Bem Vindo ao Blog do Pêga!

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O propósito do Blog do Pêga é desenvolver e promover a raça, encorajando a sociedade entre os criadores e admiradores por meio de circulação de informações úteis.

Existe muita literatura sobre cavalos, mas poucos escrevem sobre jumentos e muares. Este é um espaço para postar artigos, informações e fotos sobre esses fantásticos animais. Estamos sempre a procura de novo material, ajude a transformar este blog na maior enciclopédia de jumentos e muares da história! Caso alguém queira colaborar com histórias, artigos, fotos, informações, etc ... entre em contato conosco: fazendasnoca@uol.com.br

domingo, 29 de janeiro de 2012

O Tropeirismo no Brasil

 

A Atividade dos Tropeiros no Brasil
Por Claudio Recco


Introdução
A palavra "tropeiro" deriva de tropa, numa referência ao conjunto de homens que transportavam gado e mercadoria no Brasil colônia. O termo tem sido usado para designar principalmente o transporte de gado da região do Rio Grande do Sul até os mercados de Minas Gerais, posteriormente São Paulo e Rio de Janeiro, porém há quem use o termo em momentos anteriores da vida colonial, como no "ciclo do açúcar" entre os séculos XVI e XVII, quando várias regiões do interior nordestino se dedicaram a criação de animais para comercialização com os senhores de engenho.

A Mineração
Na maioria das obras didáticas, tropeirismo é associado com a procriação e venda de gado, porém essa atividade se iniciou com o desenvolvimento da mineração, entre os séculos XVII e XVIII.


A descoberta do ouro e posteriormente de diamantes, foram responsáveis por um grande afluxo populacional para a região das minas gerais, tanto de paulistas, como de portugueses e ainda de escravos. Essa grande corrida em busca do eldorado foi acompanhada por um grave problema, a falta de alimentos e de produtos básicos, responsável por sucessivas crises na primeira década do século 18, onde a falta de gêneros agrícolas resultou em grande mortalidade.


Estas crises de fome afligiram a zona mineradora por longos períodos, quando se chegou inclusive a interromper os trabalhos extrativistas para a produção de alimentos. Tais crises de fome, foram muito fortes nos anos de 1697-1698, 1700-1701 e em 1713.


De fato, aqueles que migraram para a região mineradora sonhavam com a riqueza mineral e poucos se dispunham a trabalhar a terra, sendo que tal situação fez com que florescesse um comércio interligando o porto do Rio de Janeiro ao interior. Tanto os produtos manufaturados que chegavam de Portugal, quanto os gêneros agrícolas, eram transportados no lombo de animais para a população das minas gerais, pois mais de 90% do consumo de necessidades dos mineiros a Capitania opulenta não produzia. Não achavam razoável deslocar um escravo para a agricultura, quando esse mesmo escravo, empunhando a bateia, dava lucro cem vezes maior ao seu senhor. Dai a importância das tropas na movimentação da produção desde os primeiros dias da conquista.


O crescimento das cidades e a formação de uma elite na região mineradora aumentaram a necessidade de animais, tanto para as atividades locais, como para o transporte de carga, cada vez maior, em direção ao Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo a riqueza gerada pela mineração foi responsável por estimular uma série se atividades paralelas, urbanas, reforçando ainda mais a atividade dos tropeiros, que transportavam os mais variados produtos e ainda cumpriam o papel de mensageiros.


A Região Sul e o Gado
É difícil falar em sul do Brasil, pois na verdade, quando do início do período da mineração, a América era ainda dividida peloTratado de Tordesilhas e, teoricamente, a região onde encontramos o atual estado do Rio Grande do Sul pertencia à Espanha. Não é à toa que nesta região as atividades econômicas se assemelham às da Argentina, Paraguai e Uruguai (na verdade, Vice Reino do Prata). Se por um lado as condições geográficas e climáticas estimularam essa atividade, por outro é necessário lembrar que a criação de gado na região platina se iniciou para abastecer as minas de prata do interior do Peru, tanto no sentido de transportar para o interior os produtos provenientes da Espanha, como no sentido inverso, trazer das minas a prata, que era embarcada em navios nos rios da Bacia do Prata e no porto de Buenos Aires.


Foi essa atividade dinâmica na Bacia do Prata que estimulou o governo português a intervir na região. Mesmo antes da assinatura do Tratado de Madri, em 1750, Portugal atuava no sentido de incorporar a região a seus domínios, interessado em participar do comércio local. Isso explica a fundação da Colônia do Sacramento em 1680 e o estímulo dado à ocupação das terras gaúchas.


No entanto podemos dizer que ao longo do século XVI e início do XVII, o Rio Grande do Sul era "terra de ninguém", habitada principalmente por índios guaranis e por onde passavam eventualmente alguns bandeirantes em busca de índios para apresar e escravizar. Esse quadro foi modificado com a chegada de padres jesuítas que, no início do século XVII, na região formada pelos atuais estados do Rio Grande do Sul e Paraná, e pela Argentina e Paraguai, fundaram as Missões jesuíticas. Nelas se reuniam, em torno de pequenos grupos de religiosos, grandes levas de índios guaranis convertidos.
O crescimento das missões determinou a introdução da atividade pecuarista, de forma extensiva, geralmente com o gado solto nas pradarias, com o objetivo de alimentar os índios. Dessa maneira a região passou a oferecer dois atrativos para os forasteiros: o índio que seria escravizado e o gado.

Várias expedições de bandeirantes paulistas atacaram a região - destaca-se a expedição comandada por Antonio Raposo Tavares - até 1640

A ação dos bandeirantes e os conflitos fronteiriços entre Portugal e Espanha fizeram com que os jesuítas transferissem as reduções para a região noroeste do Rio Grande, onde fundaram os Sete Povos das Missões, que funcionavam de forma independente dos governos europeus metropolitanos e não se preocuparam em respeitar as decisões adotadas a partir de 1750. Essa situação motivou a repressão às Missões. Apesar da resistência por parte de padres e índios, as Missões foram desmanteladas, mas deixaram um legado que, por muito tempo, seria a base da economia gaúcha: os grandes rebanhos de bovinos e cavalos, criados soltos pelas pradarias.

Dessa maneira pode-se afirmar que a influência espanhola se fez sentir no Rio Grande do Sul desde a sua formação. Pode-se mesmo falar que, sem a participação espanhola, a pecuária - que seria a base da economia gaúcha durante o século XIX e início do XX - não existiria com a importância que tem. Não poderia ser de outra forma. Afinal, o Rio Grande representou a principal zona de contato - e conflito - com os vizinhos espanhóis.

Os Tropeiros
Nos Séculos XVII e XVIII, os tropeiros eram partes da vida da zona rural e cidades pequenas dentro do sul do Brasil. Vestidos como gaúchos com chapéus, ponchos, e botas, os tropeiros dirigiram rebanhos de gado e levaram bens por esta região para São Paulo, comercializados na feira de Sorocaba. De São Paulo, os animais e mercadorias foram para os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.


Em direção às minas, o transporte feito no lombo de animais foi fundamental devido aos acidentes geográficos da região, que dificultavam o transporte. Já para as regiões de Goiás e Mato Grosso, a maioria dos produtos eram transportados através dos rios, nas chamadas monções.


É difícil definir os homens que se dedicavam a esta atividade. Muitos homens de origem paulista, vicentina, ou seus descendentes, se tornaram tropeiros, assim como muitos homens de origem portuguesa.


O fato de a Capitania de São Vicente ter prosperado de forma limitada, obrigou muitos de seus habitantes a subirem a serra e a se fixarem no planalto. Assim surgiu a vila de São Paulo, formada por uma camada pobre, que abandonara o litoral. A economia precária baseada numa agricultura de subsistência determinou a necessidade de atividades complementares, originando o bandeirismo, porém nem todo homem paulista tornou-se bandeirante. Muitos que inicialmente se dedicaram ao apresamento indígena, se fixaram em terras no sul e, com o passar do tempo, foram se integrando ao pequeno comércio, praticado no lombo de mulas.


Contando com uma população composta por homens de origem vicentina e portuguesa, a vila de Laguna era o ponto extremo do litoral brasileiro e dela partiram muitas famílias para outras áreas do interior do sul, também preocupadas com o apresamento indígena num primeiro momento, e que tomaram contato com a criação de gado, praticada nas missões jesuíticas.


A própria história do Rio Grande do Sul deu origem a elementos que se dedicariam ao tropeirismo. A necessidade de povoar a região, segundo interesses dos portugueses, fez com que o governo real facilitasse o acesso à terra e garantisse um elevado grau de liberdade e autonomia para a região, fato que, teve como uma de suas conseqüências o predomínio da grande propriedade no século 17, que beneficiava poucas famílias e marginalizava grande parte do sociedade que ali se formava.


O tropeiro iniciava-se na profissão por volta dos 10 anos, acompanhando o pai, que era o negociante (compra e venda de animais) o condutor da tropa. Usava chapelão de feltro cinza ou marrom, de abas viradas, camisa de cor similar ao chapéu de pano forte, manta ou beata com uma abertura no centro, jogada sobre o ombro, botas de couro flexível que chegavam até o meio da coxa para proteger-se nos terrenos alagados e matas.


No Rio Grande, a cidade de Viamão tornou-se um dos principais centros de comércio e formação de tropas que tinham como destino os mercados de São Paulo. Porém de outas regiões do sul partiam as tropas, quase sempre com o mesmo destino. Nesses trajetos, os tropeiros procuravam seguir o curso dos rios ou atravessar as áreas mais abertas, os "campos gerais" e mesmo conhecendo os caminhos mais seguros, o trajeto envolvia várias semanas. Ao final de cada dia era acesso o fogo, para depois construir uma tenda com os couros que serviam para cobrir a carga dos animais, reservando alguns para colocar no chão, onde dormiam envoltos em seu manto. Chamava-se "encosto" o pouso em pasto aberto e "rancho" quando já havia um abrigo construído. Ao longo do tempo os principais pousos se transformaram em povoações e vilas. É interessante notar que dezenas de cidades do interior na região sul do Brasil e mesmo em São Paulo, atribuem sua origem a atividade dos tropeiros.

A alimentação dos tropeiros era constituída por toucinho, feijão preto, farinha, pimenta-do-reino, café, fubá e coité (um molho de vinagre com fruto cáustico espremido). Nos pousos comiam feijão quase sem molho com pedaços de carne de sol e toucinho (feijão tropeiro) que era servido com farofa e couve picada. Bebidas alcoólicas só eram permitidas em ocasiões especiais: quando nos dias muitos frios tomavam um pouco de cachaça para evitar constipação e como remédio para picada de insetos.


O tropeiro montava um cavalo que possuía sacola para guardar a capa, a sela apetrechada, suspendia-se em pesados estribos e enfeitava a crina com fitas. Chamavam "madrinha" o cavalo ou mula já envelhecida e bastante conhecida dos outros animais para poder atraídos era a cabeça da tropa e abria o percurso, com a fila de cargueiros à sua retaguarda; "malotagem" eram os apetrechos e arreios necessários de cada animal e acondicionamento da carga e "broaca" os bolsões de couro que eram colocados sobre a cangalha e serviam para guardar a mercadoria.

