Autora: Jurema Mascarenhas Paes
A síndrome cólica é um tema muito amplo e complexo por isto o texto a seguir tentará tratá-la de forma sucinta e de fácil compreensão.
Segundo o professor Armen Thomassian o termo síndrome reflete uma grande variedade de sintomas que caracterizam a doença; e cólica , a presença de dor abdominal.
Com a alta competitividade da criação os problemas intensificaram-se bastante , pois o aparelho digestório do eqüino foi moldado para receber apenas alimentação de pasto , e com as exigências da eqüinocultura moderna mudamos os seus hábitos alimentares mas não conseguimos mudar nem o formato nem a função do seu trato digestivo.
A detecção do problema é relativamente fácil de ser feita por sua sintomatologia dolorosa, mas a causa da cólica requer uma avaliação veterinária minuciosa, sendo a precisão e rapidez do diagnóstico fatores preponderantes para salvar a vida do animal.
Temos vários tipos de cólica as quais divido em cirurgicas e não cirurgicas.
Os sinais da cólica tanto cirúrgica como não cirúrgica, apresentam-se basicamente como uma inquietação do animal escarvando o chão com constantes deitadas e levantadas podendo vir a rolar, olhar constante para o flanco(vazio), posição de micção , etc.
As não cirúrgicas são aquelas que após feita a avaliação diagnóstica com os meios disponíveis são tratadas clinicamente , resumidamente podem ser:
1- cólica por sobrecarga gástrica - excesso de ração
2- cólica gasosa – alimentação com material fermentativo
3- cólica por úlcera ou gastrite
4- cólica por excesso de peristaltismo(aumento do movimento intestinal por medicação , estresse , mudança de hábitos alimentares , etc.)
5- cólica verminótica
6- Cólica por enterite anterior
A indicação de uma cirurgia é feita após exigüirmos todos os procedimentos clínicos possíveis para a resolução do quadro e termos a indicação principalmente pela palpação transretal e pelo Ph do refluxo(retirado via sonda) de que há um processo obstrutivo além do estômago.
As cirúrgicas , resumidamente , podem ser indicadas por :
1- torção intestinal
2- intussuscepção (quando uma alça de intestino entra para dentro de outra)
3- encarceramento nefro-esplênico(quando uma alça de intestino coloca-se sobre o ligamento entre o rim ao baço)
4- impactação – (ocorre um acúmulo de material ressecado dentro do intestino que não consegue transitar, podendo ser fezes ou não)
5- retroflexão (deslocamento de partes do intestino comprimindo outras alças)
6- enterólitos (“pedras” formadas dentro do intestino) obs.: hoje a maior causa de cirurgia em crioulos dentro do Hospital Veterinário do Jockey Club de Porto Alegre .
Hoje com as novas medicações e técnicas cirurgicas a recuperação de um animal operado é excelente e a porcentagem dos animais salvos é muito alta , sendo isto muito gratificante para nós veterinários.
Como formas de prevenção da síndrome cólica não cirúrgica indica-se procedimentos alimentares e higiênicos básicos para quem quer ter um animal em cocheira, como alimentação de boa qualidade , revisar para ver se o animal não esta ingerindo cama , vermifugação regular , cuidar para ver se a ração não está mofada , limpar os cochos da água regularmente e os de alimentação sempre após as refeições , fornecer pasto verde de boa qualidade e em grande quantidade pois afinal de contas o eqüino é um ser que na natureza somente se alimenta de pasto então este item deve ser levado em alta conta na sua alimentação.
Para evitar as cirúrgicas recomendo que se tenha muito cuidado com cordões de material sintético dos sacos de ração, capas feitas de bolsa de ração, cordas de buçal as quais os animais possam por ventura estar ingerindo , pois estes materiais podem vir a ser agentes agregadores de minerais dentro do intestino e com isto potencializar a formação de enterólitos (“pedras”).
Para o tratamento desta patologia que tantos transtornos nos causa a minha recomendação é sempre chamar o seu Médico Veterinário assim que os primeiros sintomas se manifestarem, para que este possa diagnosticar a real causa da cólica e a partir daí instituir o tratamento mais adequado para o problema, pois se sabe que a brevidade do tratamento e a sua correção são fatores imprescindíveis para salvar a vida do seu animal.
Fonte: Dr. Fabio Prates, Cavalo Completo
Obs: Em Portugal é chamam o jumento de burro, como esse artigo é de lá resolvi deixar o texto original, sem alterações.
As necessidades imediatas de um burro são comida, água e abrigo. Os Asininos vivem cerca de 15 anos no meio selvagem e uma média de 30/35 anos como animal de companhia. Estes animais são considerados adultos cerca dos 4 anos. São considerados velhos para o trabalho sensivelmente aos 20 anos. O peso de um burro adulto varia entre os 100 kg e os 400 kg e a altura varia entre os 80 cm e 1, 5 metros ao garrote.
1. Alimentação
Tal como o cavalo, o aparelho digestivo do Burro evoluiu com adaptações para pastar. No entanto à semelhança de outros equídeos, e.g. cavalo e zebra, não são herbívoros ruminantes, pois possuem um só estômago.
Os Burros devem ser alimentados a horas regulares, pelo menos duas vezes por dia, para evitar problemas digestivos, muito comuns nestes animais. Todas as mudanças na sua dieta devem ser graduais.
As necessidades alimentares de um Burro, variam com a idade do animal, a actividade e o tipo, qualidade e quantidade de alimento que ingerem. O regime de semi-estabulação é o mais aconselhado, pois durante a Primavera, Verão e Outono os animais andam livremente e têm acesso às pastagens, espaço para se movimentarem, que lhes permite exercitar os músculos, etc.
Na manjedoura os burros escolhem, tal como o fazem nos campos de pastagem, as melhores ervas, afastando com um movimento da cabeça as menos suculentas. Quer isto dizer, que se o alimento não for de boa qualidade haverá um desperdício muito maior.
Não é de todo aconselhável dar alimentos poeirentos e bolorentos aos Burros, pois estes podem levar a doenças respiratórias sérias e/ou distúrbios intestinais.
Em termos gerais, a área mínima de pastagem deve ser de 0,5 hectares por animal. Quando as pastagens não têm pasto suficiente, ou este não é suficientemente nutritivo, por os solos serem muito pobres, torna-se necessário fornecer alimento suplementar aos animais. A aveia é um cereal muito utilizado para alimentar os equídeos. Tem muita fibra e pouca energia digerida (menos do que os outros cereais) e encoraja a mastigação, assim o excesso de comida é evitado.
As pastagens altas e suculentas podem levar a problemas como a cólica.
Cólica: A seguir à ingestão de alimentos que fermentam rapidamente, e.g. ervas ou alimentos concentrados, pode seguir-se a produção excessiva de gás no estômago, pois os burros não têm a capacidade de arrotar. Assim sendo, ao não conseguirem remover o gás do estômago, ocorre uma distensão gasosa deste órgão que pode ser potencialmente fatal e muito dolorosa (cólica). As cólicas ocorrem com alguma frequência nos burros.
1.1 - Água
É imprescindível o fornecimento diário e em quantidade suficiente de água limpa e fresca aos animais para repor a água perdida pelo corpo através da urina, fezes, transpiração, na amamentação, etc.
Durante a amamentação as necessidades de água são maiores, assim como são maiores no Verão do que no Inverno.
1.2 - Sal
Os burros têm necessidades de sal (enriquecido com minerais), que deve estar livremente disponível para lamberem.
2. Cercado
Os asininos necessitam de espaço para se movimentarem e exercitarem os músculos, pastar, espojar, jogar, fazerem as suas necessidades fisiológicas, etc.
O cercado deve ser constituído por um abrigo, bem como deve possuir vegetação que crie sombras para os animais se protegerem dos raios solares nas horas de maior calor.
A loja ou abrigo onde os burros descansam, é essencial para o conforto do animal tanto no Verão durante o dia, pois é mais fresca, como no Inverno, quando é mais abrigada. Para além disso, as moscas, só num ambiente escuro deixam de atormentar os animais, pelo que é importante que a loja seja um local escuro e arejado, mas sem correntes de ar.
Dentro da loja, as camas dos animais devem ser quentes, limpas e confortáveis permitindo ao animal deitar-se e descansar ficando isolado do frio e da humidade. Utiliza-se muitas vezes palha de centeio, pois esta não é tão boa para a alimentação e para além disso absorve bem a urina e a humidade. A palha de trigo também dá uma boa cama, quente e confortável, é fácil de manusear (guarda-se em fardos) e tem uma boa drenagem.
3. Reprodução
A reprodução de burros deve ter objectivos claros e bem definidos. É muito importante recordar que um burro como animal doméstico pode viver até aos trinta e cinco anos, ou por outras palavras, é um animal doméstico para quase toda a vida. Uma vez que já existem por todo o país demasiados burros abandonados à sua sorte, sem haver quem os acolha e quem lhes preste os cuidados mínimos que todos necessitam, há que ponderar seriamente sobre a decisão de os adquirir ou reproduzir.
