Bem Vindo ao Blog do Pêga!

Bem Vindo ao Blog do Pêga!

O propósito do Blog do Pêga é desenvolver e promover a raça, encorajando a sociedade entre os criadores e admiradores por meio de circulação de informações úteis.

Existe muita literatura sobre cavalos, mas poucos escrevem sobre jumentos e muares. Este é um espaço para postar artigos, informações e fotos sobre esses fantásticos animais. Estamos sempre a procura de novo material, ajude a transformar este blog na maior enciclopédia de jumentos e muares da história! Caso alguém queira colaborar com histórias, artigos, fotos, informações, etc ... entre em contato conosco: fazendasnoca@uol.com.br

segunda-feira, 30 de abril de 2012

sábado, 28 de abril de 2012

Criação de jumentos lácteos

 

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Criação Monte Baducco, jumentas voltado do pasto
recebendo alimentação (foto F. Paolicelli)

Considerações sobre a criação de jumentas para a produção de leite


Hoje, dezenas de fazendas na Itália estão envolvidas na produção de leite de jumenta, um novo emprego para algo muito antigo, já conhecido entre o povo egípcio. Este leite agora tem uma utilização nobre como um produto lácteo para pessoas alérgicas à proteína do leite de vaca, e a bebês órfãos ou filhos de mulheres sem leite que de outra forma não tem um leite adequado para tomar, Esses bebês podem ser alimentados com o leite de jumenta, pois é o mais parecido com o leite materno humano. A abundância desses animais é necessária para a exploração agrícola destinada à produção de leite. A situação atual é muito diferente, a mecanização da agricultura eficiente reduziu o número de jumentos drásticamente, de modo que podemos considerar todas as raças de jumentos italianos em alto risco de extinção. Dá para sentir a necessidade de ampliar a criação destes animais, a fim de atender a demanda de leite e iniciar um novo negócio a partir de um animal "esquecido".

Dispor de um leite natural e de alto poder hipoalergênico é definitivamente uma vantagem levando em conta os cerca de 15.000 crianças nascidas a cada ano na Itália com várias alergias contra caseína e outros elementos do leite. A possibilidade de introduzir com sucesso leite de jumenta na dieta dos bebês é suportado pelo seu perfil bioquímico, semelhante ao do leite humano, de fato, as semelhanças são quali-quantitativas. As únicas diferenças, referem-se ao teor de lipídios, o leite de jumenta é mais fina do que o bovino, portanto, apresenta um valor mais baixo de energia, mas essas reduções são facilmente controladas com adições adequadas ou pode-se ao longo do tempo selecionar os animais para esse critério específico. A possibilidade do uso do leite de jumenta, não se limita apenas à população pediátrica, pois o produto está ganhando mais apoio geriátrico também em alimentos e cosméticos. A composição bioquímica deste leite é caracterizada pela presença de proteínas do soro, biopeptides activas, ácidos graxos tais como ácidos linoleico e linolénico em classe omega 3 e ómega 6 e grande quantidade de lactose, tornando-se particularmente adequado para estas utilizações.

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Jumento da raça Ragusana, uma das raças mais indicadas
para a produção de leite (foto Alessio Zanon)

A Sicília é a região que mais tem preservado a tradição do jumento, e que atualmente detém o maior número de fazendas asininas do país, muitas das quais são projetadas para a produção de leite. Geralmente, uma manada de jumentos consiste em média de 20/25 animais com 1 ou 2 garanhões. As raças mais utilizadas para a produção de leite, são as mais pesadas​​, tais como raça Martina Franca e a Ragusana, mais adequadas simplesmente por uma questão lógica, porque a quantidade de leite produzido está relacionado com o tamanho do animal, neste tipo de fazenda existem mestiços ou animais que são o resultado de cruzamentos, certamente menos caros, mais flexíveis e ideal para iniciar tais atividades.

 

O jumento é um animal rústico, pouco exigente, que permite fácil adaptação, na maioria dos casos aplica-se uma técnica de criação semi-selvagem, uma gestão econômica. A ordenha pode ser realizada manualmente, ou de forma mais eficiente com o uso de um sistemas mecânicos utilizados para os ovinos e caprinos. Os ambientes utilizados para este fim, devem ser submetidos aos protocolos sanitários normais, mesmo para os animais mais comuns. A mama da jumenta difere da mama da vaca ou da cabra pois não possui um "tanque", uma cavidade intermammaria com a função de recolher o líquido libertado a partir de tecido glandular. Na jumenta, uma vez que não há qualquer possibilidade de armazenamento, a quantidade de leite obtido em cada ordenha é muito mais baixa do que os fornecidos pelos ruminantes. A quantidade média de leite obtido em cada ordenha pode variar de 300-750 ml com picos de 1200, 1500 ml em relação ao tamanho e tempo de mama do filhote. A melhor maneira de obter uma maior quantidade de leite por dia a partir de um jumento é imitar o modo como se alimenta o jumentinho, muitos mas pequenos atos de sucção, sugiro ordenhar as jumentss três vezes por dia, proporcionando assim um estímulo contínuo para a produção de leite. Na ordenha, por vezes, a presença do filhote é crucial para a libertação de leite quando se começa a ordenha, para remediar esta situação é usada a prática de separar o potro da mãe imediatamente após a ingestão de colostro no primeiro dia. Os potros serão alimentados ao biberão com leite artificial ou com o próprio leite da mãe.

Atualmente, as leis que regem a venda de leite de jumenta são parte de um antigo decreto real, segundo o qual se permite a venda de leite em locais adequados no próprio local de produção do leite. Por isso estão excluídos a priori, os canais mais comuns de vendas, o que penaliza a propagação deste produto, e inevitavelmente leva a redução do comércio. A forma mais lógica de venda, portanto, é a ordenha  da quantidade de leite necessária para a venda direta diária, o que permite vender um produto sempre fresco e evitar estoques desnecessários.

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Matriz da raça Ragusana com um carrinho de máquina de ordenha,
comumente usado para ovinos e caprinos (foto F. Paolicelli)

 

Os principais compradores do leite de jumenta são compradores privados que o compram para fins pediátricos. De acordo com uma pesquisa realizada pela latteDIasina.it 63% dos pedidos de leite são para crianças e tem aumentado o número e frequência de pedidos de clínicas pediátricas, ele é vendido a um preço que varia entre 7 e 10 euros, e é um produto que é geralmente adquirido em grandes quantidades, pois se bem preservado a 4°C pode ser mantido durante longos períodos, mas quando descongelado deve-se prestar atenção para que a temperatura de descongelamento não ultrapasse 70°C, a fim de evitar a perda de proteínas do soro.

 

A fatia das vendas de leite de jumenta, definitivamente menor que outros leites, mas não menos importante, diz respeito à indústria cosmética. Após as aspirações da beleza de Cleópatra e Poppea, a indústria de cosméticos agora produz alta qualidade de sabonetes que são capazes de dar brilho adicional e suavidade à pele, também grandes quantidades de leite são usados ​​para preparar banhos mornos em centros de beleza para quem quer reviver os banhos lendários no leite das jumentas.


A criação de jumentas está se tornando, cada vez mais importante, o leite é colocado no mercado como um produto de nicho, mas o potencial é realmente alto, o que é fácil de entender.

 

Artigo original em italiano, peço desculpas por qualquer erro de tradução. Fonte: Philip Paolicelli, Rivista di Agraria

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Vende-se leite de jumenta

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Passando por Carpina, em plena rodovia que corta a cidade, está colocada esta placa de publicidade. E já há alguns anos, o que mostra que tem freguesia certa.

Fonte: Blog do Ronaldo Cesar

segunda-feira, 23 de abril de 2012

ATENÇÃO: INSCRIÇÕES PARA XVII ENAPÊGA 2012

 

AS INSCRIÇÕES PARA A XXVII ENAPÊGA SERÃO ACEITAS ATÉ O DIA 30/04.

LEMBRAMOS QUE O NÚMERO DE BAIAS SERÃO LIMITADAS.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Leilão TOP da Raça Pêga & Mangalarga

 

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Data: 04/05/2012 Hora: 20:00
Cidade: Uberaba - MG
Local: Tattersal Leilopec

Oferta: Muares, Jumentos e Jumentas Pêga e Mangalarga Marchador

Informações:

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Transmissão:

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LOTE 09

Noca Delícia:

Linhagem Paterna: Água Comprida Comanche (Filho de Gas Ianque - Penta Campeão Nacional e Suzana de Mocó)
Linhagem Materna: Noca Aurora
Nascimento: 29/06/2010
Registrada

Pelagem: Ruã

LOTE 10

Noca Celta:

Linhagem Paterna: Água Comprida Comanche (Filho de Gas Ianque -Penta Campeão Nacional e Suzana de Mocó)
Linhagem Materna: Noca Baliza
Nascimento: 12/12/2010
Registrada

Pelagem: Ruã

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Depoimento - Nego Basílio

 

Nego Basilio, comissário de boiadas aposentado, mora em Trindade, perto de Goiânia. Vandes, a quem eu tinha entrevistado naquele dia, me levou até a sua casa e me apresentou a ele e sua família. Chegamos lá perto do fim da tarde e fomos muito bem recebidos. Nego Basilio tem um semblante tranquilo, sério e compenetrado. Conversamos no quintal da sua casa, na presença de sua esposa, d. Mariinha, companheira de mais de 50 anos:

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- Nego, onde você nasceu ?
- Eu nasci em Monte Alegre, Minas Gerais, em 13/08/33, mas vim de lá pra Itumbiara (sul de Goiás) em 1945. Dali fui pra Buriti Alegre com 18 anos. Acabei me casando em Buriti e vim pra Trindade com 28 anos.
- E como começou com a vida de boiadas ? ...
- Ah, foi lá em Buriti mesmo, lá tinha muito comissário, muita boiada, eu arrumei trabalho de peão de boiadeiro e comecei a viajar pra Uberlandia, Araçatuba, Pereira Barreto.
- Quanto tempo você ficou de peão antes de virar comissário ?
- Eu comprei minha primeira tropa com uns 30 anos, eu já morava em Trindade ... comprei fiado com um amigo, paguei depois. Eu fiz a primeira viagem de Iporá (oeste de Goiânia) pra Presidente Prudente, foram 72 marchas, eram 18 burros mais um cavalinho de madrinha (cavalo ou égua que viaja com a polaca, sempre desmontado, serve para agrupar a tropa em torno dele e ser facilmente localizado no pasto pelo barulho da polaca), na volta da viagem eu quis pagar a tropa com o dinheiro do serviço, mas ele me ajudou, falou que era pra eu ir pagando depois, aos poucos ... e assim comecei. Eu fiz muita viagem pro frigorífico Bourbon, em Goiânia, fiquei muitos anos puxando gado prá eles, uns 6 anos, trazia de dentro de Goiás mesmo, levava prá morrer no frigorífico.
- Então eram viagens mais tranquilas, mais curtas ...
- É, eu nunca perdi um boi sequer ... aliás eu só paguei um boi perdido, ele tinha ficado prá trás, o arribador foi pegar, achou o boi mas vendeu ... vendeu e voltou prá Trindade, tinha a festa de Trindade, ele queria vir prá festa, abandonou o serviço e veio gastar o dinheiro do boi. Mas, como o peão desapareceu, eu liguei pra casa, soube que ele tava na cidade, na festa, acharam ele prá mim, ele me pagou e eu paguei o dono da boiada, então eu mesmo nunca perdi um boi ...

