Bem Vindo ao Blog do Pêga!

Bem Vindo ao Blog do Pêga!

O propósito do Blog do Pêga é desenvolver e promover a raça, encorajando a sociedade entre os criadores e admiradores por meio de circulação de informações úteis.

Existe muita literatura sobre cavalos, mas poucos escrevem sobre jumentos e muares. Este é um espaço para postar artigos, informações e fotos sobre esses fantásticos animais. Estamos sempre a procura de novo material, ajude a transformar este blog na maior enciclopédia de jumentos e muares da história! Caso alguém queira colaborar com histórias, artigos, fotos, informações, etc ... entre em contato conosco: fazendasnoca@uol.com.br

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Fábula - O PELEGO, O ARREIO E O JUMENTO

 

Esta fábula possui seis versões: Na primeira, o jumento, cansado de tanto trabalho, volta-se e vê somente o Pelego. Ele recrimina: Por que você me machuca e pesa tanto? O Pelego retruca - Eu sou  macio e leve, não me confunda com o arreio e com o cavalgante com sua carga de ouro e seu chicote.

Na segunda versão, "O Jumento carregando Ouro", ele se orgulha de ser mais que os outros jumentos porque leva ouro  merecendo ração melhor. Ocorre assalto, levando o ouro, deixam estropiado o jumento do ouro. Os outros lhe fazem ver que é um jumento igual a eles e sua carga não lhe servia para nada e valeu um castigo.

Na terceira, o Pelego inveja o jumento porque este recebe proteções especiais, comida, água mais pura... enquanto ele, Pelego, agüentam o cavalgante  esbravejando, malcheiroso, não recebendo nenhuma distinção por amortecer seu traseiro nos solavancos do percurso.

Na quarta versão, o dono do ouro termina com todas as discussões dos três, atirando o Pelego e os Arreios ao fogo, mata o jumento e ainda faz assado de sua carne.

Na quinta versão, a Sumeriana, explica o Rei professor aos humanos que o Rei das Sombras faz  humanos trabalharem, extrair  ouro, servir para amortecer os solavancos da vida, como jumentos, pelegos e arreios e ainda são devoradas suas energias e são atirados uns contra os outros para os seres das Sombras se divertirem, sendo todos descartáveis. Assim, recomenda aos humanos que se reconheçam todos como iguais e em evolução, podendo libertar-se das Sombras, se deixarem de dar ouvidos à escravocracia que estas lhes impõem, colocando uns sobre os outros e fazendo-os acreditar que são eles que estão escravizando e são donos do ouro e também responsáveis pelos conflitos que vivem. Termina a aula avisando que há, Acima, Budas (iluminados), aos quais se juntam após a morte os que alcançam Conhecimento e Consciência desta situação. Estes protegerão  quem alcançar grau de boa vontade suficiente, mesmo que "os Sombras" satisfeitos por terem levado todo o ouro, tentem acabar com os humanos desnecessários.

A sexta versão desta fábula é a tragédia humana de nossos dias, onde os Feudais do Ouro hipnotizados por obscuras sombras, Jumentos cavalgados não sabem por quem, matam, destroem, escravizam, chicoteiam e fazem acreditar que os homens é que produzem os conflitos que as sombras induzem nas mentes.

Do mesmo modo que nas fábulas, há os Pelegos, os que carregam ouro, os que se orgulham, os que chicoteiam, os reclamadores.

Fonte: Shvoong

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Papai Noel chega de carroça

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Papai Noel chega de carroça neste cartão francês.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Éguas abortam por causa dos machos: mito ou verdade?

 

Estudos recentes indicam que as éguas gestantes tendem a abortar se permanecerem junto aos machos.

Frequentemente, criadores de cavalos enviam éguas a outras manadas para se acasalar com garanhões. Ao regressarem grávidas, ao local de origem, elas se “envolvem” em relações sexuais “promíscuas”, com os machos do seu estábulo, num desejo de disfarçar a paternidade do potro. Isto não sendo possível, as éguas podem abortar a gravidez. É o que revela uma pesquisa.