As fêmeas estão prontas para a reprodução quando atingem cerca de 1,5 anos de idade, altura do primeiro estro (cio). No entanto, não é aconselhável a cobrição das fêmeas antes dos 3/4 anos, pois só nesta altura estão realmente preparadas para conceber uma cria. A duração do estro na maior parte das fêmeas é de 5 a 7 dias.
Os machos atingem a maturidade sexual aos 2 anos, mas tal como as fêmeas apenas deverão reproduzir-se a partir dos 3/4 anos.
Os jovens machos podem ser castrados a partir dos 3 meses, no entanto aconselha-se a castração apenas aos 6 meses, idade mínima para o desmame das crias.
Em relação à cria, antes de esta nascer será conveniente consultar o Médico Veterinário, pois são necessárias vacinas à nascença e o animal necessita de ser desparasitado, entre outras questões que convém estar a par. É muito importante que o recém-nascido, durante as duas primeiras horas após o nascimento, ingira o colostro, primeiro leite produzido pelas fêmeas de todos os mamíferos que contém os anticorpos essenciais (espécie humana incluída), logo após o parto. Não se deve ajudar a partir o cordão umbilical, pois o fluxo de sangue entre a mãe e a cria só é completado após o nascimento. O cordão umbilical partir-se-á naturalmente.
Após o nascimento de uma cria, a progenitora voltará a entrar em estro 7 a 14 dias após o parto. A opção de cobrir a burra neste período deverá ser ponderada caso a caso. Há que ter em conta factores tais como: a idade da fêmea, o seu estado físico, a sua produção leiteira, o estado físico da cria e a idade de desmame, se previamente a burra foi coberta durante este período sem que daí tenham surgido problemas, etc. Alguns criadores defendem que a burra não deverá ser coberta no primeiro estro após o parto, pois a produção de leite diminuirá e assim a cria recém-nascida deixará de poder mamar convenientemente; para além disso é importante que se permita a recuperação física da progenitora após uma gestação de cerca de 12 meses. Outros criadores defendem que o primeiro estro após o parto é o mais fértil e em que a probabilidade da fêmea voltar a ficar prenha é maior.
A cria não deve ser separada da mãe e é muito importante que possa mamar até ao desmame natural, o que poderá acontecer entre os 7 e os 12 meses de idade. Se não se interferir, será a própria progenitora, na altura que achar apropriada, a repelir a cria. As crias de burro são animais frágeis e que adoecem facilmente, por isso necessitam de acompanhamento e protecção principalmente por parte da progenitora, mas também da parte dos humanos.
Adicionalmente, há outros cuidados essenciais a prestar para o bem-estar destes animais:
• As vacinas devem estar em dia e o animal deve ser desparasitado interna e externamente com regularidade, durante todo o seu ciclo de vida.
• Os asininos apresentam frequentemente doenças nos cascos, se estes não forem alvo da devida atenção. Estes necessitam de ser limpos e verificados com regularidade. Há que ter cuidado durante a limpeza dos cascos, para não magoar o animal, pois o casco possui zonas que são sensíveis. Igualmente há que ter atenção para não levantar ou dobrar demasiado a pata do animal, fazendo com que este se desequilibre, podendo magoar-se. A área onde os animais permanecem a maior parte do tempo, bem como a loja, devem ser limpas e o estrume deve ser retirado periodicamente. O piso onde o animal se move deve possuir uma boa drenagem de forma a permanecer quase seco. Os cascos gastam-se em função do uso e do piso onde o animal se movimenta. O aparo e/ou corte dos cascos devem ser efectuados sempre que necessário, por um Ferrador ou pessoa experiente no tratamento e manuseamento dos mesmos.
• Os dentes saudáveis são um factor importantíssimo para a qualidade de vida dos Asininos. A boca do animal, incluindo os dentes, deve ser examinada regularmente por um Médico Veterinário. Alguns problemas podem passar por um mau alinhamento dos dentes, provocando dores na boca, dificuldades de mastigação e fraco aproveitamento dos alimentos ingeridos. Os dentes dos asininos têm tendência a ficar pontiagudos com a idade.
• Não é aconselhável colocar pesos ou montar um animal jovem, antes dos 3/4 anos, pois este corre o risco de ficar com a coluna vertebral deformada.
• É necessário preocupar-se com a limpeza dos cantos dos olhos. A limpeza faz-se com um pedaço de algodão húmido retirando as ramelas que se acumulam nessa zona, atraindo moscas que podem fazer com que se formem feridas nos cantos dos olhos. No nariz também pode haver necessidade de se limpar o muco que por vezes escorre para fora atraindo igualmente moscas, e provocando potenciais feridas.
• Qualquer ferida que o animal tenha deve ser bem limpa e deve-se aplicar um spray próprio e/ou um creme cicatrizante, desinfectante e insecticida ao mesmo tempo, para afastar as moscas. Estas depositam ovos no interior das feridas, onde se desenvolvem as larvas, chamadas vulgarmente de “morcões”. As larvas causam problemas sérios ao animal, se não forem retiradas. Podem ser retiradas colocando água oxigenada na ferida para que as larvas se movam e deste modo seja possível retirá-las com a ajuda de uma pinça. Se necessário a ferida deve ser tapada depois de limpa e desinfectada. Qualquer falha de pêlo deve ser vigiada e se necessário deverá consultar o Médico Veterinário.
• Por fim, nunca é demais recomendar que se deve ter sempre à mão o contacto de um Médico Veterinário habituado a diagnosticar e a tratar asininos, bem como o de um Ferrador ou pessoa familiarizada com o manuseamento dos cascos dos animais.
Fonte: Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino
Conheça as partes da sela
Assento – onde o cavaleiro se apoia no cavalo. Não deve ser macio, mas sim anatômico.
Cabeça – parte posterior do assento, onde se fixa o pito
Pito – barra de ferro presa à armação que serve de base para as cordas e ponto de apoio dos cavaleiros
Suadouro – localizada na parte inferior da sela, é a parte que tem contato direto com o animal.
Para-lama – cobre o loro desde a armação até o estribo
Loro – tira de couro ou nylon, regulável, que prende o estribo à sela.
Estribo – apoio dos pés do cavaleiro que pode ser de madeira ou metal.
Látego – parte do suadouro que sustenta a barrigueira
Barrigueira – presa ã sela pelo látego, é uma alça que envolve o dorso do cavalo, fixando a sela sobre o animal. As barrigueiras traseiras também são chamadas de batedeiras ou barrigueiras de encosto.
Argolas – feitas de metal, servem para fixar barrigueiras e peiteiras.
História
O que antigamente não passava de um pedaço de pano, hoje são verdadeiras obras de arte, construídas com muita técnica. Ao contrário do que a maioria pensa, as selas são responsáveis pelo estreitamento da relação milenar entre o homem e o cavalo. No início, o homem montava a pêlo, depois passou a usar panos e fibras vegetais. As primeiras selas em couro datam do século 3 aC até o século 1 da era cristã. Surgidas nas sociedades das estepes asiáticas, elas visavam oferecer um conforto e segurança maior durante as guerras. E foi exatamente por causa das guerras que a sela se desenvolveu na Europa medieval, tornando-se o parente distante das selas de hoje. Diferentemente das selas inglesas que são usadas em esportes hípicos e lazer, as selas americanas (western) são usadas para trabalho e para esporte, devido a habilidade nata do americano para a combinação dos dois. Fabricadas no Brasil a cerca de apenas 20 anos, elas seguem rigorosamente a escola norte americana. Demoram pelo menos 40 horas para serem concluídas, por ser um trabalho minucioso e manual. Sua armação, que pode variar desde a madeira ao plástico injetado, é o verdadeiro chassi de uma sela. Os mais procurados são os de plástico injetado, por não deformarem devido a umidade. Infelizmente cada dia menos acessíveis devido a desvalorização do real perante o dólar. O couro deve ser de boi, já que o mesmo é 30% mais leve que o de búfalo, por exemplo, e mais resistente já que suas fibras são mais justas.
Achar couros de boi com no mínimo 0,5 cm de espessura é outro desafio, pois poucos são os curtumes que curtem o couro em extrato vegetal. Além do mais, geralmente o couro vem com defeitos devido a bicheiras e outro parasitas que infectaram o boi em vida.
Os tipos de selas
Apartação- Pesando cerca de 18 kg, possuem o assento mais reto, e raso, com a cabeça e o pito mais alto, para maior mobilidade do cavaleiro e segurança nas manobras. São também, mais estreitas, para um maior contato entre o cavaleiro e o animal.
Rédeas – Pesando em média 16 kg, elas têm detalhes bem mais específicos e são consideradas as mais técnicas entre as selas de trabalho. Sua armação é exclusivamente de madeira, seu assento é reto e raso, e sua cabeça e pito mais baixos para permitir que as mão do cavaleiro fiquem o mais baixo possível. Também devem Ter para-lamas mais estreitos, que quase não cobrem a lateral do dorso do animal, permitindo uma maior sensibilidade.
Elas devem ser feitas sob medida, de acordo com cada cavaleiro.