Em torno dessa atividade primitiva nasceram e viveram com largueza várias profissões e indústrias organizadas, como a de "rancheiro", proprietários de "rancho" ou alojamento em que pousavam as tropas. Geralmente não era retribuída a hospedagem, cobrando o seu proprietário apenas o milho e o pasto consumidos pelos animais, porque as tropas conduziam cozinhas próprias. A profissão de ferrador também foi criada pelas necessidades desse fenômeno econômico-social, consistindo ela em pregar as ferraduras nos animais das tropas e acumulando geralmente a profissão de aveitar ou veterinário. A incumbência de domar os animais ainda chucros era também uma decorrência do regime de transportes e chamavam-se "paulistas", porque conduziam ao destino os animais adquiridos em Sorocaba.
No norte de Minas "paulista", "peão" e "amontador" eram sinônimos, mas tinham significação específica. Assim é que "paulista" era o indivíduo que amansava as bestas à maneira dos peões de São Paulo. Peão era todo amansador de eqüinos e muares à moda do sertão, e amontador era apenas o que montava animais bravios para efeito de quebrar-lhes o ardor. Depois é que vinha o "acertador", homem hábil e paciente, que ensinava as andaduras ao animal e educava-lhe a boca ao contato do freio. É a mais nobre de todas.

Conclusão
Percebemos a importância da atividade dos tropeiros de diferentes maneiras: o abastecimento da região mineradora e outras, sem os quais a exploração das jazidas seria impossível; a ocupação da região interior do Brasil, contribuindo para consolidar o domínio português, ao mesmo tempo em que fundaram diversas vilas e cidades. O comércio de animais foi fator determinante para integrar efetivamente o sul ao restante do Brasil, apesar das diferenças culturais entre as regiões da colônia, os interesses mercantis foram responsáveis por essa fusão e indiretamente, pela prosperidade tanto da grande propriedade estancieira gaúcha, como de pequenas propriedades familiares, em regiões onde predominaram populações de origem européia e que abasteciam de alimentos as fazendas pecuaristas.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Globo Rural Especial Ze Paraquedas: Uma arte quase esquecida

 

Neste Globo rural especial gravado a alguns anos atras eles vem mostrar uma arte quase esquecida, mostrar tambem como é feita marca de aço inox, e outros apetrechos usados no campo. O Globo rural entrevista seu Ze Paraquedas um dos mais antigo ferreiro no Brasil em exercicio. Apresentam sua oficio e o oficio de ferreiro. Este programa foi gravado em Verissimo, no interior de Minas Gerais, a 40 Km de Uberaba. Um detalhe curioso, quando a Globo começou a gravar a novela O Rei do Gado, foi seu Ze Paraquedas que confeccionou a marca usada na novela. Pois disseram para o pessoal da Globo que tinha um rapaz la no fundao do triangulo mineiro que dava conta de fazer o serviço. Agora fiquem com a reportagem e aproveitem.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Alma dos caminhos

 

A música de Elomar e os livros de Abílio Barreto e Hugo Carvalho Ramos imortalizaram a saga dos tropeiros

Quem pega estrada entre o interior e o litoral do Brasil, passa por pesados caminhões. Do período colonial, até meados do século passado boa parte do intercâmbio entre o interior e o litoral da América portuguesa era feito pelas tropas, que foram muito atuantes no período em que o Alto Sertão da Bahia desenvolvia uma série de atividades econômicas como a mineração, a plantação do algodão, a policultura e a pecuária. Levando produtos para as regiões vizinhas, à capital e ao seu recôncavo, elas duraram até meados do século XX.

O tropeiro era, ao mesmo tempo, comerciante, emissário oficial, correio, intermediário de negócios, portador de bilhetes e recados, aviador de encomendas e receitas. Para dar conta desse legado, a literatura e letras de músicas oferecem um amplo painel da saga de quatro séculos desses heróis das estradas de areia e de barro.

Um dos que se valeu do tema como fonte de inspiração foi o cantor e compositor Elomar no seu disco Na quadrada das águas perdidas (1979) na passagem do Auto do Tropeiro Gonsalin, mas muitos outros criadores, como Chiquinha Gonzaga (1847-1935), eternizaram canções como “A partida do tropeiro”, em parceria com Catulo da Paixão Cearense (1863-1946). Os escritores Afonso Arinos, Abílio Barreto, Carlos Nascimento Silva e muitos outros também registraram a vida e os costumes dos tropeiros.

A obra de Elomar é um valioso fio condutor pelo fato do compositor ser um autêntico representante do Alto Sertão baiano e por suas canções se basearem nas experiências dos tropeiros que ele conheceu quando criança. O Auto do tropeiro Gonsalin reúne mais de 30 composições na temática do tropeirismo e fala da vida desse tropeiro. Bastam trechos de algumas delas para ilustrar o cotidiano e a importância do tropeiro, a realidade das estradas, sua faceta de comerciante e a de grande responsável pela circulação das informações.

Em “Tirana”, vê-se que o sonho do tropeiro que rondava o Alto Sertão baiano era ter uma tropa grande, completa, equipada e luxuosa, para que pudesse um dia ir a Portugal encontrar-se com o rei. De acordo com Elomar, o tropeiro via Portugal como uma praça, um povoado onde havia uma feira semanal, como ocorre em muitas cidadezinhas do interior nordestino. “Das coisa de minha ceguêra aquela qui eu mais quiria/ formá u’a tropa intêra e arribá no mundo um dia/ cabeçada de uma arrôba vinte campa de arrilia/ cruzêta riata nova rabichola e peitural/ e arriça fazendo ruaça/a tropa na bôca da praça/ do Rêno de Portugal.”

As letras das músicas do Auto, mostram a grande riqueza do dialeto falado pelos tropeiros: os registros coloquiais, as expressões populares, sobretudo, os vocábulos e expressões que permeavam suas relações sociais. “Istrada rial”, segundo o compositor, é a estrada por onde passou o rei e que havia sido pavimentada pelo ouro da coroa. “Cabeçada de uma arroba vinte campa de arrelia” e “cruzeta riata nova rabichola e peitoral” são termos que se referem aos recursos da tropa. “Buneca” é o animal que vai à frente.

A poesia de Elomar, além de falar dos anseios do tropeiro, reflete também as dificuldades da vida estradeira. Como a história do tropeiro Gonsalim se passa no final do século XIX, o autor evoca a seca de Noventinha, uma das mais inclementes que já ocorreu no sertão nordestino. Essa seca fez diminuir o fluxo de tropas em todo o interior da Bahia, mas a escassez de alimentos não era um fenômeno localizado, como afirma o historiador Erivaldo Fagundes Neves, em sua tese “Da sesmaria ao minifúndio” (1995). Ela não só atingiu a Bahia como outros estados nordestinos, e provocou um aumento no preço das mercadorias, forçando a população a se deslocar na busca de mantimentos para sobreviver.

A vida do tropeiro era de chegadas e partidas constantes. Trilhas, caminhos e estradas faziam parte do seu cotidiano e por isso ele mantinha uma relação especial com os seus companheiros de atividade, como arrieiros, ferreiros, ferradores e comerciantes de couro e de corda. Em outro trecho, dois tropeiros se encontram na estrada e conversam sobre a seca que castigava o sertão. Além do fluxo de informações, o que mais se nota no diálogo é o uso de um dialeto tipicamente catingueiro: “Ô Quilimero assunta meu irirmão/ iantes mermo que nóis dois saudemo/ eu te pregunto naquele refrão/ qui na fartura nóis sempre cantemo/ na catinga tá chuveno/ ribeirão istão inchendo/ na catinga tá chuveno/ ribeirão istão incheno.”

De acordo com Elomar, Quilimero foi tropeiro nas margens do rio Gavião, região de Vitória da Conquista, no período da seca de Noventinha. Forçado pela seca, ele teve que abandonar sua rota costumeira – que ia do sudoeste da Bahia ao norte de Minas – para buscar farinha em Nazaré, no Recôncavo Baiano. No caminho, encontrou-se com Gonsalin e sua tropa, que vinham de Salvador, já de retorno para o rio Gavião, ansioso por notícias do sertão.

A composição das tropas variava de acordo com a região, mas um modelo que ficou marcado refere-se àquelas típicas do Vale do Paraíba, que trazia na frente o madrinheiro, garoto de até doze anos que guiava os animais. O terceiro e o quinto burro carregavam jacás, cestos usados para o transporte de carga – na Bahia, panacuns. O tocador ou tropeiro, que ajudava a conduzir o grupo, seguia a pé. Em primeiro plano, ia o arreador, responsável pelo comércio de carga. E, fechando a tropa, vinha o culatreiro, o animal preferido dos salteadores. O culatreiro diz-se da função de um tropeiro que vinha conduzindo os animais no fim da tropa, ou do animal do grupo que anda sempre atrás do rebanho. Era o preferido dos salteadores porque sem o mesmo a tropa perdia a guia, se desorganizava e ficava mais fácil de roubar os carregamentos].

No conto O tropeiro, de Abílio Barreto (1883-1957) observa-se o folclore que girava em torno das mercadorias levadas pelas tropas: “Belos tempos aqueles das minhas viagens com tropa do Calhau por êsses Sertões afora, onde não se falava senão nas chitas, nos colares, na iaiá de ouro, nos grandes lenços estampados, nas rendas de bilros da Bahia, no pano da costa e em mil outras coisas que nos traziam os canoeiros. Ao Calhau vinha ter tudo isso e dali carregava eu tudo isso por estes mundos ... (...) Éramos, como disse Fulgêncio, um grande entreposto comercial do Norte de Minas e do Sul da Bahia.”.

Outro exemplo literário é o livro Tropas e boiadas (1917), de Hugo Carvalho Ramos (1895-1921), que vê a questão através de imagens que ficaram retidas na memória do escritor goiano. Nele, o autor fala de quando os tropeiros chegavam da labuta e tinham que desarmar toda a tropa para poderem descansar: “O tropeiro empilhou a carregação fronteira aos fardos do dianteiro, e recolheu depois uma a uma as cangalhas suadas do alpendre. Abriu após um couro largo no terreiro, despejou por cima meia quarta de milho, ao tempo que o resto da tropa ruminava em embornais a ração daquela tarde”.

As páginas de Tropas e boiadas, além de espelharem um modo de vida regional, repleto do mais vivo realismo, valem-se da cultura típica da região Centro-Oeste. É clara a semelhança entre a linguagem utilizada por Hugo de Carvalho e aquela entoada pelo baiano Elomar em No Auto do Tropeiro Gonsalin. De certa forma, pode-se dizer que os tropeiros e aqueles que cantaram e contaram suas histórias no Alto Sertão da Bahia têm uma coisa em comum: encurtaram as distâncias do Brasil, integrando suas culturas.

Autora: Jurema Mascarenhas Paes

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Globo Rural - Festa da mula reúne criadores em São Paulo.

 

Matéria exibida no Globo Rural, dia 18/04/2011

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O antigo sistema de circulação

 

No vasto interior do Brasil, por quase quatro séculos predominou o “antigo sistema de circulação”, baseado na compinação de caravanas de muares, carros de boi e, nos cursos fluviais navegáveis, canoas. As tropas representavam a face mais visivel da circulação antiga, principalmente no Sul, São Paulo e Minas Gerais. A cena típica do Brasil escravista, no que se refere ao transporte de pessoas e mercadorias, era o lote de burros conduzido pelo tropeiro montado no cavalo madrinheiro da tropa.

O exame detalhado revela que o “antigo sistema de circulação” possuia diversos elementos interconectados, que davam concretude histórica a práticas culturais solidamente enraizadas na sociedade brasileira. Um primeiro elemento é a rede intricada e mutável de caminhos e estradas que cortava as regiões do país. Caminhos rústicos, percorridos com lentidão a pé ou em montarias, cheios de perigos e sinuosidades. Sobre eles, Capistrano de Abreu escreveu que “ um caminho destes oscila naturalmente antes de fixar-se, e assim não é fácil apurar qual foi seu primeiro rumo” (1963:273). Abertos a partir do litoral, os caminhos antigos devassaram o interior, muitas vezes convergindo para as regiões que abrigavam vilas e arraiais de maior dimensão, centros importantes de mineração e comércio.