Em roedores, esse efeito tem sido bastante observado. O cheiro de urina masculina faz com que uma fêmea grávida aborte. Essas descobertas explicam o alto índice de interrupção de gravidez em animais domésticos.

É provável que esse estranho comportamento tenha origem no fato de que os machos costumam matar os filhos de outros machos, numa luta pela supremacia, concluem os especialistas, através de um questionário respondido por criadores de cavalos. Éguas acasaladas em outros estábulos abortaram, em quase um terço, enquanto que todas aquelas acasaladas no seu próprio estábulo levaram a termo sua gravidez.

Observou-se, também, que as éguas eram mais propensas a ter gestações interrompidas quando os parceiros de acasalamento do seu estábulo ficavam em compartimentos próximos. As que foram separadas dos machos e, portanto, fisicamente incapazes de disfarçar a paternidade do potro, eram mais propensas ao aborto.

Já o aborto natural, provocado quimicamente, é um fenômeno bem estudado na biologia, conhecido como o efeito de Bruce.

Supõem os cientistas, que a atitude da égua “impede” um “desperdício de energia” em produzir prole que, provavelmente, ela vai perder para o infanticídio.

A ideia de que animais domésticos podem adotar essa estratégia veio a partir do estudo do infanticídio nas zebras.

Os cientistas acreditam que as zebras e os cavalos domésticos tenham desenvolvido “estratégias de aborto” similares. Eles pensam ser possível que as éguas escolham ter ou não, o potro que está para nascer.

Mesmo sendo um mistério a ser desvendado, essa alta taxa de abortos em equinos, os pesquisadores, afirmam que o estudo pode alertar os criadores sobre a inconveniência de se transportar a égua para o acasalamento ou inseminação artificial, pois exige certos cuidados.

Seu retorno ao ambiente com machos é obviamente prejudicial, sendo, provavelmente, uma das principais causas da alta percentagem de interrupção de gravidez, em animais domésticos.

Fonte: BBC

Adaptação: Escola do Cavalo

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Um pouso de tropeiro

 

O pouso foi a primeira manifestação de abrigo praticado pela mão do homem. Surgiu à beira dos caminhos, nos ermos das travessias, em locais mais propícios à ronda e guarda dos animais da tropa, como também à sua alimentação.

Rude e desconfortável, representava para o caminheiro um abrigo de que ele e a sua tropa tanto necessitavam para refazer as forças e continuar a caminhada.

Na nossa história encontramos referências mais constantes aos pousos de tropas que vinham da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, em demanda a Sorocaba, a renomada feira de animais neste Estado.

Em suas primeiras viagens, os viajantes teriam de trazer de tudo quanto necessitassem para a longa travessia. Calcula-se que do centro do Rio Grande até Sorocaba medeia uma distância de nada menos de trezentas léguas, ou mil oitocentos quilômetros. Para quem vinha do Uruguai ou da Argentina, à distância acima pode-se acrescentar mais cerca de cem léguas.

A freqüência dos tropeiros, em seguidas tropeadas, fez com que surgissem, a princípio, toscos ranchos, nos quais se fixaram comerciantes dos gêneros que os tropeiros mais precisavam: sal, farinha e charque. O sal e a farinha principalmente, com as chuvas das caminhadas e as passagens dos rios, que não eram poucos nessa grande travessia, se deterioravam freqüentemente, causando sérios transtornos e até fome aos tropeiros. Também o charque. Preparação demorada, não poderiam eles adquirir uma rez viva, matá-la e charqueá-la e depois secá-la convenientemente, dentro do reduzido espaço de tempo que dispunham em cada lugar.

A esses ranchos se foram agregados outros, com novos tipos de comércio, e hoje todas as cidades que se encontram no antigo caminho foram de tropeiros.