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- Tinha briga, você andava armado ?
- É, briga tinha, uma vez um peão esfaqueou o outro, ficou preso numa cidade perto, eu deixei ele lá, o outro seguiu comigo ... na volta soltei o peão que tava preso, ele voltou prá casa comigo, na boiada. Eu andava armado enquanto podia, depois proibiram ...
- Nego, e esse apelido, Nego Basilio ?
- Eu já era chamado de Nego desde neném, aí fui trabalhar lá em Jussara (noroeste de Goiânia), na fazenda de um Zeca Basilio, fiquei lá uns 6 meses só, mas o apelido foi ficando, era Nego do Basilio, aí virou Nego Basilio ...
- E quanto às viagens, teve alguma muito ruim e alguma muito boa ?
- Nunca tive uma viagem ruim, eu gostava de todas, mas teve uma que eu gostei muito, fui de Anicuns, aqui pertinho de Goiânia, prá Naveraí, no Paraná, foram 74 marchas, levei 1400 bois, foi uma viagem muito boa, muito bonita. Nós descemos de balsa no rio umas 48 horas, foi lá no Porto Independência, depois desembarcamos a boiada e toquei mais 15 dias por terra, a gente desceu o gado no Porto de Cauá ...

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- Deu prá ganhar dinheiro ?
- Essa casa aqui, comprei em 73, na volta de uma viagem, fiquei com 13.000 limpo na mão, não sei que dinheiro era ... (era o cruzeiro e um salário mínimo naquele ano era de Cr$ 312,00) ... comprei essa casa e ainda fiquei com dinheiro, foi uma viagem de Itapirapuã (norte de Goiânia) pra Novo Horizonte, em São Paulo, foram 74 marchas ... eu também ganhava algum dinheiro vendendo burro da tropa, comprando burro no caminho, mais barato. Uma vez eu vendi 8 burros e fiz esse barracão que você tá vendo aqui do lado, só com o dinheiro de 8 burros ...
- Se pudesse voltar no tempo, faria a mesma coisa ?
- Ah, desde o tempo que tinha menos conforto, não tinha carroça, era tudo levado nos cargueiros, nos burros cargueiros, levava as roupas dobradinhas, bem guardadas, levava tudo, mesmo depois com as carroças, eu gostava de tudo ... o que piorou foi só os pousos, que no começo eram melhores, tinha pouso certo, era uns galpões onde a gente ficava, o gado ficava em curral ... depois os pousos foram acabando, começou a ter mais caminhão, menos viagem, então a gente tinha que armar a rede no tempo, a boiada ficava no curral de corda, mesmo assim, eu gostava, começava de novo, sim.

Nego Basilio fez a ultima viagem levando 1200 bois de Iporá até Novo Horizonte, em 62 marchas. Vendeu a tropa em 1996. Ele e d. Mariinha, aposentada do Estado, tiveram 3 filhas. Uma é médica e as outras duas professoras. Nego Basilio hoje recebe uma aposentadoria de um salário mínimo. Até hoje sonha com boiadas.


Goiânia, março de 2006.

Fonte: Foto Memória

terça-feira, 17 de abril de 2012

Casqueamento e Ferrageamento : Ferraduras

 

Não deixe seu cavalo depender apenas de sorte quando se trata de ferraduras! Conheça os materiais envolvidos na sua produção e algumas características relacionadas à sua utilização para as diferentes atividades dos cavalos.

Por Dra. Andréia Caldeira, Apoio A. P. Toledoeluizbanzi

As ferraduras de ferro têm sido utilizadas desde o século II a.C. e, desde então, sofreram poucas modificações em sua forma e tecnologia de produção. A ferradura é uma peça em forma de U, que é fixada na parede do casco por cravos, feitos de uma liga de aço e zinco. Esse é o tipo de ferradura que vem sendo usada a milhares de anos, e, nos dias atuais ainda lidera o ferrageamento dos cavalos no mundo inteiro. Sua principal função é poupar a sola dos cascos dos impactos com solos desprovidos de vegetação e, por isso, mais traumáticos.

Cascos são a “base” de um cavalo. Além de suportarem o peso do animal, em seu contato direto com o solo, sofrem as conseqüências desses impactos. Apesar de serem tão importantes, muitas vezes são negligenciados nos cuidados de higiene e manutenção que devem receber, Os bons tratos que os cavalos merecem, devem começar pelos cascos.

Quando consideramos os trabalhos de um cavalo em terrenos ásperos, pedregosos. em pistas de areia pesada, devemos lembrar que não ferrá-lo seria desastroso. Isto porque, a integridade das estruturas de seus cascos estaria constante e intensamente ameaçada. Lesões graves e ate irreversíveis podem se estabelecer decorrentes dessas contusões.

Historicamente, o ferrageamento tem sido “um mal necessário”. Quando bem conduzido precisa superar, pelo menos, 29 situações de perigo, ou seja, 4 ferraduras que se adaptem perfeitamente aos cascos bem aparados, respeitando as condições anatômicas do animal; os 24 cravos, em média, posicionados corretamente e 1 ferrador consciente da importância do serviço a ser realizado.

Então, quando a necessidade desse procedimento se faz presente, e importante confiar seu cavalo aos serviços de um profissional habilidoso e competente. O ato de ferrar, conduzido de maneira inadequada poderá causar sérios danos. Os mais comuns aparecem na fragilidade da muralha do casco devido às sucessivas aparações com a grosa e nas graves rachaduras ocasionadas pelos cravos. Outro grande dano acontece quando o cravo mal posicionado atinge o tecido vivo do casco. Este acidente pode favorecer infecções locais, bem como predispor o animal ao Tétano e à Laminite (aguamento). Fique atento. Se logo após o ferrageamento, seu cavalo demonstrar algum sinal de desconforto ao caminhar, o problema pode estar nos cravos ou ferraduras.

Lembre-se também, de que nesse assunto você terá que contar com os conhecimentos e a prestação de serviços de ferradores e veterinários, que irão orientá-lo no procedimento de cada caso em especial. Conheça agora os diferentes materiais com os quais as ferraduras podem ser confeccionadas e algumas características quanto à sua utilização para as diversas atividades dos cavalos. Confira as 20 Dicas para que você possa conhecer melhor o que o seu cavalo usa nos “pés”.

QUANDO FERRAR

Na grande maioria dos casos, a necessidade do ferrageamento surge durante a doma. Dependendo da função que o cavalo vai desempenhar, todo esse trabalho será desenvolvido em pistas especiais, nos mais variados terrenos. Após os ensinamentos básicos, manobras e exercícios mais específicos começarão a ser exigidos, preparando o potro para sua vida atlética. E preciso então proteger seus cascos do stress das inúmeras contusões com o solo. Para os cavalos de corrida, o ferrageamento é indicado no começo da doma, pois os potros já são iniciados no trote e logo estão galopando nas raias. Os potros de sela e trabalho, com bons e fortes cascos, serão ferrados quando, após a doma racional básica, em terreno “leve”, chegar o momento de serem montados.

Em ocasiões especiais, ferraduras também serão usadas em animais jovens para corrigir defeitos de aprumos ou quando elas se fizerem necessárias, como parte do tratamento de algumas afecções dos cascos. Claro que esses procedimentos serão orientados pelo profissional responsável pelo caso. Éguas em reprodução, que estejam soltas nos pastos, 50 serão ferradas com indicação terapêutica.

Os intervalos entre os ferrageamentos dependem basicamente da qualidade e do tipo da ferradura, da atividade que o cavalo exerce e do terreno onde ele trabalha. Nos cavalos de corrida é muito alta a freqüência das substituições das ferraduras, de acordo com as provas das quais participam. Já nos cavalos de passeio, montados quase que exclusivamente nos finais de semana, esses intervalos são maiores e o momento da troca é definido pelo desgaste das ferraduras ou sua perda. Logicamente, não convém passar de 40 ou 45 dias para providenciar um novo ferrageaamento, pois, mesmo com as ferraduras ainda em condições de uso, os cascos encontram-se crescidos, sendo necessário retirar esses excessos. Pela presença das ferraduras, os cascos não são gastos naturalmente, e por isso, um casqueamento mais regular mantém a integridade dos aprumos de seu cavalo.

FERRADURAS CONVENCIONAIS

As ferraduras convencionais, de ferro, podem ser encontradas prontas nas casas de produtos agropecuários. A maioria dos fabricantes as classificam na ordem crescente de seus tamanhos por números de 0 a 5. E, obviamente, por se tratar de produção em escala, não terão o formato e o tamanho perfeitos para os cascos do seu cavalo.

A orientação quanto ao número aproximado para as ferraduras de seu cavalo poderá ser fornecida pelo ferrador. É importante que elas sejam bem ajustadas antes de serem pregadas.

Há dois trabalhos de ajuste das ferraduras. Conhecendo as características de cada um, você poderá escolher qual deles é mais apropriado para seu cavalo. O trabalho a frio consiste em remodelar uma ferradura já pronta, servindo-se do martelo e da bigorna. Esse procedimento é o mais usado pelos ferradores, pela rapidez e praticidade, e pode ser realizado em qualquer local. Já o trabalho a quente, é realizado por profissionais que também são ferreiros, isto é, dominam a arte de manipular o ferro. E preciso ter um local apropriado, com uma forja funcionando, onde a ferradura será confeccionada ou remodelada nos exatos forma e tamanho do casco a ser ferrado. Esse é um trabalho artesanal e demorado, pois é necessário que a ferradura esfrie para que se possa “conferir” sua adaptação ao casco. Infelizmente, profissionais “ferreiros-ferradores” são raros hoje em dia e geralmente se recorre a eles para casos delicados, onde é imprescindível um ferrageamento perfeito.

As ferraduras de ferro vêm sendo usadas há muito tempo e são comprovadamente as de maior resistência e durabilidade. Claro que é preciso considerar o terreno onde o animal trabalha. Mesmo assim, comparadas com as de outros materiais, as de ferro são as que possuem vida útil maior quando estão bem pregadas.

Durabilidade é uma qualidade importante, mas como as ferraduras de ferro são pesadas, em alguns casos poderá ser necessário usar ferraduras de outros materiais menos duráveis e resistentes, mas que se aplicam melhor a cascos delicados e de muralhas frágeis.

FERRADURAS DE ALUMINIO

As ferraduras de alumínio são muito parecidas com as de ferro, embora sejam feitas mecanicamente, isto é, são industrializadas e não feitas manualmente. A principal vantagem da utilização desse material está no peso; elas são, em média, 50% mais leves que as de ferro.

As ligas de alumínio e a tecnologia trouxeram avanços consideráveis para as ferraduras, tornando-as mais leves, aumentando sua vida útil e diminuindo custos. A durabilidade das ferraduras de alumínio ainda é questionável, embora elas tenham sido amplamente elogiadas por técnicos da área. Sua comercialização é mais restrita que a das ferraduras de ferro, elas são encontradas em casas de produtos para eqüinos, especificamente. Também é possível adquiri-la diretamente com os ferradores, nos hipódromos.

FERRADURAS DE PLASTICO

Estas têm funções terapêuticas e corretivas Devido à sua flexibilidade e maleabilidade, podem ser moldadas especificamente para cada casco e são mais usadas em potros e animais jovens. Elas não devem ser aplicadas em cavalos que desempenham funções atléticas, porque não demonstram funcionalidade para esses casos.

