A empresa de Coruche tem 50 animais, cuja produção vai maioritariamente para a Ásia.
‘Duquesa’ tem um temperamento pacífico. Tal como a ‘Alfazema’, a ‘Bolota’, a ‘Cerveja’, e todas as outras burras da raça asinina de Miranda do Douro que encontraram um novo lar numa herdade atravessada pela Estrada Nacional 251, no Couço, concelho de Coruche. São cinquenta e pertencem à única raça autóctone portuguesa. Ali, onde ainda não deram um único coice, encontraram uma nova casa e também uma outra função, diferente da que tinham no Norte do País: são produtoras de leite. Um leite que é transformado em pó antes de seguir para mercados mais ou menos exóticos, mais ou menos longínquos, para ser depois usado em produtos e tratamentos de beleza.
A tranquilidade que lhes está nos genes não é aprendida e é trunfo usado pelos sócios que gerem o Monte das Faias na ordenha destes animais. O uso em questão não é novo. Diz-se que Cleópatra se banhava em leite de burra para prolongar a juventude da pele. Consta também, e antes disso, que foram os romanos os primeiros a descobrir os benefícios de tal produto e que Popeia, mulher do imperador Nero, tinha 500 burras encarregues de produzir leite destinado aos seus banhos de beleza.
“Antes da II Guerra Mundial era utilizado como leite de substituição (por ser muito semelhante ao materno) e como remédio para diversos males – nomeadamente do foro gástrico – mas no pós-guerra, como era preciso muita quantidade a preços baixos, este leite caiu em desuso. Uma vaca produz 30 litros, ao passo que uma burra produz um litro e meio, este é um produto nobre e caro”, explica Filipe Carvalho, um dos dois sócios da Naturasin, uma empresa portuguesa que viu aqui uma oportunidade de negócio.
“Não existia nada em Portugal – apesar de no passado ser comum os médicos da província receitarem leite destes animais como leite de substituição – e a nível mundial muito pouco. Começámos do zero.” Tão do zero que tiveram inclusivamente de remar contra a lei. “Depois de muita insistência, conseguimos mudar o regulamento europeu, que não considerava as burras produtoras de leite. Mas foi um processo difícil: cada vez que entrávamos num departamento para falar do leite de burra era uma risota, as pessoas não levavam a sério.”
PRODUÇÃO DE LEITE
Na herdade de 500 hectares – onde, e para já, apenas cinquenta deles são dedicados às burras – o dia começa às 06h00. A primeira ordenha é meia hora mais tarde. Vão quatro de cada vez, sem ser preciso convencê-las muito. “Um animal nervoso não dá leite, elas têm de estar felizes e ter bom temperamento para serem boas produtoras”, revela Miguel Carvalho, o outro sócio da empresa em questão.
“Um período de gestação são doze meses. Dois meses antes da parição retiramos a burra da ordenha para ter forças para o parto; no momento do nascimento a cria está sempre com a mãe e não tiramos leite nenhum, porque é leite essencial para crescer. Aos dois meses é que a mãe entra na ordenha outra vez. São oito meses de produção leiteira para cada ciclo”, explica. Todas elas começam a produzir leite aos quatro anos e fazem-no até aos 18, 19 anos, sendo que a esperança média de vida destes animais anda pelos 25 anos. Filipe e Miguel sabem disso porque se dedicaram à investigação antes de abraçarem o projecto. Estudaram desde a alimentação adequada para estes animais à criação de um sistema de ordenha mecânica, que não existia (era manual).
Fonte: http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/leite-de-burra-e-cosmetico
Nenhum comentário:
Postar um comentário