Laço – Ao contrário das selas de rédeas, esta sela está entre as mais pesadas, podendo chegar a 20 kg. Isso se deve ao fato da modalidade exigir maior resistência do equipamento, pois ele sustenta as cordas que seguram o bezerro.
Com um suadouro ligeiramente maior, para uma maior apoio do cavaleiro na laçada, elas diferem um pouco, de acordo com a modalidade praticada. As selas de Calf Roping (Laço Bezerro) têm que ter o assento raso e a cabeça mais baixa, para facilitar a descida do cavalo na hora da prova. Os estribos geralmente são mais pesados, para não enroscarem no pé e atrapalharem o atleta.
Já a selas de Team Roping (Laço em Dupla) têm o pito mais alto, para facilitar a amarração da corda e o assento mais fundo, para dar maior firmeza ao cavaleiro, que não precisa descer do cavalo após laçar o bezerro.
Em ambas as modalidades, deve-se usar as duas barrigueiras apertadas, pois o tranco no pito pode fazer a sela rodar e ferir a cernelha do cavalo.
Tambor – a mais leve de todas as selas, pesando entre 10 e 12 kg, ela apresenta tamanho reduzido, cabeça arredondada, pito baixo e inclinado para frente, e assento adiantado, com a parte de trás mais alta. Esses detalhes proporcionam maior encaixe do cavaleiro, maior segurança nas curvas e a mobilidade das pernas. Os estribos e lóros têm de ser resistentes para suportarem o peso dos cavaleiros.<
Bulldogging – o detalhe dos estribos e lóros também valem para as selas desta modalidade. Assim como nas selas de Calf Roping, os estribos também devem ser pesados, para facilitar as saída dos pés do cavaleiro na descida do bezerro. Outro fator que ajuda nas descidas é o fato de que devem ser baixos a cabeça e a parte traseira do assento, que é raso e reto. O mesmo deve ser liso, não pode possuir arremates, costuras ou decorações, pois podem atrapalhar que o cavaleiro deslize por cima dele, assim como a espora.
O pito baixo e pouco inclinado oferece maior encaixe para a mão do cavaleiro na hora da descida.
Fonte: Ong Casa do Estudante
Jumentos, zebras e muares, todos diferem um pouco da conformação dos cavalos. A diferença mais notável é, naturalmente, as orelhas. Orelhas de jumentos são muito maiores em proporção ao seu tamanho do que a de um cavalo. O pescoço é caracteristicamente mais reto nos jumentos, e a maioria dos jumentos e todas as zebras não têm uma cernelha verdadeira. A garupa tem uma forma diferente no jumento e nos seus híbridos, sem a curva dupla musculosa da coxa. O dorso é mais éreto, devido à falta de cernelha. Costas com ondulações ou tortos são uma falha de conformação, com exceção de animais velhos ou jumentas que produziram muitos filhotes, e não devido a fatores genéticos.
A crina e a cauda no jumento são grosseiras. A juba é ereta, raramente, pende para o lado e a cauda é mais como a de uma vaca, coberta com pêlos curtos na maior parte do seu comprimento, e terminando em um tufo de cabêlos mais compridos. Os jumentos não tem um franjas de verdade, embora, por vezes, a crina cresce o suficiente para baixo entre as orelhas em direção aos olhos. Como a juba é dura e às vezes esvoaçante, muitos jumentos, especialmente os de exposição, tem suas crinas cortadas curtas ou raspada perto do pescoço.
O formato do casco varia também, cascos de jumentos são menores e mais arredondados, com quartelas mais retas. As pernas devem ter boa ossatura, mas muitos jumentos de raças comuns podem parecer ter pernas longas e finas, com os pés minúsculos. Jumentos maiores, como o Poitou ou o Andaluz, podem parecer o oposto, com pernas enormes, pesadas e peludas e patas grandes e redondas. Boas pernas e patas são essenciais para a reprodução de muares, pois um bom pé é muito preferível a um grande corpo sobre as pernas finas e pés minúsculos.
Fonte: International Museum of the Horse
As "Cantigas de Santa Maria" são uma colectânea de poesia trovadoresca galaico-portuguesa, dedicada à Virgem Maria. Esta colectânea é constituída por 427 "cantigas", com as respectivas pautas de modo a que os poemas possam ser cantados e acompanhados por música. Trata-se do maior conjunto lírico musicado da Idade Média, sendo atribuído a Afonso X de Leão e Castela (avô de D. Dinis) e composto em meados do séc. XIII.
Esta cantiga conta o milagre de uma mula que sofria de gota e tinha as patas retorcidas. Seu proprietário, condoído pelas dores, ordenou ao seu criado que a matasse, para que assim deixasse o pobre animal de padecer.
"Como un ome bõo avia un muu tolleito de todo-los pees, e o ome bõo mandava-o esfolar a un seu mancebo, e mentre que o mancebo se guisava, levantou-[s]' o muu são e foi pera a eigreja.
Tant' é grand' a sa mercee da Virgen e sa bondade, que ssequer nas be[s]chas mudas demostra sa piadade.
E desto fez en Terena a Virgen Santa Maria gran miragre por un ome que un seu muu avia tolleito d'ambo los pees que atras tortos tragia, que sãou por sa vertude; e poren ben m' ascoitade:
Tant' é grand' a sa mercee da Virgen e sa bondade...
Este mal a aquel muu per gran door lle vera de gota que aas pernas e aos pees ouvera; e porende no estabro un mui gran tenpo jouvera que sol andar non podia, esto vos dig' en verdade.
Tant' é grand' a sa mercee da Virgen e sa bondade...
Quand' aquesto viu seu dono, atan muito lle pesava que por delivrar-sse dele log' esfolar-o mandava a un seu om'. E enquanto o manceb' ant'emorçava, foi-ss' o muu levantando con sua enfermidade
Tant' é grand' a sa mercee da Virgen e sa bondade...
E sayu passo da casa e foi contra a eigreja, indo fraqu' e mui canssado; mas a que beita seja, tanto que foi preto dela, fez maravilla sobeja, ca o fezo logo são, sen door e sen maldade.
Tant' é grand' a sa mercee da Virgen e sa bondade...
O manceb', a que seu dono ja esfolar-o mandara, poi-lo non viu, foi pos ele per aly per u passara, e viu-o par da eigreja, mas non tal qual o leixara; e foi en maravillado e diss' à gent': «Uviade
Tant' é grand' a sa mercee da Virgen e sa bondade...
E veredes maravilla estranna con gran proveito deste muu que ant' era d' ambo-los pees tolleito, como o vej' ora são andar e muit' escorreito; e vejamos sse é esse, e comigo o catade.»
Tant' é grand' a sa mercee da Virgen e sa bondade...
E logo foron vee-lo todos quantos y estavan, e adur o connoscian, pero o muito catavan, senon pola coor dele en que sse ben acordavan; mas sacó-os desta dulta a Virgen por caridade.
Tant' é grand' a sa mercee da Virgen e sa bondade...
Que aly u o catavan andou ele muit' aga tres vegadas a eigreja da Virgen Santa Rea a derredor; e a gente, que lle ben mentes tia, virono como entrou dentro, mostrando grand' omildade.
Tant' é grand' a sa mercee da Virgen e sa bondade...
E ben ant' o altar logo ouv' os gollos ficados, e pois foi-ss' a cas seu dono, onde mui maravillados eran quantos y estavan; e muitos loores dados foron a Santa Maria, comprida de santidade.
Tant' é grand' a sa mercee da Virgen e sa bondade..."
A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, vêm obtendo, dentro de um projeto inédito no âmbito de universidades públicas do país, o chamado superburro, resultado do cruzamento entre o jumento Pêga e éguas da raça Bretã. Os superburros são muares mais pesados, dotados de mais força para tração de carroças com cargas mais pesadas.
Os puperburros, segundo os pesquisadores, são capazes de tracionar uma carga igual a 15% de seu peso vivo, durante uma jornada diária de cinco horas de trabalho. Comparado com outros equinos, os muares têm tendência a uma maior recuperação de peso e menor consumo de água após uma jornada de trabalho de quatro horas.
Os muares são animais de tração, rústicos e resistentes a terrenos acidentados e temperaturas altas. Resultam do cruzamento de jumentos e jumentas com cavalos e éguas de diversas raças, gerando burros e mulas. Entre essas raças está a Bretã, originária da França, que apresenta machos de grande porte, com aptidão para trabalhos pesados.
Fonte: Revista Animal Businnes Brasil n 7, 2013
Dizem que o Jumento, e também as Cabras, só bebem águas bem limpas, mas comem até cascas de árvores. Nesta fábula uma Raposa observa um Asno comendo a ramagem da espinheira Paliúro e pergunta: "Como é que consegues comer coisa tão espinhenta e dura, quando tua língua é tão macia?" Dizem os apressados narradores que isto se aplica aos que proferem palavras ásperas e perigosas. REVISÃO - Quem proferiu palavras perigosas? Teria sido a Raposa, pois Esopo não nos apresenta a resposta do Jumento. Talvez a Raposa só quisesse comparar a fala macia dos ditadores mandando terríveis obrigações aos seus súditos. Se entrarmos nessa linha de pensamento, nossos Podres Políticos são mais habilidosos, transformando pela propaganda em comida palatável as espinhentas leis expropriatórias com uma fala (língua) aparentemente muito macia. Achamos outra versão onde o Jumento responde que não é a língua que faz o trabalho principal, pois são os dentes que moem os espinhos com as folhas e é assim que tudo isso vai alimentar sua forças. Aí já está mais de acordo com as fábulas dos Reis deuses da Antiga Suméria onde mandam que os homens não temam as mais espinhentas Sombras e aprendam a "mastigar" seus ataques (espinhos) sem se ferir com palavras ásperas. Se assim fizessem, as Trevas então envenenariam os "espinhos". Isto está bem de acordo com o aviso de Jesus Cristo: "Não vos oponhais frontalmente ao Maligno!"