Os modelos mais modernos usam poliuretano recobrindo o alumínio ou o aço e são conhecidas como ferraduras mistas de plástico-metal. Apresentam como vantagens um menor peso, maior capacidade de absorção de impactos e uma grande facilidade na colocação

A fixação da ferradura de plástico elimina o perigo e a agressão impostos pelos cravos. Essas ferraduras possuem em toda a sua volta, lingüetas que são coladas à muralha do casco. As colas recomendadas são as do tipo etano-acrilato (super bonder) e a sua utilização garante uma colagem rápida (10 minutos), durável e de fácil descolagem quando sua remoção for indicada. Para a fixação da ferradura, é necessário que a muralha do casco tenha seu verniz raspado e que seja desengordurada com álcool ou acetona antes da aplicação da cola, O efeito da cola sobre a parede do casco, embora se trate de um elemento químico, não tem demonstrado contra-indicação. E preciso analisar seus efeitos sobre as muralhas nos casos em que o uso é extremamente prolongado.

CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS

As ferraduras que apresentam maiores variações no formato são, sem dúvida, as de ferro. Além de amplamente difundidas, podem ser facilmente moldadas mesmo a frio. Alguns modelos especiais já são comercializados e muito conhecidos pelo seu uso. Assim, para os cavalos de Rédeas, as ferraduras de “esbarro” são imprescindíveis. Elas são prolongadas nas regiões dos talões (tipo esqui), favorecendo a realização dessa manobra.

Cavalos acometidos por problemas nos cascos, muitas vezes fazem uso das ferraduras de ferro “fechadas”. Elas possuem uma trava que une os dois talões, impedindo os movimentos naturais de expansão do casco. Assim, suas estruturas internas ficam imobilizadas e podem, com tratamento e repouso, ser restauradas.

Cavalos que participam de alguma modalidade esportiva como enduro e salto, e mesmo aqueles de sela e lazer, usam com freqüência ferraduras de ferro com “rampões”. Eles são como “saltos”, elevando as regiões dos talões. As ferraduras podem ser feitas já com esses saltos ou ter os rampões rosqueados no momento do uso.

Outra característica das ferraduras de ferro é a presença dos “guarda-cascos”. Eles nada mais são do que lingüetas posicionadas na região da pinça, logo na frente da ferradura. O guarda-cascos impede que ela perca sua posição original, que “deslize” no casco. São encontrados nas ferraduras dos cascos posteriores, pois são eles que “escorregam” com maior freqüência. Para cavalos de hipismo rural, cross e enduro, que precisam vencer descidas muito íngremes, os guarda-cascos se fazem presentes também nas ferraduras dos cascos anteriores. Em casos especiais, principalmente de fragilidade de muralha, o ferreiro pode forjar uma ferradura com várias lingüetas, assim, menos cravos serão necessários para a sua fixação, reduzindo a agressão desse procedimento.

As ferraduras de alumínio também têm algumas características especiais. Assim com nas de ferro, os guarda-cascos estão presentes e obedecem aos mesmos critérios de utilização. Como essas ferraduras são produzidas industrial-mente, em cada jogo (quatro ferraduras),essas lingüetas são encontradas somente no par dos posteriores. Dessa forma, para que elas sejam usadas também nos anteriores é preciso ter em mãos dois jogos e, com muito capricho, mudar o formato das ferraduras posteriores para uma adequada adaptação aos cascos anteriores.

Outro tipo de ferradura bastante conhecido é o que possui “agarradeiras”. São ferraduras mais altas e estreitas na região da pinça, e por isso permitem uma melhor aderência ao solo durante a corrida. Podem ser feitas em ferro ou alumínio. E preciso que se saiba que elas têm seu uso proibido em hipódromos oficiais.

O As ferraduras de plástico são as que possuem maior variedade de funções, formatos e tamanhos. Por serem terapêuticas, cada caso requer um modelo especial e, cada vez mais, as pesquisas avançam nesse campo. Sua grande qualidade está no fato dela ser facilmente adaptada ao casco. Atualmente, já são encontradas desde ferraduras para recém-nascidos até aquelas de formato totalmente específico para uma determinada afecção de casco. Como exemplo temos: a Heart-Bar-Shoe ou ferradura em forma de coração, que é usada para casos de Laminite (aguamento).

Fonte: Arquivo Revista Horse Business – Premium Edition CD 1 e CD2

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Os Tropeiros na Rota da Moda

 

1 PANORAMA HISTÓRICO

O tropeirismo é uma atividade que surgiu há quase 300 anos. No fim do século XVII, a atual região de Minas gerais recebeu um contingente considerável de paulistas e escravos, os quais foram em busca do ouro.

Como o principal desejo desses imigrantes era a exploração das pedras preciosas, a terra para o cultivo foi deixada de lado, o que desencadeou uma crise de fome e miséria na região, tal crise afligiu a zona mineradora por longos períodos, interrompendo os trabalhos extrativistas.

Uma solução viável foi transportar para Minas Gerais, gado, para suprir as necessidades locais. No século XVIII, portanto, o tropeirismo passou a assumir uma importância fundamental no transporte de animais vindos do Rio grande do Sul com destino a Minas Gerais.

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Foto 1. Tropeiros caminhando

Era um sistema de transporte de capital de grande importância para o desenvolvimento econômico e social do Centro Sul (São Paulo), do Centro Oeste (Minas Gerais) e do Extremo Oeste (Mato Grosso).

Tinha como finalidade carregar riquezas para orla marítima, (a principio produtos minerais e depois produtos agrícolas) e refluir transportando o que fosse necessário as pequenas cidades interiorizadas.

Essa movimentação era bastante longa e precária, o que desencadeou a criação de novas rotas para facilitar o trajeto. Essas rotas ficaram conhecidas como caminhos do tropeiro.

O Paraná desde as primeiras décadas da chegada dos portugueses, foi “uma grande ponte”: passagem de castelhanos para o Atlântico; caminho dos escravizadores e indígenas; invernada de tropas vindas do Rio Grande para as Minas Gerais e, posteriormente, para os cafezais paulistas; ponto estratégico para o controle do Sul do Brasil pela Coroa.

A comunicação dos campos gerais paranaenses com São Paulo é bastante antiga; porém, somente no século XVIII é que vai definir-se a denominada Estrada Da Mata. Era na realidade um caminho, ou simplesmente uma picada, que comunicava os campos do Rio Grande do Sul desde Viamão até a tradicional feira paulista de Sorocaba em São Paulo.

Seu trânsito tinha como objetivo o abastecimento da região de mineração no atual Estado de Minas Gerais.

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Foto 2. Mapa da divisão territorial do trabalho do tropeirismo.

Os tropeiros partiam dos campos gaúchos logo que terminava o inverno, viajavam lentamente e procuravam acampar onde houvesse abundancia de pastos e água. Em fins de março as tropas já se encontravam em Sorocaba, onde ficavam instalados até a época da feira.

Sendo a viagem do Rio Grande até Sorocaba muito longa, faziam-se necessárias algumas paradas, tempo preciso para os animais descansarem; outro fator determinante para longas paradas era o clima frio e chuvoso do Sul, geava muito, os rios alagavam, obrigando os tropeiros a permanecerem acampados por vários dias seguidos.

O Paraná que por séculos foi apenas lugar de passagem e povoamento litorâneo, vê ampliada rapidamente a ocupação do seu território.

No aspecto político, esse é o século da conquista e colonização militar.

No aspecto econômico, multiplicam-se as invernadas e cresce o comércio de gado em função de o Paraná ter no primeiro planalto e, principalmente, no segundo, imensas pradarias que, embora seus pastos fossem de baixa qualidade, eram adequados a invernar o gado vindo do Sul em direção as Gerais.

Aqui paulistas adquiriram grandes extensões de terra, tanto para invernar o gado que compravam no Rio Grande, como para criar. Muitos “fazendeiros de cidade” raramente apareciam em suas fazendas, deixando-as por conta de hábeis capatazes e peões, não sendo raras as fazenda geridas por escravos.

Com a decadência da mineração, que se dá após o auge ocorrido entre 1750 e 1820, o café passa a ser a atividade econômica principal. As tropas de boi que iam para alimentação das minas e as de burros e cavalos, para transporte, passam a se dirigir a São Paulo como principal mercado consumidor.

Sorocaba foi Grande feira de animais e manufaturados. São Paulo, no século XIX está em processo de crescimento econômico e populacional que acentua gradativamente a partir da segunda metade do século. Recebe animais das províncias do Sul, escravos dos Estados em torno a ele e grandes levas de imigrantes.

O desenvolvimento da cafeicultura atinge as excelentes terras do segundo planalto paranaense que se abrem como mercado para as tropas de animais criados no Paraná e no Rio Grande. Grande parte da historia do segundo planalto pode se resumir a uma palavra: gado. Nele estão as cidades de Castro, Ponta Grossa, Tibagi, Piraí do Sul, entre outras, que são pontos marcantes dos caminhos das tropas.

Em suma, o Paraná tropeiro – comerciante e criador – tem as seguintes fases no trabalho com tropas: bois e mulas para Minas Gerais no século XVIII; para São Paulo cafeeiro no século XIX e primeiras décadas do XX e para o norte do Paraná como extensão da cafeicultura paulista; e, por ultimo, os tropeiros que se punham a serviços dos frigoríficos. Paralelo a essa economia, conformou-se um modo de vida de toda uma sociedade.

O tropeiro deixou marcas importantes na cultura. Marcas essas que ainda encontramos nos costumes, na alimentação, na arquitetura e no modo de vestir. Nas regiões onde os tropeiros atuaram com mais freqüências ainda existem expressões que são utilizadas atualmente tais como: Reinar – que quer dizer quando uma pessoa esta mal-humorada, Berrante, instrumento de chifre de boi, usado para controlar animais como o próprio boi, e vários outros.

2 O TERMO “TROPA” E AS FUNÇÕES DO TROPEIRISMO

Tropeirismo é o termo designado à atividade exercida pelos tropeiros, que se constituía a grosso modo de por em marcha grupos de animais e conduzi-los de um local à outro.

“Tropa é um termo bastante antigo, tanto na língua castelhana quanto no português; porém, a sua associação a uma porção de animais agrupados e postos em marcha por grupos de homens substantivadas de ‘troperos’ – signo de uma profissão, de uma ocupação – nasceu nas bandas do Prata. (TRINDADE, 1992).

Segundo Trindade (1992), o “tropero” nasceu do comércio de muares nas áreas meridionais da América do Sul. Aqui no Brasil, mais especificamente, eles surgiram a partir de 1732, quando os colonos portugueses passaram a levar tropas de animais dos campos do sul à Sorocaba, SP. O termo “tropero” (tropeiro em português), bastante usado nas vacarias do Uruguai, passou a ser usado para designar aqueles que tinham habilidade para escolher homens e animais, negociar preços, formar uma equipe capaz de lidar com as boiadas, cavalhadas e muladas e, ainda, enfrentar perigosas e demoradas marchas pelo Caminho do Sul, partindo dos Campos do Viamão em direção norte. O tropeiro era o personagem central do tropeirismo e sua atividade estava diretamente ligada ao animal, sua locomoção e à integração do sul do Brasil às demais regiões. Os tropeiros andavam em grupos e tinham como função realizar o fornecimento ajustado entre criadores e negociantes, transportando manadas de gado vacum, cavalar e muar do lugar de criação para o lugar de consumo, de venda ou para portos.

No geral, podiam ser chamados de tropeiros aqueles homens que estavam de alguma forma envolvidos na condução, tratamento e costeio de uma tropa.