Um segundo elemento do “antigo sistema de circulação” é a tropa de muares propriamente dita, dezenas de animais cargueiros conduzidos por poucos homens, genericamente chamados de tropeiros. No cotidiano das tropas, elementos simbólicos e materiais distinguiam o labor dos tropeiros, cujo fluxo pelos caminhos antigos era viabilizado pelo concurso dos afazeres de ofícios conexos. Nas margens das estradas, a existência de colonos, fazendas, vendas, ranchos, etc., garantia a trafegabilidade contínua, o ir e vir dos viajantes e dos tropeiros.

Um terceiro elemento do “antigo sistema de circulação”, elaborado paulatinamente e que adquire relevância com a intensidade crescente do trânsito em muitos caminhos, é a legislação sobre as estradas. Baixada pelos governos das Capitanias/Províncias, a execução desta legislação ficava a cargo das Câmaras de Vereadores. os regulamentos sobre a “polícia das estradas” determinavam as obrigações das autoridades, dos moradores e dos viajantes referentes ao uso, à abertua e à manutenção dos caminhos.

Os viajantes estrangeiros que percorreram Minas Gerais no século XIX deixaram muitos registros sobre as tropas, os tropeiros, as dificuldades das viagens, etc. Na região do Nordeste mineiro, onde as tropas resistiram até a década de 1960, eram chamados bruaqueiros os homens que levavam dois ou três animais cargueiros, em percursos curtos. A tropa regional típica era composta por lote de dez cargueiros, mais um cavalo (ou égua) madrinheiro. Na frente da caravana, seguia o burro de guia, munido de peitoral com seis cincerros e “pisteira” de pura prata, adornando a parte frontal da cabeça. Este animal, que carregava menos peso que os demais, possuia a função de marcar a viagem. Bem treinado, ele sabia os caminhos que a tropa percorria e impedia que os outros cargueiros passassem à sua frente nas encruzilhadas e nas paradas. O madrinheiro, montado pelo dono da tropa, andava bem adornado e solto no meio da tropa. O burro de coice, geralmente o mais carregado de todos os animais da tropa, seguia no fim da fila. Sua tarefa era a de empurrar os animais do meio que parassem de marchar. Fechando a caravana, aparecia uma pequena mula carregada com os apetrechos da cozinha e os mantimentos dos tropeiros.

Nas pequenas tropas do Alto do Jequitinhonha, a divisão de trabalho era relativamente simples. O dono da tropa – ou um seu auxiliar de confiança, chamado de arrieiro – cuidava da compra e venda de mercadorias, entabulando negociações com comerciantes e moradores do local de destino da caravana. Dessa forma, para indicar o prestígio, o dono da tropa andava todo arrumado. Ao aproximar-se do mercado ou rancho, tomava banho em um córrego e mudava de roupa. Os tocadores, geralmente dois, no máximo três homens, cuidavam dos animais, arriavam, carregavam e descarregavam os cargueiros, etc. Eram os responsáveis pela maioria das tarefas do transporte, que enchiam o tempo no decorrer dos caminhos e nas paradas, nos ranchos e mercados. O cozinheiro da tropa, geralmente uma criança, preparava o café e as refeições no pouso, além de ajudar os tocadores a carregar e descarregar os animais.

Na região no entorno de Diamantina, caracterizada pelo relevo bastante movimentado, a marcha diária dos cargueiros era de cerca de três léguas e meia (21 km); no máximo, quatro léguas (24km). Esta distância, uma vez percorrida nas primeiras horas da manhã, ensejava o pouso da tropa num rancho. No pouso, os tocadores descarregavam os animais, desarriavam-nos e raspavam seus pêlos, davam-lhes tratos ou pasto. As cargas eram arrumadas cuidadosamente num canto do rancho e cobertas com couros. A comida era preparada. No dia seguinte, a tropa retomava a viagem.

As pequenas tropas do Nordeste mineiro carregavam poucos tipos de apetrechos, a maioria feita em couro. A cozinha da caravana era composta de trempe (tripé desmontável com ganchos nas hastes) e panelas de ferro. As cangalhas dos cargueiros eram de madeiro, recebendo bruacas de couro ou os balaios de custé, fabricados com madeira trançada. Nas bruacas e nos balaios eram acondicionadas as cargas, cobertas com couro de boi. Cada burro da tropa recebia uma cangalha, o “dobro” (pano colocado como forro entre o costado do animal e a cangalha ou arreio), o peitoral (colar de couro que prendia a cangalha), a “retranca” (rabicho colocado atrás do animal, para impedir a cangalha de escorregar) e a “sopradeira” (uma espécie de bocal que impedia o animal de comer na estrada), as duas últimas peças também eram feitas com couro de sola.

A carga dos animais acostumados ao trabalho da tropa girava em torno de oito arrobas (120kg). Os mais fortes podiam levar até dez arrobas (150kg). Durante a marcha, era comum acontecer de burros ou mulas jogarem fora a carga ou de animais cairem paralizados, porque não suportavam o peso. Era preciso, nesses casos, que os tocadores descarregassem os animais, levantassem-nos e colocassem novamente a carga sobre eles; só então a viagem poderia ser retomada. Na verdade, o maior cuidado que o tropeiro devia ter era justamente com a acomodação das cargas sobre os animais. A cangalha, os arreios e as bruacas não podiam machucar o cargueiro, porque, do contrário, ele pararia e deitaria no meio do caminho. Conforme diziam os tropeiros, a cangalha não podia “pisar no animal”, provocando uma ferida no seu dorso. o dono da tropa deveria “olhar, bater, fofar a falha de maneira que a cangalha não tocasse no lugar que estava machucando”. Outro cuidado fundamental com os animais, para conservá-los sempre gordos e fortes, era o de fornecer-lhes alimentação apropriada: muito milho, fubá e cana, não bastando o capim dos pastos.

Convém frisar que, associada ao tropeirismo gaúcho, formou-se uma imagem idealizada do tropeiro, que enfatiza traços como o aventureirismo e uma indumentária rica e caracteristica, com o predomínio de peças de couro. Assim, o tropeiro gaúcho é descrito portando chapelão de feltro de abas viradas, camisa de pano forte, manta ou beata com abertura no centro, jogada sobre o ombro, botas de couro flexivel que chegavam até o meio da coxa. Não era assim que se apresentava o tropeiro da região de Diamantina na virada so século XIX para o XX.

No ano de 1899, em visita à cidade, H.D. Beaumont, Segundo Secretário da legação Britânica no Rio de Janeiro, escreveu sobre os tropeiros:

Os condutores são sempre negros ou mulatos em trajes leves, que caminham descalços e trazem muitas vezes bizarros chapéus de couro da Bahia (…) nunca exigem cama. Eles dormem em uma guarda com a sela de seus animais como travesseiros (O Município, ano IV, n. 230, 16 de junho de 1900, maço 43. Biblioteca Antônio Torres).

O diplomata inglês afirmou que, “segundo o hábito do Brasil”, os tropeiros não tinham cobertura alguma e viajavam descalços. Estas observações são corroboradas pelo depoimento de Joaquim dos Santos Júnior – para quem a “tropeirada andava toda suja, de tanto ficar carregando peso”, trajando roupas velhas e gastas – bem como pelo depoimento de Augusto Domingos Ribeiro – que indica que os tocadores utilizavam o “dobro” dos animais como cobertor e os couros que guarneciam as cargas como esteira para dormir.

Portanto, os tocadores das tropas do Nordeste de Minas Gerais possuiam vestimentas bem distinta de seus congêneres gaúchos, sem botas de couro e mantas grossas. Para aquecer nas noites frias, contavam apenas com o fogo acesso nos ranchos.

A alimentação dos homens das tropas da região de Diamantina era constituida por toucinho, carne de sol, feijão, farinha e café. Durante as viagens, os tropeiros raramente consumiam cachaça, que era usada, quando os dias estavam muito frios, como remédio para prevenir constipação; a cachaça também era empregada como alívio para a picada de insetos.

As tarefas penosas, pesadas e rotineiras dos tocadores, suas vestimentas pobres e o pouquissimo dinheiro de que dispunham afastam o tropeiro do Alto Jequitinhonha do modelo idealizado do tropeiro do centro-sul do Brasil.

Atividades complementares deram suporte ao vai e vem dos tropeiros, O “antigo sistema de circulação” fez surgir ocupações coma a de rancheiro, ferrador, peão ou amansador e acertador. O ferrador pregava as ferraduras nos animais da tropa e também atuava fazendo vezes de veterinário. O peão era o amansador de equinos e muares à moda do sertão, necessário para transformar os animais “chucros” em potenciais cargueiros das tropas. O trabalho do peão era finalizado pelo acertador, homem hábil e paciente, que ensinava andaduras ao animal e educava-lhe a boca ao contato de freio (CALÓGENAS, 1927).

Porém, a mais destacada das atividades conexas ao tropeirismo era a do rancheiro, istoé, do proprietário de rancho. O rancho era um abrigo que recebia os tropeiros e as cargas, consistindo de um galpão aberto ou com paredes de meia altura. Ao redor do rancho, havia esteios para amarrar os animais. Ao lado do rancho, um pequeno cômodo de comércio, explorado pelo rancheiro e sua família. Os tropeiros pagavam o milho e o pasto consumido pelos animais, conforme uma taxa cobrada sobre o número de cangalhas (ARNO, 1949:116). A propósito dos ranchos existentes nos caminhos que levavam a Diamantina, H. D. Beaumont escreveu:

O tratamento (…) não é luxuoso, porém, em muitos destes ranchos o asseio é perfeito. Durante nossa viagem, com quinze animais e três camaradas, o dispêndio de rancho montou entre 40 e 50 mil réis. Eis a conta que foi paga em um rancho da comprida estrada em uma noite (…):

40 litros de milho            6$800

1 garrafa de cachaça      1$500

1 garrafa de cerveja        3$000

Jantar para 4 pessoas    10$000

Almoço para 5 pessoas  3$000

3 camas                       1$590

Total                             28$000

(O Município, ano IV, n 230, 16 de junho de 1900, Biblioteca Antônio Torres)

Ao prestar serviços para os viajantes e fornecer abrigo para os tropeiros e pasto para os animais, os ranchos eram parte da “infra-estrutura” necessária para o funcionamento do “antigo sistema de circulação”. Como observara Capistrano de Abreu, os ranchos surgiram espontaneamente no entorno dos caminhos mais movimentados, pois:

a experiência ensinou certos povoadores a estabelecerem-se pelos caminhos, a fazerem açudes, a plantarem mantimentos, que não precisavam ser exportados, porque se vendiam na porta aos transeuntes, a comprarem as reses transviadas ou desfalecidas que, tratadas com cuidados, ou serviam à alimentação ou revendiam com lucro (op. cit., p.285).

Os caminhos mais movimentados e seguros eram justamente aqueles cercados por fazendas e sítios, nos quais os viajantes poderiam encontrar hospedagem, algum comércio e lavouras. Víveres a baixo preço, serviços e apoio para as caravanas.

Fonte: História e Meio Ambiente, Marcos Lobato Martins

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Muares São Diferentes

 

Um criador de mulas veterano me olhou especulativamente. Eu estava lá para pegar duas éguas que tinham sido colocadas para cruzar com o seu jumento Mammoth.