Fonte: Shvoong
A linhaça, já é conhecida por trazer inúmeros benefícios para a saúde humana, e já vem ganhando espaço naalimentação de animais. Vários criatórios de cavalos do Brasil têm se rendido ao produto, capaz de reduzir em demasia os índices de cólica elaminite na tropa, além de proporcionar uma melhoria considerável nos aspectos depêlo e crinas. Já que a linhaça tem como característica predominante o fato de possuir uma semente muito rica em gordura vegetal. A quantidade é superior a todos os vegetais e comparável apenas a alguns peixes de água gelada como o salmão. Vale ressaltar que a linhaça tem 38% de gordura vegetal, enquanto a aveia 4,7% e o milho 3,9%.
A linhaça vem sendo administrada para os animais na forma de farinha integral ouóleo prensado a frio, o que significa com raras exceções que o processo industrial possa ser denominado justa e seguramente como beneficiamento, já que mantém intactas suas qualidades nutricionais. O ideal é que ambos, tanto na forma líquida como sólida, sejam fornecidos em pequenas doses misturados à ração, cada um na sua devida proporção.
Apesar de não existirem estatísticas a respeito, a cólica pode ser considerada como umas das principais causas de óbitos dos cavalos e a laminite a maior abreviadora de carreiras atléticas entre os eqüinos. O principal gatilho dessas doenças tão perigosas está na pressão alimentar a que são submetidos os cavalos atletas ou de exposição. O excessivo aporte alimentar para manter os animais superalimentados, com o objetivo de darem o máximo de si nas suas categorias esportivas ou nos julgamentos das exposições, pode comprometer a capacidade digestiva deles. E é aí que entra a farinha de linhaça integral e o óleo de linhaça.
De acordo com Gustavo Braune, médico veterinário especializado em cavalos, acupunturista, professor e estudioso brasileiro de alimentação eqüina, a utilização da linhaça na alimentação de eqüinos implicaria na redução da quantidade de concentrado ao cavalo, o que, segundo ele, é altamente favorável para quem tem estômago pequeno e para quem é atleta 24 horas por dia. “Isto evita a ocorrência da pior e mais freqüente doença dos cavalos – as cólicas gastrointestinais”.
A linhaça pode se configurar num “santo remédio” para quem precisa trabalhar, a curto prazo, animais que estão em regime de pasto para participarem, por exemplo, de leilões. Por mais que eles estejam gozando de plena saúde, nunca estão prontos para a festa. Falta um pouco de carne ou uma musculatura mais definida. Crinas, cauda e cascos normalmente não apresentam o viço necessário.
Se um animal precisa em média de três meses na baia com trato especial para chegar lá, Braune garante que com a linhaça em farinha mais o óleo é possível abreviar este tempo de recuperação do animal para 45 dias. Afirmou ainda, que é possível reduzir esse custo à metade. “E o mais importante, ele chega com seguro saúde, pois quem tem pouco tempo, mas adotou a linhaça não tem cólica ou aguamento”, garantiu.
Na alimentação do gado, Conceição Trucom relata em seu livro que “por suas propriedades diuréticas, o farelo (de linhaça) costuma ser direcionado também para a alimentação do gado leiteiro, objetivando o aumento da produção de leite. Outro aspecto interessante é que o gado tratado com o farelo produz uma manteiga de melhor qualidade, de textura mais macia e cremosa, além de mais saborosa.”
A linhaça é originária do Oriente Médio, mas cultivada em diversos países de clima temperado da Europa e da América. No Brasil é encontrada no Rio Grande do Sul.
Fonte: Mundo dos Cavalos
Adaptação: Escola do Cavalo
O cavalo, nômade e herbívoro, por natureza, foi concebido com os dentes preparados para o pastoreio, isto é, para simplesmente mastigar o que o animal encontrava na natureza, os diversos tipos de forragens, o que causava um desgaste lento e homogêneo, em sua dentição.
Entretanto, com o seu confinamento e domesticação, pelo homem, o cavalo teve alterada sua dieta original e mudanças em seus padrões alimentares. A partir daí, consequentemente, teve também alterados seus dentes e a mordedura.
Há exames periódicos, que devem ser contínuos, e se iniciam logo após o nascimento, onde são identificadas alterações congênitas. Aí, se verificam problemas no palato (céu da boca), deformidades como as maxilares e da mandíbula.
Recomenda-se que até os cinco anos de idade, os exames sejam semestrais, para os casos de dentes decíduos persistentes (dentes de leite que permanecem na arcada dentária), verificar se há fragmentos a ser extraídos, o que poderia causar contato inadequado entre os dentes superiores e inferiores, pela sua erupção desordenada.
São comuns pontas e deformações nas arcadas, em animais acima de cinco anos, proporcionando má oclusão dos dentes molares (posteriores) e incisivos (dentes anteriores), o que deve ser corrigido, como prevenção.
Na fase de doma, o exame dos dentes torna-se essencial. Disso, vai depender o bom desempenho do cavalo, porque o tratamento vai trazer-lhe mais conforto, o que torna o trabalho do treinador e o aprendizado do cavalo mais fácil e menos estressante, proporcionando um melhor resultado final.
Mesmo que não apresentem sintomas, o ideal é que todos os cavalos tenham seus dentes examinados, pelo menos, uma vez por ano.
A perda de peso, dificuldade para engordar, incômodo com a embocadura, puxão nas rédeas, o balanço da cabeça de um lado para outro, agressividade, lentidão ao mastigar, cólicas recorrentes e fibras longas de capim encontradas nas fezes são indicativos de problemas relacionados com os dentes, a serem investigados.
O risco de cólicas é bastante reduzido quando os cavalos têm acompanhamento dos seus dentes, periodicamente, porque possuem melhor mastigação e digestão, e apresentam uma considerável melhora no aproveitamento dos alimentos. As manobras e o andamento também são beneficiadas pelo conforto no manuseio das rédeas, além do benefício que os animais adquirem com maior longevidade e vida útil.
Por: Dr. Ciro Pinheiro Mathias Franco
Médico Veterinário – atuante em odontologia equina.
Cel. (11) 9814-6666
Fonte: Saúde Animal
Adaptação: Escola do Cavalo
A partir da chegada dos espanhóis na Cordilheira dos Andes e a identificação do monumental volume de minerais preciosos, ocorre o início de um fenômeno sócio-econômico com repercussão em toda América Latina - o Tropeirismo. Era o século XVII e o envolvimento atinge também o Brasil.
Simultaneamente os portugueses chegam ao Brasil com os mesmos objetivos dos espanhóis. Após um século no litoral resolvem ir atrás do ouro.
Lá, como aqui, na primeira fase, a chegada dos desconhecidos foi recebida com perplexidade e medo. Os locais dominados "colaboram" com os invasores e, através do porto de Cartagena das Índias, encaminharam para a Europa prata, ouro, pedras preciosas, estanho; enfim, enormes riquezas. Contudo, aqueles espanhóis enfrentaram, em pleno Oceano Atlântico, piratas e corsários, ingleses e franceses, ocorrendo combates e muitas vezes, naufrágios, ocasiões em que a valorizada carga era perdida.
Com o tropeirismo avançando em toda a América Latina, ocorre novo encontreo histórico entre espanhóis e portugueses, ampliando a soma dos usos e costumes entre os dois povos, incorporando hábitos indígenas e, mais tarde, os dos africanos.
Vive-se mais uma vez uma situação de conflitos. A força dos ibéricos contra os recursos dos habitantes da América Latina - que não conheceram armas de fogo. Para os indígenas, todos os elementos da natureza eram dádivas divinas que deveriam ser protegidas e respeitadas. Para os europeus isso não fazia sentido.
Os habitantes da América logo desistiram de colaborar com os visitantes, ainda que escravizados e, como o volume de minerais era enorme, os espanhóis traziam nos porões dos seus navios burros e mulas para execução dos trabalhos. Este é o início do Tropeirismo Latino. Interessante que a reserva do mercado de produção dos jumentos e éguas continuava sendo mantida na Europa.
O produto híbrido vinha para prestar os serviços de transporte para o grande e acidentado trecho da Cordilheira dos Andes.
Com o crescimento acelerado do volume de negócios, os espanhóis resolveram implantar um criatório de muares da América Latina.