3 O SISTEMA DE PRODUÇÃO E A ORGANIZAÇÃO DAS TROPAS

Straforini (2001) explica que o sistema de produção como um todo funcionava com divisão territorial do trabalho, sendo que o sul do país se encarregava da parte de criação. Os gaúchos criavam os animais, os paranaenses alugavam os campos para invernadas e os paulistas comercializavam nas feiras em Sorocaba, a partir das quais esses animais eram distribuídos para as outras regiões articuladas na economia mercantil colonial.

Segundo Straforini (2001), os grupos de tropeiros eram organizados de forma que cada homem tinha uma função específica dentro do grupo. Os cargos mais comuns eram os de condutor, camarada, cozinheiro e aprendiz, que junto com os escravos formavam o elemento humano das tropas. O condutor conhecia bem os caminhos e tinham como função conduzir a tropa. O camarada era ligado aos donos das mercadorias e aos fazendeiros e era encarregado de supervisionar os escravos envolvidos na caravana. O cozinheiro preparava as refeições para toda tropa. O aprendiz acompanhava a caravana para aprender sua futura profissão. Estes quatro cargos eram essenciais dentro de todas as tropas, porém pouco remunerados.

Trindade (1992) define o dono de tropa ou o tropeiro, propriamente dito, como o dono do negócio, o chefe. Sendo o dono ele não participava das caravanas, permanecendo em sua cidade para cuidar da contratação dos camaradas, cozinheiros e aprendizes, além da administração geral do negócio e tomar as decisões. Ele podia não ser o único dono, mas tinha algum capital empregado na atividade.

4 A VIDA DO TROPEIRO E SEUS COSTUMES

Conforme Trindade (1992), tropear além de uma atividade econômica, era um estilo de vida. Tropear era um trabalho duro que exigia muito esforço dos envolvidos, e dava pouco retorno financeiro. O estilo de vida dos tropeiros que tropeavam era rústico, arriscado e isolado. Eles viajavam por meses enfrentando as mais diversas dificuldades: trajetos perigosos, caminhos acidentados, ataques de feras ou guerreiros indígenas, a rusticidade dos pousos noturnos, o cansaço físico, a comida precária, entre outras.

Segundo Straforini (2001), devido às condições difíceis das viagens, o cardápio dos tropeiros era bem limitado. Priorizavam-se os ingredientes mais baratos que davam maior sustância. Uma refeição tropeira podia incluir: carne seca, feijão, angu de milho, farinha de mandioca, torresmo e café com açúcar. O sal não era usado devido ao seu preço alto. Um dos pratos mais populares era o feijão tropeiro, que até hoje é muito apreciado em restaurantes típicos.

“A alimentação dos tropeiros era constituída por toucinho, feijão preto, farinha, pimenta-do-reino, café, fubá e coité (um molho de vinagre com fruto cáustico espremido). Nos pousos comiam feijão quase sem molho com pedaços de carne de sol e toucinho (feijão tropeiro) que era servido com farofa e couve picada. Bebidas alcoólicas só eram permitidas em ocasiões especiais: quando nos dias muitos frios tomavam um pouco de cachaça para evitar constipação e como remédio para picada de insetos.” (RECCO, 2006)

Straforini (2001) comenta que a vestimenta era muito importante para os tropeiros, pois além de ela servir como proteção física, era usada para acentuar a hierarquia existente dentre eles. Os donos de tropa se trajavam com tecidos rústicos e resistentes, chapéu de feltro, botas de couro flexível até a altura das coxas e mantas de baeta sobre os ombros. Já sobre a vestimenta dos outros membros não se têm muitos dados, sabe-se que ela seguia o estilo rústico da dos donos de tropas, mas era bem mais simples, sem o uso de botas e chapéus, por exemplo. De acordo com Tropeiros de Trindade (1992), sabe-se que o material usado era um algodão grosseiro tecido em Sorocaba. Os índios e negros envolvidos usavam muito ponchos grosseiros, brancos com riscas pretas ou pardas, feitos de lã de carneiro por mulheres do povoado de Mostardas no Rio Grande.

Trindade (1992), diz que a veste também variava de acordo com a região. Os homens de São Paulo, ao sudeste do Brasil que passavam boa parte de seu tempo sobre a montaria, usavam muito o poncho vasto, que cobria também parte do animal. O poncho alastrou-se rapidamente para região do Brasil central, pois era uma peça de roupa que além de proteger do frio e da chuva, servia de abrigo do sono ou barraca improvisada e ainda de proteção para as armas levadas em baixo do poncho. O poncho às vezes era substituído pela pala. Os sulistas usavam ainda chapelão de feltro, de copa baixa, abas largas e flexíveis ou às vezes chapéus de copa alta e abas curtas, à maneira do campeiro argentino. Uma camisa feita de algodão com um colete ou jaleco em cima, a ceroula folgada de algodão, algumas com as bainhas em crivo ou franjas, frequentemente acompanhado de uma calça em cima, Na cintura, uma faixa de pano colorido ou a guaiaca de couro. Por último completando o traje mais comum do tropeiro, as botas de cano muito longo, muitas vezes dobrado, com enormes esporas atadas a elas ou presas por tiras de couro aos pés nus do cavaleiro.

“A veste do gaúcho peão que passava muito tempo do seu dia a cavalo, era compleada pelo chiripá, um pedaço de baeta passado por entre as pernas e amarrado ao redor do corpo, da cintura para baixo, à maneira saiote, formando no trepasse amplos bolsos onde o cavaleiro carregava pedaçoas de fumo. Esse pano era preso pelo tirador (espécie de couro curtido e sovado) e por um cinturão também de couro e, segundo José Cezimbra Jacques em “Assuntos do Rio Grande do Sul”, “com bolsos e solapa abotoadas e efeitadas com moedas de prata ou ouro, que denominavam de guaiacas”. O chiripá dava ampla liberdade de movimentos ao homem campeiro e o protegia do frio.

No final do seculo XIX, o chiripá foi basicamente substiutido pelas amplas bombachas de pano, um misto de calças de padrão citadino com a tradicional calça larga, presa um pouco de abaixo do joelho, de origem espanhola (norte da espanha) e bastante difundida no Uruguai. Defendendo as tradições o escritor José Jacques chamou a bombacha de `assassina do chiripá´. “(TRINDADE, 1992)”.

Trindade (1992) explica ainda que para montar nas mulas era utilizado o “lombinho completo” ou arreio. Os arreios ou lombinhos eram compostos de várias peças (as chargas, mantas e cinjas, tudo ajustado sobre o lombo do animal) e essas peças serviam ao viajante para formar uma espécie de cama. No mais eram utilizadas bruacas de couro (caixas de couro) sobre as cangalhas das mulas cargueiras, onde iam mantimentos e utensílios de cozinha.

5 OS TROPEIROS E A ECONOMIA

“Sim, porque, sem o muar platino ou gaúcho, não teríamos tido esse motins econômicos, isto é, não teríamos tido toda a economia central brasileira, e não teria sido possível o Brasil”. A frase do autor Alfredo Ellis Júnior, em 1999, pode soar um tanto pretensiosa, mas expressa claramente toda a importância da atividade tropeirista na formação econômica do Brasil colonial.

A atividade dos tropeiros possibilitou o comércio entre as colônias mais desenvolvidas, os povoados mais inóspitos e o escoamento das mercadorias exportadas da Europa, que chegavam principalmente aos portos de Santos em São Paulo e ao litoral do Rio de Janeiro. Pode parecer impossível que estes carregamentos fossem transportados pelos muares, mas nos relatos da época existiam tropas de quarenta animais, multiplicando isso pela infinidade de tropas, pode se chegar a um número suficientemente capaz de transportar tais quantidades.

O tropeirismo contribui para a intercambialidade do comércio no Brasil como um todo, mas principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O que seria do comércio se o café produzido em determinado local e em grandes quantidades ficasse reservado a subsistência? Provavelmente teríamos até hoje uma economia primária.

Zamela, apud Goulart (1961), divide os gêneros transportados em cinco grupos:

  1. Gêneros essenciais à subsistência, tais como: os cereais, a carne, o sal, o açúcar, o toucinho. Destaque para a carne e o sal.
  2. Utilidades indispensáveis ao trabalho nas minas: os utensílios de ferro e aço, a pólvora e as armas com o que o minerador defendia sua data aurífera e que garantiam a continuidade de seu trabalho; o escravo que executava a extração do ouro e do diamante e que, sendo objeto de compra e venda, era também uma mercadoria que podemos colocar dentro deste grupo.
  3. Artigos para vestimenta e calçado dos habitantes das Gerais, os utensílios e móveis para a casa, arreios para animais, cavalgaduras, etc.
  4. Artigos de luxo, as coisas supérfluas e caras, porém muito consumidas por essa sociedade de novos-ricos que se constituiu nas Gerais.
  5. Pinga e tabaco podem parecer supérfluos, mas eram de vital importância para os mineradores.

Toda a ação dos tropeiros e a subseqüente evolução da economia brasileira não seria possível se não fosse a confiança delegada a estes personagens. Durante toda a história o único caso de um tropeiro desonesto foi o narrado por Gustavo Pena em conferência pronunciada no Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. O conferencista conta que certo dono de tropa em coluio com um velhaco, desviou mercadoria pertencente a outra pessoa, enriquecendo ao longo de alguns anos. Mas o mesmo se sentiu tão mortificado pelo remorso que depois de alguns anos pagou a dívida com juros. Conclui que “o único tropeiro desonesto que houve em Minas acabou honrado”. (GOULART, 1961).

Além de comerciantes, os tropeiros eram os intermediários e interlocutores de negócios entre as colônias, outro fator provocado pela confiança que lhe era reservada.

O lucro obtido pelos tropeiros, principalmente o dono da tropa era retirada pelo aumento, muitas vezes abusivo, do preço das mercadorias, subtraído pelos prejuízos ao longo do caminho, como extravio e perda de mercadorias e com a morte de animais.

Autores: Elinei Bahia Hermann, Thiago Lima e Patrícia Landuche

domingo, 15 de abril de 2012

História da sela

 

A sela Western, que evoluiu nas planícies americanas , era uma descendente direta da sela de guerra espanhola do século XVI, vindas com os conquistadores espanhóis que invadiram o México. Na sela Western cada parte evoluiu para satisfazer uma necessidade específica do vaqueiro , do chifre(pito) para o laço aos estribos largos nos quais o vaqueiro ficava de pé quando descia declives íngremes ou quando trotava ao longo das trilhas de gado. A primeira e verdadeira sela de vaqueiro americana foi desenvolvida pelo vaqueros mexicanos, pelos idos de 1830, conhecida como Sela de Missão da Califórnia Quando o Texas se transformou na terra do negócio com gado, a sela também se adaptou, surgindo a Sela do Texas, em 1850, mais leve e compacta. Antes de 1870 a sela tinha ficado mais longa, e todo seu vigamento estavam agora cobertos com couro, como na chamada Sela Denver. A sela clássica de vaqueiro, a Sela Califórnia, evoluiu na Costa Oeste, perto de 1880, surgindo como modelo padrão. Hoje a sela dos vaqueiros, a Sela de Cowboy, está cada vez mais popular no Brasil, substituindo os tradicionais arreios.

Fonte: Selas Prohorse

sábado, 14 de abril de 2012

Fábula - O jumento e o gelo

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O jumento e o gelo, ilustração de Adriana Saviossi Mazza

O jumento e o gelo, uma fábula de Leonardo da Vinci

 

Era uma vez um jumento que estava muito cansado e sentiu-se sem forças para ir até o estábulo. Isso aconteceu no inverno, e fazia muito frio.  Todas as ruas estavam cobertas de gelo.

– Vou ficar aqui, disse o jumento, deitando-se no chão.

