Os cavalos são animais muito sensíveis. Por isso, quando passam por situações estressantes, podem desenvolver problemas comportamentais – também denominados “vícios” – de efeitos perigosos e até fatais. Há muitas causas para esses distúrbios: o excesso de medo ou de ansiedade, a insatisfação pela perda da liberdade ou mudanças de hábito. Vale lembrar que os cavalos são animais gregários, que se ressentem quando se vêem privados de sua liberdade ou afastados dos companheiros de fazenda ou haras. Além disso, eles sucumbem facilmente ao medo e, quando se sentem ameaçados, obedecem ao instinto de fuga. Também têm dificuldade em lidar com situações novas, ficando em estado de alerta constante e até em pânico.
Os problemas se agravam quando se trata de potros ou cavalos jovens que têm a má sorte de cair nas mãos de um tratador inexperiente, do tipo que usa chicote ou outros castigos – assim, o que poderia ser um cavalo de índole impecável, dócil e um excelente aprendiz, torna-se um animal nervoso, neurótico e agressivo.
Esses vícios geralmente se refletem nos sentimentos do cavalo, gerando ansiedade, angústia, tristeza, apatia ou até falta de motivação para continuar vivendo, pois há relatos sobre cavalos que simplesmente deixaram de comer.
Um problema sério em relação a estes vícios é que eles são facilmente copiados por outros cavalos. Por isso, quando detectado algum distúrbio desse tipo, deve-se fazer a imediata comunicação aos responsáveis pelo animal.
Os “remédios” que permitem corrigir esses vícios são paciência, carinho, atenção e manejo correto. A seguir, vamos dar exemplos de alguns desses distúrbios.
Engolir ar - Aerofagia
Quando o confinamento impede o cavalo de exercer seu instinto natural de pastar e mordiscar, ele pode desenvolver o hábito de morder portas e cochos de madeira. Esse movimento leva-o a “engolir” o ar. É um vício perigoso, que pode ser controlado mas não curado. Causa perda de apetite, acarretando subnutrição, gastrite e cólicas fatais.
Mastigar madeira
Trata-se de um distúrbio semelhante à aerofagia, mas neste caso não ocorre a deglutição de ar. O animal começa a danificar portas, cocheiras, cercas, cochos e bebedouros, ficando vulnerável a desenvolver gengivites e irregularidades nos dentes e até a engolir um pedaço maior de madeira, o que poderia ser fatal.
Comer fezes– Coprofagia
Este mau hábito pode estar relacionado com altas infecções parasitárias ou fatores nutricionais. A vermifugação e a soltura do animal por longos períodos de tempo trazem bons resultados.
Arrancar pêlos
Quando submetidos a confinamento excessivo, alguns cavalos tornam-se nervosos e frustrados e começam a arrancar pêlos da própria cauda. Quando isso ocorre, deve-se verificar se o animal não está enfrentando com micoses, sarna ou alergias. Também é preciso fazer exames para se detectar possíveis infecções parasitárias.
Tique de urso
Andar em círculos pela baia, correr próximo a cercas ou ficar com a cabeça balançando na porta da cocheira é sinal extremo de tédio e nervosismo. Esse problema pode ter origem no excesso de trabalho ou total isolamento. O Tique de Urso acarreta emagrecimento excessivo e progressivo, irritabilidade e sobrecarga nas articulações.
Coice e mordida
Este é um vício perigoso, em geral adquirido na infância. Há casos de cavalos que escoiceiam até quem entra na baia para lhes dar ração. O tratamento para esse tipo de distúrbio requer paciência e carinho. O hábito de morder já é característico dos garanhões, mas pode ter início em inocentes brincadeiras de mordiscar.
Pânico e fobia
Os cavalos reagem ao medo de forma muito semelhante aos humanos: sentem tremores musculares, sudorese, apnéia, taquicardia etc. O animal amedrontado fica suscetível a várias doenças, como a adenite eqüina, pois há uma inibição em seu sistema imunológico. O pânico e a fobia geralmente surgem em razão dos castigos físicos. Aliás, as sessões de espancamento e chicotadas só servem para prejudicar a saúde mental dos cavalos...
Vale lembrar as perseguições aos mustangs americanos: quando se viam extremamente acuados, eles saíam em disparado galope em direção aos cannyons e se atiravam nos precipícios.
Estresse
A Síndrome do Século atinge também os cavalos. A somatória de alterações físicas e psíquicas, resultantes de mudanças bruscas de rotina, fadiga por excesso de trabalho e muitos outros fatores levantam a questão do estresse no cavalo. O estresse é uma síndrome, que tem sua origem no meio externo e atinge com mais freqüência os cavalos submetidos a trabalho intenso, viagens constantes, treinamento excessivo, confinamento prolongado, exposições etc. Os animais criados em campo aberto raramente apresentam esse distúrbio.
Estresse físico
Surge quando o cavalo, sem estar devidamente preparado, é submetido a um aumento diário de exercício ou a exigências excessivas em razão de alguma prova. Os sintomas são sonolência, cansaço e a recusa a obedecer – estereótipo perigoso de hiperagressividade. Em casos extremos, o animal parte para a automutilação. Os cavalos “atletas” também estão sujeitos a danos provocados pelo condicionamento físico mal conduzido. Assim, ocorrem problemas de exaustão em órgãos vitais, coração, rins, pulmões e fígado. O aparelho locomotor, por ser muito exigido, está sujeito a fraturas, tendinites, artrites entre outros problemas.
Sono
Os cavalos apresentam diferentes níveis de sono e podem até sonhar. Sentir-se seguro é fator fundamental para que o cavalo durma tranqüilo e tenha um bom relaxamento muscular depois do trabalho. Um cavalo solitário dificilmente descansará bem se estiver num espaço muito amplo – ele se sentirá bem mais seguro e sereno se contar com a companhia de outros cavalos. Desta maneira, quando o grupo dorme, um fica de sentinela, apenas cochilando.
(Fonte: Dra. Amélia Margarida de Oliveira - médica veterinária)