A pousada se dava após um dia de marcha, calculando em mais ou menos dez léguas para muares. Enquanto os peões atendiam à ronda dos animais, estes cansados, iam se espojando e deitando, depois de Ter pastado e se dessedentado convenientemente.

Enquanto isso, com lenha catada durante a viagem ou nas cercanias, os peões faziam o fogo num local abrigado de vento, armando, desde logo, a trempe de ferro, onde penduravam o caldeirão com o feijão cozido na noite anterior. Ao lado, acomodavam a chocolateira, com água para o café e outro caldeirão com toucinho para o torresmo. Em quinze minutos estavam todos em condição de servir-se do despejado repasto: feijão virado com farinha e torresmo e uma carne assada com brasa. De sobremesa, o café.

O dormir era revezado: enquanto parte da comitiva dormia, o resto vigiava, fazia a ronda, garantindo a inteireza da manada, trocando de posições a cada duas horas. Tal como tropa militar.

Era sossegado, quando não chovia ou quando, em mata fechada, não havia onças, lobos e outros animais a perturbar a tropa.

A dormida, entretanto, era somente de metade da noite, assim mesmo intercalada, para cada um.

Meu avô, contando essas histórias de tropas, suspira fundo com saudades daquele tempo...

Fonte: Cícero Marques, Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapeva

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Importância da Espécie

 

Obs: Em Portugal chamam o jumento de burro, como esse artigo é de lá resolvi deixar o texto original, sem alterações.

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Importância da espécie
O burro está associado a um vasto património de importância social, cultural, económica e ecológica.


Os asininos foram um pouco por todo o mundo tradicionalmente muito utilizados na agricultura. Em algumas zonas do planeta ainda o são.
No Planalto Mirandês as populações das aldeias vivem à base de uma agricultura familiar de subsistência, retirando dela produtos de grande qualidade. É uma agricultura que se faz em propriedades pequenas onde se cultiva pimentos, cebolas, couves, alfaces, batatas, feijões, etc. Na cultura das hortas, os asininos têm a vantagem de exercer uma menor compactação sobre os solos, por serem mais leves que as restantes espécies utilizadas na lavoura. Adicionalmente permitem uma mobilização do solo mais próxima da planta, sem a danificarem.


Ainda nos dias de hoje, os asininos dão uma resposta eficaz às necessidades de transporte das pessoas, e da comida para o gado - transporte a dorso -, são utilizados para lavrar a vinha, preparar e verificar o estado das terras, para semear e arrancar batata. Desempenham também a importante função de fazer companhia aos seus donos, e são às vezes o único pretexto para o idoso sair de casa, pois é preciso ir pôr a burra a pastar (a maior parte das pessoas possui burros fêmea).


Benefícios sociais, culturais e económicos
São inúmeros os benefícios socio-económicos associados ao burro. Actualmente, no nosso País, ainda existem profissões ligadas ao gado asinino, tais como: a de Albardeiro - aquele que faz albardas, cabeçadas, etc.; a de Ferrador - aquele que ferra e arranja os cascos; a de Tecelão - aquele que também tece alforges. No passado algumas das profissões ligadas aos asininos eram: a de Aguadeiro - aquele que vendia água ou a levava ao domicilio; a de Almocreve - aquele que alugava e conduzia bestas de carga, entre muitas outras.


O artesanato esteve desde sempre ligado ao gado asinino:
- na cestaria, existem os cestos esterqueiros e as cangalhas;
- as albardas, os alforges e as mantas de retalhos são, sem excepção, verdadeiras peças de artesanato.


O burro está também associado a inúmeros eventos culturais. São exemplos, as feiras ligadas ao gado asinino, e.g. Feira do Naso, próximo da aldeia da Póvoa e Feira dos Gorazes, na vila de Sendim (Concelho de Miranda do Douro), e Feira do Azinhoso (Concelho de Mogadouro), exposições, gincanas, corridas e concursos.


Existem alguns produtos derivados directamente do burro. A sua carne por exemplo é considerada muito dura (embora esta opinião não seja unânime), mas no entanto é consumida por muitos povos, simples ou sob a forma de enchidos.