Um pequeno pardal voou para junto dele e murmurou-lhe ao ouvido:

– Jumento, você não está na rua, mas sim sobre um lago congelado.  Seja prudente!

O jumento estava cansado.  Não tomou conhecimento do aviso.  Bocejou e adormeceu. O calor de seu corpo começou aos poucos a derreter o gelo, que, finalmente, estalou e partiu-se.

Ao ver-se dentro d’água, o jumento acordou aterrorizado.  E enquanto nadava na água gelada, arrependeu-se por não ter ouvido o conselho do pardal amigo.

Fonte: O jumento e o gelo do volume de Leonardo chamado: Fábulas, Atl. 67 v.b.)  Em: Fábulas e lendas, Leonardo da Vinci, São Paulo, Círculo do Livro: 1972.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Leite de Jumenta

 

Leite—faz bem ao corpo.

Os seres humanos costumavam matar os animais principalmente para a carne e peles, no entanto, isso mudou com o advento da domesticação de animais em torno de 8000 aC. Naquela época, caprinos e ovinos que foram domesticados no Oriente Médio viviam de uma dieta de grama. Os agricultores perceberam que os animais poderiam se sustentar com alimentos de fácil obtenção, que era de outra maneira inútil para os seres humanos, então eles começaram a experimentar com outros usos para subprodutos de origem animal, levando ao consumo humano de leite animal. Agora, em vez de simplesmente caçar animais e obter sua carne e pele, também passaram a ganhar a produção de leite e os mesmos animais passaram a ser utilizados durante anos.

Há evidências de seres humanos bebendo leite de vários mamíferos, incluindo cabras, ovelhas, camelos, jumentos, até mesmo búfalos, mas o leite de vaca é de longe a maior indústria de leite animal. Por quê? Porque as vacas podem produzirquase 40 litros de leite em uma ordenha. Neste mundo de quantidade sobre a qualidade, o leite de vaca fez mais sentido.


Mas poderia fazer melhor?

O leite produzido por animais diferentes tem diferentes composições de gordura, proteína, e nutrientes essenciais. Muitos estudos têm sido conduzidos para testar a repartição dos lípidos e conteúdo de vitamina no leite de animais diferentes, e descobriram que o leite de jumenta é efectivamente mais saudável ​​do que o de uma vaca e é o que mais se assemelha ao leite humano. De acordo com um estudo publicado em Fundamentals de Dairy Chemistry (B. Webb, A. Johnson, J. Alford, AVI Publishing, 1974), o leite de vaca contém 3,7 gramas de gordura por 100 gramas, enquanto leite de jumenta só contém 1,72 gramas. Como a América enfrenta uma epidemia de obesidade cada vez mais preocupante, é de se perguntar por que os nutricionistas não têm revisitado algo tão fácil como leite. A resposta é simples: as pessoas se sentem perturbadas pela idéia de beber leite de jumenta.

Leite de jumenta supera o de vaca em muitos níveis: menor teor de gordura, uma porcentagem muito maior de proteína, e uma maior porcentagem de concentrado de vitaminas essenciais encontrados no leite. Por exemplo, leite de jumenta contém 60 vezes a quantidade de vitamina C encontrada no leite de vaca. Talvez a diferença mais importante é o fato de que o leite de jumenta não requer a pasteurização. A pasteurização é o processo pelo qual as bactérias, protozoários, fungos e leveduras são destruídas por aquecimento de um líquido. Cada gota de leite produzido em fazendas leiteiras de vaca deve passar por esse processo ou corre o risco de ser prejudicial aos seres humanos. Não é preciso dizer que este é um processo caro. Leite de jumenta não contém bactérias naturais, por isso é absolutamente segura para beber direto da jumenta! De fato, alguns estudos têm mostrado que leite de jumenta até mesmo contém imunoglobulinas que impulsionam o sistema imunológico. Não foram feitas pesquisas  suficientes sobre este tema para fazer declarações sólidas, mas o leite de jumenta é potencialmente útil para pessoas com a função do sistema imunológico reduzida, como pacientes com câncer.

A mulher mais velha do mundo morreu aos 116 anos de idade e fez um auê na mídia quando sua família atribuíu a sua longa vida útil ao consumo de leite de jumenta durante toda a sua vida. A mulher equatoriana viveu um estilo de vida saudável, mas realmente faz você pensar! Existem também lendas de que Cleópatra se banhava em leite de jumenta para manter sua pele jovem e bonita, talvez ela soubesse de alguma coisa.


Onde eu posso conseguir isso?

A popularidade do leite de jumenta está crescendo rapidamente na Bélgica e França. A bélga Asinerie du Pays des Collines no Chateau des Mottes, de propriedade de Olivier Denys, é não apenas a única fazenda de jumentas para produção de leite na Bélgica, mas também é uma das poucas existentes no mundo. Denys sabe que o leite de jumenta é uma "mina de ouro nutricional", mas ele também percebe as limitações na produção em massa. Jumentas só podem produzir cerca de dois litros de leite por dia, durante um período de três ordenhas, que realmente não pode concorrer com os 40 litros das vacas. Além disso, de suas 84 jumentas, apenas 15 estão ativamente produzindo ao mesmo tempo. Apesar dos obstáculos na fabricação, Denys diz que a produção vem aumentando a cada ano, pois cresce a popularidade e apoio. Outra vantagem que pode começar a mudar as mentes dos investidores é de que o leite de jumenta completamente corta o custo de pasteurização, o que deixa mais dinheiro para mais jumentas.

Acesso a leite de jumenta nos Estados Unidos é extremamente limitada. Suplementos de leite de jumenta é o mais perto que você pode encontrar sem realmente sair e ordenhar uma jumenta você mesmo. A indústria cosmética está lucrando com o mito de Cleópatra com a venda de sabonetes e loções que contêm frações de leite de jumenta, mas os reais benefícios nutricionais vem do consumo real de leite fresco.

América está presa em uma rotina nutricional, e a idéia de beber leite direto da teta da jumenta é, vamos falar a verdade, repugnante para a maioria das pessoas. Mas por que é diferente do que beber leite de uma vaca? Porque, vezes e vezes sem conta, a sociedade tem criado barreiras e ninguém se atreve a quebrá-las.

Os benefícios nutricionais de beber leite de jumenta são claros, a única coisa que falta é publicidade e a aceitação social.

Fonte: Donkey Business

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Mulas não suportam prosperidade

 

No final de outubro do ano passado recebi um telefonema de uma das minhas clientes, Ann Mulcay. Ela tem um burro chamado Norman que comecei a tratar há 2 anos. Norman é um burro pequeno excelente, filho de uma égua Foxtrotter. Ann anda por um monte de trilhas e viaja muitas milhas com Norman. Em maio passado, ela colocou ele em vários eventos do Mule Days em Bishop. Ela realmente se divertiu preparando Norman para o Mule Days. Ann passou a maioria dos dias na sela. Como acontece com qualquer potro ela estava alimentando-o com um bom feno de alfafa e alguns grãos para manter seu nível de energia. Ela também acrescentou feno de capim. Esta era uma boa combinação de alimentação para o tipo de exercício que Norman fazia.

Depois do Mule Days era verão no Arizona. Tenho certeza que você ouviu as histórias. É tão quente que dá para fritar ovos na calçada! Isso é quase verdade. O que é verdade é que apenas os cavaleiros obstinados andam no vale durante o verão. Ann pode ter cavalgado uma dúzia de vezes ao longo dos próximos meses. Quando outubro chegou e o tempo esfriou Ann decidiu sair para um passeio de trilha agradável. Pouco tempo depois que iniciou o passeio, ela rebatizou a trilha: "Trilha Monstro" Por trás de cada arbusto e cada pedra tinha um comedor de mula.

Uma vez que Norman encontrou o primeiro comedor de mula (uma rocha preta atrás do arbusto), ele decidiu assumir o controle da situação. Cheirar e andar lateralmentea na trilha apenas dava a certeza de que ele ia estar faltando uma perna antes da viagem ter terminado. Não é preciso dizer que Ann estava andando como se estivesse passando por agulhas e tachinas a cavalgada inteira. Bastava ela relaxar que Norman encontrava outro comedor de mula. Saltando de lado, andando para trás e às vezes girando. O bom e doce Norman poderia ter sido vendido naquele dia por vinte e cinco dólares, ou melhor ainda, Ann teria pago 500 para você tirá-lo das mãos dela. Ann levou Norman para casa e pensando que ele só precisava sair mais, ela tentou passeios mais curtos algumas vezes na semana seguinte. Ann estava muito frustrada quando ela me enviou um e-mail dizendo: "O que eu faço agora? "Monstros atacaram minha mula!" Liguei para ela e ela me contou sobre os últimos passeios e como Norman não estava melhorando.

 

Eu briguei muito com ela por não ter me chamando depois da primeira viagem. Agora, os monstros tinham 10 metros de altura e estavam em todas as paredes. Uma vez que Ann se acalmou, eu perguntei o que ela estava dando para Norman comer. Feno de alfafa ela me disse. Ela ficou bem quieta no telefone por um minuto quando me respondeu. Ela disse: "Agora, eu sei o que você vai dizer. Estou alimentando ele com uma alimentação boa demais. Você me disse, diversas vezes, e eu estive em suas clínicas e eu acho que não não consigo enfiar na minha cabeça que não devo fazer isso e eu acho que você vai me dizer para mudar de alimentação." Ela estava certa. Eu disse a ela para começar a mudar de alimentação devagar, porque até mesmo muares podem ter a doença da segunda-feira. A doença da Segunda-feira é um outro nome para azotúria. Os agricultores costumavam se referir a ela dessa maneira porque os animais de trabalho, às vezes, tem um pouco de cólica na manhã de segunda-feira depois de ficar sem trabalhar no domingo. Sugeri a Ann tentar uma ração especifica para animais mais velhos ou que não trabalhem muito. Anos atrás eu não teria considerado usar essas rações na alimentação. Eu não achava que muares poderiam se satizfazer comendo uma quantidade tão pequena de comida em tão pouco tempo. Eu não sabia que as pastilhas se expandiam depois que os animais bebem água e isso lhes dá uma sensação de satisfação plena.

 

Rações industriais são ricas em nutrientes e fibras utilizáveis​​. Algumas incluem grãos, milho, farelo de trigo, farelo de algodão, etc. Estes tipos de ração são necessárias para animais de trabalho pesado. Se o animal não se alimenta de grãos suficiente, ele vai primeiro queimar a gordura corporal para energia e, em seguida, queimar tecido muscular e isso vai resultar em um muar fraco e menos eficaz para se montar. Os muares são muito fáceis de manter. Eu venho dizendo há anos que você pode alimentar duas mulas com a mesma quantidade de dinheiro que é preciso para alimentar um cavalo. Já provei minha teoria com os meus próprios testes, feitos ao longo dos anos. Eu descobri que os muares prosperam no feno de boa qualidade junto com um bloco de sal. Em 1998 eu comecei a experimentar com as rações Lakin Lite. Lakin empresa de alimentação está localizado aqui no Arizona e distribui em partes do Novo México e Colorado. Quando eu estou na Califórnia eu uso produtos de Star Milling. Star patrocina meu programa de treinamento de muares no Pierce College, em Woodland Hills, Califórnia, e do Equine Affaire Expo. Aqui está uma lista de ingredientes do pacote de ração Lite Lakin.

