma fila. Depois de acostumado, seguirá qualquer animal que tenha um cincerro, mesmo que seja outro muar. Entre os vários momentos difíceis de uma tropeada, havia três em especial: a passagem de rios que não davam vau, as tempestades e as arribadas.
Nas passagens de rios, as roupas e os mantimentos passavam em uma canoa (quando havia canoeiro no local, senão era preciso improvisar), as mulas e os tropeiros passavam a nado. Durante as tempestades, os tropeiros não podiam dormir, pois os animais se punham nervosos, havendo o risco de dispersarem-se. As arribadas ocorriam quando mulas desgarravam-se da tropa. Entre os tropeiros mais experientes era escolhido o arribador que tinha a função de voltar, achar os animais extraviados e alcançar a tropa. Era uma questão de honra, sendo motivo de muita vergonha o fracasso.
Uma tropa andava acerca de vinte e quatro a trinta quilômetros por dia. Saía-se antes do nascer do sol, após tomar chimarrão ou um café preto. Ao meio-dia, pausa para almoço, sesta para os tropeiros e descanso para os animais. A segunda etapa da marcha ia até a tardinha.
O pouso era sempre em lugares certos, onde, com o tempo, foram se estabelecendo comerciantes para atender aos tropeims. Nesses locais, o comerciante ou fazendeiro construía um rústico galpão aberto, com cobertura de palha, para abrigar os tropeiros que dormiam sobre os arreios, cobertos com o poncho ou a capa. O cozinheiro montava sua trempe e cozinhava o feijão com charque ou carne de porco salgada para comerem no dia seguinte.
A passagem pela cidade de Lages era muito esperada porque ali melhorava o cardápio. Um dos pratos típicos da região é, até hoje, a paçoca de pinhão que consiste, basicamente, em charque cozido e desfiado com pinhão cozido e socado em um pilão (pode ser feito também com carne de porco salgada). Com as bruacas carregadas de paçoca, os tropeiros seguem viagem. A vantagem desse alimento era que. além de durar vários dias sem estragar, podia ser comido até mesmo em movimento, quando a fome apertasse.
Os trajes dos tropeiros foram variando com o tempo e dependiam um pouco de sua origem, mas, basicamente, era o chapéu de abas muito largas, com barbicacho sob o queixo; calças folgadas e camisas de algodão grosso; guaiaca de vários forros para levar muito dinheiro, além dos avios de fogo, fumo e palha; botas de cano muito alto, sanfonadas, da cor natural do couro, com tentos para amarrar na altura da coxa; poncho ou capa de baeta; um facão sorocabano e uma garrucha. Os tropeiros castelhanos e rio-grandenses usavam chapéus de abas menores e chiripás. Depois da Guerra do Paraguai, generalizou-se a bombacha.
Autor: Roberto Cohen, Página do Gaúcho
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