O leite de burra é largamente procurado em muitas regiões pela indústria alimentar e cosmética. Em Portugal, o leite da fêmea asinina foi muito utilizado pelas populações rurais, sendo inclusive receitado pelos médicos às mulheres que não conseguiam amamentar, por ser um leite parecido com o que é produzido pelos humanos para alimentar os recém-nascidos. É um leite denso e açucarado. Também era tido como bom cicatrizante, aplicando-se em pomada nas feridas e doenças de pele. A sua pele dura e elástica tem numerosas aplicações, nomeadamente na fabricação de crivos, calçado, tambores, correias, sacos, tendas (usadas pelos nómadas árabes), etc. E já houve em tempos remotos, quem utilizasse os ossos de Burro para fazer instrumentos musicais (flautas).


O ecoturismo e as actividades lúdico-terapêuticas assistidas por burros são nos nossos dias duas das mais promissoras áreas ligadas à utilização dos asininos. É importante realçar, que o ecoturismo faz todo o sentido se o meio rural e as suas gentes mantiverem as actividades que lhes são características, o seu sustento e as suas tradições.


As actividades lúdico-terapêuticas assistidas por burros, para pessoas com necessidades especiais merecem destaque, pela sua importância terapêutica, ética, social e como potencial ecoturístico. Para mais saber mais sobre este assunto consultar item “Terapias com animais”.


Benefícios ecológicos
Na vertente agrícola/ecológica, o excremento de burro, juntamente com a palha utilizada na cama dos animais, faz um excelente elemento fertilizador das terras, o estrume, para as hortícolas, pimentos, cebolas, alhos, etc., cogumelos e flores. A utilização de estrume dos animais evita que se usem fertilizantes de síntese, promovendo uma agricultura mais ecológica. Os asininos evitam o avanço dos matos incultos, cuja presença descaracteriza a paisagem rural e facilita a propagação dos fogos.


Os asininos também têm aptidão para o pastoreio, fundamental para a preservação dos lameiros (prados e pastagens espontâneos), que se degradam caso não sejam pastoreados e/ou cortados. Os lameiros permitem a conservação de muros de pedra e sebes vivas, estas últimas constituídas por espécies autóctones (espécie que ocorre de forma natural numa dada região) como por exemplo, o Freixo-de-folhas-estreitas (Fraxinus angustifolia), e que servem de limite ao lameiro. Os muros de pedra e sebes têm um elevado interesse para a conservação de fauna selvagem, pois servem de abrigo e de local de reprodução a numerosas espécies importantes no controlo de pragas agrícolas.


No Nordeste Transmontano, o importante papel desempenhado pelo burro não se esgota com a sua morte. Assim, os cadáveres de asininos (e de outros equídeos), após ser verificada a sua condição sanitária por um Médico Veterinário, são transportados para um dos alimentadores de abutres autorizados no Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), onde se alimentam as aves necrófagas (animais que se alimentam dos cadáveres de outros animais) que nidificam nesta área protegida, e.g. Abutre do Egipto (Neophron percnopterus), Grifo (Gyps fulvus).


A certificação dos cadáveres pelo Médico Veterinário é fundamental para prevenir a transmissão de doenças na cadeia alimentar, ou pelo perigo causado pelo envenenamento dos animais que servem de alimento às espécies do topo da cadeia alimentar, e.g. abutre, lobo etc. É o Médico Veterinário quem decide se o cadáver do animal está ou não em condições de ser consumido por outras espécies, sem causar efeitos negativos.
Os abutres, como todos os animais necrófagos, desempenham um papel importantíssimo na cadeia alimentar, limpando os cadáveres dos animais e os excrementos, que de outro modo se acumulariam provocando mau cheiro e aumentando a probabilidade de transmissão de doenças no meio natural. Numa área protegida (PNDI) em que a disponibilidade alimentar para estas aves necrófagas não é assim tão grande, os cadáveres de equídeos, e.g. burros, têm a nobre e importante função de contribuir para a sua sobrevivência.