Proteína Bruta min. 11%
Gordura Bruta min. 2%
Fibra Bruta máx. 30%
Cálcio min. 0,7%
Cálcio max. 1,2%
Fósforo min. 0,2%
Cobre min. 15ppm
Selênio min. 0.2ppm
Zinco min. 50ppm
Vitamina A min. 300IU/LB 
Cinzas max 12%
Minerais adicionados max. 1%

Feno de alfafa, feno Bermuda, melaço de cana, ácido fosfórico (classe da alimentação) Sulfato de Zinco, Sulfato de Manganês, Sulfato de Cobre, carbonato de cobalto, selenito de sódio, Dihydriodide Etilenodiamina, vitamina e suplemento, suplemento de vitamina B12, suplemento riboflavina, mononitrato de tiamina, suplemento de niacina, cloridato de piridoxina, ácido fólico e D-biotina.

Qualquer alimento deve conter fibra suficiente "volumoso" para manter o aparelho digestivo do animal funcionando corretamente. Potros e desmamados precisarão ter em torno 16% de proteína, enquanto muares maduros podem precisar só de 8%. É muito difícil saber exatamente que vitaminas você está recebendo de um fardo de feno. Com rações basta você ler o rótulo. Por exemplo, selênio no solo varia muito de lugar para lugar. Consequentemente você está vendo este mineral ser adicionado nas rações e concentrados.

A maioria dos muares e cavalos ficam parados cinco dias por semana. Eles só comem, bebem e dormem e se preparam para a próxima refeição. Assim como a maioria dos americanos nos dias de hoje. A boa alimentação que temos se não for combinada com exercícios resulta em excessos e peso extra. Então em seguida entramos em uma dieta de emagrecimento. O muar  é feito para durar de 20 a 30 anos e seu grande corpo grande de cavalo deve ficar sobre os pequenos cascos que ele herdou de seu pai jumento. Quando viajo para fazer treinamentos vejo muitas mulas gordas como um boi velho pronto para o açougueiro. Não é bom encher o muar de proteína quando quando ele está em um curral sem fazer exercicio.

Quando você estiver usando seu muar de 2 a 4 horas por dia, 5 dias por semana você pode considerar colocar uma bolsa de nariz nele e adicionar uma pequena quantidade de grãos antes de você chegar na sela. Dê um monte de grãos para o muar, quando ele não está fazendo nada em uma base diária e você vai ter um foguete em suas mãos. Além disso é caro. Os potros que eu monto se alimentam bem para melhorar os ossos e músculos. Eles são usados nas montanhas e eu preciso que eles tenham muita energia. A uma mula de 450 quilos é oferecido 1 quilo e meio de grãos. Normalmente, ele não come tudo e então eu começo a trabalhar com ele, quer seja um passeio, carga, ou atrelagem. Quando tenho mulas com uma atitude triste, más maneiras, de natureza relutante, difíceis de pegar, ou que em geral não querem fazer nada além de ficar no curral sem ser incomodado, elas não ganham nada além da ração Lakin Lite. Eu já vi muares dos mais tristes mudarem de atitude. Eu acho que esses ricos fenos de alfafa e rações que nós estamos dando a nossos animais são como drogas para muares. Já me espantei em ver a mudança incrível de atitude. Uma mula, em particularl teve uma mudança surpreendente quando eu mudei de alimentação; Moisés, que pertence a Rich Fillman aqui no Arizona. Quando ele trouxe o burro até mim ninguém podia chegar perto dele. Ele era difícil de apanhar e não queria que ninguém ficasse do lado dele. Ele só queria ser deixado em paz. Então eu comecei meu trabalho de base diáriamente. Eu alimentei esta muar de 450 kilos (ele era extremamente gordo e o alto de suas costas era tão plana quanto a mesa da minha cozinha) com ração Lakin Lite duas vezes por dia medido em uma lata de café de um kilo e meio. Eu também exigia que ele fizesse algum exercício aeróbico diariamente na forma de trilhas, puxando carroças ou carga. Nos primeiros 5 dias eu vi uma tremenda diferença em Moisés. Ele começou a ficar mais disposto e ficou mais treinável. Ele tinha adquirido muitos maus hábitos nos seus 8 anos e aprendeu a recusar todos os seus proprietários durante esse tempo. Então eu não só tinha que trabalhar sua atitude, mas eu também tinha que lhe dar um treinamento paciente e consistente para construir uma boa base e para ajudá-lo a ser um bom burro. Descobri que se eu adicionasse feno de alfafa ou outro alimento quente em seu programa de alimentação, ele tinha uma mudança de atitude negativa imediata. Eu tenho treinado o Moisés à 2 meses agora. Ele esteve todo esse tempo na ração Lite Lakin. Ele tem muita energia, eu uso ele atrelado no vagão da frente, ele é um burro bom para guiar uma equipe de carga e também tenho montando ele. Ele anda por uma trilha na  montanha como se fosse terra plana.

Por favor, não mudem a dieta dos seus muares por eu ter escrito este artigo. Converse com o seu veterinário ou um bom nutricionista para ver o que funciona melhor no seu programa.

Eu gostaria de prevenir sobre uma coisa; NÃO OS ALIMENTE COM CAPIM/GRAMA PICADO (COMO EM UM APARADOR DE GRAMA). Não devem ser alimentados dessa forma por uma infinidade de razões, mas principalmente porque eles têm herbicidas e fungicidas que podem ser tóxicas para cavalos ou muares. Aparas de relva são propensos a causar asfixia porque os animais não têm que mastigar a fim de engolir.

Algumas pessoas no leste têm excelentes fenos de capim, que é a alimentação ideal para os muares. Enquanto eu estava por lá, eu vi o feno mais bonito que eu já encontrei. Muita gente achava que meus muares eram magros, mas quando eles subiam em suas mulas, a sela deslizava para o lado porque as suas mulas eram tão gordas que o corpo mal conseguia segurar uma sela. Ha!Ha.!

A razão pela qual eu comecei a experimentar diferentes alimentos foi porque eu li um livro chamado “Como ser seu próprio veterinário - Às vezes (How To Be Your Own Veterinarian - Sometimes)”, por Ruth B.James, DVM. Eu tenho esse livro dela há cerca de 5 anos e com certeza tem sido útil.

Oh, você provavelmente está se perguntando o que aconteceu com Norman. Eu andei recebendo e-mails de Ann Mulcay todos os dias dizendo que o Norman está fantástico. Ele está obedecendo ela, ele está encontrando menos monstros na trilha e Ann está muito feliz, porque ela pode relaxar na sela de novo. Ela está planejando ir ao encontro de muares no Arizona e em Bishop na Califórnia para a copa mundial.

Fonte: Steve Edwards of Queen Valley Mule Ranch, Mule Ranch

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Azotúria do cavalo

 

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Também denominada mioglobinúria paralítica dos equinos, rabdomiólise equina, ou ainda hemoglobinemia paralitica, ou doença dos musculos brancos. Trata-se de uma enfermidade própria do cavalo e que compromete principalmente animais bem nutridos das raças pesadas, depois de períodos de repouso, e por isso é também conhecida como doença da manhã da segunda feira, sendo mais comum no inverno. Os sintomas aparecem de 15 a 60 minutos após o ínicio de um trabalho muscular. Os animais mostram, entre outros sinais clínicos, sudorese excessiva, endurecimento de um ou de ambos os membros posteriores e, depois, incapacidade de extensão deles. Em fases posteriores o animal assume posição de "cão sentado" e por fim torna-se paralítico. Tal miopátia é determinada por um distúrbio no fenomeno da glicólise, com acúmulo de ácido láctico nos tecidos e no sangue.Assim nos cavalos normais o ácido láctico existe nas quantidades de 9 a 12 miligramas por 100 ml de sangue, ao passo que nos animais com azotúria tais valores vão de 16 a 181 miligramas por 100 ml de sangue. Os músculos comprometidos pelo processo são em geral os da garupa.

Macroscopicamente (olhar a fotografia) mostram-se muito mais claro que o normal e quando cortados tem o aspecto de carne de peixe. Os rins dos cavalos que morrem após 2 ou 4 dias de doença mostram-se pigmentados. O miocárdio pode em certas circunstâncias apresentar degenerações hialinas, considerada como fator predisponente à morte do animal

Fonte: http://nelsonferreiralucio.blogspot.com.br/2011/10/azoturia-do-cavalo.html

terça-feira, 10 de abril de 2012

Mule Days Celebration – USA

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Todos os anos durante o fim de semana do Memorial Day (última segunda-feirade maio), mais de 700 mulas competem em 181 eventos no Bishop Mule Days Celebration. Não há maneira de realmente descrever o Mule Days. É em parte show de muares, em parte provas, e em parte show do Velho Oeste.


Situado na Tri-County Fairgrounds em Bishop, Califórnia, o Mule Days tornou-se um evento de classe internacional. A Multidões cresceu de 200 para mais de 30.000 fãs!

Destaques da celebração incluem o concerto de quinta-feira, com estrelas da música country, o mais antigo não-motorizados desfile no sábado de manhã, competições de laço e penning, um evento normalmente reservado para cavalos quarto de milha, e o Packer's Scramble - o mais selvagem, mais barulhento e mais engraçado evento do fim de semana.


Há também churrascos, bailes e uma mostra de artes e ofícios. Tudo acontecendo ao pé da bela Eastern Sierra.

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Todo fim de semana do Memorial Day desde 1969, a cidade de Bishop, situada na encosta leste da Sierra Nevada, ganha vida com a apresentação anual do Mules Day. Os tropeiros da região queria um evento para começar a temporada e os empresários queriam chamar turistas para o Vale Owens. O que começou como uma reunião informal e um teste de competências, tornou-se repleta de diversão, um evento de classe mundial.

Não há maneira de realmente descrever o Mule Days. É em parte um show de muares, teste de competências, e parte shows do Velho Oeste. É um evento do tipo que não é encontrado em nenhum outro lugar do mundo. Durante os cinco dias do evento, há 14 shows de mais de 700 mulas com seus treinadores, cavaleiros e embaladores. Mais de 30.000 fãs convergem para o Tri-County Fairgrounds e a Arena Mike Boothe para assistir aos eventos e visitar os expositores. Os catorze espetáculos de muares consistem em: Western, juventude, Inglês, trabalho com gado, marcha, salto, corrida, pneus musicais, gincana, empacotamento, casqueamento, corrida de carroças, vaquejada e rédeas. Para a maioria das competições, os locutores veteranos, Bob Tallman e Bob Feist, usam o microfone tanto para educar quanto para entreter a multidão.

Além de eventos competitivos, o Mule Days tem muitos outros eventos de destaque para expandir a experiência. Estrelas da música country tomam conta do palco quinta-feira e sábado, os espectadores tomam as ruas de Bispo para assistir o mais antigo desfile não-motorizado nos EUA. Há também churrascos, danças e uma mostra de artes e ofícios.

From trail riding to show classes, mules can do it all with the grace unique to these animals. Provas de laço e penning, an event normally reserved for quarter horses, is another highlight of Mule Days. Cowboys will have the opportunity to prove their roping and riding skills astride some of the best working mules in the United States.

Pessoas apaixonadas por muares estão determinadas a provar que qualquer coisa que um bom cavalo pode fazer, uma mula boa pode fazer melhor. De trilhas a provas, muares podem fazer tudo com a graça única destes animais. Provas de laço e penning, eventos normalmente reservados para cavalos quarto de milha, é outro destaque do Mule Days. Cowboys terão a oportunidade de provar sua habilidade no laço e na equitação montado alguns dos melhores muares de trabalho dos Estados Unidos.