Neste trecho, compreendido pelos pampas, uma vasta planície localizada entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul (Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil), nasce a região missioneira, onde uma parceira entre jesuítas e índios guarani se frutifica. A docilidade dos animais, a topografia, a dedicação e a seriedade dos padres e índios permite o sucesso.
Da região missioneira, os animais eram encaminhados para a cidade de Salto na Argentina - ao pé da Cordilheira dos Andes, guiados pelos "troperos" que os negociavam em feiras - as primeiras da América.
Os muares são animais resultantes dos cruzamento de jumentos com éguas, e são estéreis. No entanto, são facilmente domados, únicos perfeitamente habilitados a realizar o transporte de cargas em regiões serranas, rodeadas de abismos e florestas, montanhas e de solos áridos. De pouca exigência na alimentação, conviviam - notável saga - com nevascas, ventanias e toda a hostilidade da natureza.
Perto do ano de 1693, as primeiras minas de ouro foram descobertas no estado de Minas Gerais. Houve uma corrida desordenada rumo à região - que prometia fortunas -, o que desencadeou a escassez de alimentos, a falta de meios de transporte e as precárias condições de subsistência.
O ciclo do ouro estava em fase inicial e com ele o fenômento do Tropeirismo, atividade que determinou o povoamento de desde o extremo sul até o norte do Brasil.
Uniu territórios; conduziu o gado; escoou a produção econômica. Criou a identidade brasileira - fruto da miscigenação de raças, culturas, crenças e tradições -, entre indígenas, africanos e europeus.
Era preciso fazer chegar esse gado às Minas Gerais a fim de diminuir a distância entre as cidades e minimizar as crises de abastecimento, tornando possível o envio das mais diversas espécies de sortimentos; trazer do litoral até as minas os produtos necessários para os mineradores e enviar para o litoral o ouro por eles extraído; por fim, dar continuidade ao inevitável progresso.
Em 1733, o coronel português, Cristóvão Pereira de Abreu, partiu por conta própria - depois de em vão pedir apoio aos governos de São Paulo e Curitiba -, traçou e percorreu com sua tropa aproximadamente 1.500 km, o caminho que veio a ser conhecido como Caminho do Viamão, que saía dos Campos de Viamão (RS) e ligava Curitiba a Sorocaba. "Estrada Real", Estrada das Tropas", "Estrada do Sul", "Estrada do Viamão-Sorocaba", "Estrada do Certão" e "Estrada da Mata", também foram denominações dadas à estrada do Viamão.
Neste trajeto a tropa construiu mais de 200 pontes, levou mais de 2000 animais e fez de Sorocaba mais do que uma parada obrigatória para descanso de homens e animais; transformou Sorocaba no principal centro mercador de tropas do estado de São Paulo.
Tamanho foi seu crescimento e importância, que o Estado criou um Registro Fiscal a fim de controlar o número de animais e poder aplicar impostos sobre os mesmos.
O caminho integrou o extremo sul ao centro de Brasil e, por conseguinte, ao domínio português, visto que o território sulino, até então, estava sob posse espanhola. Foi por mais de dois séculos a grande estrada do Brasil nos tempos coloniais, por onde seguiram mulas e cavalos, suprimentos e correspondências, mas também e principalmente, homes e coragem.
Durante anos o País dependeu economicamente do caminho do Viamão. Os animais trouxeram a prosperidade e a riqueza, principalmente para os gaúchos que se dedicavam à sua criação.
Enriqueceram também os grandes homens das tropas, que por vezes iniciavam com dois ou três animais e ao longo do tempo acabavam por montar sua própria tropa com mais de 250 mulas, tornando-se ilustres e abastados donos de terras.
Todos se beneficiavam com a passagem das tropas cargueiras. Os ranchos surgiam e ao seu redor o comércio se formava, dando origem a vilas e povoados. Era preciso receber e alimentar tanto os animais quanto os tropeiros.
"Rebentou a feira" foi o esperado grito partido de Sorocaba. Por séculos o comportamento ecoava por toda a região em desenvolvimento no Brasil. Milhares de brasileiros dirigiam-se anualmente para Sorocaba a fim de adquirirem animais, arreamentos, armas, roupas e quantas quinquilharias oferecessem. "Breganhas, patacas e o dinheiro rolava". Enquanto havia animais para leilão, a feira continuava. Durante o dia tratava-se das mulas dando-lhes milho e sal para comer, cuidava-se do comércio, das selas, das cangalhas e dos arreios, e à noite as festas aconteciam; tinha cantoria, dança, jogo de truco e um bom papo recheado de "causos".
Quando tudo diminuía, era preparar as pensões e ampliar as produções para a próxima feira, a cada ano maior e mais dinâmica; acontecia ao final de março até junho/julho. Ir até Sorocaba foi uma epopéia monumental para tropeiros mineiros, valeparaibanos, fluminenses, capixabas, baianos, cuiabanos, goianos. Muitos repetiam, anualmente, a ousadia, contribuindo assim para a viabilização dos ciclos do ouro, da cana e do café. Estava sendo feita a História do Brasil.
Diversos fatores fizeram de Sorocaba uma das principais cidades, senão a principal delas, nesse contexto econômico do Brasil colonial.
Sorocaba possuía um vasto território - uma planície denominada de Campo Largo de Sorocaba -, capaz de abrigar, para que pastassem, todo o gado que ali chegasse; era passagem obrigatória para se atingir os mercados consumidores que se expandiam em torno; fazia a ligação entre Minas e Rio e, por fim, tinha o rio Sorocaba, que era um obstáculo aos que vinham chegando, o que facilitava a ação fiscal.
Ao chegarem a Sorocaba, para ser comercializados, os muares eram levados para a invernada - pastagem para descanso e engorda -, pois haviam perdido muito peso na longa jornada entre o sul e o sudeste. Aos muares vendidos na feira denominava-se "xucros". Era necessário amansá-los para que se tornassem animais para transporte de carga ou sela, quando então passavam a valer o triplo do preço.
A estrada de Sorocaba até o Viamão mostrou economicamente o Brasil. Os muares representavam dinheiro. Todos eram beneficiados com a passagem das tropas. Homens enriqueceram e modestos pousos tornaram-se animadas vilas e povoados. Em torno das feiras, paralelamente ao comércio dos animais, outras atividades foram se desenvolvendo. Surgiram os artesãos, seleiros, funileiros e ferreiros - atividades especializadas na produção de materiais utilizados pelos tropeiros. Botequins e pequenas lojas também foram abertos. Era enorme a procura por artigos de ouro - jóias e adereços -, e prata - artigos para montaria - estribos, esporas e afins e, principalmente, por aquelas que se tornaram conhecidas como as famosas facas de Sorocaba, utilizadas pelos tropeiros.
Foi a partir desse município que as tropas foram traçando caminhos que hoje são as principais rodovias do parís, com especial atenção ao Vale do Paraíba, que separa a Serra da Mantiqueira da Serra do Mar.
"Para o atento observados, as cidades do Vale não se distanciam entre si mais que 24 km (medidos em léguas, onde cada légua equivalia a 6 km), o que resultava em um dia de viagem com a tropa."
Passagem obrigatória para as Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e portos litorâneos, o vale se destacou como região promissora para o trabalho tropeiro. E, da mesma Sorocaba, tropeiros atingiram os sertões de Goiás-Velho, as minas de Cuiabá, os "caminhos" de Porecatu, Araxá, Amanhece, Cascalho Rico, atingindo a Serra da Canastra e toda a bacia do rio São Francisco.
Toda essa região entre serras propiciou o desenvolvimento do transporte de muares, das tropas e, por séculos, entre os ciclos da cana, do ouro e do café, deu origem ao surgimento de trilhas, rotas, pousos, ranchos e conseqüentemente, das cidades. O aparecimento dos pousos e dos ranchos confundem-se com o nascimento das igrejas. Tão logo eram erguidos casas e comércio, a capela também despontava. O sertão estava sendo ligado - definitiva, social e economicamente ao litoral. O declínio da feira em Sorocaba deu-se na década de 1820, devido à concorrência do gado muar agora também criado em Minas Gerais e em menor escala em Mato Grosso e Goiás e, principalmente, ao surto de febre amarela na cidade. O comércio de tropas foi então transferido para Itapetininga e muitos criatórios de muares já estavam sendo implantados na região sudeste.
Muitos ranchos de tropas transformaram-se nos mercados municipais, ainda hoje encontrados em quase todas as cidades brasileiras, onde se percebe forte influência da arquitetura ibérica.
A excessiva exploração das minas de ouro, obviamente fez com que as jazidas fossem se esgotando e o garimpo apresentou sinais de pouca rentabilidade.
Ao final de 1700 já não era possível encontrar ouro em abundância, mas o cultivo do café já começava a despontar, principalmente no vale do Paraíba. A criação de muares deu um grande salto e conheceu então o seu apogeu.
Pelas Serra da Mantiqueira o tropeiro levava o café para as Minas Gerais - de Lorena ao sul de Minas, de Monte Verde a Aparecida. Pela Serra do Mar e da Bocaina, seguia para o litoral fazendo com que a riqueza do novo ciclo abastecesse as cidades, chegasse aos portos no litoral e pudesse seguir para Portugal. De Cunha a Parati, de Taubaté a Ubatuba, de São José do Barreiro a Mambucaba, de São José dos Campos a São Sebastião.