 

Fonte: Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Saiba como diagnosticar e tratar as endometrites em equinos

 

As endometrites são processos inflamatórios agudos, crônicos ou degenerativos do endométrio, podendo estes estar ou não associados a agentes infecciosos. Estas endometrites podem ser divididas em: a) causadas por doenças sexualmente transmissíveis; b) persistentes induzidas pela cobertura; c) crônicas; e d) crônica degenerativa.

O diagnóstico clínico pode ser feito por exame externo, com a presença de secreção muco purulenta.

A palpação retal pode auxiliar, mostrando o quadro uterino, que deverá apresentar-se sem tônus e com volume maior. O exame ultra-sonográfico mostra principalmente o acúmulo de líquido no interior do útero, sendo de grande ajuda no dignóstico. A avaliação cervical através do vaginoscópio pode mostrar um colo uterino aberto e relaxado, com forte hiperemia; podendo ter também acúmulo de líquido no fundo do saco vaginal.

O diagnóstico definitivo é através de swab e biópsia uterina.

Existem alguns fatores predisponentes que podem ajudar na ocorrência desta patologia, como por exemplo: idade, conformação perineal, condição corporal e utilização do cio do potro. Podem também ocorrer falhas nas barreiras físicas de defesa uterina (lábios vulvares, prega vestíbulo-vaginal e cérvix ); falhas nos mecanismos imunológicos ( S.I. humoral e celular ) e também podem ocorrer problemas na contratilidade miometrial sendo esta baixa ou nenhuma. A ocorrência destes fatores, associados ou não, podem desencadear uma endometrite.

O sêmen tem grande influência neste processo, pois no momento da cobertura, este carrega consigo várias bactérias e debrís celulares, causando assim uma reação inflamatória fisiológica. As éguas podem ser classificadas quanto ao seu tempo de resposta a este processo inflamatório em resistentes, se eliminarem a inflamação em até 72 h, ou susceptíveis, se a inflamação uterina persistir.

O principal agente etiológico, ou seja, encontrado em mais de 50% dos casos é o Streptococcus zooepidermicus, podendo também ser encontrados E.coli,Peseudomonas aeruginosa e Klebsiela peneumonie.

O tratamento pode ser realizado de 1h até 4 dias após a cobertura, sendo realizado através de lavagens uterinas com solução fisiológica, infusão de antibiótico (ampicilina/penicilina), utilização de ocitocina (ajudar na contratilidade uterina) e também pode-se utilizar plasma com leucócitos, associado à terapia com antibiótico.

A prevenção desta patologia pode ser realizada através de um bom manejo na hora da cobertura, realizando minuciosa limpeza da genitália externa da égua e do garanhão. Outro método utilizado é a redução do número de coberturas.

O uso de diluentes de sêmen, contendo antibióticos também ajuda a diminuir a contaminação uterina. Em éguas que possuem má conformação vulvar, é indicado o fechamento parcial da mesma, impedindo assim, a entrada de ar e outras sujidades. Através da realização destes procedimentos podem-se reduzir em grande quantidade possíveis contaminações, inflamações e consequentes endometrites.

Fonte: Ouro Fino

domingo, 1 de dezembro de 2013

Depoimento - Betinho

Depois de muitas tentativas e alguns meses de espera, consegui falar com Betinho numa tarde quente em Goiânia. Betinho trabalha atualmente em uma fazenda no município de Piracanjuba, em Goiás, e pouco vem à capital para ver a família e resolver seus assuntos pessoais. Sua casa, no bairro de Campinas, o mais antigo da cidade, foi construída onde outrora existiam muitos terrenos baldios e pouco movimento. Hoje a rua onde fica é um eixo de transporte, movimentada e não foi muito fácil encontrá-la. Betinho, como os outros, foi uma indicação de Neném Prado. Encontrei-o na companhia de Ivo, companheiro de viagens de muitos anos e foi lá, na sala decorada por berrantes na parede, que conversamos:

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- Betinho, eu queria saber de você as origens, como tudo começou ...
- Eu me chamo Idalberto Blanco Nunes e nasci em Buriti Alegre (sul de Goiás) em 21 de maio de 1942. Quer dizer, esse ano faço 65 anos ... Eu comecei a viajar com 8 anos de idade, tinha um tio que era peão de boiadeiro, eu morava com ele e aí, com 8 anos ele me levou prá fazer uma viagem ... foi minha primeira viagem como peão ...
- Igual ao Vandes, quando fiz a entrevista com ele eu soube e fiquei surpreso com a idade ...
- Pois é, lá fui eu ... foi uma viagem com o comissário Juca Lalau, tocando uma boiada do João Teimoso ... Nós pegamos o gado em Água Limpa prá entregar em Salto de Avaiandava, perto de Promissão (SP). Foram umas 35 marchas ... Nessa viagem, teve um troço que me deixou envergonhado, eu nunca esqueci ... me deram uma égua prá montar e essa égua tinha a orelha torta, nossa mãe, eu ficava muito envergonhado daquilo ... e, prá piorar, quando a gente chegou no rio Pedra Branca, caiu uma chuva muito
forte, eu tava na culatra - eu ficava com os bois cansados ou machucados lá trás – e aí a boiada foi se afastando de mim e começou essa chuva, eu com aquelas reses e pronto: com chuva, o gado vira prá trás e começa a voltar e eu não conseguia fazer eles ir prá frente, fiquei sozinho ali, com 8 anos de idade, sem conseguir fazer o gado ir prá frente. Passei muito medo. Sorte que meu tio deu por falta de mim, voltou e me ajudou.
- Depois disso, na volta, você continuou a estudar ?
- Voltei, mas eu tinha invocado com boiada. Daí, não parei mais de viajar, larguei os estudos e continuei. Quando eu tinha uns 15 anos, briguei com meu tio, saí da casa dele e fui morar com um amigo, o Canjica, larguei de viajar com meu tio, fiz muitas viagens com seu Alcides, Induque, Claudivino, Geraldinho Bento ...
- Quando você veio para Goiânia ?
- Vim prá Goiânia com uns 17 anos e fui trabalhar com o Geraldo Catalão, comissário. Trabalhei com ele uns 8 anos.

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- As viagens, continuavam para São Paulo ?
- É, era tudo prá São Paulo. Depois fui trabalhar com Nego Cícero, viajei muito tempo com ele, com tropa dele. Era tudo viagem de Goiás prá Vila Rica, no Mato Grosso. Atravessava o rio Araguaia no São Félix (S. Félix do Araguaia, MT) ou em Santa Terezinha ... a boiada passava toda na balsa, o rio era muito largo.
- E quando é que você virou comissário ?
- Ah, eu comprei uma tropa de 20 burros do Nego Cícero, com dinheiro de um lote que eu vendi. Eu tinha comprado esse lote, aqui em Goiânia, com economia feita com o trabalho na estrada ... Aí eu passei a fazer viagens para o Bordon (Frigorífico Bordon), pegava gado dentro de Goiás e Mato Grosso e levava prá São Miguel (S. Miguel do Araguaia, Goiás). Fiquei muitos anos nisso ...
- E depois ?
- Só viajando ... teve uns meses que fiquei dando pastoreio prá umas 1800 vacas lá no Mato Grosso, parei de viajar, mas peguei uma doença, a tal da “caladinha”, a gente fica tão doente que não consegue falar, tive que vir prá Goiânia, fiquei internado, deu trabalho ... Depois de curado, voltei a viajar.
- Eu sei que você fez uma sociedade com Neném Prado, como foi isso ?
- É, depois disso tudo eu juntei minha tropa com a do Neném, ele comprava o gado e eu viajava, uma hora com minha tropa, outra com a tropa dele. Espera aí ... eu estou esquecendo que, antes de comprar minha tropa eu fiz muitas viagens com seu Álvaro, eu contava o gado prá ele, fiz muitas viagens com seu Álvaro pro norte e prá São Paulo ...