"Eu ouvi dizer que você doma cavalos", ele disse.
"Alguns".
"Já domou uma mula?"
"Não."

Ele inclinou a cabeça em direção as duas éguas prenhês. "Planeja domar os muares depois que eles nascerem?"
"Eu acho que sim. Alguma razão porque eu não deveria?"
Ele pensou por um momento e disse: "Muares são diferentes."
"Diga-me como eles são diferentes."

Mas, como o vizinho estóico em "Mending Wall,"  de Robert Frost ele não quis ir muito além disso, dizendo apenas: "Muares são diferentes."


Quando eu estava saindo, ele sugeriu que eu deveria considerar obter assistência de um instrutor experiente em muares quando chegasse a hora de domar os jovens muares.


Alguns anos depois e o fato de ter tido algumas mulas de carga, agora reconheço a veracidade dessa simples declaração: "Muares são diferentes."

Muares e jumentos são muito parecidos com os cavalos, com certeza, mas em muitas maneiras, incluindo algumas preocupações com a saúde, eles são definitivamente diferentes.

Quando for lidar com uma mula ou um burro apenas lembre, "Muares são diferentes"

Por: Les Sellnow, The Horse

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Curiosidade

 

Existem vários tipos de marchas, os muares se destacam na picada, que é para uma viagem curta e é muito confortável e na marcha batida, em que o animal é um pouco mais duro, mas sua agilidade é incomparável. Este último é ideal para viagens longas.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Desparasitação

 

O assassino mundial  # 1 de jumentos são os parasitas. Parasitas podem ser internos ou externos e vêm em centenas de formas. Jumentos podem contrair parasitas e sua larva através do contato com ração, sujeira, pássaros, esquilos e uma série de outras fontes. Todos os animais são suscetíveis a parasitas e é de responsabilidade do proprietário manter um programa parasita adequado.

O método mais comum para a prevenção de parasitas é a utilização de um agente de desparasitação disponíveis na maioria das lojas rurais. Os produtos utilizados para desparasitação tem várias formas e a maioria é aceitável ​​para uso em jumentos. Sempre leia e siga as instruções. Se você está inseguro sobre o programa adequado para a sua área, contacte o seu veterinário.

Aqui no Peaceful Valley, nós desparasitamos nossos jumentos a cada três meses. Jumentos são muito suscetíveis a vermes pulmonares e, por isso, devem ser tratados a cada seis meses com um remédio com base em Ivermectrin. Para garantir que estamos preparados para todos os tipos de parasitas e no caso de desenvolver uma imunidade a um produto específico, começamos a rodar os nossos produtos da seguinte forma:

Janeiro - Ivermectrin

Abril - Anthelmetic

Julho - Ivermectrin

Outubro - Strongicide

Estes tipos de produtos são distribuídos em forma de pasta e com uma seringa para ser inserida na boca do animal. A desparasitação típica é com base no peso. Use a escala de peso sobre o êmbolo para jovens, e leves.

Se você tiver adquirido recentemente um jumento velho que nunca foi vermifugado, é crucial não dar overdose deles. Comece de leve e dê metade da dose recomendada. A morte em massa de parasitas internos podem matar o jumento também.

Fonte: http://www.donkeyrescue.org/pvasc/Deworming.htm

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Diferenças Anatomicas dos Jumentos

 

Todos nós sabemos as diferenças entre jumentos e cavalos na base do olhar. Mas as diferenças que são facilmente vistas como as orelhas, não são as únicas diferenças das quais devemos estar cientes.

Os jumentos tem uma crina em pé e curta, normalmente sem franja e uma calda parecendo uma vassoura. Jumentos não são apenas “cavalos de pobre”. Um jumento reaje totalmente diferente de um cavalo, eles vêem a vida de outro jeito, e tem necessidades nutricionais diferentes. Aqueles de nós que estão familiarizados com jumentos entendem que eles são espertos, afetuosos, um equino único, que merece respeito e apreciação.

Obviamente, alguns métodos de treinamento normalmente utilizados para cavalos não funcionarão muito bem em jumentos. Mas isso é assunto para um outro artigo. Por enquanto vamos cobrir algumas das maiores diferenças anatomicas que temos nos nossos jumentos.

Uma das maiores preocupações em relação a jumentos é a castração. Numa castração normal em cavalos, o veterinário grampeia os vasos sanguineos até que o sangramento pare. Então, ele deixa que o local da incisão fique aberto e drene. Infelizmente, jumentos parecem sangrar mais do que os cavalos, e alguns podem ser sangradores fortes. Recomenda-se que o vererinário faça uma ligadura (isto é, quando o veterinário dá um ponto no vaso sanguíneo para ajudar a parar o sangramento) em jumentos quando for castrar. Se o veterinário não tem conhecimento das diferenças dos jumentos, uma discussão franca com ele/ela antes de agendar a cirurgia deve acontecer. Há alguns lugares que você pode encontrar materiais de referência na internet que você pode imprimir cópias e dar para o seu veterinário. Ocasionalmente, veterinários não vão levar em consideração o que você disser, nosso conselho para isso é encontrar um veterinário que o faça. Tem havido muitas ocasiões em que a vida do animal ficou por um fio, para que atenção não seja dada a isso, algumas mortes foram relatadas.

Outra diferença comum é o periodo de gestação. Gestação para cavalos dura cerca de 11 meses. Para jumentos, a gestação é normalmente de cerca de 12 meses, mas qualquer coisa entre 11 ½ à 13 meses é normal. Gêmeos vivos e saudáveis também é mais cerca de 100 vezes mais comum em jumentos do que em cavalos. Mas cuidados ainda devem ser tomados, e muitos criadores que fazem ultrasom em suas jumentas preferem, ainda cedo na gestação, tirar um dos gêmeos da equação para dar maiores chances de sobrevivência a jumenta e ao outro filhote.

Jumentos também têm uma vida útil mais longa do que os cavalos, e podem viver facilmente mais de 45 anos. Cavalos tem uma média de vida de 25-30 anos.


Para encontrar a veia jugular em um jumento é um pouco mais difícil do que em um cavalo. Sangue usado para testes, tais como coggins, ou drogas que precisam ser administrados por via intravenosa, como tranqüilizantes, são geralmente através da veia jugular. O músculo que abrange esta área em jumentos é muito mais espesso, e geralmente esconde o terço médio da veia jugular. A jugular em jumentos é mais obscurecida por esta musculatura em comparação com os cavalos. A maioria dos veterinários usará o terço superior ou o terço inferior da jugular em um jumento.

O ducto nasolacrimal é encontrado em um local diferente em comparação com os cavalos. Em um jumento, o duto é encontrado no alargamento da narina. Em um cavalo, este duto é encontrado no chão da narina.


Diferenças cromossômicas são geralmente muito bem conhecidas. Um jumento tem 62 cromossomos e os cavalos têm 64. Por esta razão, quase todos os muares são estéreis, pois eles acabam com 63 cromossomos.

Em jumentos, o pélvis aponta para baixo mais verticalmente do que em cavalos. Isto é especialmente útil para saber quando um veterinário realiza um exame pélvico, ou se ocorre distocia.


Além disso, o colo do útero das jumentas é mais longo e mais estreito do que o de uma égua. Há também uma saliência grande do colo do útero para a vagina. E, dobras dorsal e ventral na passagem vaginal que pode dificultar a passagem para o colo do útero.

Jumentos, também têm algumas diferenças notáveis​​. Alguns jumentos têm tetas seu aparelho genital. Jumentos também são notadamente maiores em suas áreas reprodutivas em comparação com cavalos.


Jumentos não têm calosidades nas pernas traseiras. Eles têm ergots (esporão) em suas patas dianteiras.


Cascos de jumentos também são menores do que os cavalos, e tendem a ser mais verticais.

Uma das principais diferenças entre jumentos e cavalos é a sua laringe. Foi descoberto que pregas vocais e sáculos da laringe são diferentes dos do cavalo e é a razão para o som (zurrar) que faz um jumento. Um outro aspecto a levar em conta quando um veterinário vai colocar uma tubulação em um jumento é a passagem nasal que é muito estreita, e há também um recesso entre as aberturas das bolsas guturais. Por esta razão, ao tentar passar um tubo é melhor usar um tubo de menor diâmetro. Jumentos são conhecidos por sangramento excessivo durante este procedimento, e um tubo menor pode ajudar o problema de sangramento.


Há muitas outras diferenças entre cavalos e jumentos, como vértebras, que são demasiadamente longas e confusas para entrar neste artigo. Esteja ciente de que se o veterinário precisa dar uma anestesia na coluna, por qualquer razão, esta difere de cavalos e o veterinário devem estar cientes deste fato.


É claro, existem muitas outras diferenças além dos físicos mencionados aqui. Jumentos são conhecidos por serem estóicos, o que muitos chamam de teimoso é apenas auto-preservação. O comportamento do jumento deve ser entendido para que se possa cuidar de forma eficaz. Diferenças sutis no comportamento ou atitude pode indicar problemas graves.

It’s good to know your animals, it helps with the vet, the farrier, and anyone who may come into contact with them. If you treat a donkey like a horse, you will be disappointed with the results.

É bom conhecer os seus animais, ajuda com o veterinário, o ferrador, e qualquer um que pode entrar em contato com eles. Se você tratar um jumento como um cavalo, você vai ficar desapontado com os resultados.

Sugestão de Leitura:
The Definitive Donkey- A Textbook on the Modern Ass. Hutchins, Betsy and Paul. Hee Haw Book Service, 1999.
The Professional Handbook of the Donkey. Svendsen, Elisabeth D.. Whittet Books, 1997.

Fonte: http://longearsmall.com

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Novas Andanças: Tração animal


Transporte e distribuição de forrageiras - Ilha de Paquetá

Temos consciência que nesta série, iremos tocar num assunto complexo, em sobremaneira, polêmico, tendo em vista, aos confrontos de opiniões de técnicos especialistas e agentes de instituições humanitárias em devesa do bem estar dos animais. Além das ações contrárias, há uma resistência a intender as necessidades de se ainda manter a utilização e o aproveitamento da força motriz de equídeos. Não somos contrários da utilização. Entendemos e respeitamos as ações contra o trabalho e utilização de animais de tração, no entanto, não podemos descartar a importância econômica das atividades. Não somos especialistas para discutir aspectos jurídicos, sociais e pedagógicos sobre o tema.

Em todo o país, a utilização de equídeos não é somente pelo grande desemprego e necessidade de alta qualificação do homem para a manutenção no mercado de trabalho, é também, por questão cultural. Sabemos que nos dias de hoje, tem-se visto aumento cada vez maior de subempregos, carroceiros e charreteiros, por exemplos. Nesta situação, é fato a “empregação” de animais como força de tração, tanto no meio rural, quanto no meio urbano, muitas vezes colocando os animais em condições inadequadas, subnutridos e mal manejados.

Para alguns, que tentam justificar e não aceitam, é uma mal necessário! É certo que não é tolerável à crueldade e os maus tratos, que por falta de orientação, proprietários colocam para trabalhar animais esquálidos e fadigados até o limite de suas forças. Outros ainda, não aceitam, a tração animal como meio legitimo de sobrevivência das pessoas pobres ou daquelas para qual no subemprego, a atividade tornou-se o único meio de vida.