As principais rotas usadas para ligar São Paulo e Minas ao Rio de Janeiro eram o caminho velho: Minas Gerais - Guaratinguetá - Parati, e o caminho novo: Lorena - Fazenda Santa Cruz. As cidades do Vale do Paraíba despontaram. Silveiras, Cunha, São José do Barreiro, Areias, Lagoinha, São Luís do Paraitinga, Bananal, Lorena, Roseira, Aparecida, Guaratinguetá, Taubaté, Jacareí, Queluz.
("Os Caminhos usados eram tão íngremes e tão difíceis os seus desfiladeiros, que a serra que divide o alto e o médio Vale do Paraíba recebeu a denominação de Serra do Quebra-Cangalha. O nome refletia o esforço para vencer a geografia local que, não raro, rompia as cangalhas, armações em madeira ou ferro que sustentava a carga distribuindo o peso para ambos os lados.")
Velhos e novos caminhos. Os mesmo corajosos e incansáveis homens. Os tropeiros, mais uma vez, faziam escoar a nova produção econômica do País - o café. Mas não só isso: levava-se também batata, trazia-se madeira, suínos, bovinos, feijão, milho, sal, arroz...
Levavam sua cultura por onde quer que passassem; aprendiam e ensinavam. Geravam riquezas, difundiam hábitos e costumes. Faziam florescer cidades a partir de ranchos de tropas.
Os caminhos estavam abertos pelo ciclo do ouro, as tropas experientes e os escravos, à disposição. A cafeicultura expandiu-se. No princípio como arbustos medicinais, e pouco tempo depois como a maior fonte de riqueza da região; "o maior fenômeno agrícola do século". Avançou pelo Vale do Paraíba, atingindo em meados do século XIX a província de São Paulo.
Surgiram os Barões do Café e com eles grandes transformações na sociedade. As casas residenciais saíram das fazendas para as cidades. Aprimorou-se a decoração - cópia da francesa; vieram os teatros, os saraus, as requintadas festas. Mudaram-se os costumes, refinou-se a educação.
Foram também os Barões que trouxeram com seus investimentos a estrada de ferro. Esta aproximou Vale e Corte, mas também trouxe a decadência dos portos no litoral com a inauguração do transporte ferroviário, que ligou os principais municípios paulistas ao porto de Santos entre 1867 e 1872, e a estagnação de outras tantas cidades do Vale, tendo em vista sua distância dos trilhos.
As mulas ainda se faziam necessárias tanto dentro das grandes fazendas, no trabalho árduo dos colonos, como para o transporte de cargas até as ferrovias, que por vezes eram muito distantes.
A queda do café iniciou-se e com ela alguns povoados extinguiram-se. Era o final do século XIX e início do século XX.
As décadas de 20 e 30 do novo século trouxeram consigo o crescente desenvolvimento de grandes centros como a capital de São Paulo, Ribeirão Preto, entre outras cidades interioranas, tendo como pano de fundo o avanço e a expansão das ferrovias e das estradas. Entretanto, ainda em 1940, estados como Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso ainda dependiam das mulas para fazer girar sua economia.
O tropeirismo mostrava sinais de declínio e ia sendo absorvido, pouco a pouco, por outras formas de transporte, primeiramente com o advento dos trens e a melhoria das condições de navegação e, depois nos anos 50, com a chegada dos caminhões e tratores.
Chegam as ferrovias. Chegam os automóveis. Vão-se os muares e os tropeiros. O legado há de se perpetuar através dos séculos. As lembranças sempre estarão presentes, principalmente quando a "prosa" estiver boa e o café saboroso.
Fonte: Ocilio Ferraz.
Obs: Em Portugal é chamam o jumento de burro, como esse artigo é de lá resolvi deixar o texto original, sem alterações.
Os burros são animais sociais. A um grupo de burros chama-se “burrada”. São animais que possuem uma estrutura social flexível, isto é, nenhum dos membros do grupo é dominante a título permanente. Os machos lutam pelas fêmeas em estro (corresponde ao cio nos machos).
São animais de temperamento dócil, forte e muito inteligentes, que não perdem a sua integridade e personalidade no contacto com os humanos. Segundo alguns especialistas, comparando com a espécie humana, comportam-se como uma criança inteligente de 5/6 anos.
Embora os burros sejam animais independentes, a companhia das pessoas é fundamental e rapidamente criam laços afectivos fortes com os humanos, se lhes for dispensada a atenção de que necessitam.
1. Comunicação visual
Os burros são comunicadores visuais sofisticados, transmitindo muita informação através de pequenas alterações na postura.
Como qualquer aproximação de outro animal pode ser uma potencial ameaça, eles adoptaram alguns comportamentos destinados a apaziguar e a tranquilizar os seus congéneres.
A posição das orelhas é uma parte importante da linguagem corporal do burro. Por exemplo numa ameaça branda, para morder os burros colocam as orelhas para trás e esticam o pescoço em direcção ao oponente, enquanto que durante o cortejo as orelhas estão em pé e viradas para a frente.
Na postura de cumprimento, as orelhas estão em pé e voltadas para frente e geralmente segue-se um toque com o nariz (nariz com nariz), no pescoço, no ombro ou no flanco do animal cumprimentado.
Quando os Burros estão infelizes ou cansados pode-se observar que as suas orelhas ficam deitadas de lado, (na posição horizontal em relação ao corpo).
2. Vocalizações
O tipo de vocalização, que emitem com maior frequência, é um característico Hi-Hõ – o zurro. Mas para além do zurro possuem um reportório variado de vocalizações, nomeadamente, uma espécie de grunhido, considerado uma vocalização agonística (os comportamentos agonísticos têm a função de alterar a distância entre os membros do grupo). Possuem também um tipo de vocalização particular para mostrar desgosto, excitação ou aflição, entre outras.
O zurro ouve-se a uma distância considerável. A título de curiosidade, no México, os Burros são apelidados de “os canários da montanha”, pelos seus zurros que ecoam por toda a montanha.
As funções do zurro são diversas, por exemplo, juntar o grupo, procurar um animal perdido ou advertir sobre o estatuto. As fêmeas em estro zurram com frequência. Os burros também zurram quando em regime de estabulação ou semi-estabulação (o mais aconselhado), acontece um atraso na hora de lhes fornecer alimento.
3. A Resposta de Flehmen
Os burros têm uma via olfactiva secundária que é usada para testar odores, mostrando um comportamento específico, a chamada “resposta de Flehmen”.
Durante a resposta de Flehmen os burros ficam com o pescoço levantado, frequentemente virado para um dos lados, enquanto o lábio superior é puxado e esticado para cima e o lábio inferior é puxado para baixo. Os maxilares inferior e superior ficam juntos com os dentes da frente a descoberto.
Os burros cheiram tanto a urina como as fezes uns dos outros, apresentando de seguida, com frequência a resposta de Flehmen, presumindo-se assim que estas excreções tenham uma função social relevante. É provável que a urina destes animais contenha informações como a receptividade da fêmea, identidade, estatuto, etc.
4. Cuidados prestados à pele e ao pêlo
Os Burros dedicam uma pequena parte do dia a cuidar da pele e do pêlo.
Conseguem chegar a grande parte do corpo por eles próprios. Para cuidar das partes inacessíveis têm estratégias tão interessantes como o grooming ou o acto de se espojar ou ainda o acto de se coçarem e.g. nos troncos/ramos das árvores, nos cantos das paredes de pedra, etc.
4.1 Grooming
Um dos enormes prazeres de ver dois burros juntos é vê-los fazer grooming mútuo.
Uma sessão de grooming mútuo é iniciada por uma aproximação de apaziguamento, em que o animal apresenta as orelhas apontadas para a frente e ocasionalmente a boca ligeiramente aberta tocando no pescoço do companheiro/a. Os dois animais colocam-se lado a lado, em direcções opostas mordiscando as costas um do outro ao longo da coluna vertebral, no pescoço, na crina e noutras partes inacessíveis sem um parceiro. Este ritual pode durar desde alguns minutos até mais de meia hora.
Para além de cuidar da pele, este comportamento afiliativo, dá conforto e tem a função de aproximar os membros do grupo. Os comportamentos afiliativos englobam o acto de cumprimentar, o jogo e o grooming.
Às vezes um dos parceiros faz grooming sem receber. Dois exemplos disso são, quando as progenitoras prestam cuidados ao pêlo da cria ou quando um macho durante o cortejo faz grooming à fêmea.
Estes cuidados prestados apenas num sentido têm tendência a ter uma duração mais curta.
4.2 Comportamento de espojar
O comportamento de espojar consiste em colocar o dorso em contacto com o solo virando-se sucessivamente para um e para outro lado, cobrindo-se de terra/poeira. Tem a função de remover o pêlo que está na muda e eliminar os ectoparasitas (parasitas externos) e com certeza, pelo prazer de coçar as costas. Gostam de fazê-lo em grupo e é frequente ver mais do que um burro a espojar-se ao mesmo tempo. Normalmente têm sítios seleccionados para o fazer.