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- Que bom você falar nisso, eu tinha esquecido que Seu Álvaro foi comissário por muito tempo. Quando eu o conheci, ele já estava trabalhando como peão de boiadeiro para o Neném Prado, acompanhei algumas boiadas com seu Álvaro na culatra, no início dos anos 90 ...
- Pois então, eu é que contava os bois prá ele. Teve uma viagem que fiz, foi a maior boiada que levei, foram 1791 bois de Catalão prá Novo Horizonte (SP), foram umas 60 marchas.
- Quase dois mil bois ? Isso era muito raro, né ?
- Era, dava muito trabalho prá contar, prá fechar o gado, foi uma canseira. Bom, mas voltando pro Neném Prado, trabalhei de sociedade com ele até quase parar. Só fiz mais uma viagem, a última, foi com Neném da Carmelita, foram 38 marchas, deu prá eu ganhar 4.000 reais ... você vê, hoje eu ganho 600 por mês na fazenda que trabalho e em 2002 eu ganhei 4.000 reais em 38 dias de serviço ... a gente sente falta mesmo da estrada.
- E a família, Betinho, quando você se casou ?
- Eu casei em Goiânia, em 74. Tive duas filhas, uma já casou e a outra é essa que mora comigo. Comprei esse lote aqui a prestação, fiz um barracão primeiro, fui morando e depois construí a casa aos poucos.
- E as histórias das viagens, os casos ? Tem alguma lembrança especial ?
- Rapaz, tem uma viagem muito triste, muito fúnebre ... quando eu era menino em Buriti, fiz uma viagem prá Promissão com Valmir Inácio, cunhado de Zé da Neta. Em Frutal (MG), num pouso que a gente ia fazer, quando o peão foi entrar no curral que a gente ia fechar o gado, tinha um homem morto, pendurado numa árvore ... foi terrível. Mas o pior foi na volta: o caminhão que a gente vinha tombou, perto de Frutal e um companheiro nosso morreu. Quer dizer, a viagem tava agourenta, né ?

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- É, essa foi triste ... e alguma viagem especialmente boa ?
- Ah, na época da Bordon, eram as melhores viagens que eu fazia ... tinha pouca despesa, sem carro prá atrapalhar, tudo no sertão, muita pescaria ... era muito bom. Mas, ainda teve uma viagem muito ruim também. Foi numa com Nego Cícero pra Vila Rica, no Mato Grosso. Dois peões adoeceram, o Luis Bento e o Dito Lázaro, ficaram muito mal. Quando chegamos em Porto Alegre (cidade do MT), eles comeram muita melancia, atacou o fígado, a malária também e aí os dois morreram ...
- Viagem boa é sempre longe do asfalto ...
- Pois é, eu não gostava de jeito nenhum. Quando a gente viajava pelo asfalto e tinha que pousar na beira da rodovia, eu tinha uma mula muito boa, de nome Brahma, eu deixava ela arriada e dormia no pé dela. Se algum carro espantasse a boiada, eu montava no ato e saía pra recolher o gado. Eu dormia e ela ficava lá, quietinha, do meu lado. Aliás, a derradeira coisa que me cansou e me fez para de vez foi quando um carro atropelou a boiada e quebrou 3 bois ... foi um descuido do bandeira (o sinalizador da pista), foi a pior viagem do mundo. Depois dessa eu parei.

Betinho viajou até 2002. Desde então trabalha numa fazenda em Piracanjuba, em Goiás, tomando conta de mil e duzentos bois. Deixei-o no início da noite quente de verão, na companhia de Ivo Duarte de Almeida, companheiro de muitos anos de viagem, hoje também aposentado. Ambos demonstram ter excelente saúde e uma disposição imensa para trabalhar.
Goiânia, março de 2007.

Fonte: Foto Memória