Não podemos culpar somente os maus utilizadores dos animais “trabalhadores”, mais também, quem os autoriza e fiscaliza na circulação e uso. Antes mesmo de se proibir no uso, faz-se necessário à orientação técnica para o manejo. A diversidade de leis e regulamentos às vezes confundem os que apreciam ou necessitam dos animais como meio de sobrevivência. As regulamentações e fiscalizações fazem-se necessários, visando não somente a circulação, mais principalmente a sanidade e tempo de trabalho dos animais.

Além da Constitucional Federal (Artigo 225 & 1º - VII) e da Lei Federal de Crimes Ambiental nº 9605/98 (artigo 32), também podemos lembrar a Lei nº 7.291 de 19 de dezembro de 1984 (Artigo 2º “a”) - A criação de equídeo no Território Nacional compreende as medidas consideradas necessárias ao desenvolvimento das atividades agropecuárias, militares e desportivas, bem como de interesse para a economia nacional. Equídeo de serviço, aquele que se destina às lides rurais e militares, ao transporte e à tração. Existem também nos estados e municípios, distintas leis criadas que protegem os equinos dos maus tratos de seus donos. Preferimos fazer o uso do termo equídeos, pois englobam animais domesticados do gênero Equus, (equinos, asininos e os muares).

Como extensas e divergentes nas aplicações, com imposições polêmicas até, nossa série Novas Andanças – Animais de Tração, não se alongará, nem entrará no mérito dos termos das leis, pois cabe a cada um, apreciar ou contestar a aplicação de cada uma. Mostraremos nesse blog apenas como vivem e trabalham os animais (equídeos) nos municípios do Rio de janeiro (Ilha de Paquetá), Nova Iguaçu e Queimados e outros.

Antes mesmo que pudesse prosseguir com essa série, já recebemos e-mail’s e comentários contestando a utilização e o aproveitamento da força motriz de animais. Não cessaremos as postagens e não publicaremos os comentários.

Quando resolvemos postar aqui a série Novas andanças: Tração Animal, sabíamos que poderia ser um assunto delicado, se não polemico. Logicamente e se perceber, que não é contestação de abordagens que falam sobre o tema, mais cabe analisar algumas, tendo em vista á várias visões e opiniões, sobretudo, nas publicações cientificas. O tema é de grande interesse estudantil, pois nele é que se adquiri conhecimentos através da interdisciplinaridade. Segundo Sanchez (2002), na interdisciplinaridade, é exercido diferente domínio da atividade humana cientifica, técnica profissional e acadêmica.

Em Novas andanças: Tração Animal, trataremos apenas, o que pode ser chamado de “exercício da atividade técnica profissional”. Entendemos que nesse contexto, está inserida, a ênfase da importância econômica e da pluralidade cultural dos animais domesticados do gênero Equus, (equinos, asininos e os muares). A pluralidade cultural é um dos temas transversais propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/MEC). Como a sociedade brasileira é formada por diversas etnias, o desafio é respeitar os diferentes grupos e culturas que compõem o mosaico étnico brasileiro, incentivando o convívio dos diversos grupos e fazer dessa característica um fator de enriquecimento cultural econômico.

A pluralidade cultural é um tema especialmente importante. Para os muares, Oliveira (2006) opina, que em todas as modalidades e serviços o interrelacionamento e a misturas de culturas reforçam essa pluralidade, pois em todas as modalidades, tipos e serviços em que são utilizados, observam-se excelente desempenho produtivo, além da geração de milhares de empregos e riquezas, nas fabricas de insumos, de selarias, de carroças, implementos agrícolas, na lida com o gado e no transporte de variadas cargas. Estão presentes no transporte de alimentos, nas cavalgadas, feiras de exposição, concursos de marchas, romarias religiosas, no esporte, lazer e estudos científicos.

Nos grandes centros urbanos, uma das atividades que mais cresce é a utilização de equínos de tração para o recolhimento e destino do lixo e entulhos produzidos. Dessa forma, o animal de tração surge como uma ferramenta de trabalho indispensável, cuja saúde e longevidade devem ser observadas (Rezende, 2004). Como consequência, os animais são exigidos acima de seus limites naturais (Goodship e Birch, 2001).

Na atualidade, discutem-se e citam-se apenas os “equinos” na utilização de animais de tração no âmbito rural e urbano, como uma alternativa mais econômica. Nas literaturas consultadas, não foram encontrados trabalhos consistentes que englobassem os equídeos e que pudesse ser discutida a relação à sua utilização no ambiente urbano (carroceiros e charreteiros) e à interação saúde e carga de trabalho do conjunto (animal e homem). As características apresentadas por um animal de trabalho são o produto de vários fatores aos quais ele está submetido, como clima, manejo, treinamento, tipo de arreamento, superfície de trabalho e genética (Jones, 1987). A idade, a conformação inadequada, o casqueamento incorreto (Ruohoniemi et al., 1997), a nutrição, o condutor do animal e a finalidade (salto ou tração).

No Rio de Janeiro, nos “dias de hoje”, os equídeos, são utilizados até como opção no transporte regulamentado e alternativo de passageiros, como é o caso do município de Queimados. Entrega de materiais de construção nos bairros do município de Nova Iguaçu e no centro histórico de Paraty. Transporte de moradores, turistas e forrageiras para os animais de trabalho e de montaria de policiais militares, na segurança da Ilha de Paquetá.

Portanto, a importância econômica dos equídeos, não é desprezível para o desenvolvimento do país, mesmo em pleno século XXI, com todas as tecnologias. É preciso que essa importância seja vista e revista, pois ainda, no lombo dos equídeos a economia do País, caminha a passos firmes como é de suas características.


Antes mesmo de expor aqui a nossa visão da importância econômica dos Carroceiros e Charreteiros, devemos antes de tudo, fazer algumas citações para melhor ilustrar o que vamos mostrar nas próximas postagens em relação à utilização dos Equídeos como “ferramenta” de trabalho.

Como afirma o Professor Otavio Domingues (Introdução a Zootecnia, 1960), os animais domésticos vivem e se multiplicam graças às funções fisiológicas peculiares aos órgãos de que são constituídos, e algumas dessas funções podem ser utilizadas pelo homem, que passou a tirar delas determinado proveito. Essa função resulta de uma utilidade ou serviço para o homem ao longo dos tempos, desde a sua inicial existência, são chamadas funções produtivas ou funções econômicas, ou ainda, funções zootécnicas.

A função econômica ou produtiva, nada mais é do que uma função que dá margem a uma utilidade para proveito do homem. Hoje, através do avanço da ciência, respeita-se o bem estar animal, ampliando mais a utilidade do próprio animal e também ao homem. Um bom exemplo, a função da qual resulta a força motriz.

É o caso do aproveitamento do Cavalo, do Jumento e seus híbridos. Dos híbridos, os Muares como “motor vivo” para transporte ou tração. Além desses, o Boi, o Búfalo, o Camelo, a Rena e até o Cão em menor escala são empregados.

O Professor Valter Barbosa de Oliveira (Muares: Tema Transversal para o Ensino Médio e Técnico em Agropecuária, 2ª Edição – 2007) – A pluralidade cultural com os muares - Propõe a possibilidade de desenvolver uma educação com valores culturais regionais no ensino médio de nível técnico, pois é impregnada a matéria dos saberes. Dentro de um estudo multidisciplinar pode-se, por exemplo, fazer um planejamento onde a interdisciplinaridade e transversalidade proporcionem uma abordagem sobre os muares como tema transversal juntamente com as disciplinas do ensino médio, utilizando exemplos práticos de assuntos relacionados, no caso, os muares.Como bons exemplos disciplinares citados: nas Ciências da Natureza, a disciplina Matemática e suas Tecnologias, podem-se desenvolver cálculos de áreas, necessárias para a construção de instalações zootécnicas, formação de pastagens, cálculos de ração para a alimentação dos animais, evolução do rebanho e volume de água consumida; Na disciplina Química, podem-se estudar as reações de fermentação durante o transporte de forrageiras; na disciplina Física, pode-se conceituar e exemplificar os movimentos de força na tração, carga e serviços, o efeito do calor da radiação solar sobre o leite transportado em carroças e na área de Ciências Humanas e suas Tecnologias, a disciplina Geografia pode abordar a utilização dos muares nos contrastes topográficos, sua ocupação e também o seu desenvolvimento territorial.

Na mesma contextura disciplinar, o Professor Airton Antônio Castagna (aulas de Agroecologia/Zootecnia/FAGRAM), nos explicava que a agroecologia como produção científica, surgiu (1970) como ciência multidisciplinar, preocupada com a aplicação direta de seus princípios na organização social e no estabelecimento de novas formas de relação entre sociedade e natureza. Citava André Voisin, que dizia que a agricultura é "a ciência das condições locais" (produtividade do pasto). Quem atua neste setor, em especial são aqueles com formação específica em universidades, e não podem ignorar as peculiaridades locais, sob pena de cometerem, como muitos cometem, erros derivados da pretensão de quererem ambiente, econômico e ecológico, adaptado à tecnologia e não o contrário.

Aspectos sociais devem ser considerados e respeitados, pois deles, também, propõe-se o conhecimento dos “saberes local” e a sua conexão com conhecimentos científicos, e a utilização dos equídeos, pode ser sustentável, socialmente justo e economicamente viável.


Antes mesmo de opinar sobre a importância econômica da atividade de Charreteiros no Município de Queimados no Rio de Janeiro, cabe-nos aqui fazer uma breve transcrição da demografia desta cidade e depois colocar a nossa visão técnica.

Emancipado em 1991 do município de Nova Iguaçu e integrado a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, o município de Queimados (Baixada Fluminense) ocupa uma área aproximada de 76,921 Km2, margeado pela Presidente Dutra (Km 196,5 sentido Rio x São Paulo - principal acesso), uma das mais importantes rodovias do Brasil, com sistema viário e ferroviário e dado a “proximidade” com a capital torna-se importante. Esta cidade cresce a cada dia em serviços públicos, comércio, indústria e população, por não ter divulgado a oficialização de reforma urbana (não tivemos acesso aos dados) é considerada ainda como área rural (mais não tem expressão na produção agrícola). Como qualquer outra cidade, também tem suas deficiências, como exemplo, no transporte local. Pela distancia do centro e difícil acesso para alguns bairros, por falta de pavimentação, interesse empresarial e politico, alternativas vão surgindo desordenadamente, mesmo que alguns tentam se organizar e regularizar nos moldes da lei (moto táxi e kombis). Entre as alternativas utilizadas pela população para locomoção no município de Queimados é o uso de bicicletas e transportes tracionado por equídeos (carroças e charretes).

O tradicional e mais popular que serve os munícipes, são as 60 charretes puxadas por cavalos, circulando das 03h30min às 23h30min, todos os dias, num trecho de 15 km, do centro ao bairro Nova Cidade (ida e volta), que dura em média 25 minutos, sendo atendidas (segundo os charreteiros) cerca de 500 pessoas, custando Cr$ 1,00 (Hum real) por passageiro. Este “serviço de alta rotatividade” em particular, além de importante, desperta curiosidade e tornou-se uma atração, sendo objeto e inspiração de “escritos” jornalísticos, estudantis, literários e científicos. Emboramente existente por mais de 50 anos, a atividade de Charreteiros do município de Queimados, ao contrário do que se divulgam, não tem uma regulamentação própria. É amparado apenas pela Seção V - Artigo 16 (partes I ao VII) da Lei Ordinária n° 393 de 03 de maio de 1999, que Institui o Código Ambiental do Município de Queimados.