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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Alguns aspectos fundamentais do exame clínico andrológico de jumentos (Equus asinus)

 

Resumo
O exame andrológico tem sido utilizado em todas as espécies de animais domésticas como indicador do potencial da capacidade reprodutiva do macho. Dentre os parâmetros a serem avaliados, a biometria testicular deve ser um requisito obrigatório na avaliação andrológica, tendo como principais finalidades diagnosticar alterações testiculares e auxiliar na predição do potencial reprodutivo. Dentre esses parâmetros, destaca-se ainda o volume, a concentração, a morfologia e a motilidade espermática, particularmente a motilidade progressiva, sendo um bom indicativo de viabilidade espermática, podendo assim, a estimativa do potencial da fertilidade do reprodutor ser feita pela realização do exame andrológico.
Palavras-chave: jumento, avaliação reprodutiva, andrologia.

Introdução
O estudo da biologia reprodutiva dos animais domésticos tem sido um desafio para a produção animal, pois é baseada nos acontecimentos normais de seu ciclo de vida que a criação de animais sustenta suas bases. Assim, quanto mais elucidados forem os conhecimentos sobre a condição natural, aliados à eficiência econômica, melhor e mais eficientemente se poderão produzir e prevenir possíveis complicações por condições insatisfatórias de manejo e criação (Henry, 1991). 

O exame andrológico tem sido utilizado em todas as espécies de animais domésticas como indicador do potencial da capacidade reprodutiva  do macho, sendo, no Brasil, a metodologia de avaliação orientada pelo Colégio Brasileiro de Reprodução Animal (Manual ..., 1998). Porém, o reprodutor asinino não foi incluído nos padrões estabelecidos de avaliação do sêmen animal  e, deste modo, experimentos e levantamentos de campo devem ser realizados numa tentativa de se estabelecerem os padrões de exame andrológico para jumentos nas condições brasileiras. 

Pretende-se, portanto, com este trabalho revisar a literatura envolvendo a avaliação de alguns aspectos da andrologia de jumentos, ressaltando as diferenças raciais. 

 

Biometria testicular
A biometria testicular deve ser um requisito obrigatório na avaliação andrológica, tendo como principais finalidades diagnosticar alterações testiculares e auxiliar na predição do potencial reprodutivo e da
produção espermática diária (Varner et al., 1991). Devido à disposição horizontal dos testículos no escroto do jumento e do garanhão, o perímetro escrotal não é realizado, mas variantes da técnica, como a largura testicular escrotal e o comprimento, são realizadas (Morais, 1990; Varner et al., 1991). Ambas as técnicas são de rápida e fácil aplicação, oferecendo uma previsão da produção espermática diária (Costa, 1991; Gerbers, 1995).  Canisso et al. Alguns aspectos fundamentais do exame clínico andrológico de jumentos (Equus asinus).

Morais (1990) e Costa (1991) chamam atenção para a importância dos parâmetros testiculares na avaliação andrológica de jumentos, uma vez que oferecem subsídios relevantes para a interpretação e formulação do laudo andrológico. Gebauer et al. (1974) aparentemente foram os primeiros a introduzir a avaliação testicular com paquímetro em testículo de garanhões, e El Wishy (1974) em jumentos.Ambos os trabalhos foram baseados no trabalho pioneiro de Hahn  et al. (1969), que utilizaram 120 reprodutores bovinos da raça Holandesa nos Estados Unidos. 

El Wishy (1974), trabalhando com testículos de nove jumentos recémcastrados (médias: idade 5,1 anos e peso 257 kg), registrou os seguintes valores para comprimento, largura e altura testiculares: 8,41x 5,91 x 4,77 cm para o testículo direito e 8,37 x 5,78 x 4,46 cm para o testículo esquerdo. O autor desenvolveu uma fórmula para avaliação do volume testicular e obteve os volumes de 103,44 e 103,89 cm  para os testículos direito e esquerdo, respectivamente. Kreuchauf (1984), estudando a biometria de jumentos africanos com idades variáveis entre dois e 12 anos e 150 kg de média de peso corporal, registrou as seguintes medidas para comprimento, largura e altura: 8,58; 5,78 e 6,30 cm. A autora não verificou assimetria entre as gônadas do mesmo reprodutor.

Morais (1990) ao trabalhar com seis jumentos da raça Pêga (peso médio 400 Kg, e idades 3 a 12 anos), observou valores de 10,35; 6,73 e, 7,12 cm e 10,12; 7,38 e 7,68 cm para os comprimento, largura e altura dos testículos esquerdo e direito, respectivamente. A autora empregou a mesma fórmula descrita por El Wishy, (1974), para cálculo do volume testicular, obtendo valores de 182, 34 ± 32,58 e 201,36 ± 9,36 para o testículo esquerdo e direito, respectivamente. Gastal (1991), quando trabalhou com seis jumentos da raça Nordestina na zona metalúrgica de Minas Gerais, com peso médio  de 162 kg, registrou as seguintes mensurações de comprimento, altura e largura testicular: 7,6; 5,5 e 5,1 cm para ambos os testículos, respectivamente. 

 

Kenney et al. (1983), numa tentativa de tornar mais objetiva a avaliação e a comparação testicular entre garanhões, estabeleceu o índice testicular (IT), que é calculado pelo somatório da altura, largura e comprimento de ambos os testículos dividido por dois, em que o IT = 8 para garanhões é dado como valor normal. Em asininos, Morais (1990) utilizou seis jumentos da raça Pêga, considerados como aptos a reprodução (peso médio 400 kg, e idades 3 a 12 anos) e registrou valores de IT  variando de 8,24 a 12,73, sendo superiores ao valor considerado como normal para garanhões por Kenney (1983).

Parâmetros espermáticos de jumentos

Volume seminal
Os eqüídeos e o varrão, entre os demais reprodutores domésticos, são os que apresentam maiores volumes de ejaculados, sendo que, em ordem crescente de volume do ejaculado, estão o jumento, o garanhão e o varrão. O ejaculado destas espécies é formado por uma porção rica em espermatozoides e uma fração gelatinosa (Nishikawa, 1959; Kreuchauf, 1984, Davies-Morel, 1999).

A porção gelatinosa do ejaculado dos equídeos é produzida pela glândula vesicular (Kreuchauf, 1984), enquanto no varrão a mesma fração é produzida pela glândula vesicular e pela glândula bulbo uretral (Senger, 2003).

O volume do ejaculado em eqüídeos apresenta uma variação muito grande entre reprodutores e entre coletas de um mesmo reprodutor. A baixa repetibilidade desta característica está relacionada a muitos fatores, tais como: raça, idade, particularidades individuais, frequência de ejaculação, época do ano, duração do tempo de excitação, tipo de manequim, tempo de repouso sexual, alimentação, manejo, quantidade de trabalho na estação de monta, presença de gel, dentre outros (Pickett et al., 1970, 1976; Gebauer et al., 1974; Papa, 1987; Morais, 1990, Gastal, 1991, Samper, 2007).

Os valores para o volume do ejaculado sem a fração gelatinosa de jumentos apresentam amplitude de 10 a 180 mL, sendo que os valores mais frequentes estão em torno de 40 a 100 mL (Nishikawa, 1959; Kreuchaf, 1984, Henry et al., 1987; Morais, 1990, Gastal, 1991, Santos, 1994). Em asininos, segundo as observações feitas por Nishikawa (1959), Kreuchauf (1984) e Gebers (1995), a presença de gel é aparentemente uma característica individual dependente do jumento, época, ano, frequência de coleta, excitação sexual, idade, além de diferenças raciais.

Berliner et al. (1938), trabalhando com dois jumentos em uma central de reprodução de equídeos nos EUA, observaram que, quando a frequência de coletas semanais era aumentada de uma para duas, aumentava-se
proporcionalmente a presença de gel no ejaculado. Este aumento da quantidade de gel, segundo Nishikawa (1959), provavelmente se deva à maior excitação sexual provocada pela maior frequência de coleta. Contudo, o primeiro autor observou redução do volume de 18mL para 8 e 6 mL quando a freqüência de coleta semanal foi de uma, duas e três vezes por semana, respectivamente.

Arruda  et al. (1989b) obtiveram em 29 ejaculados de um reprodutor da raça Brasileira, volume  do sêmen livre de gel de 46,6 ± 10,0, e somente um ejaculado apresentou gel no volume de 5 mL. Costa (1991) realizou um estudo avaliando apenas uma coleta por jumento em 103 jumentos da raça Pêga. Esses reprodutores criados em diferentes regiões do estado de Minas Gerais e Bahia foram considerados normais na avaliação andrológica, tinham idade que variou de 1,5 até acima de 12 anos, e foram avaliados em diferentes períodos de atividade reprodutiva. O volume médio obtido foi de 66.7 ± 34.4 mL, sendo que a porção gelatinosa esteve presente no ejaculado em apenas 13 animais, representando um volume de 28.1 ± 20.4 mL. Gebers (1995) avaliou 285 ejaculados de seis jumentos da raça Pêga e detectou a presença da fração gelatinosa em 90 ejaculados, e o volume médio de sêmen sem gel e do gel foram 98,35 ± 44,24 mL e 84,73 ± 32,67 mL, respectivamente. Ferreira (1993), trabalhando com três jumentos da raça Pêga, obteve médias de volume do ejaculado sem gel por animal de 104,79 ± 25,40; 63,25 ± 24,84 e 67,04 ± 17,87 mL sendo que o número de coletas realizadas por animal não foi informado pela autora. Já Santos (1994), ao trabalhar com três reprodutores da raça Pêga e três mestiços Pêga com a raça Nordestina, obteve médias do volume do ejaculado sem gel de 45,5 ± 17,3; 54,5 ±18,5; 79,9 ±39,0; 66,8 ±11,6; 32,2 ±5,7; 9,2 ±17,9 mL, para cada um dos seis jumentos.

Henry  et al. (1987a), trabalhando com três jumentos da raça Nordestina, realizando uma sessão de coleta semanal, com duas coletas com intervalo aproximado de uma hora, obtiveram volume médio de 39,0 mL ± 22,2 e 40,9 mL ± 16,7 para o primeiro (n = 57) e segundo (n = 47) ejaculados, respectivamente, não observando diferença no volume do ejaculado entre ordem de coleta.

Arruda et al. (1989b), quando analisaram 85 ejaculados de um jumento da raça Brasileira,  em três anos de avaliações, registraram valores médios de 42,01 ± 19,18 mL para o volume total e a ocorrência de gel em 12,94% dos ejaculados com volume médio de 7,45mL ± 4,60. 

Ao avaliar 230 ejaculados de 17 jumentos da raça Hamadan, pesando entre 209 e 256 kg, Zalcman (1940) citado por Bielanski e Wierzbowski (1962), obtiveum volume médio de 54 mL por ejaculado. Nishikawa (1959), analisando dados de 121 ejaculados de dois jumentos mestiços, registrou volume de 10 a 80 mL, com volume médio de 49,24 mL ± 14.30, e observou a influencia da estação na quantidade da fração gelatinosa, com predomínio nos meses de julho a setembro. Já Mann et al. (1963), avaliando 27 ejaculados de dois jumentos com idades de 10 e 12 anos, obtiveram volume médio de 55.6 mL, com amplitudes de 17 a 120 mL.

Motilidade e vigor espermático
O percentual de motilidade espermática, particularmente a motilidade progressiva, é um bom indicativo de viabilidade espermática em equídeos (Davies Morel, 1999). Apesar de não necessariamente ser um indicador da capacidade fecundante, a motilidade espermática obrigatoriamente deve estar presente para que o espermatozoide possa fecundar (Voss et al., 1981). 