Se observar um burro a escavar com uma das patas da frente um pedaço de solo nu, pode ter a certeza que instantes depois estará a espojar-se nesse local.
5. Comportamento sexual
As fêmeas dos asininos têm um comportamento sexual muito explícito. A fêmea em estro mostra-se irrequieta, urina mais do que o normal, frequentemente agita mais a cauda, faz um movimento de abrir e fechar a vulva e masca quando em presença ou ao ouvir o zurro de um macho.
O comportamento de mascar, semelhante a um movimento exagerado de mastigação, no qual os lábios superior e inferior nunca se tocam, é um comportamento de submissão (comportamento de aceitação, que serve para manter a ordem no grupo e evitar lutas). A fêmea move as maxilas para cima e para baixo com os dentes maioritariamente cobertos e os cantos da boca puxados para trás. As suas orelhas posicionam-se deitadas de lado e o pescoço fica esticado horizontalmente. A fêmea solicita ser montada colocando-se de costas em direcção a outros burros, fazendo pequenos movimentos de saltos com os quadris.
Um macho testa a receptividade de uma fêmea cheirando os seus genitais e descansando a cabeça nos seus quadris ou empurrando o seu peito contra a garupa (zona compreendida entre a inserção da cauda e o dorso do animal) da fêmea. Os machos também tentam montar fêmeas não receptivas.
Durante a cópula os machos frequentemente mordem o pescoço da fêmea, podendo feri-las com alguma gravidade. Por vezes é necessário ajudar o macho a encaminhar o pénis na direcção certa.
6. Vínculação
Logo após o nascimento forma-se entre a progenitora e a cria um vínculo muito forte, que é essencial para a sua sobrevivência. É com a criação deste vínculo que a progenitora vai prestar cuidados parentais à sua cria e não a outras crias quaisquer. Nos primeiros meses, a progenitora mantém um contacto físico muito próximo com a sua cria. No entanto, o vínculo da cria em direcção à progenitora leva uns dias a estabelecer-se, sendo que durante este período a progenitora posiciona-se sempre entre a cria e os restantes animais, não a deixando entrar em contacto com os outros.
Os cuidados parentais começam logo após o nascimento e prolongam-se até a cria completar aproximadamente um ano ou mais se mãe e cria permanecerem juntas. Estes cuidados incluem deixar a cria mamar, prestação de cuidados à pele e ao pêlo, e.g. grooming, protecção, etc.
Quando as crias são pequenas, enquanto descansam, as progenitoras permanecem junto delas. Quando crescem passam a ser as crias a tomar a iniciativa de permanecer junto da progenitora.
Fonte: Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino
Procurei Arcedino Bernardes (Arcedino com “r” mesmo, conforme enfatizou), o Dino Comissário, a partir de uma sugestão de Zé da Neta. Dino tem 87 anos (nasceu em 10/05/1920) e não parece. Quando cheguei em sua casa, D. Maria José, sua esposa, reclamava que ele havia subido no telhado para verificar algumas telhas: e lá estava ele, lépido como um jovem, subindo em telhados ... Dino Comissário tem uma saúde de ferro. Conversamos em sua casa, em um bairro de Goiânia, numa tarde chuvosa e quente de 2ª feira:
- ... nasci em São Sebastião do Paraíso, sul de Minas, em 1920, mas me mudei para Itumbiara (GO) com um ano de idade. Aí, quando eu tinha 8 anos fui morar com o Lalau do Couto, boiadeiro e comissário, pois meu pai tinha morrido. Quando fiz uns 10, 12 anos, comecei a ir na comitiva dele, pra Barretos (SP), trabalhando de copeiro, ajudando o cozinheiro. Na segunda viagem, já fui de ponteiro da boiada ... em 1934, eu fiz uma viagem, tinha 14 anos de idade, de Itumbiara pro Vão dos Angicos e depois pra São Sebastião do Paraíso, em Minas, foi 6 meses de viagem ...
- É muito tempo ! Onde é o Vão dos Angicos ?
- É um lugar no Vão do Paranã, lá no nordeste de Goiás (perto de Cavalcante)... nós levamos 16 dias montados só pra chegar lá.
- Deve dar uns 700 km ou mais ...
- Pois é, chegamos lá, o Lalau comprou 1.400 bois curraleiros (na época, não havia Nelore), aqueles chifrudos, boi de curral mesmo, era uma boiada de 8, 10 anos de idade, de 12 a 14 anos.
- Nossa, isso tudo ?
- Era tudo boi muito erado (com muita idade, muitas eras) mesmo. Ficamos quase um mês lá, comprando e juntando gado. Saímos de Vão dos Angicos, passamos por Pirenópolis, Santa Luzia da Marmelada (Luziânia), Bela Vista, Pouso Alto (Piracanjuba), Morrinhos, Buriti Alegre, Itumbiara, Monte Alegre, já em Minas, Uberabinha (Uberlândia), Araguari, Lagoa dos Esteios, Serra das Sete Voltas, Rio São João, Rio Grande, na ponte Surubim, que liga com São Paulo, fomos pra Santa Rita de Castro, fomos pra Pratapolis e São Sebastião do Paraíso ... entregamos a boiada, foram uns 150 dias viajando com a boiada, fora o mês lá no Vão dos Angicos, levamos 6 meses. Ainda voltamos a cavalo pra Itumbiara ...
- Isso é que é viagem ... Naquela época, década de 30, sem estrada, sem recursos, 6 meses no maior sertão ... boiada curraleira e o sr. ainda menino ...
- Eu viajei de 34 a 41 como capataz, passei a comprar boi. Aprendi a contar gado com o Lalau. Pegava gado no interior de Goiás, até em Rio Bonito (Caiapônia) e levava pra Barretos, em São Paulo.
- Como eram as viagens naqueles tempos ?
- Ah, viagem era só no mato, cerrado, não tinha ponte, cruzava rio a nado, era uma solidão só. Tinha uma coisa boa: toda vez que passava numa fazenda a gente ficava uma semana lá parado, o fazendeiro não deixava a gente seguir viagem, o fazendeiro achava tão bom ... mas hoje é diferente, não quer nem ver a gente.
- Fazendeiro queria conversar, né ?
- É, conversava demais com a gente, era o prazer deles, a gente levava notícias daqui, dali, né ...
- Ainda tinha tropeiro na época que o sr. viajava ?
- Tinha, todo mundo viajava no cargueiro (burro cargueiro), até o dentista tinha um cargueiro, era tudo no burro ... Bom, aí em 42 eu casei e virei comissário.
- E como foi isso ?
- Eu viajava de capataz e aí comecei a viajar pra uma pessoa, o Celso Vieira, que viu meu trabalho. Foi lá em Rio Bonito, eu comecei todo ano a ir lá comprar boiada e levar pra Itumbiara. Lá tinha boi mesmo, prá lá do Rio Bonito, tinha uns Vilela por lá, era muito boi, boiada boa toda vida ... E todo ano eu ia lá pegar boiada prá trazer pra Itumbiara. Aí esse Celso foi uma vez, viu meu trabalho, depois de uns 10 dias trabalhando, juntando gado, era 1.100 bois, ele já ia embora, cedinho, lá na comitiva, me perguntou “você ganha quanto ?”. Eu respondi, uns 300 mil réis por mês, era mil réis, os peões ganhavam 2 mil réis por dia, eram uns 12 peões comigo. E ele falou “pra tomar conta desses mil e tantos bois ? e a responsabilidade toda sua ?”. Nós tinhamos juntado aquele gado brabo, eu tinha prática ... Ai ele falou, eu nunca esqueci disso: “o Dino, você tem muita capacidade, não precisa trabalhar de capataz não. Você precisa comprar uma tropa e trabalhar de comissário”. Lá eu tava com 40 burros. Ai eu falei, comprar com que ? “Quando você chegar lá em Itumbiara, eu vou te vender uma tropa”. Quando ele saiu, mandei um peão levar ele lá em Caiapônia, ele ia pegar um ônibus ou caminhão, não lembro, eu falei com os peões, olha, aqui no mato todo homem é muito bom, ta falando que vai comprar tropa pra mim, chega lá nem me conhece ... Mas quando cheguei em Itumbiara, ele me mandou um bilhete, fui procurar ele, ele me mandou ir em Água Limpa, na fazenda, ir pegar 40 burros, eu fui até lá com meu cunhado. Cheguei na fazenda, o Celso falou “a tropa ta aí, a tropa é pra você”. Eu falei, eu não dou conta de pagar essa tropa, não. Um tropão que precisava de ver ... Não, daqui pra Barretos eu viajo só com 16 burros, não precisa esses 40 não, eu disse. Com 16 burros eu levo 1000 bois pra Barretos. Aí ele mandou eu apartar os 16 burros, eu escolhi os mais ajeitados, tudo brabo, né ? Uma tropa ajeitada. Aí ele me disse, “assina aqui pra mim”, eu olhei, não era letra não, era um bilhete. Aí eu falei, eu não sei se dou conta de pagar, não. Aí ele falou “se não der conta de pagar, você pode sumir com burro e tudo”. Ele falou pra mim desse jeito. Aí eu e o irmão dela e mais dois fomos amansar os burros.