Com o consentimento de alguns trabalhadores charreteiros, fizemos uma averiguação “oficiosa” nos animais, no que concerne ao escore corporal, tratamento utilizado para o manejo de tração, cuidados com alimentação, equipamentos e manutenção, instalações e ambiente para o repouso dos animais. Não fizemos questionários, aplicamos apenas a nossa visão técnica para melhor analisar a importância econômica da atividade naquele município. Pelo que constatamos, carece de orientações básicas para a preservação da sanidade e bem estar dos animais, a garantir a prestação do serviço e manter a tradição, pois apesar dos esforços, são aparentes algumas irregularidades, especialmente, no manejo alimentar, excesso de carga e horas de trabalho. Corrigido isso, evitaria a contestação de ambientalistas e defensores, contrários ao uso de animais para a força motriz, que não consideram os embasamentos científicos com a realidade local.

No próximo post, faremos uma breve abordagem do que apuramos do perfil sócio econômico e demográfico dos trabalhadores charreteiros do Município de Queimados e tecer alguns tópicos da caracterização dos animais, comparando e de acordo com algumas obras publicadas de dados zootécnicos e veterinários e do que apuramos no local.


Foto tirada no Texas - USA, por Richard Rowan - 1989

Não terminado ainda, a série sobre Novas Andanças-Tração animal, e mais uma vez estamos interrompendo para responder os e-mail’s recebidos. No inicio da série, já justificamos a nossa visão sobre a importância econômica e cultural do uso de equídeos utilizados como força motriz. Justificávamos também, não ser especialista para discutir aspectos jurídicos, sociais e pedagógicos sobre o tema. Para aqueles que se manifestaram contrários ao assunto, com seus comentários, sejam no mínimo, descentes em divulgar o nome e sua formação, para que a opinião seja publicada e respeitada.

Este blog é público, e diante dos conteúdos tornou-se fonte de interesse estudantil. Não somos porta-vozes de oprimidos ou daqueles que se descartam da sociedade, não escrutamos e não divulgamos assuntos que não sejam próprios e que não vá além de nossa formação (ensino médio técnico). Não temos o poder de deferir ou indeferir opiniões, somos defectíveis, por isso, temos afeição a todos que acessam este blog e que tecem também as suas opiniões, por tanto, o respeito deve ser recíproco.

Como reposta, não vejo nenhum defensor (nem apresentam soluções), além de só contestar, a aceitar que nos dias de hoje, a exploração de animais de tração pode ter decorrido das desigualdades sociais que gerou e gera pobreza. Estes, que não aceitam a tese de que esse produto é cultural e resultado de um sistema público educacional falho; que ao longo de mais dois séculos, não alcançou a todos, sobre tudo, os desafortunados; que isso poderia ter sido combatido e resolvido, se justa a distribuição de renda; se interesses e programas de governos fossem sérios; que os “ratos” não roessem os cofres públicos deste a colonização; que fosse ofertado ao homem marginalizado à possibilidade de participar dignamente do mercado de trabalho, resgatando-lhe a cidadania perdida e diminuindo, consequentemente, os índices de exclusão social.

Ninguém tem o direito de julgar os atos falhos do homem, mesmo que estes atos se tornem cultural numa sociedade. Ao mesmo tempo que oprimia com trabalho escravo a sua própria espécie, valorizavam e acariciavam os seus animais. Fizeram fortunas com as opressões, os atos falhos ainda não foram corrigidos e tornando-se históricos.

Muitos que contestam aqui a nossa opinião, estão agora se escondendo atrás de uma ONG, gabinete ou escritório, já pensando no final de semana, sair das mansões e ir para suas fazendas ou de um amigo em carros de luxo, ansiosos para cavalgar em caríssimos alazões e depois almoçar um bom churrasco, sem levar conta de que, mesmo com suas fortunas, sem os seus serviçais capacitados ou não e maus remunerados, nada teria sentido, inclusive suas opiniões.

Foto tirada em Goulimine - Marrocos, por Kate Bader - 1989

Os afortunados por seus intelectos:

"Eu tenho pelos animais um respeito egípcio. Penso que eles têm alma. Ainda que rudimentar, e que eles sofrem conscientemente as revoltas contra a injustiça humana. Já vi um burro suspirar como um justo depois de brutalmente esbordoado por um carroceiro que atestara o carro com carga para uma quadriga e queria que o mísero animal o arrancasse do atoleiro" (José do Patrocínio - 1854-1905) - citação de João Guimarães, no livro "Patrocínio, o abolicionista", Edições Melhoramentos, São Paulo, 1967.

A mulinha carregada de latões
vem cedo para a cidade
vagamente assistida pelo leiteiro.
Pára a porta dos fregueses
sem necessidade de palavra
ou chicote.
Só não entrega ela mesma a cada um o seu litro de leite
para não desmoralizar o leiteiro.
Sua cor é sem cor.
Seu andar, o andar de todas as mulas de Minas.
Não tem idade – vem de sempre e de antes –
Nem nome: é mulinha do leite.
É o leite, cumprindo ordem do pasto.
(Poema de Carlos Drummond de Andrade)

Foto tirada em Seropédica - Brasil, por Valter Barbosa- 2004

Estamos prontos para o trabalho. Branquinha, Beleza e Mestiço pastaram e comeram as suas rações, já estão no ponto esperando os passageiros. Eu ainda estou de jejum, nessa vida também sou passageiro e não estou pronto ainda para a viagem.
(Palavras de um charreteiro do município de Queimados)

Os serviços de transporte por tração animal (carroceiros e charreteiros) nas áreas urbanas nos municípios brasileiros merecem atenção especial, por sua importância econômica e social, o município de Queimados no Rio de Janeiro está nesse contexto. Classificado por alguns como ”um mal necessário” e repudiado por defensores de animais, essas atividades, especificamente, não pode deixar de ser uma questão cultural, pois é típico da sociedade, mesmo com os avanços tecnológicos e melhoramento nos tipos de transportes, mais que, no entanto, não atingem a todos, sobre tudo, pela falta de educação escolar, capacitação profissional e altos índices de desemprego. Os grandes centros sofrem com o exame de “incapacitados”, vindos dos municípios, que buscam oportunidades profissionais que não são capazes exercer. O êxodo rural contribui com esse exame, também por incapacitação e da falta de escolaridade. A agroindústria e agropecuária se expandem e há deficiência de mão de obra para esses setores, e isso é fato.

Quando visitamos os Charreteiros de Queimados, podemos confessar aqui, foi por curiosidade, diante da popularidade da atividade, mais logicamente, não podíamos deixar de aplicar a nossa visão técnica, havia um interesse em particular, pois quando estudante do CTUR/UFRRJ, os Equídeos era o tema principal, na disciplina Grandes Animais, muito da realidade nos faltou e seria importante buscar mais conhecimentos, para aprimorar os transmitidos em sala de aulas.

Então, para defender e mostrar as nossas opiniões sobre a importância econômica dos Charreteiros do município de Queimados, fomos buscar essa “realidade”, traçando o perfil desses bravos “trabalhadores” (homem x animal). Referimo-nos apenas aos que trabalham com o transporte alternativo, não há estatística do número de carroceiros que prestam outros serviços e mostrar aqui também a sua importância. Foi preciso interagir, com os charreteiros e usuários, isso nos foi permitido. Por isso mostramos aqui a nossa visão, confeccionamos gráficos, mais não mostraremos aqui as ilustrações.

Numa ordem de 100 – as divisões etárias dos Charreteiros, assim são distribuídas: 30% estão entre 30 a 40 anos; 25% entre 20 a 29 anos, 25% entre 41 a 50 anos; 15% menores de 20 anos e 5% acima dos 50 anos.

Mais de 60% possuem filhos, o que nos mostrou preocupação, 30% deles os filhos estão na faixa de 11 a 15 anos; 25% entre 16 a 20 anos. 15% dessas duas faixas trabalham e 5% na atividade de charreteiros. Os da faixa de 11 a 15 anos, mesmo frequentando a escola, 1% trabalham como charreteiros, no que contraria a lei.

Quanto à escolaridade, 35% tem ensino fundamental incompleto; 30% com ensino médio incompleto; 15% analfabetos completos; 10% analfabetos funcionais e 5% com ensino médio completo.

Quando perguntamos o porque da opção em trabalhar como charreteiro, a justificativas foram as seguintes: 35% justificou a falta de escolaridade para a capacitação para outras atividades; 40% por empregos que exigem profissionalização; 20% a falta de empregos no município e 5% alegam os baixos salários, insuficientes para o sustento de suas famílias, acrescentando a distancia da capital e o preços das passagens.

Há um grande impacto econômico da atividade, 90% tem a atividade de charreteiro como única fonte de renda para o sustento da família; 10% exercem outra atividade e como charreteiro somente nos finais de semana e feriados. Todos residem e são contribuintes de impostos no município e gastam 100% do faturamento no comércio local, inclusive com insumos de suas atividades.

Quanto aos usuários do transporte (passageiros), 100% aprovam. Foram confusas as respostas, tendo em vista, as justificativas: 50% mostram preocupação com o bem estar dos animais, mais alegam necessitar do transporte; 20% não trocariam o tipo de transporte, diante do preço da passagem e a regularidade nos horários; 15% usam, mais mostram preocupação com a segurança pela falta de manutenção das charretes; 10% acham úteis e práticos; 5% acham que deveria estender o serviço para outros bairros e gerar mais mão de obra.

Uma grande preocupação foi notar (não confessaram), o excesso de horas na jornada de trabalho e a execução em outras funções, se não o de transporte de passageiros, por um único animal para outras cargas: materiais recicláveis, mudanças, material de construção, lixos e entulhos. Isso, falaremos no próximo post.

Apesar de que muitos questionam e não ver relevância social e econômica na atividade de charretes como transporte, pelo menos, os parâmetros culturais devem ser discutidos. Não se pode intervir numa atividade, que é notória e que a cada dia vem se tornando cultural, mesmo sem apoio técnico, orientações básicas de manejo dos animais e de outras responsabilidades.

Todos os aspectos devem ser estudados, buscando soluções e colocando a prática num ajustamento de conduta, a garantir não só o bem estar dos animais, mais também, visando a importância e a sobrevivência dos trabalhadores dessa atividade; no meio turístico, em áreas rurais; no meio urbano, como transporte alternativo.

Em nossas andanças, vimos inúmeras irregularidades, tão aparentes, que não precisa ter conhecimento técnico para perceber. Logicamente, algumas carecem de bom censo dos utilizadores dos animais, como por exemplos, evitar “manqueira” por incorreções dos aprumos e dos cascaqueamentos mal feitos e menor frequência da troca das ferraduras gastas; não colocar em atividade animais com rigidez muscular, que provoca dor insuportável pelo excesso de peso e alta jornada de trabalho; animais tronchos, por alta infestação auricular de ectoparasitas (carrapatos). E como isso seria evitado? Com o apoio técnico, orientação com capacitação e um termo de ajustamento de conduta para se cumprir.

Segundo Hotang (1989), o cavalo não pode dizer que se sente mal, mas exprime seu estado, seja uma simples indisposição ou uma dor aguda, através de atitudes que é preciso ser reconhecida, a maioria deles mantém a cabeça baixa, o olhar melancólico e o apetite reduzido. Mostra-se particularmente fraco e fadigado no trabalho. Foi o que notamos na maioria dos animais do Município de Queimados, que não tem comportamento vivaz, são lentos nos intervalos entre as viagens, no que fica difícil diagnosticar o motivo, se por cansaço ou enfermidade. A aparência prostrada em alguns animais é digna de preocupação e exames clínicos detalhados por um veterinário, devem ser feitos para se saber as causas.