A avaliação dos parâmetros de motilidade e vigor espermáticos é um método rápido, simples e de baixo custo. Contudo, é uma análise subjetiva e sujeita há  erros, e não necessariamente constitui um prognóstico seguro do potencial fecundante do animal.

A avaliação objetiva computacional oferece vantagens sobre o método subjetivo, uma vez que muitos parâmetros da cinética espermática são possíveis de serem avaliados, como: velocidade de trajeto, velocidade
progressiva, velocidade curvilínea, amplitude lateral  de cabeça, frequência de batimentos de cauda, retilinearidade, linearidade, velocidade rápida, deslocamento lateral de cabeça, entre outras avaliações (Arruda, 2000). No entanto, segundo Vidament (2005), as únicas características que apresentaram correlações com fertilidade para sêmen de equídeos são a motilidade rápida e a velocidade rápida e, portanto, apenas essas características são utilizadas na avaliação rotineira no Stud Nacional Francês, sendo que somente o parâmetro motilidade rápida pode ser usado na seleção de ejaculados.

A avaliação convencional com microscopia de luz é mais rotineiramente utilizada na avaliação de reprodutores eqüídeos, uma vez que é uma técnica acessível a todos os veterinários de campo e não requer condições especiais para sua realização. Outro aspecto favorável à utilização da avaliação subjetiva foi a alta correlação entre análise objetiva e subjetiva observada por Kolibianakis et al. (1992). Estes autores, em estudo com 114 amostras de sêmen, observaram alta correlação (r = 0.89; P < 0.001) entre as avaliações feitas com a análise subjetiva e a computacional.

A motilidade total para sêmen fresco de jumentos, segundo os diversos autores, é 70 a 100 % (Nishikawa, 1959; Bielansky e Wierzbowski, 1962; Kreuchauf, 1984; Henry et al., 1987; Arruda et al., 1989b; Morais, 1990; Costa, 1991; Gastal, 1991; Santos, 1994; Gerber, 1995).

Apesar de a motilidade progressiva ser uma característica fisiológica das espécies equídeas (Magistrini, 2000), poucos estudos feitos com jumentos realizaram a subdivisão das motilidades em total e progressiva, de modo que os estudos registraram uma variação média de 70 a 85 % de motilidade progressiva (Henry  et al., 1987, Morais, 1990; Costa, 1991; Gastal, 1991; Gerbers, 1995). Arruda  et al. (1989a) obtiveram em 29 ejaculados de um reprodutor da raça brasileira a motilidade progressiva média de 75,5 ± 7,8.

Dentre esses parâmetros avaliados, o vigor espermático constitui a avaliação subjetiva da força e velocidade espermática; sendo que Walton (1952) classificou o vigor espermático usando uma escala de 0 a 5, em que zero (vigor nulo) e 5 (vigor máximo). Mies Filho (1987) ressalta a importância da avaliação dessa característica para sêmen de ruminantes. Para sêmen de equídeos, tal característica não tem sido utilizada com frequência como parâmetro para avaliação de qualidade de sêmen (Gebers, 1995).  No entanto, Papa (1987) atribuíu um alto grau de importância ao vigor espermático na avaliação de sêmen de garanhões, principalmente
para sêmen congelado.

O vigor espermático médio avaliado por Henry et al. (1987a), em jumentos Nordestinos, foi de 4,2 para a primeira e a segunda coleta do dia. Gastal (1991), trabalhando com animais da mesma raça e com duas coletas com intervalo de 4 horas, observou média de 3,8 e 4,2 para o primeiro e segundo ejaculados, respectivamente. Costa (1991), em suas avaliações com apenas uma coleta em 112 jumentos da raça Pêga, obteve um vigor médio de 3,8, e Morais (1990), com jumentos da mesma raça, obtiveram 4,2. Ferreira (1993) registrou valores médios para vigor 3,92; 3,33 e 3,67 em três reprodutores da raça Pêga. Já Gerber (1995) obteve valor médio para vigor de 4,8, com amplitude de 4.69 a 4.94, em seis jumentos da mesma raça. Santos (1994), ao trabalhar com três jumentos da raça Pêga e três jumentos mestiços da raça Nordestina com a raça Pêga, obteve valores médios 4.3 a 5 para o vigor espermático.


Concentração espermática e número total de espermatozóides


A concentração espermática é resultante da eficiência espermatogênica e da secreção de fluido pelas glândulas sexuais acessórias (Varner et al., 1991). Os resultados de uma pesquisa conduzida com testículos de jumentos da raça Pêga, com o objetivo de quantificar a espermatogênese usando a técnica de avaliação histológica, indicaram que esses animais apresentam maior eficiência espermatogênica por grama de parênquima testicular entre todos os animais domésticos (Neves et al., 2002). Estes resultados foram similares aos reportados por El Wishy (1974), que, comparando testículos de jumentos e garanhões, registrou o dobro de espermatozóides em testículos de jumentos. A concentração espermática média em jumentos variou de 100 a 800x10 espermatozoides por mL, sendo esses valores maiores que os usualmente encontrados em garanhões (Kreuchauf, 1984). Segundo a mesma autora, em revisão sobre o assunto, comenta que a média de espermatozoides totais em um ejaculado de jumentos é de 20 a 30 bilhões, e os extremos são de 2 a 44 bilhões de espermatozóides totais por ejaculado.


Os estudos realizados até o momento mostram-se controversos nos aspectos que tangem a influência da sazonalidade na produção espermática de asininos. Kreuchauf (1984) não observou influências sazonais na produção espermática em jumentos para as condições da Alemanha. No entanto, Nishikawa (1959) observou fortes variações sazonais na concentração espermática e no volume do ejaculado de jumento avaliados no Japão, enquanto Gastal (1991), no Brasil, registrou apenas pequenas variações na concentração espermática sem caracterizar qualquer padrão sazonal. 

Morfologia espermática


A fertilidade do reprodutor pode ser avaliada por meio de métodos diretos, como taxa de prenhez, taxa de prenhez por serviço, taxa de natalidade, fecundação competitiva, dentre outros. Entretanto, a estimativa do potencial de fertilidade do reprodutor pode ser feita pela realização do exame andrológico (Pimentel, 1989). 

Os primeiros trabalhos de investigação sobre patologia do sêmen em animais domésticos foram realizados em touros por Willians e Savage (1925). Langerlöf (1934), citado por Ott (1986), foi um dos primeiros a demonstrar que o aumento das anormalidades espermáticas estava associado com o decréscimo da fertilidade em touros e a estabelecer  as bases do espermograma clínico, sendo que, em equinos, o primeiro trabalho a envolver a morfologia espermática foi de Walton e Fair (1928). 

Nishikawa  et al. (1952) e Nishikawa (1959) desenvolveram estudos pioneiros comparando as características da morfologia espermática entre garanhão e jumento. Estes autores observaram que os espermatozoides asininos se assemelham ao dos garanhões, entretanto apresentam a cauda mais longa e a cabeça de formato ligeiramente mais globoso, semelhante ao espermatozoide do touro e do carneiro. Adicionalmente, os autores verificaram existir uma relação entre a morfologia espermática e a fertilidade de garanhões.

A morfologia espermática de equídeos apresenta similaridade com as demais espécies de animais, porém a cabeça do espermatozoide é assimétrica e a inserção abaxial da cauda é considerada normal; além disto, o acrossomo é relativamente pouco desenvolvido (Bielansky e Kaczmarski, 1979; Magistrini, 2000).

Há poucos relatos da ocorrência de subfertilidade ou mesmo infertilidade em decorrência de elevados índices de alterações na morfologia espermática em jumentos (Morais, 1990; Gebers, 1995). Crespilho  et al. (2006) descreveram um caso clínico de um jumento mestiço, com histórico de infertilidade, associado com baixa motilidade e alta quantidade de alterações morfológicas, principalmente com gota citoplasmática proximal. Ao realizar a microscopia eletrônica de transmissão, confirmou-se a existência de irregularidades de microtúbulos, que causou desarranjo no colo espermático e consequentemente levou à permanência da gota citoplasmática proximal.

Tentativas ao longo dos anos foram feitas no intuito de quantificar as alterações morfológicas e estabelecer sua relação com a fertilidade nos animais, e a espécie com maior número de trabalhos desenvolvidos
foi a bovina, devido ao grande interesse econômico.  Blom (1950) propôs uma  classificação dos defeitos espermáticos em primários e secundários. Na opinião do autor, as primeiras alterações seriam geradas durante a espermatogênese, e a secundária durante a maturação. Dott (1975), trabalhando com sêmen de garanhão, acrescentou nesta classificação anormalidades terciárias (artefato de técnica), ou seja, por danos induzidos ao espermatozoide durante a manipulação pós colheita.

Rao (1971), ao trabalhar com touros normais e com problemas clínicos reprodutivos, não conseguiu enquadrar as alterações morfológicas encontradas no sêmen desses touros na classificação de defeitos primários e secundários, o que levou à contestação da classificação feita por Blom (1950).

Blom (1973) refez sua classificação original e agrupou as alterações em defeitos maiores e defeitos menores, sendo que a alteração morfológica é classificada de acordo com o potencial de seu efeito sobre a fertilidade de touros. 

Nishikawa (1959), na avaliação de sêmen de jumentos e de garanhão, classificou as alterações morfológicas de acordo com seu local de alteração: cabeça, peça intermediária e cauda. No Brasil, conforme as normas do Colégio Brasileiro de Reprodução Animal  (Manual ..., 1998), na  avaliação andrológica de reprodutores de todas as espécies, a classificação das anormalidades espermáticas deve ser agrupada em defeitos maiores e defeitos menores, baseados na classificação de Blom (1973).

Seguindo esses critérios, Kreuchauf (1984) registrou média de 7,46 (maiores) e 4,7% (menores) de anomalias espermáticas em 204 amostras de sêmen de seis reprodutores asininos africanos.

Uma série de experimentos têm sido conduzidos usando-se o sistema de classificação em defeitos maiores e menores. Henry et al. (1987), utilizando a classificação em defeitos maiores e menores, ao trabaharem com jumentos da raça Nordestina, obtiveram 9,1 e 6,3% de anomalias espermáticas para o primeiro ejaculado e 5,3 e 6,0% de anomalias espermáticas para o segundo ejaculado, para defeitos maiores e menores, respectivamente. Arruda  et al. (1989b), com dados de apenas um reprodutor adulto da raça brasileira, verificaram 3,06% de defeitos maiores e 3,10% de defeitos menores. Morais (1990), trabalhando com seis reprodutores da raça Pêga também adultos, obtive média de 8,55% e 7,04% de defeitos maiores e menores, respectivamente, em 85 amostras de sêmen. Já Gebers (1995), ao trabahar com seis reprodutores da mesma raça, registrou 5,40% e 4,4% de defeitos maiores e menores, respectivamente, em 288 amostras de sêmen. No entanto, os estudos relatados não correlacionaram o percentual de alterações na morfologia espermática com a fertilidade dos jumentos. 

Considerações finais
Os asininos apresentam diversas particularidades que os diferenciam das demais espécies de animais domésticos, sendo, portanto, necessário que os veterinários que atuam com esta espécie conheçam suas características reprodutivas. Destaca-se ainda, que os jumentos, considerando os os dados apresentados, possuem características seminais superiores aos garanhões. 

Fonte: Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.32, n.4, p.233-239, out./dez. 2008

Autores: Igor Frederico Canisso, Fernando Andrade Souza, Giovanni Ribeiro de Carvalho, José Domingos Guimarães, Erotides Capistrano da Silva, Anali Linhares Lima.