(d.Maria José intervém)
- Você ta me deixando de fora, né ? Foi nós dois. Ele repassava e eu botava freio ...
- A sra. montava também ?!
- Que que é isso ?! Fui criada em burro ... Uma mula saltou comigo na ponte Afonso Pena, a boiada tava todinha dentro da ponte e as tábuas estavam quebradas, um peão gritava “vai cair na água!”, caí nada.
(volta a falar o Dino)
- Aí, com essa tropa amansada, eu peguei uma viagem pra Guaíra, em São Paulo. Eram 800 bois, eu fiz a viagem toda sem pagar pouso, porque era a 1ª viagem como comissário, todo mundo dos pousos me conhecia, sabia que era a primeira viagem como comissário, aí ninguém cobrava ... Fiquei com 20 mil réis, paguei 16 mil pelos 16 burros e fiquei quite com o Celso. Isso foi em um mês. E aí nunca mais parei. Nunca faltou serviço.
- E viajou até quando ?
- A última viagem que fiz foi em 1995, pro Xingu, no Mato Grosso, 1.100 bois, foram 64 marchas. E parei porque não achei mais peão bom ...
- E quando o sr. veio pra Goiânia ?
- Eu mudei em 55, porque Goiânia tinha mais serviço. Trabalhei uns 4 anos só pra um frigorífico, puxava vaca pro frigorífico e depois voltei a viajar prá todo lado. Eu tive, antes de vir pra Goiânia, uma fazenda em Itumbiara, isso foi em 52, eram uns 14 alqueires, muito boa, vendi ...
- E qual foi a melhor viagem que o sr. fez ?
- Ah, eu fiz uma viagem que deu muito trabalho mas foi muito boa, eu saí com 400 vacas, a maioria tava mojando (prenhe), de Novo Brasil (GO). Tinha vaca com bezerrinha nova, eu botei a bezerra na carroça e fomos tocando até Cavalo Queimado (Araguapaz, GO). Lá, peguei mais 700 cabeças e seguimos viagem. E foi nascendo bezerro no caminho, eu tive que arrumar uma carroça prá carregar bezerro. Fomos até Arapoema (atual Tocantins) nessa toada. Foram 3 meses e cinco dias, nasceram 134 bezerros, morreram uns 10 no caminho ... Foi uma viagem diferente, muito boa. Botei o nome de Perereca na 1ª bezerra que nasceu ...
- E a pior ?
- Foi numa que peguei a tropa emprestada, acho que em 80, por aí. Peguei a tropa em Paraúna (GO), e a boiada pra lá de Mara Rosa (também em GO). Era pra ir até Inhumas, perto de Goiânia. Eram 900 bois gordos, dava umas 18 marchas, coisa pequena. Em Pilar de Goiás, perdi 2 bois, caíram num buraco. Não conseguia tirar de jeito nenhum e aí consegui vender um para um açougueiro, o boi tava no buraco, vendi como se tivesse 18 arrobas (1 arroba = 15 quilos). Ele matou lá mesmo. Quando o açougueiro pesou, deu 21 arrobas e 3 quilos ... Era uma boiada enorme. O outro boi eu dei para os garimpeiros ... Aí, numa ponte em Itapaci, a boiada estourou e correu pra cima do peão que ficava na ponte, controlando. Pisoteou o peão, que conseguiu abraçar o pescoço de um boi mas caiu da ponte, junto com vários bois. Morreu esmagado. Cheguei em Carmo do Rio Verde, fui benzer a boiada. Resolvi passar pela cidade no meio da noite, pra boiada não estourar. Quando eu to lá procurando benzedeira, um peão chega pra mim e fala que caíram 2 bois num buraco de fossa, na cidade ... Foi um desespero, um sufoco. Só consegui tirar os bois com ajuda de um monte de gente, foi no braço mesmo e até com a ajuda de um caminhoneiro, com corda. E o sr. sabe que depois que eu arrumei a benzedeira, nunca mais aconteceu nada ? A viagem foi até o fim sem nenhum problema ..
Dino Comissário está casado com D. Maria José Bernardes desde 1942.Ela, além de amansadora de burros, viajava, sempre que podia, na comitiva. Tiveram 4 filhos, todos casados. Eles têm 8 netos e 8 bisnetos. E é com orgulho que falam de todos. Dino é aposentado pela previdência pública, e, além da saúde de ferro, mantém a memória ativa e a alegria de quem cumpriu sua missão.
Goiânia, novembro de 2007.
Fonte: Foto Memória
Doença infecciosa, provocada por um vírus que se manifesta no aparelho respiratório e ocorrência de aborto, nas éguas, em função das lesões causadas nas artérias. Esse vírus, apesar de identificado, inicialmente, na Europa, em 1953, tem sido notificado com maior incidência, nos EUA. A partir do sêmen de um garanhão, ele foi isolado, pela primeira vez, na América do Sul. O portador era um cavalo argentino.
As raças puras são mais vulneráveis a essa doença; raramente ela aparece em cavalos mestiços. Pode ser confundida com a influenza e com a rinopneumonite, pois os sintomas respiratórios são muito parecidos.
Apesar de a manifestação do vírus ser mais comum em animais adultos, com maior gravidade, eles podem ser infectados em qualquer idade, até mesmo os potros, desde o desmame, até os dois ou três anos. A doença ocorre em áreas de alta concentração de animais, pois o vírus dissemina-se, rapidamente, num grupo de equinos suscetíveis e, apesar de a evolução ser curta, o surto pode persistir por longo período.
A doença fica incubada por um período de 2 a 10 dias, seguido por um quadro febril, entre 39 e 41 graus. É quando pode ocorrer a transmissão, pois o vírus está presente no sangue. Ela pode permanecer no animal por até 8 dias.
A transmissão acontece por vias aéreas, orais, água, fômites e alimentos contaminados por secreções e excreções de animais doentes. Também, é possível que se faça pelas vias venéreas, no contato com fetos abortados e placenta, no pasto. Líquidos e tecidos de fetos abortados são considerados perigosas fontes de infecção.
A eliminação do vírus acontece, também, pela urina e sêmen. Por isso, sabe-se que o garanhão infectado exerce papel importante na disseminação dessa doença, por serem portadores por longo tempo, apesar de se apresentarem sadios após superar a infecção.
Potros, filhos de éguas portadoras de anticorpos, são mais resistentes à infecção, pois ingerem os anticorpos maternos, pelo colostro que os protege por, aproximadamente, de dois a seis meses de idade.
Os sintomas respiratórios caracterizam-se principalmente por corrimento nasal – que pode tornar-se purulento –, lacrimejamento, conjuntivite e, em quadros mais graves, edema pulmonar. O animal ainda apresenta fraqueza muscular, tosse, apatia, falta de apetite, diarreia e cólica. Alguns animais estabulados podem sofrer edemas dos membros, que nos garanhões pode se estender até o prepúcio e escroto, e nas éguas, até as mamas. A doença é de caráter agudo e grave podendo, em alguns casos, ocorrer mortes sem que haja infecção bacteriana secundária. A morte acontece devido à desidratação ou insuficiência respiratória causada pelo edema pulmonar.
A consequência principal, dessa doença, e os inevitáveis prejuízos são os abortos, causados por miometrite necrotizante grave. Isso acontece por volta de quatorze dias após o aparecimento dos sintomas. Na rinopneumonite, isso ocorre mais tardiamente. O índice de perda de fetos é alto, girando em torno de 50 a 80%.
Sinais clínicos, como abortos precoces, sintomas respiratórios, exames laboratoriais, levantamento sorológico e isolamento viral vão determinar o diagnóstico. O vírus pode ser isolado a partir dos pulmões e baço de fetos abortados e do baço de animais mortos, porém não há corpúsculos de inclusão nem lesões específicas no feto.
O tratamento é sintomático, impedindo-se que apareçam infecções bacterianas secundárias, utilizando-se antibióticos e fluidoterapia de suporte.Repouso e vigilância para os animais infectados, enquanto que para os mais gravemente afetados, devem-se providenciar baias arejadas, porém livres das correntes de ar, com cama alta e macia.
A vacinação de todos os animais da tropa é o melhor meio de prevenção, apesar de ainda não haver, no Brasil, a vacina específica para esse mal, mesmo já se tendo notícia de que a doença acomete animais brasileiros. Essa providência ainda depende das autoridades dos programas sanitários governamentais, o contrário do que acontece no Canadá, onde a vacina é usada pela grande maioria dos criadores e médicos veterinários.
Vários fatores contribuem para que não ocorra a disseminação de qualquer doença, como a boa higiene do manejo e das instalações, a quarentena, a divisão dos animais por categoria etc.
Autor: Rogério Dantas Gama – Médico Veterinário
Fonte: Bicho Online
Adaptação: Escola do Cavalo
Como casquear um cavalo é assunto na Jovem Pan Online. Profissionais falam sobre a importância de cuidar bem do casco do cavalo.
Acesse: http://jovempan.uol.com.br/media/online/