Não pudemos fazer perguntas aos charreteiros sobre o manejo profilático dos animais. Como já justificamos anteriormente, foi uma visita para reforçar no nosso conhecimento e visão técnica, não cabia formalismo, além de alguns aspectos, merecer uma assistência técnica especifica em nível superior.

Descrevemos aqui a nossa visão e comparando com conversas informais com os charreteiros, notamos que os animais com comportamento prostrado, 30% são machos, a maioria de seus donos não sabem suas idades. A aquisição desses animais, na maioria das vezes é feita em “rolos”, e são direcionados apenas para o trabalho em charretes. Quando perguntados sobre as femeas, foram reticentes nas respostas, a maioria não tem conhecimentos sobre o controle reprodutivo,“As éguas fica prenha e pari mesmo no pasto” disse um charreteiro, o que demonstra na resposta, desconhecimentos e que não há uma preocupação no processo de reprodução para fins econômicos, e os que nascem, são colocados precocemente no trabalho.

Quanto à alimentação, a nossa frente, ofertarão aos animais um tipo estranho de alimento. Perguntamos o que era aquilo, a resposta foi, “esta sopa é uma mistura que damos na hora dos descansos”.

Muitas foram as perguntas para tentar intender a demanda de irregularidades e não cabe detalhar aqui, apenas citaremos e ilustraremos com algumas fotos (abaixo do texto)), os tópicos preocupantes que comprometem o bem estar dos animais e que são necessárias as correções, para se manter aquela atividade como serviço importante a comunidade, sem questionamentos e contestações.

Não cabe aqui, fazer recomendações, mais é necessário, por parte dos charreteiros, evitar a suposição de conhecimento de manejo, pois muitas atitudes não correspondem à realidade encontrada. A prática nos parece ser, baseadas em informações adquiridas através do tempo e de fatos ocorridos por outros, no que os resultados refletem nos problemas observados, sobre tudo, na sanidade dos animais e nos equipamentos.

Condições de higienização do local de trabalho

Falta de manutenção das charretes

Local de descanso próprio ou cocheiras publicas para os animais

Cochos ou vasilhames individuais para administrar água e alimentos

Controle de ectoparasitas

Para os comentários dessa matéria agradecemos a atenção dos charreteiros e nos parênteses seus animais.

Ubirajara (Boneca); Tiago (Orelhinha); Anderson (Branquinha); Daniel (Mimoso); Mezenga (Moreno); Zé Carlos (Beleza e Brancão); Kátia (Mestiço); Liliane baixinha (Catarina); Alexsandro (Bainho); Lula (Prata); Russo (Queimadinho); Claudinho (Maria); Daniel Gomes (Estrela); Naiba (Fiel); Assis (Forró e Ceguinho); Cezar (Tiziu e Passo longo) e Eduardo Santos (Pretinha).

Novas Andanças – Tração animal - Charreteiros de Queimados e a retrospectiva da história – (Final)

Sabe-se que o século XVI foi início da colonização e desembarque dos primeiros animais domésticos em solo brasileiro. Há quem diga que em 1534, Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Souza – trouxe vários na caravela "Galga". Escritos asseguram que naquela época o comandante Aires da Cunha introduzira em Pernambuco pouco mais de uma centena de equídeos (cavalos e jumentos) oriundos da Europa. Segundo historiadores, coube a Tomé de Souza, a caminho da Ilha de Cabo Verde, transportar a bordo de sua esquadra o gadovacum.

Muitas são as histórias sobre a utilização de animais, ocorridas durante a colonização brasileira, e que os motivos, eram para que esses animais fossem utilizados para a inclusão e expansão da pecuária, na lavoura, nas expedições bandeirantes e nos transportes em geral. Era com os equídeos que se atravessavam vales e montanhas. No lombo dos muares e dos jumentos, vale lembrar, os colonizadores abriram aquelas que seriam as primeiras estradas brasileiras.

Durante quase quatro séculos os equídeos ajudaram a povoar o sertão, levando o criador e o vaqueiro a se fixarem no interior, ao passo em que também tornavam-se meios de transporte. O surgimento de povoados e desenvolvimento das vilas e das cidades, portanto, muito deve ao trabalho, dos muares, dos eqüinos e dos asininos, embora esses animais nunca tivessem o justo reconhecimento por parte daqueles que lhes tanto exploraram.

Ainda no período colonial e inicio da era republicana, com a difusão dos veículos movidos a tração animal, eram comuns atos de abusos e maus tratos (desculpa de adestramento) cometidos pelos cocheiros, cavalariços e condutores, que eram impunes. Havia a indiscriminada utilização de equídeos, de instrumentos para a submissão dos animais, além das varadas e chicotadas, para que não esmorecessem em seus trabalhos. Vale lembrar, que até trinta anos antes da proclamação da República os bondes do Rio de Janeiro eram puxados por burros, e conduzidos por homens, que certamente, não deveriam ter conhecimentos técnicos dessa profissão.

Já naquela época, havia preocupação com os abusos com os animais. No inicio do século XX, foi editado pelo Governo Provisório o Decreto n. 24.645/34, proibitivo da prática de tratos aos animais. Dentre as condutas passíveis de enquadramento penal foram incluídas as seguintes: praticar ato de abuso ou crueldade em qualquer animal, golpeando-o, ferindo-o ou mutilando; manter animais em lugares e trabalhos insalubres; abandonar animal doente ou ferido; atrelar animais, em condições irregulares, nos veículos de tração, bem como infligir-los a castigos imoderados; utilizar dos serviços de animal enfermo e, se sadio, fazê-lo trabalhar sem alimentos suficientes.

De lá para cá, outras leis e decretos foram surgindo, mostrando preocupação com os animais e nada mudou. Nos dias de hoje, alguns municípios brasileiros, impõe proibições ao tráfego de animais de tração em áreas consideradas urbanas. Outros autorizam, mais não fiscalizam, ou simplesmente, não fazem um ajustamento (código) de conduta, visualizando o bem estar do conjunto (homem e animal), no objetivo de valorizar as questões sócio-culturais. Esses objetivos seriam alcançados se todas as obrigações fossem assumidas pelas prefeituras, envolvendo ações conjuntas entre os órgãos de desenvolvimento social, de saúde e de meio ambiente.

Sem dúvidas, há necessidade de controle da circulação de carroças e charretes mediante registro e cadastramento de animais e dos condutores, bem como, também uma análise sócioeconômica das famílias que dependem dessa atividade, os cuidados para com a saúde dos animais utilizados, a coibição dos atos abusivos e, finalmente, uma educação ambiental com transdisciplinaridade e transversalidade que faça despontar em estudantes do ensino fundamental, médio e técnico, não só sentimentos de compaixão, mais entender políticas públicas de proteção ambiental e dos animais, com reflexos sociais e pedagógicos no seio da própria comunidade, inclusive, aquelas atividades que se tornaram culturais.

Não se pretendendo, com isso, proibir a circulação pública de carroças e charretes, nem criar embaraços para que pessoas simples possam sobreviver a seu modo. O que se espera, é que as municipalidades, assumam suas responsabilidades sociais para com os cidadãos que vivem do subemprego, de modo que no futuro ninguém mais precise explorar animais para garantir o próprio sustento.

Visitas técnicas às famílias dos carroceiros e os cadastramentos individuais permitiriam um diagnóstico do problema, priorizando-se a capacitação profissional do desempregado e a inclusão em programas assistenciais.

Com isso, também, se permitiria a identificação do animal usado no veículo de tração, que deverá passar por periódicas avaliações veterinárias e zootécnicas (serviço gratuito). Sua correta aplicação também desestimularia os maus tratos (voluntários e involuntários) dos animais, que por sua natureza, oferecem serviços e estão inclusos em funções produtivas (econômicas e sociais) úteis ao homem em todos os aspectos.

Fonte: tecnicoemagropecuaria.blogspot.com/

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Teimoso???

 

Vamos usar a nossa inteligência com sabedoria.
Caso contrário, como seriamos superiores aos animais?
O 14 º Dalai Lama


Se você for como eu, você gosta de ver o mais fraco ganhar sobre o mais forte. Da Revolução Americana até a vitória da equipe de hóquei americana sobre a URSS nos Jogos Olímpicos de 1980, admiramos aqueles que enfrentam probabilidades esmagadora e perseveram. Eles são inabaláveis na sua determinação e se recusam a ser empurrado. Eles têm coragem.

Enquanto jumentos não lutam em guerras ou jogam hóquei, eles sabem alguma coisa sobre luta. É preciso uma incrível força de caráter para sobreviver em ambientes de deserto inóspito. Jumentoss não só fazem isso,  como fazem bem melhor que qualquer outro animal no planeta.


As pessoas tendem a admirar determinação em outros seres humanos, mas não em jumentos. Quando jumentos mostram a tenacidade que os mantinham vivos na natureza, as pessoas chamam de teimosia. Se você pensar bem, ser "teimoso" nem sempre é uma coisa ruim. Por exemplo, se uma pessoa ameaçar jogá-lo de uma janela, você luta por sua vida ou você pularia para sua morte por medo de ser atingido?

Já posso ouvir alguém argumenta: "Este exemplo é comparar maçãs e laranjas! Lutar pela vida sempre mostra a força das pessoas, mas um jumento recusando-se a caminhar é apenas teimosia pura e  simples. Como você pode fazer esta comparação? "


Devemos lembrar que jumentos evoluiram em ambientes extremamente perigosos. Seus sentidos são muito mais aguçados do que os nossos e estão sempre em alerta para o perigo. Eles ouvem, cheiram e vem coisas que nós não e, mais importante, eles interpretam esse sinais como jumentos, e não como seres humanos. Podemos saber que uma situação é perfeitamente segura, mas essa mesma situação pode aparecer perigosa para eles. E quando apresentado com uma situação perigosa, o jumento vai avaliar a situação cuidadosamente antes de decidir o próximo passo. Um jumento nunca vai se ferir intencionalmente ou fugir cegamente quando tiver medo. E eles não vão, sob quaisquer circunstâncias, deixar-se intimidar a fazer algo com o qual não se sintam confortáveis.

A crença de que jumentos são teimosos intencionalmente apenas para enfurecer seus donos é ridícula. Afinal, por que qualquer animal iria se submeter a abusos apenas para ser obstinado? Esse tipo de teimosia só é encontrada em seres humanos, embora tenhamos o mau hábito de projetar-lo para outros animais. Jumentos se comportam da forma como fazem porque foi assim que se mantiveram vivos durante milhares de anos. Por causa disso eles merecem nossa paciência, para não mencionar o nosso respeito.

Fonte: Peaceful Valley Donkey Rescue

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE ÁGUA E SEUS EFEITOS DIRETOS SOBRE O DESEMPENHO DE CAVALO

 

Num país como o Brasil, onde a água é um nutriente abundante, muitas vezes não damos à devida importância a este nutriente. A água devida sua características bioquímicas, desenvolve papel importante dentro da nutrição animal, assim como e principalmente no metabolismo animal. Desta forma, uma pequena revisão sobre o consumo de água por eqüinos é apresentada com intuito de despertar para quantidades de água consumida assim como qualidade.

      Apesar de ser um composto bastante simples, formado de duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio (H2O), a água é o mais importante de todos os nutrientes essenciais para a manutenção da vida. Fornece o material estrutural essencial para o protoplasma celular. Atua como solvente e meio onde ocorrem as reações químicas com outras substâncias essenciais. É o maior constituinte do sangue, o principal mecanismo de transporte do organismo. Serve como substrato para várias reações metabólicas. Protege tecidos e órgãos, contra choques e mantém lubrificados vários meios, como as articulações. Mantém o equilíbrio físico e químicos dos fluidos intra e extracelulares, e atua na manutenção da temperatura corporal.

      Além disto, o consumo de alimento e conseqüentemente o fluxo da digesta no trato digestivo dos animais é influenciado por vários fatores, como espécie, idade, estado fisiológico, exercícios, temperatura ambiente, ingredientes da dieta, tamanho da partícula, freqüência de alimentação e teor de fibra da dieta ou ração completa e também devida a qualidade de água fornecida aos cavalos.

      Segundo Martin-Rosset (1990), a quantidade de alimentos que um cavalo pode ingerir varia de acordo com o teor de matéria seca dos alimentos, com o peso vivo do animal, com seu desempenho e com o seu estado fisiológico. A capacidade dos diferentes segmentos do trato gastrintestinal, a taxa de passagem da digesta, a concentração dos nutrientes na digesta e principalmente, as necessidades energéticas são os fatores mais expressivos que explicam a regulação do consumo de matéria seca dos eqüinos (Frape, 1992).

      Os eqüinos necessitam de uma fonte de água de boa qualidade a ser fornecida em quantidades satisfatórias diariamente para suas funções fisiológicas normais. Limpar os bebedouros freqüentemente, removendo algas e outros materiais que possam estar prejudicando aspectos qualitativos da água, como restos de alimentos e insetos, são medidas necessárias para manter um consumo de água adequado pelos animais. Apenas recomenda-se restringir o consumo de água momentos antes e durante a recuperação dos animais após realização de exercícios, quando o batimento cardíaco e os movimentos respiratórios estão elevados (Lewis, 2000). Assegurar um consumo de água adequado é fundamental em eqüinos expostos a exercícios prolongados ou em ambientes quentes.

      O índice de água corporal dos eqüinos é relativamente constante (68 a 72 % do peso total), sendo que a exigência mínima de água pelos eqüinos em mantença está diretamente correlacionada às perdas. As principais formas de perdas de água são as excreções através da urina, das fezes, do suor, da evaporação nos pulmões e pela secreção de leite (Robinson e Mccance, 1952; Mcdonnell et al., 1999).

      A quantidade de água consumida pelos eqüinos está relacionada a diversos fatores, como já destacado anteriormente, a composição química bromatológica dos alimentos associada especialmente ao conteúdo de proteínas, minerais e fibra da dieta, porém, a digestibilidade das dietas, a temperatura e a umidade relativa do ar, a atividade física e o estágio fisiológico em que se encontram os animais são efetores cumulativos sobre as perdas e têm que ser compensadas pela ingestão de água (Kristula e Mcdonnell, 1994; Mcdonnell e Kristula, 1996).

      Neste contexto, o NRC (1989) destaca que um dos fatores mais importantes que influenciam no consumo de água é a ingestão de matéria seca, sendo recomendado que os cavalos bebam 2 a 3 litros de água / kg MS ingerida. A restrição ao consumo de água pode levar a uma depreciação do apetite e redução no consumo voluntário de alimentos.

      Observando o consumo de água a vontade durante ensaios de metabolismo com cavalos em mantença, sugeriu se que a possibilidade de realização de equações de regressão que expliquem o consumo de água em função da matéria seca ingerida, com grau elevado de confiança. No entanto, embora a literatura relate que cavalos à pasto ingiram água somente uma ou duas vezes por dia, é evidente a falta de dados sobre ingestão voluntária de água.

      A avaliação objetiva dos sistemas gerenciais sobre animais e efeitos associados à saúde e o bem-estar animal têm demonstrado ser oportuna e importante tal averiguação, especialmente, a investigação da quantidade de água consumida por cavalos estabulados (Freeman et al., 1999). Desta forma, o consumo de água pelos eqüinos está ligada diretamente a vários fatores que podem prejudicá-lo quando ao desempenho e saúde caso não sejam atendidas as quantidades e qualidades da água ideal.

      Em nutrição animal, sempre recomendasse que a qualidade de água fornecida aos animais, seja tão boa quanto a água destinada ao consumo humano, assim fornecendo água a vontade, estaríamos garantindo que os animais não tenham seus consumo de água restringidos e sim disponibilizados para atender as exigências fisiológicas de cada categoria animal.

 

Leonir Bueno Ribeiro

Paula Konieczniak

Fonte: http://www.cavaloscrioulos.com.br/

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Crendice Popular

 

Querendo defender-se da “peste branca” como era conhecida a tuberculose, o povo se valia das crendices e das meizinhas. O remédio mais exótico, popular em diversas regiões do brasil, era a costela amassada do cachorro. Metiam os pedaços menores da costela numa vasilha onde havia leite de jumenta preta. Esse leite, colocado num fogão até ferver, tinha de ser ingerido ainda morno pelo doente…

domingo, 1 de janeiro de 2012

A feira de muares de Sorocaba e a construção do Brasil contemporâneo

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As gigantescas dimensões do território brasileiro; a enorme extensão de nossa costa marítima, provida de reduzido número de ancoradouros naturais e a barreira das serras que, correndo próximas ao Atlântico, se interpõe entre o litoral e o interior imprimiram à ocupação e povoamento do País e à construção da unidade nacional o caráter de uma epopeia.

Nos dois séculos posteriores à descoberta, movidos pela busca de riquezas lendárias – cidades de ouro, minas de prata, serras de esmeraldas – foi o Brasil percorrido por numerosas expedições armadas, as bandeiras. Voltadas para o apresamento e escravização dos silvícolas e a busca de metais preciosos, dilataram as nossas fronteiras obtiveram sucesso no apresamento dos indígenas e colecionaram resultados irrelevantes em seus projetos de mineração. O êxito em relação a este objetivo somente começa a ser alcançado a partir do final do século XVII com a localização das primeiras zonas auríferas, prenuncio dos sucessos das décadas seguintes
em Minas Gerais e em Cuiabá.


O próprio sucesso, quando finalmente foi alcançado, trouxe consigo desafios consideráveis. Os mineradores, dedicados em tempo integral à busca do ouro, se descobriram, em dado momento, isolados nos confins de Minas, sem suprimentos para sustentar-se nem meios de escoar o minério extraído. Inexistiam estradas e sistemas de transporte de que pudessem socorrer-se.


Vencer as consideráveis distâncias que separavam os mineradores do litoral, transportando cargas de peso considerável através de trilhas estreitas e íngremes era tarefa que, à época, só poderia ser executada por mulas, animais híbridos, resultantes do pareamento entre o jumento e a égua. Elas haviam sido introduzidas no Brasil, pelos primeiros colonizadores, mas em meados do século XVII, quando os criatórios no nordeste já eram numerosos e florescentes, uma estranha determinação do rei de Portugal determinou que fossem totalmente extintos.


Supostamente não havia interesse da coroa lusitana em se encorajar a produção de um animal híbrido, apesar de suas indiscutíveis qualidades como montaria e transportador de carga.

Estavam as coisas nesse pé quando entrou em cena um personagem até então não existente na vida brasileira: o tropeiro. Audaciosamente ele se propõe a solucionar o impasse nas Minas com a introdução, no Brasil, de equinos que, produzidos nos criatórios do Rio de Prata, pelos espanhóis, haviam ficado subitamente sem mercado com o colapso da extração da prata nas minas de Potosi, na atual Bolívia.


As dificuldades a vencer eram numerosas. Era relativamente fácil burlar a vigilância do governo espanhol e trazer mulas da Argentina e do Uruguai, pelo chamado caminho da Praia, até Araranguá (SC).

E entre São Paulo e Curitiba já existia uma ligação, aberta pela instalação, nas sesmarias concedidas pela coroa portuguesa, de fazenda de criação de gado. O desafio a vencer era a abertura de uma estrada serra acima, de Araranguá a Curitiba, tarefa iniciada por Souza Faria e complementada por Cristovão Pereira de Abreu. Ele retificou e melhorou o caminho aberto pelo primeiro, melhorando trechos, construindo dezenas de pontes e pontilhões e, em 1733, passa por Sorocaba e chega a São Paulo, à frente de 130 proprietários de tropas, trazendo consigo 3.000 mulas trazidas do sul. Estava dado o passo inicial para garantir o suprimento regular das áreas de mineração e o escoamento do ouro das Gerais.


Essa nova situação teve repercussões enormes sobre a colônia, determinando inclusive a transferência de sua Capital de Salvador para o Rio de Janeiro, onde permaneceria até 1960.


Logo ficou evidente que o melhor ponto terminal para a jornada dos tropeiros de mulas – ou de tropas xucras – e a subsequente comercialização dos animais por eles trazidos numa feira eram os arredores da Vila de Sorocaba, em cujos campos e aguadas os equinos poderiam recobrar as energias consumidas na longa jornada, ganhando peso e beleza antes de serem postos a venda.


Em 1750, a criação do Registro de Sorocaba para recolhimento dos pesados tributos incidentes sobre o comércio de muares consolida a feira que será, durante quase século e meio o principal evento comercial do País. Nesse meio tempo, mulas agrupadas em grupos de transporte, conduziam cargas de todos os tipos e até pessoas – a maneira mais segura de se viajar de um ponto a outro do Brasil era juntar-se à comitiva de uma tropa arreada-, ligando entre si, no dia a dia, nossos raros centros urbanos com dezenas de povoados remotos, promovendo, em paralelo com a movimentação de mercadorias, um intercâmbio de ideias e ideais que construiu, de maneira pacífica, a integração territorial do país e a unidade nacional de forma absolutamente pacífica.


A longevidade da tropa cargueira ultrapassou em muito a da feira de
Sorocaba, entrando pelo século XX e sobrevivendo, ainda que em escala reduzida, inclusive à consolidação da era rodoviária que, em meados da década de 1950, com a implantação da indústria automobilística
nacional, a abertura das grandes rodovias federais e a consolidação da
Petrobrás, assume um papel de dominância incontrastável no mercado de transportes. Ainda hoje encontramos na tríplice divisa entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, tropeiros a ligar povoados remotos com os mercados que consomem os bens ali produzidos e suprem os seus moradores dos bens necessários.


Aplicando arranjos produtivos previamente testados na América espanhola, o tropeirismo brasileiro, aprimorou-os dando eles um caráter tipicamente empreendedor.

Tanto o tropeiro de mulas quanto o de tropas cargueiras eram donos de seus animais e chefes de seus camaradas. Trabalhavam por conta própria, o que faz deles os nossos primeiros empresários.

A feira de Sorocaba, em sua longa existência, exerceu um tríplice papel ainda não suficientemente estudado: viabilizou a acumulação de capitais que financiou a cafeicultura paulista e, por via de consequência, a industrialização que, no século XX, colocou São Paulo na vanguarda da economia nacional; gerou uma atividade organizada de financiamento à compra de tropas e ao pagamento dos tributos devidos pelos tropeiros no Registro de Sorocaba, cuja contribuição à estruturação do sistema bancário brasileiro não pode ser ignorada e fez com que as indústrias de tecidos de algodão em território paulista brotassem pioneiramente, de modo quase simultâneo, nas cidades do Vale Médio do Rio Tietê (Itu, Salto, Sorocaba, Tatuí, São Roque) e não na Capital como por vezes se imagina. Foi, portanto, a semente da vocação industrial de Sorocaba que, em nossos dias, atinge seu ponto de maior desenvolvimento.

Geraldo Bonadio

Fonte: O Tropeiro